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O Diário De Um Homem Só
O Diário De Um Homem Só
O Diário De Um Homem Só
E-book205 páginas2 horas

O Diário De Um Homem Só

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Sobre este e-book

Um Homem no ápice de sua solidão e falta de amor, para não cair na loucura começa a contar o que sabe de si mesmo. assim começa a história desse sujeito raivoso e desconsertante que em busca do passado acaba por encontrar todo o seu futuro.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de set. de 2023
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    O Diário De Um Homem Só - Luiz Reis

    O Diário de Um

    Homem Só

    O Diário de

    Um Homem Só

    Luiz Reis

    2023

    1

    Copyright©, 2023 do Autor

    Capa, Projeto Gráfico e Preparação

    Revisão

    Luiz Reis

    Dados Internacionais de catalogação na Publicação (CIP) Reis, Luiz Carlos Rosa

    O Diário de Um Homem Só/ Luiz Reis – Rio de Janeiro, 2023.

    196p: Livro Digital

    Bibliografia

    ISBN 978-65-00-74237-4.

    Instagram:@I_uizreis

    2

    Sumário

    Apresentação ............................................................................ 5

    Tá, vamos lá. ............................................................................. 8

    Olha: tô gravando de novo ..................................................... 10

    O segundo áudio eu nem quis ouvir ....................................... 15

    Raiva desse celular travando .................................................. 18

    Quem sou eu? ........................................................................ 21

    Vamos voltar pra onde paramos? ........................................... 30

    Ontem fui dormir chorando ................................................... 39

    Quer saber de uma coisa? Nem fale comigo. ......................... 43

    Peraí, outro áudio ................................................................... 45

    Prazer, Eu. ............................................................................... 51

    Acabou o milho acabou o fubá ............................................... 55

    Vou te descrever nos detalhes o que aconteceu: ................... 57

    Sobre Bom Jesus ..................................................................... 64

    Sobre as minhas ideias ........................................................... 70

    Hoje foi um dia bom de trabalho ........................................... 83

    Pausa no assunto dramático: ................................................. 92

    Trabalho continuo de copiar o que falei ............................... 100

    Por onde anda a minha mãe? ............................................... 106

    Continuando ......................................................................... 117

    Isso aqui tá gravando? .......................................................... 126

    Êh carai que é amanhã! ........................................................ 131

    3

    Preparando as coisas ............................................................ 134

    Tô sozinho na casinha de Sheyla........................................... 136

    Continuando... ...................................................................... 144

    Projeto encontrar a minha mãe ........................................... 149

    Hoje é meu aniversário ........................................................ 157

    Ainda tô me tremendo todo ................................................. 161

    Como as coisas se seguem ................................................... 165

    Conhecendo a minha mãe .................................................... 174

    Preparativos pra Viagem ...................................................... 186

    Como seguiu-se a viagem e se desenrolou essa história ..... 190

    4

    Apresentação

    O que venho contar para vocês é a história de um homem na casa de seus trinta e poucos anos que vive só nesse mundo. Não conheceu o que é ter uma família, ter alguém. Não teve sua mãe ou o seu pai por perto. Não conheceu o amor, não teve colo, não teve ninho. A vida se encarregou de transforma-lo em um homem adulto.

    Tenta como pode levar a sua vida de forma honesta e justa, tenta ter algum amigo, algum amor sincero, não consegue. Falta-lhe alguma coisa, mas não consegue identificar o que é.

    Um dia, no ápice de sua solidão, não possuindo em casa caneta, lápis e nem papel; precisando desesperadamente desabafar com alguém seus dilemas; morrendo de medo se ver como louco falando sozinho; cria para si um grupo no WhatsApp e lá inicia quase que por instinto a produção de um diário em forma de áudios mandados nesse grupo secreto.

    Junin do Barreiras desenvolve um segredo, um confessionário e um confidente. Não faz a menor ideia do que está fazendo e por várias vezes se questiona se aquilo é realmente uma boa ideia. Entre dificuldades 5

    técnicas iniciais, cansaço com sua rotina de trabalho e a iniciativa de oficializar a produção de um diário pessoal nosso nobre rapaz não percebe o quanto sua vida está se transformando.

    Aqui me preocupei em tocar em alguns assuntos sérios que afligem boa parte da população adulta: abandono parental, alienação parental e circulação de crianças. Cortes profundos na vida de uma criança sempre deixarão cicatrizes mal tratadas em adultos deslocados e desconfiados do mundo. Não sei se cumpri aqui meu papel ou se contribui de alguma forma com essa discussão.

    Espero que gostem.

    6

    À minha mãe.

    Não sabia que era seu

    Até terminar de escrever.

    7

    Tá, vamos lá.

    Sábado, 20 de maio de 2023.

    Take um. É isso mesmo que eu deveria falar? Sei lá. Tô gravando em um celular velho, em um grupo de WhatsApp que só tem uma pessoa: eu.

    Vamos lá. Não sei nada do que eu tô fazendo aqui.

    Só sei que preciso falar com alguém. Falo aqui comigo mesmo, talvez eu seja alguém. Estranho fala consigo mesmo. Esquizofrênico? Não! Estou gravando em um celular e não conversando com a minha própria voz.

    Me chamo Pedro. Detesto esse nome: Pedro Alberto Oliveira Jr.

    Todo mundo me chama de Junin. Detesto ser chamado de Junin. Eu nunca me chamei de nada!

    Me chamam porque querem alguma coisa de mim, que eu faça alguma coisa pra elas. Nunca pra uma boa. Detesto esse nome porque ele não é meu, é do meu pai.

    Que pai...

    8

    Me chamam Junin porque eu Nasci da aventura de um violeiro metido a malandro que passou por aqui uma vez engravidou a minha mãe. Por tolice, esperança ou amor o meu nome acabou por seguir o dele. Junin.

    Detesto esse nome, com certeza. Queria pensar em outro nome melhor ou pelo menos diferente desse, não consigo. Não sei porque me importo tanto com isso. O

    que mais tem nesse mundo é Pedro. Pedro Junior também deve ter um monte e isso realmente não deveria fazer a menor diferença, mas faz. Finjo não saber o porquê. Eu sei. Culpa daquele lá.

    O violeiro Pedro Alberto Oliveira, vulgo Pedrinho Sete Cordas Esteve por aqui há algum tempo pra festa da cidade: EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DE BOM

    JESUS. Ficou uma semana trabalhando na festa e tocou O Rei dos Canoeiros de Tião Carreiro uma noite em cima de um caminhão. Conheceu a minha mãe, só até onde o interessava, no dia seguinte subiu no mesmo caminhão que havia cantado e encantado a minha mãe e foi embora. Claro, não antes prometer voltar pra busca-la e levar pra sua fazenda e casar com ela. Nunca voltou.

    Nem mesmo sei se procurou a minha mãe, se disse a verdade ou se o seu nome era mesmo Pedro. Não sei se teve conhecimento do estado em que deixou a minha 9

    mãe ou se mesmo lembrou o nome dela enquanto o caminhão levantava poeira pela estrada de terra. Posso até mesmo ter um irmão em cada parada, em cada canto, nem sei.

    ***

    Olha: tô gravando de novo

    Mesmo dia

    Anoiteceu e fiz um monte de coisa depois que gravei o primeiro áudio. Ouvi o que gravei e fiquei com um pouco de vergonha de mim mesmo. Não estou acostumado a ouvir a minha própria voz gravada e, não 10

    sei se é o áudio que ficou ruim ou se a minha voz é uma merda mesmo. Voz esganiçada, meio tremida e muito fina pra um cara grande e metido a forte como eu. Forte eu nunca fui de verdade, mas gosto de pensar que sou, tento levantar coisas que quase não aguento, aceito trabalhos que quase não suporto concluir. Já ouvi alguém ou algumas pessoas me chamarem de forte, mas muitas vezes elogios nos fazem trabalhar bem mais do que queríamos e muito além do quanto estamos sendo pagos, sei disso, mas quase sempre caio na armadilha da vaidade.

    Trabalho ultimamente de biscateiro, faz tudo, ajudante de tudo, de qualquer coisa. Se precisam de alguém para carregar caixas, sacos, baldes, tijolos e blocos: é o Junin que eles procuram. Cavar buraco, carregar areia, fazer uma cerca, cortar uma arvore?

    Junin. Levantar um muro, castrar uma ninhada de porco piau, ajeitar um telhado cheio de goteira? Junin de novo.

    Vender vassoura, colher laranja, engarrafar cachaça? Até isso eu já andei fazendo.

    Há um bom tempo todo mundo que me chama pode ter certeza que é pra trabalhar em algo que eu não quero fazer, mas faço. O dono do trabalho também não 11

    quer fazer, mas me procura na certeza de que vou. Ao bem da verdade, eu quase nunca sei fazer muito bem o que me pedem, se não for um serviço maquinal como carregar ou cavar, descubro como se faz no exato momento em que faço. Se faço uma bica d’agua, talvez vase um pouquinho em algum lugar, se faço um muro, talvez faça também uma curva e a cada leitão que capo, faço um sinal da cruz só por garantia.

    Nunca sonhei com esse oficio de qualquer coisa, de biscateiro. Na minha vida, tudo que planejei ou sonhei não deu em grande coisa, pior: deu em nada. Prejuízo só de tempo. Se tempo é dinheiro, talvez tenha perdido isso daí também. Nunca tive dinheiro. Nasci pobre e acho que assim mesmo eu irei embora.

    Uma coisa aprendi: trabalho não dá dinheiro.

    Já fui leiteiro: trabalhei numa vacaria tirando leite; tratando bezerro; cortando capim; misturando água no leite, ensacando e entregando no comercio. Desse trabalho eu gostava.

    Acordava cedo, ganhava quase nada e trabalhava muito, mas também comia muito queijo, bebia leite pra matar a sede e até o cheiro de estrume quente me agradava muito. Aqui eu devia ter uns dezesseis anos.

    12

    Era um sitio grande, com pomar, roça de milho, feijão, mandioca, muitas vacas, três casas, curral grande, galpão e trator. Eu não conseguia entender por que não o chamavam de fazenda. Humildade da Dona. Era o sitio de D. Tereza, senhorinha já de idade, um doce de pessoinha, aliás adorava fazer doce, bolo, queijo e dar pra gente de manhã com um baita garrafão de café quente. Pensando bem, ela já devia ter uns setenta anos naquela época ou menos, o sol castiga muito o corpo de quem trabalha da terra.

    Chamava-se D. Tereza, mas no fundo o que aquecia o coração dela era ser chamada de Menina do Leite. Assim ela sempre foi tratada até começar a aparecer as pregas da idade no rosto. Os mais antigos, da idade dela ainda à chamavam de menina do leite. Às vezes, quase sem querer ela mesma se tratava na terceira pessoa dessa mesma forma. Pensando bem agora, que eu também envelheço, deve ser muito bom ser menino pra sempre, ser tratado com carinho e de um, jeito que te deixe aquecido por dentro.

    Hoje queria saber mais sobre a vida de Menina do Leite, mas naquela época eu fugia de qualquer conversa longa com qualquer pessoa de idade, queria mesmo era 13

    correr atras de bezerro, arrumar desculpa pra por sela no cavalo, arreio de carroça e me mandar pra cidade em busca de qualquer coisa que mostrasse o que eu achava que era o mundo.

    D. Tereza queria contar a sua história e eu não estava atento para ouvir. Agora, estou aqui desesperado para contar a minha. Feito um tonto com um telefone na mão apitando avisando que também está sem tempo pra me ouvir: a bateria acabou.

    ***

    14

    O segundo áudio eu nem quis ouvir

    Domingo, 21 de maio de 2023.

    Fui dormir muito tarde ontem, não estou acostumado com isso. Sempre trabalho muito. Sempre um troço brabo pra fazer. Chego em casa: sujo; fedendo; cansado e com fome. A fome sempre vence. Como qualquer coisa que encontro pela frente antes de entrar no banheiro. É no banheiro que sinto o peso das cangalhas saírem de cima do meu corpo.

    Estou quase sempre coberto de lama, terra, poeira ou cimento. Meu trabalho quase sempre é duro.

    Trabalho de botas, calças compridas, camisa de manga e chapéu. Não importa o calor que esteja fazendo. E olha, aqui faz calor. Muito. Passei o dia de ontem carregando toras de

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