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Contos De Fadas Da Grã-bretanha
Contos De Fadas Da Grã-bretanha
Contos De Fadas Da Grã-bretanha
E-book435 páginas5 horas

Contos De Fadas Da Grã-bretanha

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Sobre este e-book

Os Contos de Fadas, narrativas do imaginário popular pertencente à memória coletiva, são metáforas que encontram um novo significado com cada nova narração. Em verdade, cada conto é fruto da contínua releitura de seus ricos conteúdos, que foram interpretados por diferentes indivíduos, em diferentes épocas e lugares. Os Contos de Fadas da Grã-Bretanha, cujas origens são muito antigas, somente foram pesquisados, compilados e publicados na segunda metade do século XIX. Esses contos nos brindam com narrativas ricas, povoadas de míticas criaturas. Mesmo as estórias aparentemente simplistas, como a de um jovem buscando reconquistar sua amada, ressaltam em verdade a complexidade do esforço e os dilemas que todos nós enfrentamos, fazendo-nos vivenciar alguns dos sentimentos e emoções ali expressos. Para os adultos, os contos de fadas proporcionam um senso de nostalgia e familiaridade; para as crianças, eles permitem que elas visitem outro mundo e ajudam a libertar a imaginação. Para Bruno Bettelheim (1903-1990) esses contos ajudam a criança a recriar internamente seus próprios dramas pessoais, pois permitem que elas se imaginem na estória e aprendam a lidar com seus conflitos interiores. Por meio dessas narrativas, a criança vislumbra maneiras de lidar com seus medos e suas falhas, assim como meios de resolver as questões que se colocam como obstáculos para seu desenvolvimento. “Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de um! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! Quando for grande, vou escrever um...” Lewis Carroll
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de jan. de 2021
Contos De Fadas Da Grã-bretanha

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    Pré-visualização do livro

    Contos De Fadas Da Grã-bretanha - Geraldo Spacassassi

    Introdução

    "Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de um!Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria!

    Quando for grande, vou escrever um..."

    Lewis Carroll

    Desde a mais remota antiguidade, os seres humanos se reuniam e contavam suas lendas e contos, disseminando a sua cultura e seus costumes. Como a escrita não havia sido criada, contar estórias era o único veículo de que dispunham para transmitir o conhecimento, tanto objetivando a conservação de suas tradições, como para a difusão de novas ideias.

    Os Contos de Fadas, narrativas do imaginário popular pertencente à memória coletiva, são metáforas que encontram um novo significado com cada nova narração. Assim, não é possível reproduzir a narração original de um conto. Em verdade, cada estória é fruto da contínua releitura de seus ricos conteúdos, que foram traduzidos e interpretados por diferentes indivíduos, em diferentes épocas e lugares.

    Consequentemente, devemos supor que os contos originais diferiam daqueles que hoje conhecemos. Porém, ao longo da constante evolução, sua essência e importância permaneceram inalteradas.

    Os Contos de Fadas da Grã-Bretanha, cujas origens são muito antigas, somente foram pesquisados, compilados e publicados na segunda metade do século XIX.

    Esses contos nos brindam com narrativas ricas, povoadas de míticas criaturas. Mesmo as estórias aparentemente simplistas, como a de um jovem buscando reconquistar sua amada, ressaltam em verdade a complexidade do esforço e os dilemas que todos nós enfrentamos, fazendo-nos vivenciar alguns dos sentimentos e emoções ali expressos.

    Para os adultos, os contos de fadas proporcionam um senso de nostalgia e familiaridade; para as crianças, eles permitem que elas visitem outro mundo e ajudam a libertar a imaginação.

    Para Bruno Bettelheim (1903-1990), psicólogo austríaco radicado nos Estados Unidos, esses contos ajudam a criança a recriar internamente seus próprios dramas pessoais, pois permitem que elas se imaginem na estória e aprendam a lidar com seus conflitos interiores. Por meio dessas narrativas, a criança vislumbra maneiras de lidar com seus medos e suas falhas, assim como meios de resolver as questões que se colocam como obstáculos para seu desenvolvimento.

    O desenvolvimento infantil é marcado por etapas, cada uma com suas peculiaridades. Porém, em todas elas, algo em comum se destaca: a necessidade de referência e segurança. Ao vivenciar esses contos, a criança se sente mais esperançosa e pronta para encarar as dificuldades que emergem em sua vida.

    Se quiser que os seus filhos sejam brilhantes, leia contos de fadas para eles.

    Se quiser que sejam ainda mais brilhantes, leia ainda mais contos de fadas.

    Albert Einstein

    Foto em preto e branco de barco Descrição gerada automaticamente com confiança média

    Parte 1: Grã-Bretanha – Divisões Geográficas e Políticas

    Geralmente, referimo-nos a essa região do globo por uma de suas denominações – Inglaterra, Reino Unido, Grã-Bretanha – indiscriminadamente, sem atentarmos para o significado específico de cada nome em termos geográficos e políticos, o que certamente gera certa confusão.

    Considero oportuno elucidar este aspecto em termos atuais.

    Divisão Geográfica do Arquipélago Britânico

    As Ilhas Britânicas compõem um arquipélago ao largo da costa noroeste da Europa Continental.

    Dentre elas, duas se destacam pela extensão do território: a Ilha da Grã-Bretanha e a Ilha da Irlanda, seguidas das demais, adjacentes a elas.

    Divisão Política do Arquipélago Britânico

    Uma imagem contendo texto Descrição gerada automaticamente

    A Grã-Bretanha (Great Britain), a maior das Ilhas Britânicas, abrange a maior parte do país conhecido como Reino Unido (United Kingdom).

    Na ilha da Grã-Bretanha estão três das quatro nações britânicas:

    (1) Inglaterra (England), ao sul; sua capital é Londres (London);

    (2) Gales (Wales), a oeste; sua capital é Cardife (Cardiff).

    (3) Escócia (Scotland), ao norte; sua capital é Edimburgo (Edinburgh);

    (4) A quarta nação, a Irlanda do Norte (Northen Ireland), cuja capital é Belfast, situa-se ao norte da Ilha da Irlanda, como seu nome sugere.

    A Escócia Ocidental é orlada pela grande cadeia de ilhas conhecida como as Hébridas (Hebrides) e para nordeste da Escócia estão as Ilhas Órcades (Orkney) e Shetland. Todas, com as Ilhas de Wight, Anglesey e Scilly têm laços administrativos com Reino Unido.

    Não pertencem ao Reino Unido: a parte maior da Ilha da Irlanda, que constitui a República da Irlanda (capital Dublin), bem como a Ilha de Man, no Mar da Irlanda, e as Ilhas do Canal, entre a Grã-Bretanha e a França.

    São chamados britânicos os cidadãos do Reino Unido, das Dependências da Coroa Britânica ou de qualquer um dos territórios britânicos ultramarinos. É errôneo, embora comum, usar o termo como sinônimo de inglês, já que esta última palavra designa apenas quem nasce ou reside na Inglaterra, que é a maior nação constituinte do Reino Unido, porém não se confunde com este.

    Imagem em preto e branco Descrição gerada automaticamente

    Parte 2: Evolução dos Contos de Fadas na Grã-Bretanha

    Na segunda metade do século XIX, os Contos de Fadas na Europa Continental, após grande sucesso editorial, enfrentaram um ciclo de decadência, enquanto na Grã-Bretanha ocorreu o inverso.

    Curiosamente, o interesse, divulgação e popularização dos Contos de Fadas Clássicos cresceu, graças ao esforço e dedicação de vários estudiosos e pesquisadores.

    Merecem destaque:

    Andrew Lang (1844-1912)

    Uma imagem contendo pessoa, terno, homem, vestuário Descrição gerada automaticamente

    No final do século XIX, o escritor, poeta, novelista, antropólogo e crítico literário escocês Andrew Lang realizou um trabalho pioneiro, já que, até então, coleções de Contos de Fadas na Grã-Bretanha eram raras.

    Lang foi o primeiro tradutor para a língua inglesa da maior parte dos contos dos autores da Europa Continental, tais como os franceses Charles Perrault (1628-1703) e Marie-Catherine d'Aulnoy (1651-1705), e os irmãos alemães Jacob (1785-1863) & Wilhelm (1786-1859) Grimm, dentre outros.

    Como Lang reconheceu nos prefácios, embora ele fosse responsável pela seleção das obras, sua esposa e outros tradutores fizeram grande parte das traduções e releituras das estórias.

    Sua obra "Livro Azul das Fadas/Blue Fairy Book é uma coleção de doze livros, publicados entre 1889 e 1910, onde são apresentados um total de 437 contos de diversos países e culturas. A essa coleção se seguiram outras, que, coletivamente, são conhecidas como Livros das Fadas de Lang/ Lang's Fairy Books".

    Logicamente, isso tudo não aconteceu por um passe de mágica. Lang teve de enfrentar a oposição dos críticos educacionais que julgavam seus contos irreais, brutais, escapistas e prejudiciais aos jovens leitores. Mas, ao longo de uma geração, os livros de Lang provaram seu valor e causaram uma revolução na opinião pública.

    Joseph Jacobs (1854-1916)

    Na mesma época em que era publicada a obra de Lang e era despertado o interesse do público pelos contos maravilhosos, o estudioso e pesquisador Joseph Jacobs começava a resgatar os contos da tradição local, que até então não haviam sido documentados. A obra desse britânico merece um destaque especial, pois será o enfoque desta pesquisa. Vamos conhecê-lo melhor.

    Esse premiado crítico literário, historiador, folclorista, editor e autor de livros nasceu em Sydney, na Austrália, em 29 de agosto de 1854. Agraciado com uma bolsa de estudos, ingressou na Universidade de Sydney, dedicando-se ao estudo dos clássicos, da matemática e da química. Joseph, porém, não completou seus estudos em Sidney.

    Com 18 anos de idade, mudou-se para Inglaterra. Lá chegando, ingressou no St. John's College/University of Cambridge, dedicando-se ao estudo de matemática, filosofia, literatura, história e antropologia, conquistando o grau acadêmico de Bachelor of Arts/Bacharel em Artes em 1876.

    Durante sua estada na Inglaterra, coletou e pesquisou as estórias de tradição oral e publicou os "Contos do Folclore Inglês/English Fairy Tales" em 1890. Suas outras obras incluem coleções de Contos de Fadas Celtas, uma coleção de Contos de Fadas Indianos, uma edição das Fábulas de Esopo e um livro de viagens.

    Foi secretário da Sociedade de Literatura Hebraica de 1878 a 1884 e, em 1882, destacou-se como escritor de uma série de artigos no The Times sobre a perseguição de judeus na Rússia.

    Em 1900, mudou-se para Nova Iorque, nos Estados Unidos, para trabalhar como editor da Jewish Encyclopedia.

    Jacobs morreu de doença cardíaca em sua casa em Yonkers, Nova Iorque, em 30 de janeiro de 1916, e foi enterrado no Temple Emanuel Cemetery, Mt Hope.

    Inspirados pelo trabalho desses dois pioneiros, outros escritores produziram obras voltadas ao público infantil, dentre os quais destacaremos:

    Oscar Wilde (1854-1900)

    Uma imagem contendo pessoa, vestuário, parede, mulher Descrição gerada automaticamente

    Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde, ou simplesmente Oscar Wilde, foi um influente escritor, poeta e dramaturgo britânico de origem irlandesa.

    Wilde nasceu em Dublin quando a atual República da Irlanda ainda pertencia ao Reino Unido, na forma do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Sua família era protestante, mas ele se converteu à Igreja Católica. Estudou na Portora Royal School em Enniskillen e no Trinity College em Dublin, onde se sobressaiu como latinista e helenista. Ganhou depois uma bolsa de estudos para o Magdalen College de Oxford.

    Wilde saiu de Oxford em 1878 e passou a morar em Londres, onde começou a ter uma vida social bastante agitada, marcada por suas atitudes extravagantes. Foi convidado para ir aos Estados Unidos a fim de dar uma série de palestras sobre o movimento estético por ele fundado, o esteticismo ou dandismo, que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial.

    Em 1883, foi para Paris e entrou para o mundo literário local, o que o levou a abandonar seu movimento estético. Voltando para a Inglaterra, casou-se com Constance Lloyd, filha de um rico advogado de Dublin, e foi morar em Chelsea, bairro de artistas londrinos. Com Constance teve dois filhos: Cyril, em 1885, e Vyvyan, em 1886.

    Dentre suas obras, hoje clássicos da literatura e dramaturgia britânica, merecem destaque:

    1890 - "O Retrato de Dorian Gray/The Picture of Dorian Gray", seu único romance, considerado por muitos críticos como uma obra-prima da literatura britânica, no qual Wilde trata da arte, da vaidade e das manipulações humanas.

    1891 - "O Crime de Lorde Arthur Savile/Lord Arthur Savile's Crime".

    1892 – "O Leque de Lady Windermere/Lady Windermere's Fan".

    1893 – "Uma Mulher sem Importância/A Woman of No Importance".

    1895 – "Um Marido Ideal/An Ideal Husband e A Importância de ser Prudente/The Importance of Being Earnest".

    Entretanto, Wilde não se limitou a produzir obras destinadas ao público adulto; sua produção literária inclui Contos de Fadas escritos para os seus filhos, que serão enfocados nesta pesquisa, graças a sua beleza e importância. São eles:

    Em 1888: "O Príncipe Feliz e Outros/The Happy Prince and Other Tales", que engloba 5 contos:

    "O Príncipe Feliz/The Happy Prince"

    "O Rouxinol e a Rosa/The Nightingale and the Rose"

    "O Gigante Egoísta/The Selfish Giant"

    "O Amigo Dedicado/The Devoted Friend"

    O Foguete Notável/The Remarkable Rocket

    Em 1891: "A Casa Das Romãs/A House of Pomegranates", que engloba 4 contos:

    "O Jovem Rei/The Young King"

    "O Aniversário da Infanta/The Birthday of the Infanta"

    "O Pescador e sua Alma/The Fisherman and His Soul"

    "O Filho da Estrela/The Star-Child"

    J. M. Barrie (1860-1937)

    Uma imagem contendo pessoa, homem, vestuário, terno Descrição gerada automaticamente

    Sir James Matthew Barrie foi um escritor e dramaturgo britânico nascido na Escócia, no pequeno condado escocês de Angus. Barrie frequentou a Glasgow Academy e a University of Edinburgh, até se mudar para Londres em 1885, para seguir carreira de dramaturgo e escritor.

    Escreveu diversas peças teatrais e livros, em sua maioria voltados para o público adulto, inclusive a peça "O Menino Que Nunca Quis Crescer/The Boy Who Wouldn't Grow Up" de 1904, que deu origem ao famoso personagem Peter Pan, sua mais célebre e famosa criação. Peter Pan era um menino criado pelas fadas que conseguia voar e vivia em uma terra mágica chamada Neverland/Terra do Nunca, onde não envelhecia jamais.

    Porém, só em 1911 o romance "Peter and Wendy, ou simplesmente Peter Pan, foi publicado em livro. Antes dessa publicação, Barrie escreveu os romances Little White Bird (1902) e Peter Pan in Kensington Gardens" (1906), ambos inspirados no personagem, narrando suas aventuras nos Jardins de Kensington, em Londres.

    Acredita-se que, para criar o mundo mágico de Peter Pan, Barrie se inspirou em sua amizade com os 5 filhos de Sylvia Llewelyn Davies (filha do romancista George du Maurier), com quem manteve longa amizade. Ele se tornou tutor dos garotos depois da morte de Sylvia e seu marido.

    Em vida, Barrie doou os direitos autorais da estória de Peter Pan ao Hospital Pediátrico Great Ormond Street. Ele faleceu em 1937, vítima de uma forte pneumonia.

    Contos Infantis Estranhos e Maravilhosos

    Como mencionado anteriormente, na segunda metade do século XIX os Contos de Fadas na Europa Continental enfrentavam um ciclo de decadência.

    Nesse período surgiu uma nova tendência quando da publicação do conto "Pinóquio/Pinocchio", do jornalista e escritor italiano Carlo Collodi (1826-1890). Segundo essa nova escola, a magia, metamorfose ou encantamento dos contos de fadas tradicionais foram substituídos pelo fantástico, o estranho e o absurdo – o nonsense de base racionalista. Na Grã-Bretanha o grande expoente dessa nova modalidade foi o inglês Lewis Carroll.

    Lewis Carroll (1832-1898)

    Uma imagem contendo parede, homem, pessoa, foto Descrição gerada automaticamente

    Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo seu pseudônimo Lewis Carroll, foi romancista, contista, fabulista, poeta, desenhista, fotógrafo, matemático e reverendo anglicano.

    Lecionou matemática no Christ College, em Oxford.

    Lewis Carroll, sem dúvidas, foi o principal representante da nova escola de base racionalista, a partir do seu livro "Alice no País das Maravilhas/Alice's Adventures in Wonderland", publicado em 1865.

    Graças ao sucesso alcançado, escreveu "Alice Através do Espelho/Through the Looking-Glass and What Alice Found There" em 1871.

    P. L. Travers (1899-1996)

    Uma imagem contendo parede, pessoa, foto, interior Descrição gerada automaticamente

    Helen Lyndon Goff (esse é seu nome real) nasceu em Maryborough, Queensland, Austrália; foi atriz, jornalista e escritora, tornando-se conhecida como a autora de uma série de 8 livros cuja protagonista é a babá Mary Poppins:

    "Mary Poppins", London: Gerald Howe, 1934

    "Mary Poppins Comes Back", London: L. Dickson & Thompson Ltd., 1935

    "Mary Poppins Opens the Door", London: Peter Davies, 1943

    "Mary Poppins in the Park", London: Peter Davies, 1952

    "Mary Poppins From A to Z", London: Collins, 1963

    "Mary Poppins in the Kitchen", New York & London: Harcourt B. Jovanovich, 1975

    "Mary Poppins in Cherry Tree Lane", London: Collins, 1982

    "Mary Poppins and the House Next Door", London: Collins. 1988.

    Ela era filha do emigrante londrino Travers Goff, um humilde funcionário de um banco da Austrália rural, e não de um irlandês que administrava uma plantação de açúcar, como gostava de contar – e como acabou escrevendo o The New York Times em seu obituário.

    Em 1924, ao se mudar para a Inglaterra, adotou o nome Pamela Lyndon Travers, passando a usar o pseudônimo P. L. Travers ao publicar suas obras.

    Os milhões de fãs do filme Mary Poppins, de 1964, não sabem que foi apenas após 20 anos de muita insistência, encontros e desencontros, que Walt Disney conseguiu convencer P. L. Travers, que então enfrentava séria crise financeira, a negociar os direitos autorais de seu livro. Ele então finalmente se transformou em um filme estrelado por Julie Andrews, que foi um grande sucesso de bilheteria na época e ainda hoje continua conquistando muitos corações.

    Travers faleceu em 23 de abril de 1996 em Londres. 

    Foto em preto e branco Descrição gerada automaticamente

    Parte 3: Contos de Fadas Britânicos

    Contos de Joseph Jacobs

    O Rei John e o Abade de Canterbury

    O reinado do Rei John, conhecido como "John Lackland/João Sem Terra", que se estendeu de 1199 a 1216, foi tema de debates e revisões históricas após o século XVI. Segundo alguns historiadores, o Rei John foi um administrador dedicado e um general capaz; segundo outros, era um indivíduo com traços de personalidade desagradáveis e até mesmo perigosos, como mesquinhez, maldade e crueldade.

    Conta-se que durante esse reinado havia um importante e vaidoso prelado, o Abade de Canterbury, proprietário de uma vasta extensão de terras e propriedades em torno da Abadia. Seus subordinados, uma centena de homens, jantavam com ele diariamente em seu refeitório, e cinquenta cavaleiros, bem equipados e trajados, os serviam. 

    O Rei John era um tirano invejoso e, consequentemente, incapaz de aceitar a idéia de que alguém em seu Reino pudesse desfrutar de honrarias e riquezas maiores do que as dele, não importando quão santo esse indivíduo pudesse ser.

    Irritado, convocou o Abade de Canterbury à sua presença.

    O Abade veio com seu séquito de cinquenta cavaleiros, que portavam mantos de veludo e correntes de ouro.

    O Rei o recebeu e disse-lhe:

    Como é possível isso, Abade? Tenho conhecimento de que você detém um padrão de vida superior ao meu! Isso fere a minha dignidade real e se configura em traição!

    O Abade, inclinando-se humildemente, respondeu:

    Meu Rei, imploro que me ouça! Tudo o que eu gasto foi livremente dado à Abadia, graças à piedade do povo. Eu confio que Sua Majestade não leve a mal os gastos que faço para o bem da Abadia, com os recursos que são da Abadia!

    O Rei respondeu:

    Não, orgulhoso prelado! Tudo o que está neste Reino da Inglaterra é meu, e você não tem o direito de me envergonhar, ostentando tal poder! No entanto, serei clemente. Vou poupar a sua vida e as suas propriedades, se me responder três perguntas.

    O Abade respondeu:

    Meu Rei! Vou fazê-lo até onde minha pobre sagacidade possa alcançar!

    O Rei então prosseguiu:

    Pois bem, eis as minhas perguntas:

    Quanto vale um Rei como eu?

    Quanto tempo eu levaria para dar a volta ao mundo a cavalo?

    E, por último, diga-me: o que eu estou pensando aqui e agora?

    Gaguejando, o Abade disse:

    Sua Majestade deve estar brincando comigo, não?

    O Rei retrucou:

    Certamente não estou! Se você não me responder essas três perguntas em uma semana, será decapitado!

    O Abade, apavorado, partiu imediatamente e dirigiu-se a Oxford, onde supunha que algum dos doutores lhe daria as respostas a essas perguntas, mas ninguém pôde ajudá-lo. Triste e abatido, ele seguiu viagem em direção a Canterbury.

    Já no fim da jornada ele cruzou com um de seus pastores, que conduzia seu rebanho.

    Ao vê-lo, o pastor disse:

    Senhor Abade! Bem-vindo de volta à casa! Que boa notícia nos traz do Rei John?

    O Abade respondeu:

    Meu caro pastor! Trago má notícia, desgraçadamente!

    Ele então contou ao pastor o que havia acontecido.

    O pastor, um servo fiel, disse-lhe:

    Senhor Abade, anime-se! Um tolo talvez responda o que um sábio não sabe! Eu irei para Londres em seu lugar! Conceda-me apenas sua roupa e um séquito de cavaleiros. Pelo menos, poderei morrer em seu lugar!

    O Abade respondeu:

    Não, caro pastor! Isso não é nem correto, nem fácil! Somente eu devo enfrentar essa provação e correr esse perigo. Afinal, você não terá chance de passar por mim!

    O pastor argumentou:

    Claro que posso, Senhor Abade! Usando roupas adequadas e um capuz, quem irá conhecer-me pelo que sou? Repare que nós dois temos a mesma altura e o mesmo porte!

    Finalmente, o Abade consentiu e enviou-o para Londres, acompanhado por uma comitiva em trajes esplêndidos.

    Lá chegando, o pastor se apresentou diante do Rei John com toda a sua comitiva. Mas, desta vez, ele trajava um hábito simples, de monge penitente, com um capuz que lhe ocultava o rosto.

    O Rei John disse:

    Bem-vindo, Senhor Abade! Pelo que vejo, você está preparado para a sua desgraça!

    O pastor disse:

    Estou pronto para responder, Majestade!

    O Rei disse:

    Muito bem! Responda à primeira questão: Quanto vale um Rei como eu?

    O pastor, confiante, disse:

    Jesus, Nosso Salvador, foi vendido por 30 moedas. Portanto, o valor de um Rei é 29 moedas, pois acho que Sua Majestade concordará que vale uma moeda a menos do que Nosso Senhor.

    O Rei sorriu e exclamou:

    Por São Botolfo! (St. Botolph of Thorney (610-680) monge santo inglês) Eis uma bela e astuta resposta! Nunca pensei que eu valesse tão pouco!

    Vamos à segunda pergunta: Quanto tempo eu levaria para dar a volta ao mundo a cavalo?

    O pastor respondeu:

    Se Sua Majestade partir ao nascer do dia e seguir cavalgando atrás do Sol até a manhã seguinte, quando o astro nascer outra vez, terá dado a volta ao mundo! Ou seja, em 24 horas!

    O Rei John, rindo, disse:

    Por São João Batista! Nunca pensei que a volta ao mundo pudesse ser feita tão depressa! Mas, tudo bem! Agora me responda à terceira pergunta: "O que eu estou pensando aqui e agora?"

    Destemidamente, o pastor respondeu:

    Isso é fácil! Sua Majestade pensa que está falando com o Abade de Canterbury. Mas, na verdade, sou apenas um pobre pastor de ovelhas, um servo do Abade!

    Afastando do rosto o capuz de monge, ele concluiu:

    Estou aqui para pedir perdão para mim e para o meu amo, o Abade!

    O Rei não pode conter o riso... Recompondo-se, disse:

    Gostei! Muito bem arquitetado! Como você é muito mais sagaz que o seu senhor, assumirá seu posto! Será o novo Abade!

    O pastor, assustado, disse:

    Majestade, não pode ser! Não tenho condições, não sei escrever, nem ler!

    O Rei, então, se pronunciou:

    Muito bem! O Abade tem meu perdão e continuará em seu posto, mas ordeno que ele pague a você, caro pastor, quatro libras semanais por sua sagacidade! Transmita isso a ele!

    Bem-humorado, o Rei John dispensou o pastor, após oferecer-lhe um valioso presente, além da pensão semanal.

    Feliz, o pastor retornou a Canterbury com a comitiva.

    Cortejando Olwen

    Kilyth, filho do Príncipe Kelyddon, desejava ardentemente uma esposa; a eleita foi a jovem Goleudid, filha do Príncipe Anlawd.

    No reino todos se regozijaram com essa união e oraram muito para que os céus lhes concedessem herdeiro. As orações foram atendidas e alguns meses depois nasceu o menino Kuhuch.

    Infelizmente, a Rainha Goleudid teve um parto difícil; enfraqueceu muito e não mais se levantou do leito. Ciente de que seu fim se aproximava, ela chamou Kilyth, seu marido, exortando-o a encontrar uma nova esposa, uma mulher adequada que não viesse a prejudicar o filho. Porém, ele só deveria se casar novamente quando uma roseira selvagem brotasse em seu túmulo e de um de seus galhos nascessem duas rosas. O Rei Kilyth, consumido pela dor, prometeu cumprir à risca seu desejo. Goleudid pediu ainda que seu túmulo fosse cuidado e mantido livre das ervas daninhas. Após expressar seu último desejo, ela cerrou os olhos, partindo deste plano.

    Todas as manhãs, um servo especialmente designado pelo Rei se dirigia à sepultura da Rainha, para constatar que nada havia nascido. Essa rotina se estendeu por sete anos e, daí em diante, foi interrompida. A promessa feita à Rainha fora negligenciada.

    O tempo passou...

    Certo dia, durante uma caçada, o Rei se deu conta de estar próximo à sepultura da saudosa esposa... Dirigiu-se até lá, constatando a existência de duas magníficas rosas nascidas num mesmo galho de uma roseira. Era hora de tomar uma nova esposa.

    Tão logo retornou ao castelo, ele convocou uma reunião com os nobres, solicitando a eles que lhe indicassem uma mulher digna de ser sua esposa. Após algum tempo, um de seus conselheiros informou-o de que a mulher ideal para ele era a esposa do Rei Doged.

    Kilyth gostou da sugestão e simplesmente, comandando um pequeno exército, invadiu as terras do Rei Doged, matou-o, apoderou-se de suas terras e casou-se com a esposa dele. A viúva do Rei Doged era irmã de Yspathaden Penkawr.

    Certo dia, a madrasta disse ao jovem Kuhuch que estava na hora de arrumar uma esposa. O rapaz retrucou que ainda não tinha idade suficiente para se casar.

    Confiante, ela disse que previa estar ele destinado a se unir com sua sobrinha Olwen, filha de Yspathaden Penkawr. O jovem corou e um amor por essa donzela brotou naturalmente, invadindo todo seu ser, apesar de não a ter visto ainda.

    Essa súbita modificação em Kuhuch não passou despercebida para seu pai, que lhe fez indagações, querendo saber o que se passava com ele. O rapaz então relatou a previsão da madrasta sobre sua possível união com a jovem Olwen.

    Kilyth disse que isso não seria um problema, afinal o Rei Arthur era seu primo; ele teria apenas de se dirigir a Camelot e pleitear a jovem através de um favor (boon).

    Kuhuch não titubeou! Seguindo o conselho de seu pai pôs-se a caminho de Camelot, após se preparar condignamente para tal aventura. Ele optou por exibir um traje luxuosíssimo e armas espetaculares, adornadas em ouro e pedras preciosas; sem falar de seu fabuloso cavalo com arreios de ouro e pedrarias.

    Chegando a Camelot, Kuhuch deparou-se com a grande porta do castelo fechada – aquela que dava acesso ao grande salão. Numa atitude autoritária e arrogante, própria da juventude e inexperiência, ordenou que a porta fosse aberta.

    O guardião de plantão, Glewlwyd, informou-lhe, através da portinhola lateral, que a corte estava reunida em assembleia e que, nessas ocasiões, os visitantes não eram admitidos. Mas, percebendo a irritação do jovem, ofereceu-lhe alojamento e alimento digno de sua estirpe. Kuhuch não só recusou a oferta, como ameaçou trazer toda sorte de desgraças ao local, caso não fosse recebido por Arthur imediatamente.

    Pacientemente, Glewlwyd fechou a portinhola, deixando-o a falar sozinho, e dirigiu-se à corte, relatando o que estava ocorrendo e fazendo uma declaração que despertou a curiosidade de todos:

    Majestade! Eu já conheci muitos nobres e pessoas ilustres, mas jamais alguém como este jovem, com tal porte e dignidade!

    Sorrindo, Arthur ordenou ao guardião que o trouxesse, afinal não era gentil deixá-lo aguardando ao relento.

    Kay interveio, lembrando ao Rei que uma regra estava sendo quebrada.

    Arthur retrucou, afirmando ter plena consciência de sua atitude, mas a cortesia e a hospitalidade deveriam sempre preceder uma regra; eram elas que fundamentavam a reputação, a fama e a glória de Camelot.

    Kuhuch finalmente adentrou o salão nobre em grande estilo; muito polidamente saudou o Rei e todos os demais nobres e cavaleiros presentes. Arthur o convidou a tomar assento junto aos seus cavaleiros e participar da ceia.

    Ele gentilmente declinou o convite, informando que seu propósito era apenas solicitar um favor (boon).

    O Rei, sorrindo, disse-lhe que o concederia de bom grado, excluindo, é claro, o navio Prydwen, a espada Excalibur, a lança Ron e sua esposa Guinevere. Kuhuch rogou ao Rei que desejava ter sua cabeça abençoada por ele.

    Arthur solenemente pediu que Kuhuch se aproximasse e se ajoelhasse diante dele. Então, apanhando uma tesoura e um pente de prata, cortou o cabelo do jovem e o penteou. Ao assim fazer, Arthur sentiu uma energia especial: algo o unia a esse belo jovem. Ele pediu que o rapaz se apresentasse formalmente.

    Com voz firme, ele declarou ser Kuhuch, filho de Kilyth, filho do Príncipe Kelyddon, e de Goleudid, filha do Príncipe Anlawd. A intuição de Arthur estava correta: eram primos. Feliz, Arthur o abraçou, exortando-o a solicitar o favor (boon) que almejava.

    Grave e solene, Kuhuch implorou ao

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