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Mitos Nórdicos
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E-book672 páginas6 horas

Mitos Nórdicos

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Sobre este e-book

Embarque nesta aventura! Você se surpreenderá com os “Mitos Nórdicos”! Nesta jornada, você participará de uma experiência única e fascinante..., um retorno à “Era Viking”, que engloba, resumidamente, o seguinte roteiro: Cosmogonia e o Panteão Nórdico; Contos, Sagas e Lendas Nórdicas; Ragnarok/Crepúsculo dos Deuses; Saga dos Volsungs; As Runas; Lenda de Beowulf. Não obstante algumas narrativas apresentarem eventos trágicos, a maioria delas possuem um cunho cômico, envolvente e instigante..., exortando-nos a conduzir nossa existência com garra, determinação e otimismo, apesar de todas as adversidades! A característica mais marcante dos povos nórdicos era o desejo de reconhecimento – algo crucial para eles! A reputação conquistada era a única esperança de imortalidade possível. Fatalistas, nenhum Viking acreditava que poderia mudar o seu destino. Somente aquele que enfrenta destemidamente todas as dificuldades, suportando toda dor e rindo-se dela, conquistará a fama, esculpindo um nome para si através da coragem, verdade, honra e disciplina. Talvez por causa dessa postura fatalista, as qualidades dos seres humanos que emergem desses mitos são nobres e fascinantes; seus deuses são figuras heroicas, vivendo uma existência perigosa, individualista, mas, ao mesmo tempo conectada ao clã, com um senso firme de valores e lealdade. Não encontraremos nesses mitos nenhum sentimento de amargura em relação à vida, mas sim um espírito de resignação heroica. Para eles, o grande presente que os deuses nos ofertam é tão somente a prontidão para enfrentar o mundo como ele é!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jun. de 2023
Mitos Nórdicos

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    Mitos Nórdicos - Geraldo Spacassassi

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    *Introdução

    Relato Pessoal

    Os Mitos sempre me fascinaram.... Na infância, sempre que um livro, revista em quadrinhos ou filme abordando esses temas cruzava meu caminho, mergulhava fundo nesse universo mágico. Em especial, recordo-me do impacto da Lenda do Rei Arthur – tinha onze anos, quando fui presenteado com uma edição especial em quadrinhos: foi uma paixão instantânea, marcando a transição da minha infância para a adolescência. Posteriormente, através do cinema, nasceu meu interesse pelo universo dos heróis: Ulisses, os Argonautas, os Vikings, a Guerra de Troia, Perseu. Já adulto, através do teatro, tive a chance de complementar esse conhecimento, assistindo às tragédias: Édipo, Medéia, Antígone, Bacantes, Prometeu Acorrentado... Somente nos anos 90 a Mitologia Grega veio a se tornar parte integrante de meu trabalho; e esse fascínio, para minha surpresa, não terminou, ao contrário, cresceu. Assim, impulsionado pelo estímulo de meus alunos, realizei um trabalho de pesquisa sobre esse tema, que resultou no livro Mitos Gregos. Durante a elaboração dessa pesquisa, inconscientemente, acabei sendo guiado e atraído pelos diversos elos dessa imensa corrente; cada um deles propiciando novas conexões e descobertas. Assim, acabei enveredando no universo dos Mitos Romanos, incluído como apêndice na obra citada. Mas, para minha surpresa, as conexões não pararam por aí.... Durante o processo de elaboração e análise dos Mitos Romanos, insinuou-se um elo forte, atado às raízes míticas da Grã-Bretanha. A velha paixão adormecida ressurgiu, incentivando-me a encarar um novo desafio. O fruto desse trabalho foi o livro Contos e Lendas Arturianas. As conexões continuaram... Durante a elaboração da compilação das lendas arturianas, um novo elo surgiu, impelindo-me a realizar esta pesquisa sobre os Mitos Nórdicos que agora ofereço a você!

    Considerações Preliminares

    A História, tanto a formal como a mítica, é sempre uma tentativa de analisar o passado, focando-o com base no processo de mudança contínua da sociedade humana. Esses relatos, é importante ressaltar, dependem muito da visão e postura do pesquisador. Consequentemente, os vilões descritos num certo contexto e período serão, em sua terra natal ou numa nova fase, considerados heróis, salvadores do reino. Os povos nórdicos descritos nas lendas arturianas são classificados como vilões invasores, mas neste trabalho de pesquisas serão enfocados como heróis e desbravadores. Uma questão de ponto de vista, apenas. Afinal, toda moeda tem dois lados e, como nos alertavam os sábios, somos livres para escolher, mas escravos das consequências.

    Desenho de animal Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

    Povos Nórdicos – Era Viking

    "O gado morre, os parentes morrem, eu morrerei, mas uma coisa – isto nós sabemos – nunca morre: a reputação

    que deixamos após nossa partida".

    The Havamal

    A característica mais marcante dos povos nórdicos era o desejo de reconhecimento ou fama; não importando o quão limitado fosse, isso era crucial para eles. A reputação ou fama conquistada era a única esperança de imortalidade possível, pois não acreditavam numa outra vida atemporal. Eram essencialmente fatalistas; nenhum Viking acreditava que poderia mudar o seu destino. Consequentemente, tanto a extensão de uma vida, quanto o dia da morte de um ser, era algo fadado, fixo e ordenado. E um ser humano amargurado, acovardado, jamais ganhará respeito ou admiração. Somente aquele que enfrenta destemidamente todas as dificuldades e até a morte inevitável, suportando toda dor e rindo-se dela, conquistará a fama, esculpindo um nome para si através da coragem, verdade, honra, fidelidade, independência, disciplina e perseverança.

    Esse fatalismo, tão fundamental para os nórdicos, reflete-se nos seus mitos. A destruição dos poderes é inevitável; um tempo há de vir quando toda a criação será destruída pelo fogo e pela água. Entretanto, apesar dessa postura determinista, ou talvez por causa dela, as qualidades dos seres humanos que emergem dos mitos são nobres e fascinantes. Eles renunciaram à própria vida, ao invés de abdicar daqueles valores; lutaram bravamente, até o fim, desde que a vida ainda valesse a pena.

    Seus deuses são figuras heroicas, vivendo uma existência perigosa, individualista, mas, ao mesmo tempo conectada a um pequeno grupo, com um senso firme de valores e intensa lealdade.

    Embora servindo e honrando esses deuses, os indivíduos tinham plena consciência de que eles não os livrariam dos perigos e calamidades; aliás, nem admitiriam que eles assim o fizessem. Não encontraremos nos mitos nenhum sentimento de amargura, rancor, revolta ou senso de injustiça em relação à vida, mas sim um espírito de resignação heroica. A humanidade nasce para enfrentar desafios; assim, com coragem e determinação, o enfrentamento desses obstáculos se transmuta em aventuras e maravilhas que merecem tão somente nossa gratidão; eles são algo que nos é dado para ser apreciado enquanto houver vida em nós.

    O grande presente que os deuses ofertam é tão somente a prontidão para enfrentar o mundo como ele é; buscando sempre a sorte e a oportunidade de conquistarmos a glória, a única coisa que afinal sobrevirá após nossa morte.

    Ao analisarmos esses mitos, identificaremos, por um lado, o espírito de confiança dos Vikings, sua curiosidade sem limites, sua extrema bravura aliada à lealdade, generosidade e disciplina; por outro, detectaremos sua arrogância, falta de compaixão, astúcia e crueldade.

    Propositalmente, este trabalho foi desenvolvido numa linguagem simples, didática, evitando citações das fontes clássicas, notas etc. Na preparação desta pesquisa, utilizei e consultei excelentes obras, escritas por especialistas, devidamente creditadas na bibliografia no final desta pesquisa. Esses conceituados autores por sua vez se valeram das fontes clássicas, das quais merecem destaque:

    Gesta Danorum - Saxo Grammaticus 1185-1223).

    Edda, The Prose or Younger - Snorri Sturluson (1197-1241), Islândia.

    Heimskringla - Snorri Sturluson (1197-1241), Islândia.

    Egils Saga - Snorri Sturluson (1197-1241), Islândia.

    Edda, the Elder or Poetic.

    Scaldic Poetry.

    Commentarii de Bello Gallico - Júlio César (100-44 a.C.).

    De Origine et Situ Germanorum - Cornélio Tácito (55-117).

    Tomei a liberdade de incluir, na Parte 9 deste trabalho, a Lenda de Beowulf, que, segundo tudo indica, era desconsiderada pelos autores nórdicos clássicos. Existe uma razão para isso. Apesar de tratar-se de um poema heroico pré-viking, composto entre os anos 700 e 750, a primeira compilação escrita dessa lenda aconteceu por volta do ano 1000 na Inglaterra, fruto da dedicação de um autor desconhecido. Com o passar do tempo, essa obra ganhou um status: ela é considerada a primeira obra da literatura anglo-saxã em inglês arcaico (Old English). Embora tenha sido escrita com uma conotação cristã, é possível identificar no texto as motivações heroicas de seus personagens, típicas dos guerreiros nórdicos da época, embarcando destemidamente nas aventuras, na busca da glória e da fama.

    Foto em preto e branco de pessoa em cima de cavalo Descrição gerada automaticamenteImagem em preto e branco Descrição gerada automaticamente com confiança média

    *Parte 1 – Os Países Nórdicos

    Aspectos Geográficos

    Na época atual, a denominação Países Nórdicos aplica-se apenas àquelas nações que se localizam na região da Europa setentrional e do Atlântico Norte, e, portanto, a cinco estados-nação:

    Dinamarca/Denmark, Noruega/Norway, Suécia/ Sweden, Finlândia/Finland, Islândia/Iceland, e mais seus territórios associados, que incluem as Ilhas Faroé, Aland, Groenlândia/Greenland e Svalbard.

    Três desses estados-nação – Noruega, Suécia, Finlândia – por estarem localizado na península escandinava são particularmente conhecidos e denominados de Países Escandinavos.

    Origens Históricas

    Os Povos Proto-Indo-Europeus

    As origens e trajetórias dos povos proto-indo-europeus, os detalhes de quando e onde eles irromperam na história, são obscuros e controversos. Com base nos pontos de evidências linguísticas e arqueológicas mais convincentes, admite-se que sua origem se situa na Idade do Bronze – especificamente, cerca cinco mil anos atrás – nas estepes ao norte do mar Negro e mar Cáspio, no que hoje denominamos de Ucrânia Oriental e sudoeste da Rússia. Os proto-indo-europeus eram pastores cuja economia era centrada na criação de umas poucas espécies de animais. Como tal, eles eram seminômades, viajando longas distâncias para encontrar novas pastagens para seus animais. Como a maioria, se não todos os povos pastoris ao longo da história, eles eram patriarcais e ferozmente bélicos; as novas pastagens, quando encontradas, já estavam ocupadas por outros, e os recém-chegados tinham de conquistá-las, matando ou expulsando seus habitantes. No entanto, os proto-indo-europeus tinham duas vantagens militares particulares sobre seus vizinhos: o cavalo domesticado e a roda; os guerreiros a pé não tinham grande chance quando confrontados por eles, montados a cavalo ou conduzindo carroças. Assim equipados, eles se espalham por grande parte da Eurásia nos séculos seguintes. Aonde quer que fossem – praticamente toda a Europa, o subcontinente indiano e muitos outros territórios – eles conquistavam e assimilavam as populações locais. O fruto desse empenho resultou na consolidação do modelo Indo-Europeu. Essa estrutura básica, mudando e se desenvolvendo ao longo do tempo, em termos de língua, religião, sistemas de classe etc., deu origem aos grupos sociais que distinguimos e classificamos como os celtas, os gregos, os romanos, os eslavos, os indianos e os povos germânicos, todas eles referidos como indo-europeus por serem descendentes daqueles povos.

    Para que essas relações entre os diversos povos indo-europeus possam ser mais bem compreendidas, basta uma breve análise da árvore das línguas indo-europeias.

    O gráfico do Professor Jack Lynch, que se segue, mostra as relações entre as principais línguas das famílias indo-europeias. Embora, seu autor declare ele é muito simplificado, pois muitas línguas e famílias linguísticas foram deixadas de fora, ele oferece, com clareza e precisão, uma informação perfeitamente adequada ao escopo de nossa pesquisa.

    Esta sucinta análise dos povos indo-europeus é deveras relevante, na medida em que ela enfatiza o quão poderosamente esses povos influenciaram nosso pensamento e a estrutura social moderna e, concomitantemente, como por vezes essa visão de mundo indo-europeia tornou-se marcadamente diferente da nossa. Estudá-la permite que tenhamos novas perspectivas no processo de criação de nossa própria visão do mundo.

    Linha do Tempo

    Visando maior clareza, considero oportuno incluir uma Linha do Tempo.

    Na medida em que esta análise mescla tanto fatos históricos como míticos, não podemos exigir uma precisão absoluta em termos de datas, apenas uma estimativa.

    Expansão Romana

    A partir do ano 507 a.C., Roma, com muita luta e determinação, conquista e estabelece seu domínio em toda a Península Itálica. Somente a partir do ano 264 a.C. a atenção dos romanos volta-se para a conquista de novos territórios situados fora da península, resultando na anexação de Cartago e suas colônias no norte da África, seguidas da Sicília, Sardenha, Córsega, Baleares e Península Ibérica.

    Em outras palavras, de 200 a.C. até o ano 476, Roma atravessa seis séculos de contínua expansão territorial, formando um vasto império, bem maior do que o de Alexandre, o Grande. Os romanos conquistam a Macedônia e a Grécia, a Ásia Menor, o Egito, a Cirenaica (atual Líbia), a península Ibérica, as Ilhas Britânicas, a Gália (França), Germânia (Alemanha), Ilíria (Albânia), Trácia, Síria e Palestina; e transformam a Mauritânia, a Capadócia, a Armênia, o Império Parto e o Bósforo em reinos vassalos.

    Povos Germânicos ou Bárbaros

    Os povos germânicos se dividiam em numerosas tribos e receberam esse nome por habitarem a região da Germânia, localizada além dos limites do Império Romano, mais precisamente entre os rios Reno, Vístula e Danúbio e os mares Báltico e do Norte.

    Quando utilizamos a denominação povos germânicos, estamos nela englobando uma gama enorme de culturas compostas por inúmeras tribos denominadas pelos romanos, de forma pejorativa e genérica, de bárbaros. Essa classificação visava promover uma distinção entre os povos do Império Romano que dominavam a língua oficial, o Latim, e aqueles que não conheciam este idioma.

    Os germânicos e romanos viveram em relativa harmonia até o século IV da nossa era. Nesse período prosperou inclusive um sistema de trocas e comércio entre eles, através das fronteiras. Muitos germânicos foram admitidos para integrarem o poderoso exército romano.

    Tudo leva a crer que as condições adversas desses territórios fizessem com que os romanos os ignorassem. Essa falta de conhecimento, por sua vez, gerou muitas fantasias, como por exemplo a de que essa região abrigava animais gigantescos e seres humanos ferozes de grande porte e estatura. Em suma, os germânicos provocavam medo.

    Com base em relatos oficiais, obtemos as seguintes impressões sobre esses povos:

    No ano 50 a.C., Júlio César (Commentarii de Bello Gallico, livro VI), comparando os costumes dos germânicos aos dos gauleses/celtas, ressaltou a castidade e o ardor desses guerreiros, mas enfatizando ainda que eles não tinham grande empenho na lavoura, nem demonstravam interesse em acumular ouro ou qualquer tipo de luxo. Esses bárbaros eram avessos à hospitalidade; não faziam questão de vizinhança, inclinando-se mais para a solidão tribal e a viverem isolados em cabanas. Como caça favorita tinham o alce e a rena. Ao contrário dos celtas, seus próximos, os germânicos não tinham druidas e nada equivalente a uma casta sacerdotal. Os seus chefes eram escolhidos pelo vigor no combate e por sua capacidade de liderança no campo de batalha. Era um povo de guerreiros, que tinham feito das lutas um modo de vida. A espada era o seu arado.

    No ano 51, o estadista Lucius Annaeus Sêneca (De Ira, I), ressaltou que não existia povo mais fogoso do que os germânicos, mais ardente no ataque, mais apaixonado pelos combates, no meio dos quais eles vivem e crescem, dos quais fazem sua única ocupação, indiferentes a todas as outras! Estes homens, que ignoram os requintes, o luxo, o dinheiro, se viessem a adquirir um pouco de disciplina, isto bastaria para tornarem-se grandes conquistadores como foram os romanos antigos.

    No ano 98, Cornélio Tácito (De Origine et Situ Germanorum, ou simplesmente Germania) elaborou um levantamento bem detalhado dos costumes e da vida geral dos germânicos, ressaltando que eles se dividiam, como os celtas, em inúmeras tribos espalhadas pelas matas e pelas clareiras do país, formando a Germania Libera ou Magna. Tácito observou que não via a Germania como uma área geográfica, mas como uma espécie de convés de navio, carregado de tribos bárbaras que por vezes desembarcavam atacando um ou outro porto, numa ou noutra direção, enfatizando que os germânicos não tinham o hábito de miscigenar-se com outros povos e nem construíam cidades. Viviam isolados numa floresta, em um clima frio, de céu quase sempre nublado, que os deixava de péssimo humor. Completando, Tácito ressaltou que, ninguém em sã consciência, abandonaria a Ásia, a África, ou a Itália, para ir viver em meio deles.

    No século IV essa harmonia foi quebrada quando uma horda de hunos, seguida de outros grupos de bárbaros, pressionou as fronteiras do Império Romano. Podemos citar os motivos que ocasionaram essas invasões:

    O primeiro deles era o aumento demográfico constante dessa população bárbara;

    O segundo, as pressões que eles sofriam bem mais ao leste, em razão da chegada de outras tribos provenientes das estepes russas, que terminaram por empurrá-los para além dos limites das fronteiras dos romanos e celtas;

    O terceiro, a busca de riquezas, de solos férteis e de climas agradáveis.

    Assim, durante os séculos IV e V, o que se viu foi uma onda de invasões, extremamente violenta, que muito colaborou para a derrubada do Império Romano do Ocidente no ano de 476. Dentre elas, merecem destaque as invasões dos:

    Alamanos: provenientes do nordeste do Cáucaso, eles ocuparam a região da Hispânia e o norte da África.

    Anglos e Saxões: provenientes do norte da atual Alemanha e leste da Holanda, eles invadiram algumas áreas das Ilhas Britânicas no século V.

    Francos: estabeleceram-se na região da atual França e fundaram o Reino Franco.

    Lombardos: invadiram a região norte da Península Itálica.

    Burgúndios: estabeleceram-se no sudoeste da França.

    Visigodos: instalaram-se na região da Gália, Itália e Península Ibérica.

    Suevos: invadiram e se fixaram na Península Ibérica.

    Vândalos: estabeleceram-se no norte da África e na Península Ibérica.

    Ostrogodos: invadiram a região da atual Itália.

    Era Viking

    Como tivemos oportunidade de mencionar, a região nórdica foi praticamente ignorada pelos outros povos da Europa, devido às condições climáticas adversas ali predominantes. Mas, apesar deste fato, uma rica cultura acabou por se desenvolver nessa região graças à determinação dos povos que ali habitavam – popularmente denominados Vikings, significando homens lutadores ou conquistadores –, termo que designa coletivamente os povos dinamarqueses, noruegueses, suecos e finlandeses. Afinal, como tudo muda e evolui, essa diversidade de raízes e povos acabou cunhando uma visão de mundo que encontrou sua formação definitiva na Era Viking, que se estendeu do final do século VIII até metade do século XI.

    Os Vikings lograram implantar nessa região uma atividade agrícola, um artesanato e, fundamentalmente, um notável comércio marítimo. Essa atividade marítima, por sua vez, cresceu e se expandiu em função do engenho e avanço tecnológico de suas embarcações – os belos Drakkars, barcos compridos movidos a remo, esculpidos em madeiras e dotados de velas, uma grande inovação na época. Essa maior autonomia de navegação permitiu que eles chegassem a regiões cada vez mais distantes, como a Ilha de Man, as ilhas Hébridas, a Islândia, a Groenlândia e até a América do Norte. Essa vida ligada e voltada para os mares resultou na pirataria, para eles uma importante atividade econômica.

    Historicamente, o início da Era Viking na Europa teve início no final do século VIII, ou mais precisamente no dia 8 de junho de 793, quando a Abadia da Ilha Lindisfarne, localizada na costa nordeste da Inglaterra, foi saqueada pelos Vikings, num ato de pilhagem e violência que abalou toda a cristandade.

    A partir de então e, por quase trezentos anos, esses guerreiros pagãos empreenderam inúmeros ataques, não só no continente europeu, como também fora dele, levando e disseminando sua cultura e crenças em deuses antigos.

    Tudo indica que alguns fatores impulsionaram esse processo expansionista, tais como:

    A superpovoação, aliado ao sistema sucessório privilegiando apenas o filho primogênito, forçando os demais tentar a própria sorte no exterior;

    A crescente expansão das rotas de comércio, como o desenvolvimento do comércio da Frísia e a crescente utilização do Rio Reno, atraindo certamente os piratas e comerciantes vikings;

    Certamente, a própria índole dos vikings, homens fortes, aventureiros, agressivos, que simplesmente desprezavam a morte, muito contribuiu para que se instaurasse esse impulso expansionista, colonizador e comercial. Como o domínio do mar era crucial para o sucesso de seus empreendimentos, os Vikings tornaram-se especialistas no assunto.

    Para termos uma idéia dessa empreitada expansionista, cabe-nos ressaltar que esses conquistadores, navegando para o Sul, invadiram e colonizaram a Escócia, Irlanda e metade da Inglaterra; ocuparam grande parte da região do Loire na França; atacaram e capturaram Lisboa, Cádiz e Sevilha; e movendo-se para o leste, deixaram sua marca no norte da Itália, saquearam Pisa e se fixaram na Sicília, onde ainda hoje encontramos um número de pessoas com a pele clara e cabelos avermelhados. Partindo do leste do Mar Báltico, os vikings subiam o Rio Volkhov até Novgorod, seguindo em direção a Kiev, o Mar Negro e Constantinopla. Navegando para o oeste, colonizaram a Islândia; e a partir dali se expandiram para a Groenlândia, Terra Nova e Nova Inglaterra nos Estados Unidos, cinco séculos antes de Cristóvão Colombo zarpar de Palos na Espanha e descobrir a América.

    A dissolução da cultura viking aconteceu entre os séculos XI e XII, resultante de dois fatores: os conflitos e disputas contra os poderosos ingleses e os nobres da Normandia, aliado ao processo de cristianização da Europa ao longo da Idade Média, culminando com a conversão paulatina dos povos nórdicos à Nova Ordem.

    Olaf, o viking que se tornou Santo

    Olaf Haraldsson, filho do casal real norueguês, Rei Harald Grenske e Rainha Asta, nasceu em 995. Pouco antes de seu nascimento, seu pai abandonou sua mãe na esperança de se casar com Sigrid Storrada, filha do Rei da Suécia. Mas Harald não teve sorte... A bela Sigrid, maliciosamente, após embriagá-lo queimou-o vivo.

    Olaf tornou-se um guerreiro viking com apenas 12 anos. Ele era um jovem sábio, comunicativo e hábil na arte do combate. A bordo de seu barco ostentava o título de rei, mesmo sem possuir terras para governar.

    Sua primeira investida devastou a costa leste sueca. Nos arredores onde hoje se situa Estocolmo, o soberano sueco Olof Skotkonung tentou bloquear a saída existente, encurralando os atacantes. Sagazmente, Olaf Haraldsson ordenou que seus homens cavassem uma vala, através da qual eles conseguiram escapar, para o desespero do Rei. Olaf e seu grupo continuaram assolando as áreas ao redor do mar Báltico e outras áreas, a serviço de soberanos estrangeiros por curto período, algo bastante comum naqueles dias.

    Segundo relatos, durante um inverno em que Olaf e seus homens permaneceram em Gotland, a presença do grupo foi tão perturbadora e violenta que os habitantes dessa região, visando restabelecer a paz, ofereceram-lhes um irrecusável pagamento para que eles dali partissem.

    Olaf tornou-se famoso por tentar capturar a cidade de Londres em 1009.

    Espantados, os ingleses postaram-se na ponte de Londres sobre o Tâmisa, arremessando lanças e pedras contra os invasores. Engenhosamente, Olaf teve a idéia de criar um teto para seus barcos, utilizando-se dos escudos disponíveis.

    Assim protegidos, eles conseguiram se posicionar debaixo da ponte e, numa manobra rápida, lançaram cordas ao redor das pilastras que a suportavam.

    Terminada a amarração, remaram com toda a força, a jusante.... Uma manobra perfeita! A ponte sucumbiu. Mas, apesar dessa façanha, os vikings não conseguiram desembarcar; pois os ingleses lutaram bravamente, salvando a cidade e expulsando os invasores.

    Em 1011, Canterbury não teve a mesma sorte, quando atacada por Olaf e seu grupo. A cidade foi saqueada; alguns habitantes foram executados, outros queimados vivos em suas próprias casas. Mulheres foram arrastadas pelo cabelo pelas ruas, estupradas e queimadas vivas; bebês foram esmagados sob as rodas das carroças.... Quando os vikings deixaram Canterbury, levaram com eles não só uma riqueza imensa em bens, ouro e prata, fruto da pilhagem, como também o Arcebispo Elfheah. Durante a comemoração, totalmente embriagados, os vikings se divertiram arremessando pedras e ossos no venerável prisioneiro, até que um deles, movido por algum tipo de compaixão, pôs fim à miséria do clérigo, partindo sua cabeça com um machado. O martírio de Elfheah parece não ter causado qualquer impressão duradoura em Olaf Haraldsson – seu halo de santo ainda estava longe de seu alcance.

    As viagens de Olaf trouxeram-no para a Normandia, onde serviu e lutou, durante algum tempo, sob o comando do Duque Richard II, em campanhas por toda a Bretanha. Durante essa breve estada na Normandia, Olaf experimentou a vida vibrante do cristianismo, e acabou trocando as crenças antigas pela fé cristã. Ele foi batizado em Rouen, em 1013 ou 1014, pelo Arcebispo Robert, irmão do Duque Richard.

    Movido pela fé, Olaf intuiu que sua missão seria unir Noruega sob a proteção de Cristo. Prontamente retornou à sua terra natal, onde foi reconhecido como Rei de uma Noruega unida ao longo de 15 anos, de 1015 a 1030.

    A cristianização da Noruega foi definida pelo Sínodo de Moster, que estabeleceu os princípios jurídicos das funções governamentais, conhecida como a Lei do Rei Olaf, embasada fortemente nos ensinamentos e princípios cristãos.

    Em 1028, quando o Rei Canute da Dinamarca invadiu a Noruega, o Rei Olaf foi forçado a se refugiar na Rússia. No exílio, onde passou a levar uma vida ascética, marcada pela oração e jejum, Olaf teve uma visão que o incitou a retornar à Noruega, a fim de que se cumprisse seu destino. Assim, em 1030, voltou para a Noruega. Em Stiklestad, próximo a Trondheim, o Rei Olaf e seu pequeno exército, em franca desvantagem, enfrentaram bravamente as tropas dinamarquesas acrescidas dos contingentes rebeldes noruegueses. Uma batalha sangrenta, onde o bravo Olaf tombou sob o golpe de um machado inimigo.

    O Rei foi sepultado numa área elevada às margens do rio Nid. Neste local, pouco tempo depois, miraculosamente surgiu uma fonte, cujas águas provaram ser milagrosas. No ano seguinte, o Bispo de Nidaros (Trondheim) declarou Olaf digno de veneração como um mártir, e ordenou que uma capela fosse construída no local junto à sepultura.

    Em 1075, a capela foi substituída por uma igreja maior, que se tornou a Catedral Metropolitana de Nidaros, onde o corpo de Olaf, ainda intacto, foi sepultado sob o altar. Um século mais tarde, em 1164, deu-se finalmente o reconhecimento pontifício. Santo Olaf tonou-se o padroeiro da nação – o eterno Rei da Noruega e servo de Cristo. O machado, símbolo do seu martírio, é parte do brasão de armas da Noruega.

    Preservação das Tradições Ancestrais

    O processo de cristianização dos povos nórdicos teve início no século VIII, paralelamente ao início da Era Viking. O processo de conversão desses povos para o Cristianismo não foi uma tarefa fácil, mas a igreja romana, dotada de uma organização forte, herdada do império, com muito esforço, tenacidade e paciência conseguiu estabelecer uma rede de igrejas nessas regiões. Em verdade, apesar dos nórdicos terem se tornado nominalmente cristãos, foi preciso um tempo consideravelmente

    grande para que as crenças cristãs se fixassem entre a população. Afinal, suas tradições ancestrais, que haviam provido sua segurança e estrutura desde os tempos antigos, foram contestadas por essa nova crença totalmente estranha e bizarra, que enfatizava o pecado original, o amor, o perdão, a culpa, a doação...

    Certamente, as mentes mais esclarecidas e sensíveis à revolução em curso tomaram uma atitude visando preservar os valores ancestrais, até então transmitidos oralmente. Sem alardes, muito discretamente, num esforço heroico, eles passaram a registrar os conhecimentos e as tradições antigas, em verso e prosa.

    O grande baluarte dessa empreitada foi, sem dúvidas, o historiador e poeta islandês Snorri Sturluson (1179/1241) que compilou grande parte do arsenal da mitologia nórdica em sua obra Edda em Prosa. Nela, ele relata e ressalta as principais lendas que versavam sobre os deuses que a comunidade havia recentemente rechaçado; essa obra foi lançada cerca de 300 anos após a conversão da Islândia ao cristianismo.

    Paralelamente, Snorri Sturluson teve a preocupação de desenvolver um tratado sobre a arte poética, em que explicava sistema métrico e metafórico dos poetas (skalds), auxiliando-os a realizar suas composições de forma mais rápida e efetiva. Por sua vez, esses artistas, trabalhando e se apresentando na corte dos poderosos, foram os grandes responsáveis pela criação e preservação do que hoje conhecemos como poesia nórdica antiga. Não obstante algumas dessas lendas apresentarem eventos essencialmente trágicos, a maioria delas possuía um cunho cômico, em especial aquelas em que os deuses eram os protagonistas. Apesar de não sabermos o quão cômicas eram as narrativas originais, podemos inferir pelo menos duas razões por trás dessa escolha:

    Como esses poemas eram apresentados num ambiente cristão, o artista, sagazmente, evitando causar controvérsia, optou por apresentar as sagas e lendas dos deuses pagãos numa linguagem espirituosa, ridicularizando-as.

    Em essência, as narrativas cômicas, por serem mais envolventes e palatáveis, eram mais facilmente absorvidas e fixadas pela plateia e/ou pelo povo em geral. A temática riquíssima da mitologia nórdica, envolvendo os jogos de enganação, a rixa eterna de Odin com os gigantes e a astúcia e a perversão de Loki – a personificação do demônio em termos cristão – permeiam essas estórias, onde o bem é sempre o grande vitorioso.

    Organização Política & Social

    Poder Político

    Inicialmente, o líder do clã era escolhido por sua bravura e nobreza; todo aquele que pudesse reivindicar para si uma ascendência divina, tornar-se-ia um candidato poderoso. Posteriormente, quando o sistema monárquico se instalou, acumulando poder e importância, a sucessão tornou-se hereditária. Mas, como toda regra comporta uma exceção, a Islândia rejeitou completamente esse conceito de realeza e era governada por um conselho de líderes.

    O Rei era a principal autoridade política, seguido dos chefes tribais e abastados comerciantes, que também desfrutavam de grande prestígio e poder de mando entre a população. Reunidos, ao ar livre, em Conselho/Thing, o Rei e os nobres discutiam a elaboração de suas leis, bem como as punições cabíveis aos infratores e criminosos.

    Estratificação Social

    Os povos vikings compartilhavam de uma mesma composição sociocultural. Tanto em seus países de origem, como nas regiões conquistadas, eles adotavam uma organização social muito simples e clara, composta por três classes – Jarls, Karls e Thralls –, todas elas submetidas ao poder do Rei, que logicamente ocupava o ápice da pirâmide.

    Jarls era composta pelos homens ricos e grandes proprietários de terras. Era a menor das classes, que gozava de todos os privilégios e refinamentos, tendo como patrono Odin, a divindade máxima. Os Jarls eram na prática os nobres, ainda que formalmente na sociedade viking não houvesse tal honraria. Destacavam-se sobretudo por sua riqueza, expressa em termos de seguidores, tesouros e navios, cuja transmissão era feita do filho mais velho para o filho mais velho.

    Karls, a classe mais numerosa, era composta pelo povo. Eram livres, mas sem posses ou com poucas propriedades; geralmente eram pequenos comerciantes ou lavradores. Os Karls compunham o grosso dos exércitos vikings e tinham participação no Conselho/Thing. A grande maioria pertencia à classe dos camponeses, cujo patrono era o deus Thor. Eles viviam em habitações composta por duas ou mais edificações simples, complementadas por um celeiro ou dois – todas elas construídas em torno de um pátio central. Eram homens de família dedicados e responsáveis e habitualmente passavam os longos invernos em casa. Quando o verão chegava, eles se reuniam em bandos e partiam em seus barcos, buscando novas terras, na tentativa de exploração e desenvolvimento do comércio ou simplesmente na atividade da pirataria.

    Thralls eram os servos; os trabalhadores braçais, sem qualquer tipo de liberdade e até mesmo sem um deus patrono. Em geral eles eram prisioneiros de guerras, ou membros da comunidade que haviam caído em desgraça por dívidas ou por crimes. Seus proprietários tinham direito de vida e morte sobre eles, dependendo da decisão do Conselho/Thing da região. Eles viviam na mais degradante penúria. Era comum a existência de famílias, com cerca de vinte pessoas, habitando uma única fétida cabana e compartilhando ainda esse mísero espaço com os animais que possuíam: bovinos, ovinos, caprinos, suínos e, muito provavelmente, um gato ou um cão.

    Vida Cotidiana

    As habitações dos vikings eram bastante simples. Madeira, pedras e relva seca eram os principais elementos utilizados na construção de suas moradias. Além disso, quanto à distribuição espacial, o lar era constituído por um único cômodo. Nas famílias mais abastadas, observamos a presença uma divisão mais complexa composta por salas, cozinha e quartos.

    Segundo relatos, a dieta diária dos vikings incluía pão de centeio; mingau de aveia e cevada; peixes, especialmente os arenques; carne de ovelha, cordeiro, cabra, cavalo, boi e porco, bem como queijo e manteiga; e, para beber, cerveja/ale e hidromel/mead. O vinho era um luxo acessível apenas para a classe abastada. Carne de baleia, foca e urso polar tornaram-se importantes alimentos particularmente na Noruega e Islândia, onde eram consumidas na forma de cozidos e sopas, nunca como assados. Aves, como faisão, galinha, ganso e pato, bem como animais como veado, javali, lebres, renas e bisontes também faziam parte do cardápio desses povos, em especial das comunidades situadas no extremo norte e afastadas do mar.

    Os banquetes da classe abastada – de um chefe de clã ou rei – eram realizados com certo requinte. O local era cuidadosamente limpo e decorado, e as iguarias eram levadas à mesa e servidas em um "trencher", um tipo de prato ou travessa. O trencher foi originalmente criado mediante a utilização de pedaços de pão duro e seco, cortado e esculpido na forma quadrada ou redonda, simbolizando o sol. Os servos especializados em produzi-los, dando vazão à sua inspiração artística, eram muito apreciados pelo chefe ou rei. No final da refeição, cada conviva decidia a sorte do seu trencher: poderia comê-lo com molho, atirá-lo para seu cão, ou simplesmente deixá-lo na mesa, a prática mais usual. Os servos recolhiam esses trenchers juntamente com as sobras de alimentos, que eram distribuídas aos pobres, que ansiosamente aguardavam no pátio externo do salão. Posteriormente, o trencher evoluiu, passando a ser produzido na forma de placas ou discos em madeira, metal e cerâmica.

    Em função das condições climáticas, os povos nórdicos tinham a expressa necessidade de uma vestimenta adequada às baixas temperaturas do norte europeu. Geralmente, combinavam peças de tecido com couro e peles grossas que pudessem manter o seu corpo aquecido. Além disso, podemos ainda destacar que toda a população apreciava a utilização de acessórios em metal e pedra.

    Os povos nórdicos tinham uma vida dura, dedicavam-se à caça, à pesca e fundamentalmente à agricultura, na maior parte do tempo. O isolamento e as condições climáticas da região constituíam por si só um desafio diário exaustivo, sem tréguas, tanto para a consecução das tarefas rotineiras do trabalho no campo, como no deslocamento de uma região para outra. Essas jornadas se transformavam em verdadeiras aventuras, repletas de riscos, quase sempre fatais. As condições das estradas eram propícias às quedas e imprevistos diversos, exigindo a atenção do viajante. O indivíduo tinha de contornar campos congelados ou cruzar regiões selvagens e inóspitas. Isto exigia uma atenção redobrada, pois grande era a chance das prolongadas e violentas tempestades de neve, num período do ano, e das tempestades de areia, no outro. Isto tudo sem falar da luz solar sempre escassa, durando apenas algumas horas por dia. Consequentemente, tal enclausuramento reforçou a importância da unidade familiar.

    Direito & Convívio Social

    Aos olhos da lei e da família, homem e mulher tinham direitos iguais, mas a organização familiar tinha claros traços patriarcais. Como provedor, o homem era o grande responsável por sua defesa e proteção e pela realização das atividades econômicas. A educação dos garotos era delegada ao pai; cabia a ele repassar as tradições, artes e ofícios vikings aos filhos. A participação da mulher era circunscrita às atividades domésticas cotidianas: cuidar da prole e da preparação dos alimentos. Mas as mulheres eram muito respeitadas quando provavam serem dotadas de sensibilidade, intuição e estreito contato com o oculto. Elas tinham presença forte nas deliberações, e seus conselhos e previsões acerca das questões práticas, do bem-estar social e das perspectivas de casamento no grupo eram acatadas com muito respeito.

    A família era o fundamento do direito; ela era a garantia da paz, e sua dissolução era considerada um sacrilégio. A família precisava ser

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