Psicopedagogia dos fantoches: Jogo de imaginar, construir e narrar
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Sobre este e-book
plástica e lúdica da criança e suas relações com a aprendizagem.
O trabalho como arte-educadora e atualmente como psicopedagoga e arteterapeuta, trouxe reflexões sobre teorias e práticas para o desenvolvimento de potenciais criativos dos aprendizes. O desenvolvimento de atividades em que as crianças construíam algo esteticamente levou-me a entrar em contato com mundo imaginário delas. Esse Mundo vinha expresso em narrativas representadas plasticamente e oralmente. Eram personagens feitos de argila, sucata, cenas pintadas e desenhadas no papel, que traziam histórias. As crianças, ao serem questionadas sobre suas composições, revelavam características próprias, contavam
o que os personagens estavam fazendo, pediam materiais para construir cenários. Ao mesmo tempo em que desenhavam, produziam sons ou contavam o que estava acontecendo. Quando a construção era tridimensional, faziam-na movimentar e se comunicar. Observei que, na verdade, estavam construindo personagens. Por que não construí-los para que pudessem se movimentar e dialogar de forma mais apropriada? Foi o que fizemos: começamos a construir fantoches.
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Psicopedagogia dos fantoches - Dilaina Paula dos Santos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Santos, Dilaina Paula dos Psicopedagogia dos fantoches: jogo de imaginar,construir e narrar / Dilaina Paula dos Santos. — 1ª edição — São Paulo : Vetor, 2006.
Bibliografia
1. Aprendizagem 2. Jogos educativos 3. Marionetes na educação 4. Psicologia educacional I. Título
06-8363 / CDD – 370.157
Índices para catálogo sistemático:
1. Fantoches: Uso na aprendizagem: Criatividade e imaginação: Psicopedagogia: Educação 370.157
ISBN 978-65-5374-066-2
Projeto gráfico, diagramação e capa: Patricia Figueiredo
Revisão: Sirlaine Cabrine Fernandes e Mônica de Deus Martins
© 2006 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores.
Sumário
Agradecimentos
Brincadeira de criança
Prefácio
Apresentação
1. Imaginando
Introdução
2. Construindo: o prendizadocomo experiência
2.1.Um olhar sobre o homem e o mundo
2.2. Algumas concepções sobre a aprendizagem e suas influências na educação brasileira
2.3. Inter Ação
: um olhar psicopedagógico
2.4. RE significando
a experiência do aprender
2.5. Olhando o processo do saber com os olhos da criança
3. Dialogando: a experiência do jogo simbólico
3.1. O jogo de imaginar
3.2. O jogo de construir
3.3. O jogo de narrar
3.4. O jogo com fantoches: imaginar, construir, narrar
4. Entrando em cena: a pesquisa
4.1. Script
4.2. O cenário e os personagens
4.3. Primeiro ato: entrevistas e anamnese
4.4. Segundo ato: coleta e análise dos dados na experiência com as crianças
5. Narrando: a interpretação dos dados
5.1. Inter ações
e trans forma ações
5.2. Percursos narrativos no processo de aprendizagem
5.3. Possíveis caminhos a trilhar
6. Desfecho: considerações finais
Referências bibliográficas
Sobre a autora
Agradecimentos
Recordando...
Compus esta história em muitos cenários, e muitos foram os personagens que fizeram parte da narrativa. Por isso é tempo de agradecer.
Ao meu filho Arthur que veio desvelar em mim a ternura.
Aos meus pais Waldomiro e Dinah, que sempre valorizaram meus estudos se disponibilizando no que fosse necessário.
Ao meu marido Eduardo, que ficou ao meu lado durante toda a caminhada.
Aos meus irmãos e amigos, interlocutores atentos nas descrições do trabalho, agradeço as sugestões e o auxílio nas gravações.
A todas as crianças com quem tive contato na vivência de educadora, nas escolas, no consultório, na família e, prin cipalmente, àquelas que fizeram parte da pesquisa que cul minou neste trabalho.
Aos mestres, que no decorrer de minha experiência como aprendiz, contribuíram com sua sabedoria na construção dos conhecimentos.
Em especial, agradeço às professoras e amigas Cristina Allessandrini, Selma Ciornai e Irene Arcuri pelo incentivo às idéias que um dia viriam a se concretizar; à professora Mirian Celeste Martins, que me apresentou novos olhares e ao professor Vilmo Guimarães Melo, que orientou a pesquisa com dedicação e respeito.
Aos profissionais da escola em que a pesquisa foi reali zada, que abriram as portas para o projeto.
A todos aqueles que indireta ou diretamente contribuíram para que eu chegasse até aqui.
A Deus, força maior que iluminou meu caminhar.
Brincadeira de criança
Brinco de bola, brinco de passa anel rodo, rodo...
sou um carrossel
Brinco de boneca, brinco de trem
sou mamãe, que vai e vem.
Brinco com as palavras e com um véu
sou fantasma, sou Rampuzel.
Desenho no papel um foguete....
e vou para a lua rapidamente.
Sou menina, e neste lugar...
nunca paro de sonhar.
Dilaina Paula dos Santos (inspirada nos poemas de Cecília Meireles)
"Os rascunhos de nossa infância são, provavelmente, os mais importantes.
Serão, um dia, os labirintos de nossa memória e os caminhos de nossa história."
Etinne Samain
Prefácio
Tenho acompanhado o desenvolvimento profissional de Dilaina Paula Santos há vários anos. Inicialmente em um trabalho no qual buscava relacionar sua prática como arte-educadora em uma escola particular da cidade de São Paulo com a experiência instigante que é reconhecer o potencial de transformação presente na atividade expressiva e artística, e utilizar esse conhecimento no auxílio a crianças que apresentavam problemas na sua aprendizagem. Nesse tempo Dilaina já aplicava, com seriedade e competência, seu conhecimento de arte e dos processos criativos presentes em sua atuação na Psicopedagogia clínica.
Nossos caminhos continuaram mantendo muitos encontros, o que me trouxe a oportunidade de partilhar seu envolvimento com a importância e o valor da criação de bonecos para o desenvolvimento de crianças. Seu interesse mostrou-se genuinamente essencial
e permeou suas descobertas e ações profissionais: novos aprendizados puderam ser construídos e foram socializados em artigos e capítulos de livros. Dilaina consolida sua atuação como psicopedagoga e arteterapeuta.
Entretanto, a busca de uma compreensão maior dos diferentes aspectos participantes da construção de bonecos e de sua profunda ação na aprendizagem de crianças trouxe-a para uma nova etapa profissional, agora como estudiosa e pesquisadora dos processos criativos na produção de narrativas em crianças que, a partir da confecção de bonecos e da sua identificação com personagens, brincam e imaginam situações lúdico-expressivas que promovem uma aprendizagem de forma integral.
Portanto, as crianças exercitam sua autoria e desenvolvem autonomia em seu pensamento que se organiza nas suas articulações e nuances das narrativas imaginadas e experimentadas. Verificam a função social da escrita ao comunicar suas idéias, desejos, medos e anseios; descobrem soluções na interação entre os personagens que criaram e para quem dão vida; aprendem a se relacionar com os colegas experimentando jeitos de agir e de lidar com as situações que surgem durante a apresentação das histórias.
Enfim, brincam, criam, comunicam, constroem, falam e escrevem, o que permite construir sua identificação como ser integral, social, participativo, autônomo e interdependente em uma interação social e cultural com o mundo onde habitam.
Dilaina nos mostra que é possível integrar a expressividade artística que permeia a construção de fantoches à visão de conhecimento praticado como construção, reafirmando que são indissociáveis as dimensões cognitivas e afetivas para a efetivação da aprendizagem.
Este livro representa a consolidação de sua trajetória, pois a autora realmente intuiu pesquisar e acreditou no potencial de aprendizagem que os fantoches traziam desde sua criação, até sua utilização nas histórias que as pequenas crianças construíam.
Cristina Dias Allessandrini
Apresentação
Este trabalho diz respeito a um assunto que vem me interessando desde meu ingresso no magistério: a expressão plástica e lúdica da criança e suas relações com a aprendizagem.
O trabalho como arte-educadora e atualmente como psicopedagoga e arteterapeuta, trouxe reflexões sobre teorias e práticas para o desenvolvimento de potenciais criativos dos aprendizes. O desenvolvimento de atividades em que as crianças construíam algo esteticamente levou-me a entrar em contato com mundo imaginário delas. Esse mundo vinha expresso em narrativas representadas plasticamente e oralmente. Eram personagens feitos de argila, sucata, cenas pintadas e desenhadas no papel, que traziam histórias. As crianças, ao serem questionadas sobre suas composições, revelavam características próprias, contavam o que os personagens estavam fazendo, pediam materiais para construir cenários. Ao mesmo tempo em que desenhavam, produziam sons ou contavam o que estava acontecendo. Quando a construção era tridimensional, faziam-na movimentar e se comunicar. Observei que, na verdade, estavam construindo personagens. Por que não construí-los para que pudessem se movimentar e dialogar de forma mais apropriada? Foi o que fizemos: começamos a construir fantoches.
Minha experiência pessoal com fantoches também é antiga. Lembro-me de, ainda muito pequena, assistindo à Vila Sésamo. O Garibaldi, o Ênio e o Beto eram personagens que faziam parte da minha vida, da minha rotina. O horá-rio em que o programa passava era sagrado, era o momento da magia, da brincadeira. Além do programa, recordome de brincar com os fantoches do meu tio, na casa de minha avó. Eram apenas três bonecos. A cabeça era de borracha, o corpo de tecido, as mãos de plástico. Dois homens e uma mulher. Algumas vezes era espectadora de apresentações de meus irmãos; outras vezes eu mesma criava histórias e inventava um público imaginário. Os fantoches faziam com que eu entrasse em um mundo mágico. Eram histórias de bruxa, princesa, crianças, personagens de Vila Sésamo, enfim, histórias de repertórios conhecidos que eram recriadas por mim, fazendo com que me sentisse autora de minhas narrativas. Nessas histórias, trazia meus desejos infantis.
Assim como a experiência de minha infância, as aulas cuja proposta era a confecção e a brincadeira com os fantoches foram muito significativas. Eram aulas em que as crianças se envolviam, desenvolviam e aprendiam.
Uma outra experiência ocorreu em escolas da rede pública, em que apresentava às crianças histórias utilizando fantoches. Percebia que era a melhor forma de me aproximar do mundo delas. Essa descoberta permeou toda a minha vivência como educadora e como psicopedagoga. Vou ao encontro da criança a partir de seu imaginário, de sua brincadeira, que é a forma em que ela assimila e representa o mundo.
O interesse pelo estudo veio a partir da observação dessas experiências dialogando com objetivo educacional de facilitar a aprendizagem significativa e favorecer o desenvolvimento de competências pessoais. Tal estudo culminou neste livro que tem como base a pesquisa de mestrado que desenvolvi em 2003 na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
1. Imaginando
Introdução
Só podemos olhar o outro e sua história se temos conosco mesmo uma abertura de aprendiz que se observa, se estuda,em sua própria história.
Madalena Freire
A reflexão abordada neste livro formula questões gerais e problemas específicos sobre educação, ensino e aprendizagem. É a busca de um trabalho voltado para atividades didáticas que levem em consideração a idéia da autoria e conduza a uma prática que facilite a produção de textos narrativos pelas crianças.
Verifica-se que, atualmente, grande parte das crianças, apresenta dificuldades consideráveis para produzir, interpretar textos e buscar estratégias na resolução de problemas durante o processo de elaboração dos mesmos; o que compromete consideravelmente o ato de aprender e os resultados dele esperados.
Esses meninos e essas meninas apresentam uma dificuldade significativa de expressão verbal, uma vez que não conseguem organizar adequadamente o pensamento e exprimi-lo por meio da linguagem oral e escrita.
São aprendizes que apresentam dificuldade em compreender a função social da escrita como comunicadora de idéias. Mostram-se sem motivação para escrever, o que os leva a produzirem textos somente com o objetivo de cumprir tarefas. Essas crianças não entram em contato com a riqueza de seu imaginário, expressam idéias desarticuladas e um repertório imaginário empobrecido. Não gostam de produzir narrativas escritas, não se interessam por esse tipo de atividade porque, na maior parte das vezes, não tem nenhum significado para elas.
Essa reflexão parte de uma prática que observa a inexistência da autoria do aluno, que imagina e cria, e também a ausência da relação sujeito/objeto no processo de ensino– aprendizagem, ou seja, o não-reconhecimento e uso da intersubjetividade implícita na ação de conhecer, que se traduz como motivação e desafio.
A condição em que o aluno se encontra resulta, em grande parte, da existência de uma escola que tem como objetivo principal o ensino e a aprendizagem de conteúdos de