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Segundo Circulo - A Revolta Dos Caídos
Segundo Circulo - A Revolta Dos Caídos
Segundo Circulo - A Revolta Dos Caídos
E-book262 páginas3 horas

Segundo Circulo - A Revolta Dos Caídos

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Sobre este e-book

Nas profundezas do Paraíso, uma guerra titânica desencadeia uma dança celestial de destinos entrelaçados. Os anjos, feitos à imagem de Deus, dividem-se em facções, desafiando a própria criação divina. A Terra, em sua simplicidade, torna-se o palco inesperado dessa contenda cósmica, lançada ao Vale dos Ventos pela energia liberada durante a batalha celestial. E é aqui, nesse terreno fértil para o desconhecido, que a humanidade se encontra no epicentro de uma trama milenar. Ronan, um jovem dotado com um dom divino aos tenros oito anos, é lançado em uma jornada de fé inabalável. Guiado pelos preceitos ortodoxos, ele se entrega ao seminário, emergindo como um sacerdote especializado em expulsar demônios da alma humana. No entanto, à medida que os anos avançam, uma sombra siniestra se espalha sobre a comunidade quando uma série de assassinatos brutais abala a fé da congregação. O assassino, misterioso e sádico, deixa para trás passagens bíblicas em um rastro de sangue. Através das investigações sinuosas e das palavras do homicida, Ronan é forçado a confrontar os pilares fundamentais de sua própria fé. As mensagens deixadas pelo assassino ecoam com referências polêmicas da Bíblia, lançando dúvidas profundas sobre a verdade religiosa que ele sempre aceitou como inquestionável. Mas em segundo plano, os dez anjos caídos manipulam o curso dos eventos, maquinando e tramando por trás das cortinas. Tudo está ligado a um antigo manuscrito, guardião de segredos capazes de redefinir a fé e neutralizar o poder de influência dos anjos renegados sobre a humanidade. A revelação desse manuscrito se torna vital para restabelecer a Terra em seu estado original, um Éden onde a humanidade pode viver em comunhão próxima com o Criador. Neste embate épico entre o bem e o mal, o padre Ronan emerge como a derradeira arma do divino contra as forças sombrias que o cercam. Em um mundo onde mistério, fé e choque de forças divinas e demoníacas se entrelaçam, o padre enfrenta não apenas os enigmas dos assassinatos, mas a prova definitiva de sua própria crença. Enquanto ele se esforça para descobrir a verdade por trás dos crimes que ameaçam destruir tudo o que ele conhece, os anjos caídos conspiram para manter seu manuscrito sagrado oculto, desencadeando uma batalha pela alma da humanidade. Esta é uma narrativa cativante, onde os limites entre o sagrado e o profano se desfazem, e onde a fé de um homem é testada até o limite absoluto. Neste mundo enigmático e sobrenatural, o padre Ronan é o farol da esperança em uma luta eterna entre o bem e o mal, onde a redenção e a verdade se entrelaçam de maneiras que desafiam a compreensão humana..

IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de ago. de 2023
ISBN9798223071945
Segundo Circulo - A Revolta Dos Caídos
Autor

Luan Ferr

Luan Ferr is a renowned author known for his mastery in writing fictional short stories that immerse readers in fascinating worlds, memorable characters, and engaging narratives. His ability to create stories that explore the eternal struggle between good and evil is unparalleled, offering readers a unique perspective on this universal conflict. In addition to his fictional works, Luan also dedicates himself to in-depth research on the phenomena of faith and its intrinsic connection to the human condition. He explores the various forms of esotericism and holism that have permeated humanity since time immemorial, revealing the profound influence of these practices in everyday life and cultures around the world. His books on subjects such as Feng Shui, Arcturian Healing, and others are the result of meticulous research and provide readers with a comprehensive view of these fascinating areas. With captivating and insightful writing, Luan Ferr leads his readers to profound reflections on human nature, the duality between good and evil, and the pursuit of a broader understanding of the world around us. His fictional short stories are filled with suspense, mystery, and thrilling plot twists, keeping readers eagerly wanting more with every page. Meanwhile, his non-fiction works explore esoteric fields in an accessible and interesting manner, showing how these ancient practices still exist today. With a unique style and a balanced approach between fiction and non-fiction, Luan Ferr establishes himself as a universal and profound author. His works are a source of entertainment and knowledge, providing readers with an enriching and thought-provoking experience. Whether through his imaginative stories or his esoteric explorations, Luan continues to captivate readers worldwide with his engaging and insightful writing.

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    Segundo Circulo - A Revolta Dos Caídos - Luan Ferr

    A REVOLTA DOS CAIDOS

    copyright ©

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida sob quaisquer meios existentes sem a autorização por escrito do detentor do direito autoral.

    Este livro é uma obra de ficção. Os personagens e os diálogos foram criados a partir da imaginação do autor não sendo baseados em fatos reais.

    Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas, vivas ou não é mera coincidência.

    Revisão

    Virginia Moreira dos Santos

    Projeto gráfico e diagramação

    Arthur Mendes da Costa

    Capa

    Anderson Casagrande Neto

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Ferreira, Luiz Antonio

    Segundo círculo / Luiz Antonio Ferreira.

    Ed. do Autor, 2022.

    Ficção brasileira I

    Todos os jovens são tolos,

    mas com o passar dos anos

    eles deixam de ser jovens.

    Prólogo

    A criação do homem dividiu as legiões celestiais em dois grupos. De um lado os que apoiam o Altíssimo na criação de um ser à sua imagem e semelhança, de outro, os que são contra.

    Da divisão nasce a guerra e como consequência, a terra é lançada no segundo círculo, ao alcance daqueles que podem inspirar a humanidade, levando-a da guerra à fome, do desespero à exploração do homem pelo homem.

    Nesse cenário, o criador tenta salvar a criação, enviando ao vale dos ventos seres que nascem com o dom de subjugar as forças do mal.

    Foi assim há dois mil anos, é assim ainda hoje.

    Capítulo I

    O Mundo sob os mundos.

    VINTE E OITO ANOS ANTES.

    No chão de pedra, a multidão de almas arrasta correntes num caminhar lento e cansado. O ambiente cinza e malcheiroso, muitos desistem da luta, caminham de cabeça baixa rumo ao inevitável.

    Desde que a terra foi lançada no vale dos ventos, os caídos comandam aqueles que influenciam a humanidade, há tempos a multidão dos que passam pelo portão do inferno cresce. 

    Criados à imagem e semelhança de Deus, os homens respondem inconscientes a estímulos que os levam para cada vez mais longe da fonte. Esse é o objetivo daqueles que se opuseram à criação.

    Em meio aos que se deixaram seduzir pelo poder, alguns dos condenados tentam em vão fugir à pressão dos que os empurram à frente, olham desesperados ao redor. De um lado estão chamas se elevam até onde os olhos podem ver, do outro está a encosta íngreme de uma montanha coberta de um tipo de musgo verde viscoso.

    Sufocados pela multidão, tentam ir contra o fluxo, mas seguem empurrados à frente, há apenas um caminho a seguir. Adiante já se pode ver o portão que separa as almas que compõem a triste marcha, do mundo sob os mundos, depois do portão as esperanças findam, nele Cérbero — um enorme cão negro de três cabeças monta guarda.

    Enquanto isso, no alto da montanha, os caídos observam a massa que se desloca com lentidão. Entre eles, Abdon — o mais poderoso — sorri ante o esforço vão das almas que tentam fugir ao triste destino.

    Os caídos sempre empreenderam todos os esforços para encaminhar o homem à animalidade, querem provar que o homem em nada se assemelha ao criador. Até aquele momento tudo caminha segundo o plano.

    Então a base do inferno treme.

    ––––––––

    Yekun  (o primeiro seguidor de Lúcifer)  é o primeiro a sentir a vibração. Uma forte energia se desloca ao segundo círculo.

    Há dois mil anos, num evento semelhante, a terra por pouco não ficou fora do alcance daqueles que querem bestificar o homem. É preciso agir.

    Segundos depois Abdon sente a ondulação do véu.

    — Não pode ser – diz ele, olhando para Yekun.

    — Com sua permissão irmão, vou à terra ver o que está acontecendo – diz Yekun já completamente alheio à multidão que se arrasta abaixo.

    A montanha balança, um princípio de tumulto se instala. Algumas almas começam a fazer o caminho de volta, ao longe se pode ouvir o rosnar enfurecido de Cérbero tentando fazer os condenados retomar a marcha.

    — Vá faça o que for preciso – diz Abdon à Yekun enquanto olha aqueles que avançam em sentido oposto ao fluxo.

    Yekun se dissolve no éter, é transportado para o outro lado do véu.

    ––––––––

    A chuva não molha Yekun, pingos apenas cruzam seu corpo estéreo. O anjo caído sempre estranhou a estranha interação entre coisas matérias e extrafísicas.

    Por um momento ele olha o céu noturno coberto com nuvens de tempestade. O caído sabe que aquele é um sinal. Os relâmpagos que riscam o céu e o retumbar dos trovões respondem à energia que se desprendeu da fonte viajou entre os planos se alojando na casa assobradada para onde o ser espectral olha agora.

    Capítulo II

    O despertar do dom.

    ––––––––

    A praça está vazia. Brinquedos normalmente disputados por crianças de todas as idades estão ociosos, apenas um menino brinca.

    Ronan, de oito anos, segurando um super-herói de brinquedo, faz movimentos no ar, ao lado, sentada em um banco da praça, uma senhora de uniforme o observa com olhar cândido.

    Sem desviar a atenção do brinquedo, o menino pergunta.

    — Você é mesmo uma anja?

    A senhora sorri.

    — É claro que sou um anjo e dos bons, por isso estou aqui. - Ela responde.

    — E pode voar? – pergunta o garoto ainda fazendo voos baixos com o super-herói.

    — É claro! Mas só quando é extremamente necessário, os anjos não podem sair voando assim sem mais nem menos – diz ela, ainda sorrindo.

    — Então, onde você guarda suas asas e como pode voar se parece meio gorda? – O menino abaixa o olhar envergonhado.

    A senhora levanta os dois braços sorrindo, depois os abaixa, posando-os sobre os joelhos.

    — Você realmente não tem jeito, hein Ronan! Mas venha cá – diz ela, pegando o menino nos braços.

    A senhora afasta afetuosamente o cabelo que cai sobre a testa do menino.

    — Você é um menino muito especial, sabia? Faz oito anos hoje, então preciso dizer algo muito importante.

    O menino parece curioso.

    — Não posso mais esconder seu dom, então preste bem atenção – continua ela. — Você tem que ser um menino corajoso, tem que ajudar as pessoas, ok?

    Ronan assente, balançando a cabeça.

    A mulher então, com o polegar, traça uma linha vertical na testa, indo da raiz do cabelo até a ponta do nariz. Depois outro transversal, de cima da sobrancelha esquerda até logo abaixo do olho direito. Uma nova linha é desenhada acima da sobrancelha direita até logo abaixo do olho esquerdo, cruzando-se as linhas na glabela. Por motivos que só os sonhos podem explicar, o menino vê as linhas emitindo uma luz branca.

    — É um sinal de proteção – diz ela.

    — Você está se despedindo de mim, não vai mais me ver? – pergunta o garoto desconfiado.

    — Não! – ela responde. — Mas estarei sempre por perto – há uma pequena pausa. — Lembre-se de que você é muito especial.

    A mulher põe o menino de pé olhando-o nos olhos, Ronan agora percebe a praça lotada, de alguma forma as crianças, que agora brincam por todos os lados, sempre estiveram ali, mas ele por algum motivo não conseguia vê-las.

    A anjo continua.

    — Agora você tem que ter coragem, é hora de acordar... de acordar... de acordar...

    O trovão retumba alto lá fora, parece fazer tremer a casa assobradada da família Rafat, Ronan acorda num susto.

    Sonolento, olha em volta. O quarto está na penumbra, pingos de chuva correm traçando linhas verticais no vidro da janela.

    O menino procura o interruptor do abajur ao lado da cama, quando o aciona a luz que deveria acender não acende, a eletricidade parece ter sido desligada por algum motivo. Ele então passa a mão embaixo do travesseiro, sabe que ali está a pequena lanterna, presente de um tio que gosta de pescar, quando a encontra aciona o botão interruptor e um feixe de luz se projeta no quarto. No instante seguinte, toda a sala se ilumina, outro raio risca o céu lá fora.

    — Um, dois, três, quatro... doze, – diz ele.

    Brummm

    A casa dos Rafat balança novamente.

    Você precisa ser um menino corajoso – as palavras da anjo ecoam alto em sua cabeça.

    Uma estranha sensação vai preenchendo-o por dentro, ele sente uma energia negativa, uma presença. Algo parece estar errado, embora ele não saiba se o que sente é real ou apenas o medo fazendo seu trabalho.

    Ainda deitado, ele aponta a lanterna para o guarda-roupa, depois passa o feixe de luz pelo quarto, parando na maçaneta.

    Ele se senta na cama, usando a lanterna para varrer o quarto em busca da presença que ele sente na casa.

    Ainda procurando algo no escuro, sem olhar para baixo, tateia com o pé no tapete que margeia a cama, então sente os chinelos, primeiro um depois o outro. Calçado, ele se levanta, indo em direção à porta

    Ronan gira a maçaneta, abrindo uma fresta na porta. Ele apenas aponta a cabeça e a lanterna para fora, iluminando o corredor, primeiro à esquerda, depois à direita. Mantém por um tempo o facho de luz na maçaneta do quarto da mãe, sente que a presença vem de lá.

    O menino sai de seu quarto caminhando devagar, olhando para trás ocasionalmente, com medo de ser surpreendido pela fonte daquela energia que sente no ar.

    Chegando em frente ao quarto de sua mãe, segura e lentamente gira a maçaneta. Ao abrir a porta, ele se surpreende ao ver, ao lado de sua mãe, um espectro irradiando luz, é Yekun.

    A imagem do espectro em si não é assustadora, mas emana a energia que Ronan sente ser ruim.

    Percebendo que o menino pode vê-lo, Yekun recua como se encostasse na parede. Ronan então empurra abruptamente a porta, lançando a lanterna que, girando no ar, atravessa o espectro como se fosse fumaça. A lanterna bate na parede, caindo sobre uma bíblia que Soyla, mãe de Ronan, deixa aberta no aparador.

    — Afaste-se dela! – grita o menino.

    Yekun, surpreso, atravessa a parede.

    Soyla, sem perceber o que aconteceu, letárgica de sonolência, vê o filho perto da porta. Estende-lhe a mão.

    — Deite-se aqui com a mamãe querido – ela diz num bocejo.

    Ronan se aproxima.

    A mãe puxa o cobertor, abrindo espaço para a criança deitar. Ele se acomoda na cama enquanto ela, cobrindo-o, passa-lhe o braço sobre o corpo, deixando-se cair novamente em sono profundo.

    No aparador, a lanterna ilumina uma passagem bíblica.

    Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; para que, se possível, enganassem até os eleitos.

    Ronan olha a mãe, que dorme profundamente. Impulsivamente coloca o polegar em sua testa traçando o sinal protetor que a anjo havia feito nele em sonho, pode ver quando as linhas brilhantes aparecem.

    — Agora você está protegida – diz ele.

    Capítulo III

    O homem de barro.

    ––––––––

    A chuva, antes torrencial, agora é apenas uma garoa. Ronan, deitado na cama ao lado da mãe, não consegue dormir, a presença ainda está ali, pode senti-la no ar.

    Ao olhar ao redor vê a lanterna ainda acesa.

    No escuro do quarto, iluminado pela pouca luz que erradia da lanterna, Ronan se desvencilha do braço da mãe indo até o aparador ao lado da janela. Ainda sentido a estranha presença no ar como se fosse um cheiro, o instinto o faz olhar para fora.

    Longe, através do vidro embaçado, vê a figura que contrasta seu brilho com o brilho da lâmpada de um poste de iluminação pública que margeia a rua.

    Com a manga do pijama, esfrega o vidro para enxergar melhor. O espectro está ali, no gramado da casa, olhando para ele.

    Ronan fica ali não mais que um minuto. No aparador, pega a lanterna e sai silenciosamente iluminando o caminho.

    No corredor, olha para a porta fechada do quarto da avó, aparentemente ela também está dormindo profundamente. Vai até a escada que leva ao primeiro pavimento, desce os degraus com cuidado, como a avó lhe havia ensinado, segue em direção à porta da frente.

    A chave está na fechadura, Ronan gira-a duas vezes destravando a porta, segura firmemente a maçaneta forçando-a para baixo, a porta abre apenas o suficiente para o menino passar.

    Dois degraus separam a soleira da calçada que leva ao portão da frente. Do lado direito, um gramado se estende até a borda da cerca de madeira branca que divide a propriedade da família Rafat da propriedade vizinha, é onde o espectro o observa.

    Yekun não se afasta nem se aproxima, apenas olha atento para o menino que, com algo brilhante na testa, caminha resoluto em sua direção.

    Ronan percebe que o ser tem feições femininas, uma expressão doce, algo parecido com o que se vê em imagens de anjos, mas o menino não se guia pelo que vê, guia-se pelo que sente.

    O menino para, meio metro separa os dois. A imagem é como cena pintada em obra sacra um menino em pé olhando para o rosto de um espectro de feições femininas que sorri há meia distância, a luz de um poste de iluminação pública e as gotículas em suspensão, criam acima, uma auréola.

    Yekun abaixa-se. Quando seus olhos se alinham, o menino diz em tom imperativo.

    — Volte para o lugar de onde você veio e nunca mais retorne!

    As feições de Yekun, antes angelicais, expressam inicialmente surpresa, depois assumem sua outra aparência.

    A boca se abre mostrando uma fileira de dentes pontiagudos, os olhos crescem, distorcendo o rosto.

    Mesmo diante da expressão intimidadora, o menino permanece impassível.

    — Volte para o lugar de onde você veio e nunca mais retorne! – O menino repete.

    — Quem pensas que és, homem de barro? – pergunta Yekun — Você que nasceu para servir.

    Um grão de luz surge no ar, expandindo-se, forma um vórtice que começa a atrair o espectro com uma força irresistível. O rosto de Yekun se contorce em estranha agonia.

    — Sabes quem eu sou? – Argumenta em tom gutural. — Sabes a que vim?

    Não há tempo para respostas, o portal, obedecendo à ordem do menino, suga o espectro, depois desaparece.

    Ronan olha para a noite silenciosa, depois para as próprias mãos,

    Não sou de barro – diz baixinho.

    Ele volta à casa, entra, tranca a novamente a porta. Sobe as escadas, chegando ao quarto da mãe.

    Ao lado da cama, tira o pijama que está molhado nas extremidades. Com a parte ainda está seca, enxuga os pés, deitando-se em seguida. A mãe ainda dorme profundamente.

    Ao encostar-se ao corpo de Soyla, ela instintivamente volta a abraçar o filho, puxando-o para mais perto.

    Ronan desliga a lanterna colocando-a debaixo do travesseiro. Olha uma vez mais ao redor, a estranha presença foi embora.

    — Não sou feito de barro – inocentemente diz.

    Capítulo IV

    O que está oculto.

    DIAS ATUAIS.

    Yekun desperta sobressaltado sobre a cama de pedra, está sem forças. Ao lado, Azazel com a mão sobreposta a seu corpo lhe transmite energia vital.

    — O que aconteceu – Yekun pergunta.

    — Ninguém ainda sabe, estamos esperando você despertar – diz Azazel.

    — Há quanto tempo estou desacordado?

    — Pelo tempo terreno vinte e oito anos.

    Yekun olha sobressaltado.

    — Vinte e oito anos? – pergunta.

    — Sim, pensamos que não sobreviveria.

    — Como vim parar aqui? Não me lembro de nada – diz Yekun.

    — Você foi lançado de um vórtice, caiu no meio a planície negra.

    — O menino – Yekun franze a testa.

    — Não é mais um menino – interrompe Abdon que se aproxima. — Tem sido uma dor de cabeça.

    — Voltarei ao segundo círculo – diz Yekun se levantando.

    — Você não pode mais cruzar o véu, de alguma forma aquele menino lhe fechou a passagem, ele é apenas parte do problema, existe outro com outros dons, devemos que nos concentrar nele.

    — Enviaremos legiões.

    — Não adianta – Abdon olha para fora. — Agora que ele está mais forte, nenhum escapa ao abismo, você foi o primeiro, lançado aqui, foi possível resgatá-lo, muitos não têm a mesma sorte.

    — Eu vou! – diz Azazel. — Sei como fazer.

    Abdon assente.

    ––––––––

    Sentado em um banco de madeira, destes que se viam em praças públicas, padre Ronan, já aos trinta e seis anos, cabelos escuros caindo sobre os ombros, olhos negros, usando calça social preta combinando com a camisa da mesma cor, abotoada até o último botão, tem na mão direita um pequeno cinzel e na esquerda um pedaço de madeira do qual retira com habilidade pequenas lascas, dando-lhe a forma desejada.

    No objeto, ainda inacabado, se pode ver um homem segurando um menino nos braços, é a imagem de José segurando o menino Jesus. O entalhe em madeira é uma habilidade adquirida em solitários dias de seminário.

    Não se pode afirmar que as obras feitas pelas mãos do padre é arte, nem mesmo o padre pretende ser visto como artista, isso é apenas um passatempo, uma forma de afastar da cabeça os problemas e dívidas que gravitam no entorno.

    Sentado ali sozinho, à sombra de uma árvore que não dá frutos, mas abriga os pássaros que nela nidificam ou que

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