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Contos E Lendas Japonesas
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Contos E Lendas Japonesas
E-book521 páginas5 horas

Contos E Lendas Japonesas

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Sobre este e-book

O Japão, assim como ocorre com outros países e suas culturas, cultiva ainda inúmeras tradições e ensinamentos trazidos de seus povos antigos, comunicados no decorrer das gerações. Nós, que vivemos do outro lado do mundo, também podemos ter acesso a esse valioso patrimônio. Os mitos, contos e lendas próprios de um país podem dizer muitas coisas sobre o seu povo: como pensam e vivem, como explicam certos fenômenos da natureza e manifestam sua relação com o mundo, firmando valores por meio dessas narrativas populares. O Japão possui um riquíssimo acervo de contos e lendas, muitas delas influenciadas pelo Xintoísmo e pelo Budismo, as duas religiões prevalentes no Japão. Geralmente, essas narrativas envolvem personagens e situações engraçadas ou bizarras. Certamente, para nós, alguns contos podem parecer simplórios ou até mesmo tolos... Mais isso é explicável: a cultura oriental – e seu modo de ver a realidade – é muito diversa da nossa! Consequentemente, a curiosidade gerada em nós, cidadãos ocidentais, pelo modo de pensar e agir oriental nos fará refletir, proporcionando, sem sombra de dúvidas, a expansão de nossos horizontes. Ao mergulhar nesta pesquisa, tive como meta não só aprender e ampliar minha mente, mas, principalmente, compartilhar e divulgar alguns contos e lendas populares nas terras do Sol Nascente, que influenciam não somente a vida das crianças, mas igualmente os grandes e doutos escritores japoneses. Após estes esclarecimentos, acredito que você estará preparado para ingressar nesse universo mágico e singular... Com alegria convido você, caro leitor, cara leitora, a embarcar nessa jornada fantástica!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de jul. de 2023
Contos E Lendas Japonesas

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    Contos E Lendas Japonesas - Geraldo Spacassassi

    Introdução

    O Japão, assim como ocorre com outros países e suas culturas, cultiva ainda hoje inúmeras tradições e ensinamentos trazidos de seus povos antigos, comunicados no decorrer das gerações. Nós, que vivemos do outro lado do mundo, também podemos ter acesso a esse valioso patrimônio.

    Os mitos, contos e lendas próprios de um país podem dizer muitas coisas sobre o seu povo: como pensam e vivem, como explicam certos fenômenos da natureza e manifestam sua relação com o mundo, firmando valores por meio dessas narrativas populares.

    O Japão possui um riquíssimo acervo de contos e lendas, muitas delas influenciadas pelo Xintoísmo e pelo Budismo, as duas religiões prevalentes no Japão.

    Geralmente, essas narrativas envolvem personagens e situações engraçadas ou bizarras. Certamente, para nós, alguns contos podem parecer simplórios ou até mesmo tolos...  Mais isso é explicável: a cultura oriental – e seu modo de ver a realidade – é muito diversa da nossa! Consequentemente, a curiosidade gerada em nós, cidadãos ocidentais, pelo modo de pensar e agir oriental nos fará refletir, proporcionando, sem sombra de dúvidas, a expansão de nossos horizontes. 

    Ao mergulhar nesta pesquisa, tive como meta não só aprender e ampliar minha mente, mas, principalmente, compartilhar e divulgar alguns contos e lendas populares nas terras do Sol Nascente, que influenciam não somente a vida das crianças, mas igualmente os grandes e doutos escritores japoneses.

    Após estes esclarecimentos, acredito que você estará preparado para ingressar nesse universo mágico e singular...

    Com alegria convido você, caro leitor, cara leitora, a embarcar nessa jornada fantástica!

    Foto em preto e branco Descrição gerada automaticamenteImagem em preto e branco Descrição gerada automaticamente

    Parte 1: Japão – Breve Histórico Sociocultural

    Aspecto Geográfico

    O Japão – Terra do Sol Nascente – é um país insular da Ásia Oriental.

    Localizado no Oceano Pacífico, a leste do Mar do Japão, da República Popular da China, da Coreia do Norte, da Coreia do Sul e da Rússia, estende-se do Mar de Okhotsk, no Norte, ao Mar da China Oriental e Taiwan, ao sul.

    O país é um arquipélago de 6.852 ilhas, cujas quatro maiores são Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku, representando em conjunto 97% da área terrestre nacional.

    Uma imagem contendo Mapa Descrição gerada automaticamente

    A maior parte das ilhas é montanhosa, com muitos vulcões, fazendo parte do Círculo do Fogo do Pacífico, com grande instabilidade tectônica e atividade vulcânica intensa, além de um solo pobre, com baixa oferta de minérios e combustíveis.

    O Japão possui a décima maior população do mundo, com cerca de 128 milhões de habitantes. A Região Metropolitana de Tóquio, que inclui a capital –Tóquio – e várias prefeituras adjacentes, é a maior área metropolitana do mundo, com mais de 30 milhões de habitantes.

    Economia

    O Japão está entre as maiores economias do mundo e, nos fins do século passado, era a segunda, atrás somente dos Estados Unidos. Ultrapassada pela China, ocupa atualmente o terceiro lugar.

    A indústria tecnológica é sua principal fonte de renda e os destaques são para a produção nos setores de informática, eletrônica, robótica e nanotecnologia. Ao menos 85% da produção industrial do Japão está localizada nas regiões de Tóquio e Osaka que, juntas, formam a maior megalópole do país.

    Como a topografia montanhosa limita muito a área agricultável, o Japão não produz nem metade dos alimentos que consome. A produção de arroz é a mais importante, mas também há um investimento no cultivo de frutas e legumes.

    História – Breve Resumo

    Para entender melhor o Japão, é preciso conhecer, ainda que de forma sucinta, sua história, através dos Períodos ou Eras que vêm se sucedendo desde a antiguidade.

    Linha do tempo Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

    Como tive oportunidade de constatar, as datas apresentadas, em especial as das épocas remotas, resultam de estimativas, o que não invalida seu valor didático.

    Convido você a fazer essa viagem no tempo...

    Era Jomon (10.000 a.C.-300 a.C.)

    Os habitantes originais do arquipélago viviam da caça, da pesca e da coleta, alimentando-se com carnes de cervo, porco do mato, peixes, mariscos, frutas e castanhas. No início, levavam uma vida nômade, e aos poucos vão se agrupando e formando aldeias, fixando-se em determinados lugares. Nessa época, não havia nem ricos nem pobres. Os principais artefatos dessa época eram as armas de caça, como arco, flecha e lança (com pontas feitas de pedra), e os potes de barro que serviam para o cozimento e o armazenamento de alimentos.

    Era Yayoi (300 a.C-300 d. C.)

    O cultivo de arroz e o uso de instrumentos de metal chegam ao arquipélago com uma onda migratória vinda do continente. Com a intensificação das atividades agrícolas e o aumento da população, com a chegada de migrantes que dominavam novos ofícios, nascem as diferenças sociais e as classes: de dirigentes, artífices, comerciantes, agricultores. Pela primeira vez, o Japão é mencionado em uma escritura chinesa.

    Era Kofun (300-645)

    Nessa época foram construídos muitos túmulos gigantescos – Kofun – de pedra, muitas vezes cercados de fossos, pelos clãs poderosos. Neles foram encerrados não só os corpos das pessoas importantes para quem foram construídos, mas também muitos objetos de metal, bonecos de barro e pedras preciosas, entre outros tesouros.

    No início do século VI, o budismo chega ao Japão, sendo introduzida a escrita junto com sutras. A partir dessa época, a região foi unificada.

    Era Asuka (645-710)

    Em meados do século VII, após sucessivas lutas entre os clãs, forma-se a dinastia Yamato, que, seguindo o exemplo da dinastia chinesa Tang, realiza a Reforma de Taika, definindo a organização política, o sistema tributário etc. O Príncipe Shotoku institui os 17 Códigos da Constituição, norteados nas doutrinas de Xintoísmo, Budismo e Confucionismo.

    Era Nara (710-794)

    O Código Administrativo do Japão é outorgado. O budismo torna-se religião oficial. Por 7 vezes, são enviadas delegações culturais à China para absorver a sua cultura. Ao voltarem, elas divulgam budismo, confucionismo, estratégias militares, músicas tocadas na corte imperial, rituais das cerimônias, os sutras, imagens de Buda e instrumentos musicais. É compilada a primeira antologia de poemas "Man’yoshu, são escritos primeiros livros de história do Japão, Kojiki e Nihon Shoki, e é editado o primeiro tratado de geografia japonês, o Fudoki".

    Era Heian (794-1185)

    Os japoneses começam a criar cultura própria, após terem assimilado durante décadas a cultura chinesa. A permissão de apropriação das terras para uso particular dos nobres e dos templos esfacelou o ideal do Código Administrativo do Japão, que era o de o Estado controlar o povo e as terras. A criação do conjunto de fonogramas "Kana permitiu o florescimento da literatura, sendo escrito nessa época o Genji Monogatari", que foi traduzido depois em várias línguas. Foi a época áurea da nobreza, em que foram criadas muitas obras de arte.

    Era Kamakura (1185-1333)

    Surgimento da classe dos Samurais e estabelecimento do shogunato. O budismo passa a ser seguido pelo povo também. Os mongóis tentam invadir o Japão por duas vezes, liderados pelo poderoso Kublai Khan, mas, nessas duas tentativas, o Japão foi salvo por vendavais ("Kamikaze/Vento Divino") que dizimaram a frota mongol. Surgem os monges Shinran, Nichiren e Dogen, fundadores das seitas budistas.

    Era Muromachi (1333-1568)

    Época conturbada por guerras civis e disputas de poder. Durante um curto período, houve até dois Imperadores no comando do país. As intermináveis guerras entre os Senhores feudais permitiram a ascensão dos mais fortes, mesmo daqueles de classe inferior. Início do comércio com a dinastia chinesa Ming, desenvolvendo as atividades econômicas feitas com moedas, importadas da China.

    Em 1543 ocorre o primeiro contato com os portugueses, que chegam à deriva no sul do Japão e atracam na praia de Tanegashima, trazendo espingardas, que despertam o interesse dos japoneses, que não conheciam arma de fogo. Poucos anos depois, o padre Francisco Xavier, que se encontrava na China, vai para o Japão com intenção de iniciar catequização no país e em pouco tempo ele consegue autorização do senhor feudal de Yamaguchi para pregar o cristianismo. Assim, enquanto se estabelece o processo de trocas comerciais com o mundo ocidental, o cristianismo começa a crescer.

    Era Azuchi Momoyama (1568-1600)

    Nesse período, Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi – Daimyos ou senhores feudais – vencem inúmeras batalhas e conseguem unificar o Japão. Para demonstrar poder, eles constroem grandes castelos, decorados com extremo luxo e requinte. Por outro lado, nessa mesma época, surgem a cerimônia do chá e o Teatro Noh, que pregam a elegância da simplicidade.

    No início, Nobunaga e, posteriormente, Hideyoshi, mostraram-se favoráveis à introdução do cristianismo, pois queriam diminuir o poder do budismo. Estima-se que em 1582 o Japão tinha 150 mil cristãos e duzentas igrejas. No entanto, em 1587, desconfiado das intenções dos missionários cristãos jesuítas, Hideyoshi emitiu um decreto expulsando-os. Como alguns deles continuaram ativos, e um grupo de franciscanos conseguiu entrar no país em 1593, Hideyoshi intensificou a perseguição dos missionários, proibiu conversões e executou vários franciscanos.

    Esse movimento culminou com a proibição total da entrada de estrangeiros e da saída de japoneses do país. E em 1600, Ieyasu Tokugawa tomou o poder, sendo indicado xogum (governante de fato do país) em 1603.

    Era Edo (1600–1868)

    Uma era bastante peculiar em que o país conheceu a paz durante mais de dois séculos, depois de ter fechado os portos para as nações estrangeiras e proibido o cristianismo. Este isolamento, chamado de "Sakoku", tinha como objetivo preservar as tradições e costumes japoneses.

    Para manter o shogunato, a família Tokugawa adota medidas rígidas e conservadoras, estabelecendo quatro classes sociais distintas: samurais, agricultores, artesãos e comerciantes. O Japão adota a filosofia confucionista e institui escolas nos feudos e templos. Sob o comando do clã Tokugawa, o regime do shogunato se torna militarizado e perdura até à chegada dos norte-americanos, em 1853. Um ano depois, o Japão assinava o Tratado de Kanagawa, que resultou no fim do domínio Tokugawa.

    Era Meiji (1868-1912)

    Com a queda do Shogunato Tokugawa e a restauração do poder imperial, faz-se uma ampla reforma. A ocidentalização do Japão ocorre a olhos vistos, a começar pela adoção do calendário ocidental. A guerra sino-japonesa e a russo-japonesa implantam patriotismo no povo, reforçando o militarismo. O país passa da economia agrícola para a industrial.

    O processo de industrialização começa em 1868, quando o Imperador Mitsuhito sobe ao poder. Foi a partir desse momento que ficou determinado que, para o Japão, uma era começa quando um Imperador ascende ao trono, e termina quando ele morre. A Era Meiji é chamada também de Restauração Meiji porque foi marcada por grandes mudanças que incluíram investimentos em meios de transporte e de comunicação. A educação voltada para a qualificação de mão de obra foi universalizada. A economia foi dominada por clãs familiares que se infiltraram no comércio, nas finanças e na indústria de todos os portes. Nesse período, o processo de industrialização foi dificultado pela falta de matéria-prima e energia, e por um limitado mercado interno.

    Na tentativa de suplantar esses obstáculos, o governo decidiu investir no militarismo para conquistar novos territórios e formar colônias. Entre as sucessivas campanhas militares, a primeira foi a Guerra Sino-Japonesa, ocorrida entre 1894 e 1895. Nessa altura foram ocupadas a Coreia e Taiwan. Quando derrotou a Rússia entre 1904 e 1905, o Japão conquistou as ilhas Sacalinas.

    Eras Taisho (1912-26), Showa (1926-89) e Heisei (1989 ....)

    Durante o século XX o Japão passou por amargas experiências, além de ter participado nas duas Grandes Guerras Mundiais: O maior dos muitos terremotos sofridos pelo arquipélago – o grande terremoto que atingiu Tóquio e imediações em 1923 – matou 140 mil pessoas; e, em agosto de 1945, o Japão foi o único país na face da Terra a ser bombardeado com bombas atômicas. Entretanto, apesar dos pesares, após a Segunda Guerra, conseguiu se reerguer da destruição, tornando-se um dos países mais ricos do mundo.

    Os japoneses, que praticamente ocupavam a Coreia desde 1876, transformaram-na em protetorado em 1905 e, em 1910, em território anexado. Esse domínio perdurou até o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945.

    O Japão participou da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) ao lado da Tríplice Entente (Reino Unido, França e Rússia) e desempenhou importante papel na proteção das rotas marítimas nos oceanos Pacífico e Índico, contra a Marinha Imperial Alemã. Com isso conseguiu expandir sua influência na China (assumindo possessões alemãs) e firmou-se como grande potência na região.

    Em 1931, o Japão ocupou a Manchúria e usou como fantoche, no governo do novo país, Pu Yi, o último Imperador chinês que para lá tinha sido enviado. Confiante nas vitórias, invadiu a seguir a China em 1937, na Segunda Guerra Sino-Japonesa.

    Em 1941, o exército japonês invadiu Pearl Harbor, no Havaí, e provocou a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra. Os norte-americanos combateram os japoneses em várias ilhas do Pacífico, como Iwo Jiwa. Três meses após a rendição alemã, com o intuito de forçar o governo japonês a se render e terminar a guerra, os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, e Nagasaki, três dias depois. O Japão se rendeu em 2 de setembro de 1945 e foi obrigado a aceitar as imposições dos Estados Unidos, que determinaram grandes mudanças no país, com o objetivo de encerrar o regime feudal e o militarismo. Algumas das medidas aplicadas foram: reforma agrária; desmilitarização do país, com o compromisso de que suas forças armadas seriam limitadas e usadas como autodefesa; o Japão passou a ser laico; o Imperador deixou de ser considerado um deus; a monarquia parlamentarista tornou-se o regime de governo.

    Houve grande impacto na sociedade, na economia e na cultura japonesas, que reagiram num esforço de superação. O modelo industrial japonês está entre as explicações para a rápida recuperação do país no pós-guerra. A adoção do Toyotismo garantiu que o país rapidamente alcançasse o posto de segunda nação mais rica do mundo nos anos 70.

    Estrutura Social do Japão Antigo

    Diagrama Descrição gerada automaticamente

    A sociedade japonesa era liderada nominalmente ou figurativamente por um Imperador e sua Corte de Nobres, e governada de fato por um Shogun ou Daimyo

    Imperador: era o regente e chefe espiritual do país, considerado um semideus. A família imperial japonesa é a mais antiga do mundo, uma linhagem contínua que remonta a mais de 2 mil anos. Em alguns períodos dessa longa história, o Imperador teve pouco poder político e delegava o poder de facto, mas sempre deteve grande autoridade simbólica.

    Shogun: título de comandante do exército japonês, honraria e prerrogativa militar conferida pelo próprio Imperador. Até fins do século XII, os Shoguns recebiam o título em nomeação temporária, geralmente para fins de comandar guerra em regiões determinadas. Mas a partir de 1192 e até a Restauração Meiji (1868), o Shogun tornou-se o governante de facto, teoricamente governando em nome do Imperador, o qual se tornou na verdade praticamente prisioneiro dos clãs que controlavam o shogunato.

    Daimyo: título genérico dos grandes proprietários de terras e bens hereditários, que eram inicialmente senhores feudais como os da Europa, mas por volta dos séculos XIV a XVI adquiriram mais poder militar e político, passando a influir no governo do país.

    Abaixo desses poderes surgem as Quatro Castas Sociais Comuns implementadas por Toyotomi Hideyoshi (1537-1598) ao final do século XVI, com base nos preceitos do Xintoísmo e do Budismo, a saber: 

    1*Samurais

    Essa casta, hereditária, representava cerca de 10% da população.

    Em japonês, a palavra samurai significa aquele que serve ao senhor. Os Samurais eram guerreiros que defendiam os Daimyo/Senhores Feudais e que tinham que seguir um código de conduta e ética muito rígido, chamado Bushido. De acordo com a regra, os Samurais deveriam ser leais, resistentes, corajosos e disciplinados. A espada era seu símbolo máximo, e eles se preparavam desde a infância, recebendo treinamentos dos mestres mais experientes.

    Nos séculos XV e XVI, muitos Samurais utilizaram as experiências militares e as qualidades adquiridas para se dedicarem à administração de negócios nas áreas de comércio e agricultura. No século XIX, com a Restauração Imperial (Meiji), ocorreu o fim do feudalismo no Japão e os Samurais foram perdendo prestígio e força.

    O casamento era obrigatório para os Samurais, e geralmente era arranjado pelos pais.  Caso se casasse com uma mulher estéril, o Samurai podia optar por ter uma segunda esposa para gerar seus filhos, ou adotar uma criança para continuar seu legado como herdeiro.

    Fato importante: Quando perdia seu senhor, o Samurai se tornava um ronin, um Samurai sem senhor. (A palavra ronin significa homem-onda, ou seja, um homem sem destino ou propósito). Caso não encontrasse um novo senhor, o ronin se tornava um andarilho.  Essa condição era uma desgraça enorme, pois além de não mais possuírem o direito de servir a um Senhor, os ronins eram impedidos de cometer Seppuku/Suicídio como forma de purificação.  Por onde quer que passassem, eles sofriam a humilhação do povo e muitas vezes se submetiam a um trabalho escravo em troca de um prato de comida. Geralmente tornavam-se bandidos, roubando e saqueando as pessoas, vivendo como marginais.

    2*Camponeses

    Abaixo dos Samurais estavam os fazendeiros e camponeses. Eles estavam acima dos artesãos e mercadores, pois produziam alimentos para todas as classes (superiores e inferiores). Por isso, essa classe era considerada honrada; por outro lado, pagava impostos altíssimos.

    3*Artesãos

    Eles produziam praticamente tudo o que era necessário no dia a dia dos japoneses e até mesmo as espadas para Samurais. Embora não pertencessem a uma casta considerada honrada, como os fazendeiros e camponeses, no geral eles viviam em melhores condições.

    4*Comerciantes

    Estes ocupavam o último lugar e eram considerados parasitas, por lucrarem com o trabalho alheio. Entretanto, mesmo com essa má fama, muitos foram capazes de fazer fortuna no país com o comércio. Com isso veio o poder e a influência política (tal como ocorreu com os burgueses durante a Idade Média na Europa).

    Burakumin/Impuros

    Esta classe representava menos de 2% da população. Eram os desafortunados, encarregados de executar trabalhos considerados impuros pela religião xintoísta ou budista: preparadores de cadáveres e coveiros, executores de criminosos, fabricantes de couro, matadores de animais e açougueiros, limpadores de rua etc. Tradicionalmente essas pessoas viviam em guetos específicos e eram proibidas de frequentar templos de outras castas; o sistema feudal de castas era hereditário, o que perpetuava o estigma social do grupo. A base da discriminação contra os Burakumin estava no preceito xintoísta da pureza, e na crença de que um ser humano podia se tornar impuro ao fazer atividades consideradas sujas. Apenas em 1871 essa classe teve permissão para morar fora de guetos, mas a discriminação social se manteve. Até hoje, grande parte dos trabalhadores em setores sujos como os de lixões ou fábricas de produtos de carne, além de prostitutas, mendigos e artistas de rua, são considerados Burakumin.

    Cultura do Japão

    Os elementos culturais do Japão são em grande parte originários da China; tirando essa influência, o país tinha uma cultura bastante fechada e isolada até o século XVI, quando começou a ter alguma troca com a Europa. Esse contato inicial não durou muito, e sobreveio mais um período de fechamento, de mais de dois séculos; mas finalmente, nos fins do século XIX, houve retomada de contato e um efervescente descobrimento da cultura japonesa na Europa e vice-versa.  Hoje, evidentemente, sua cultura é híbrida, tendo incorporado muitas influências do Ocidente.

    Literatura

    As primeiras obras da literatura japonesa foram fortemente influenciadas pelo contato cultural com a China e com a literatura chinesa. Essas primeiras obras, do século VIII, compilam crônicas históricas, mitologia, lendas e poesia japonesa.

    O período Heian (894 a 1194) foi considerado a época áurea da arte e literatura. Interessante notar que duas das maiores obras do período foram escritas por mulheres. Uma delas, Genji Monogatari/A Lenda de Genji, escrita no século XI por Murasaki Shibuku, é considerada a obra capital da literatura japonesa e o primeiro romance propriamente dito da história. Havia também, no período, constante edição de antologias de poesia.

    Durante o período medieval, os temas principais da literatura foram o ascetismo do budismo zen, a guerra e as considerações acerca da vida e da morte, o renga (poesia colaborativa) e o teatro Nô. Já no período Edo, de fechamento do Japão, predominaram obras como dramas populares, relatos de viagem ilustrados e prosa obscena; e foi aperfeiçoado o gênero haicai de poesia.

    A partir do fim do século XIX os escritores japoneses foram influenciados por outras literaturas, principalmente ocidentais.

    Pintura

    A pintura japonesa começou a se estabelecer no século VI, quando a classe dominante começou a se interessar pelo budismo e sua arte religiosa, que chegaram da China via Coréia. Inicialmente, as pinturas mais importantes e requisitadas eram murais ou frescos nas paredes de templos e monastérios. No período Heian (séculos IX a XII) desenvolveu-se um estilo próprio japonês, chamado "Yamato-e", que começou a substituir o estilo chinês.

    No correr dos séculos foram se ampliando os temas das pinturas, incluindo a ilustração de histórias folclóricas e o retrato de poderosos. Foram também desenvolvidos vários estilos de pintura – monocromática ou bem colorida, por exemplo – e foram sendo adotados diferentes suportes e formatos: telas dobráveis ou biombos, álbum de folhas, pintura em rolos, pintura nas portas de correr entre salões das casas nobres etc.

    Finalmente, no século XVII, no meio do florescente período Edo, surgiu o estilo de arte conhecido como ukiyo-e – literalmente, pinturas do mundo flutuante – que retratava pessoas de todas as classes da sociedade, destacando bordéis e teatros.

    Primeiramente a produção nesse estilo era composta por pinturas únicas, mas a partir do começo do século XVIII passou a ser composta por xilogravuras (uma técnica já conhecida havia séculos). A produção de papel fora introduzida no Japão, vinda da China, por volta do século VII por Damjing e alguns monges de Goguryeo. Mais tarde, o papel tradicional Washi foi desenvolvido a partir do papel chinês; e os ukyio-e passaram a ser impressos nesse papel.  Como essas gravuras podiam ser produzidas em massa, elas estavam disponíveis para vários setores da população japonesa – mesmo aqueles sem riqueza suficiente para adquirirem as pinturas originais – durante o período entre os séculos XVIII e início do XX. Nos fins do século XIX, alguns dos maiores artistas da Europa, incluindo Edgar Degas e Vincent van Gogh foram altamente influenciados pelo estilo de composição, o uso de cores e os temas do ukyio-e, iniciando um movimento que até se chamou Japonismo.

    Caligrafia

    A escrita japonesa – e das outras culturas do leste asiático – era feita a pincel desde a antiguidade até o século XIX; diferentemente da ocidental, onde se usava pena desde o início da escrita.

    Em parte, por isso, o traçado de textos – e às vezes de uma única palavra ou um só ideograma – é visto como uma forma de arte tradicional.

    O estilo e o formato da escrita, incluindo a textura e a velocidade das pinceladas, transmitem conceitos subjetivos, além da beleza estética. Pode-se gastar mais de cem tentativas para produzir um efeito desejado em um único ideograma, e o processo de criar a obra é considerado uma arte em si mesma, além do resultado.

    Essa forma de caligrafia artística é conhecida como Shodô, que literalmente significa o jeito ou a arte de escrever, enquanto Shuji é, mais simplesmente, a competência de escrever bem com o pincel, e faz parte da grade curricular do sistema educacional japonês.

    É comum confundir a caligrafia com a forma de arte conhecida como Sumi-e, que literalmente significa pintura com tinta, a arte de pintar uma cena ou um objeto. E de fato ambas as artes estão associadas na apresentação e no processo, no sentido de que um Sumi-e geralmente é acompanhado de uma descrição ou título traçado na forma de Shodô, e ambos são feitos com a técnica de pinceladas únicas e produção rápida, imediata, sem esboço nem retoques.

    Escultura

    As esculturas tradicionais japonesas consistiam principalmente de imagens budistas, tais como Tathagata, Bodisatva e Myo-o. A escultura mais antiga do Japão é uma estátua de madeira de Amitaba, no Templo Zenko-ji. No período Nara, estátuas budistas foram construídas pelo governo nacional a fim de aumentar o seu prestígio. Há exemplos disso, nos dias de hoje, em Nara e Kyoto, com uma colossal estátua de bronze de Buda Vairochana, no Templo Todai-ji.

    Foto em preto e branco de loja em prédio antigo Descrição gerada automaticamente

    A madeira era tradicionalmente usada como o principal material no Japão, como pode ser observado na arquitetura japonesa tradicional. As estátuas eram geralmente cobertas com ouro ou uma tinta opaca ou brilhante, havendo alguns pequenos traços em sua superfície. Bronze e outros metais também eram usados. Outros materiais, como pedras e cerâmica, tiveram um papel importante nas crenças do povo.

    Arquitetura

    A arquitetura japonesa tem uma história tão longa quanto qualquer outro aspecto da cultura japonesa.

    Foto preta e branca de uma casa Descrição gerada automaticamente

    Originalmente muito influenciada pela arquitetura chinesa, ela desenvolveu muitos aspectos e diferenças que só podem ser vistas no Japão.

    Exemplos de arquitetura tradicional podem ser vistos em templos, santuários xintoístas e castelos japoneses em Kyoto e Nara. Algumas dessas construções são rodeadas de jardins japoneses, que foram influenciados por ideias Zen.

    Jardins

    A arquitetura de jardins é tão importante quanto a arquitetura de construções e é muito influenciada pela origem histórica e religiosa.

    Foto preta e branca de um jardim Descrição gerada automaticamente

    Um princípio primário de design de um jardim é a criação, em três dimensões, de uma paisagem baseada – ou pelo menos muito influenciada – pela pintura de paisagem com tinta monocromática do Sumi-e ou Suibokuga.

    Ikebana

    É a arte japonesa dos arranjos florais. Ela ganhou fama internacional devido ao seu foco na harmonia, uso das cores e ritmo, bem como ao seu design simples e elegante.

    Diagrama Descrição gerada automaticamente

    É uma arte centrada principalmente em expressar as estações e a relação entre o homem, a terra e o céu. São várias as escolas de Ikebana, mas geralmente os arranjos têm 3 ramos ou partes, um representando o céu, um representando a terra, e um representando o homem.

    Origami

    O origami é uma arte oriental que consiste em fazer dobraduras de papel, formando assim pequenas esculturas.

    A palavra advém da junção dos termos "Ori/Dobrar e Kami/Papel".

    Tradicionalmente, as figuras representadas são elementos da natureza, como animais e plantas, sendo que cada uma delas tem um significado específico.

    Uma imagem contendo no interior, quarto, mesa, frutas Descrição gerada automaticamente

    Acredita-se que o origami tenha surgido pouco depois da invenção do papel. Dessa forma, sua história remonta à própria origem do material que ele utiliza como suporte. O papel foi inventado na China, por volta de 105 d.C. A partir do século VII, os monges budistas chineses teriam levado o papel e as técnicas de dobradura para outros países do Oriente; entre eles, o Japão.

    Os japoneses passaram a praticar o Origami e a desenvolvê-lo, tanto que, no século seguinte, passaram a incluí-lo como elemento de rituais xintoístas. Nessa época, havia algumas regras para a criação de origamis. Os papéis não podiam ser colados ou recortados, pois os xintoístas entendiam que somente mantendo-os inteiros poderiam homenagear e honrar as forças divinas das árvores que os originaram.

    O origami usa apenas um pequeno número de dobras diferentes, que, no entanto, podem ser combinadas de diversas maneiras, para originar formas complexas. Geralmente, parte-se de um pedaço de papel quadrado, cujas faces podem ser de cores ou estampas diferentes, prosseguindo-se sem cortar o papel.

    Ao contrário da crença popular, o origami tradicional japonês, que é praticado desde o Período Edo (1603-1868), frequentemente foi menos rígido com essas convenções e permitiu o recorte e a colagem das dobraduras. É o caso do Kirigami e o Kirikomiorigami, em que se pode juntar outras folhas de papel e fazer uso de cola.

    Um fato curioso! Na Alemanha, Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-1852), pedagogo e pedagogista alemão com raízes na escola Pestalozzi, foi

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