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Contos E Lendas Russas
Contos E Lendas Russas
Contos E Lendas Russas
E-book511 páginas6 horas

Contos E Lendas Russas

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Sobre este e-book

Uma jornada fantástica através do universo dos contos e lendas da tradição russa! Desde a mais remota antiguidade, contar estórias permeadas de desafios e encantamento constituía uma prática eficaz, que auxiliava os habitantes das aldeias, reunidos em torno de uma fogueira, não só a atravessar as longas noites de inverno, mas, certamente, a propagar e preservar sua cultura, valores e costumes, especialmente para as crianças e jovens dos clãs. Os contadores de estórias – Skazka em russo –, que se tornaram conhecidos por sua maestria, geralmente classificavam os contos segundo sua temática, a saber: Volshebnaya Skazka – contos mágicos, fantásticos; Skazka o Zhivotnykh – contos sobre animais; Bytovye Skazka – contos sobre o cotidiano. Nessas narrativas, todas as angústias e dificuldades – provenientes do amor, do medo, do desamparo, da rejeição e da morte – são enfocadas em um lugar fora do tempo e do espaço, mas muito reais! O final feliz, geralmente encontrado na estória, indica a forma de se construir um relacionamento interpessoal satisfatório. Mas, evidentemente, para se chegar ao final feliz, inúmeros desafios deverão ser enfrentados com nobreza e destemor! Esses contos e lendas incita-nos a desenvolver uma reflexão sobre a fantasia e suas imagens simbólicas como recursos fundamentais no desenvolvimento humano. “A ilusão que nos exalta é mais querida a nós que dez mil verdades!” Alexander S. Pushkin (1799-1837)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2021
Contos E Lendas Russas

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    Contos E Lendas Russas - Geraldo Spacassassi

    Introdução

    Nossa jornada através do universo dos contos e lendas da tradição russa está prestes a se iniciar...

    Desde a mais remota antiguidade, contar estórias permeadas de desafios e encantamento constituía uma prática eficaz, que auxiliava os habitantes das aldeias, reunidos em torno de uma fogueira, não só a atravessar as longas noites de inverno, mas, certamente, a propagar e preservar sua cultura, valores e costumes, especialmente para as crianças e jovens dos clãs.

    Os contadores de estórias – Skazka em russo –, que se tornaram conhecidos por sua maestria, geralmente classificavam os contos segundo sua temática, a saber:

    Volshebnaya Skazka – contos mágicos, fantásticos;

    Skazka o Zhivotnykh – contos sobre animais;

    Bytovye Skazka – contos sobre o cotidiano.

    Nessas narrativas, todas as angústias e dificuldades – provenientes do amor, do medo, do desamparo, da rejeição e da morte – são enfocadas em um lugar fora do tempo e do espaço, mas muito reais!

    O final feliz, geralmente encontrado na estória, indica a forma de se construir um relacionamento interpessoal satisfatório. Mas, evidentemente, para se chegar ao final feliz, inúmeros desafios deverão ser enfrentados com nobreza e destemor; e, assim, todos esses contos estão repletos de problemas, marcados pela dualidade da presença do bem e do mal. Eles nos incitam a desenvolver uma reflexão sobre a fantasia e suas imagens simbólicas como recursos fundamentais no desenvolvimento humano.

    De acordo com Carl G. Jung (1875-1961), os mitos, contos e lendas dão expressão a processos inconscientes; a leitura ou audição desses contos faz com que esses processos revivam e tornem-se atuantes, reintegrando, portanto, a conexão entre consciente e inconsciente.

    Os contos de fadas falam de Reis, Rainhas, Príncipes, Princesas, Bruxas – ou, na tradição russa, de Tzar/Imperador, Tzarina/Imperatriz Tzaveviche/Príncipe, Tsarevna/Princesa, Baba Yaga/Bruxa...

    Imagens que estariam diretamente relacionadas não só com o inconsciente pessoal, mas também com o inconsciente coletivo, com o mundo das imagens arquetípicas.

    Deste modo, cada um desses contos fantásticos tem a possibilidade de dar às energias instintivas uma direção simbólica, propiciando-nos uma jornada maravilhosa pelos caminhos do imaginário. Essas narrativas exercem uma influência muito benéfica na formação da personalidade ao enfatizar que é possível vencer obstáculos, posto que o herói será sempre um vitorioso no final. Isso ocorre porque, durante o desenrolar da trama, nós nos identificamos com os personagens, assimilamos os conteúdos e vivemos o drama que ali é apresentado de uma forma geralmente simples, porém impactante. Conflitos internos importantes, inerentes ao ser humano, como a inevitabilidade da morte, o envelhecimento, a luta entre o bem e o mal, a inveja etc., são tratados nesses contos de modo a oferecer desfechos otimistas.

    Indiscutivelmente, o reinado do Tzar Pedro I – de 1682 a 1725 – foi algo excepcional, promovendo a modernização da Rússia e transformando-a em uma grande potência. Entretanto, a reforma cultural implantada por esse Tzar, que se tornou conhecido como Pedro, o Grande, foi deveras impactante. Pedro era um admirador da Corte de Versalhes e decidiu introduzir esse estilo de vida francês ao seu império, abandonando as tradições eslavo-ortodoxas da Rússia. O uso da língua francesa tornou-se obrigatório para a nobreza, e a língua russa se viu restringida às classes média e baixa da sociedade.

    Como era de esperar, essa perda das tradições eslavo-ortodoxas não foi bem recebida por todos.

    Durante esse período, em 1697, foi publicada na França a coletânea de contos denominada "Os Contos de Fadas/Les Contes des Fées" da escritora Marie-Catherine d'Aulnoy (1651-1705), dando origem à expressão utilizada até os dias de hoje para classificar esse gênero literário, que enaltece a importância dos contos e narrativas da tradição popular. A essa obra seguiram-se outras, merecendo destaque especial as de Charles Perrault (1628-1703) e Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (1711-1780).

    Certamente, o surgimento desse novo gênero literário impactou a cultura russa, incitando os intelectuais russos, especialmente aqueles descontentes com o modo de vida francês instaurado em seu país, a repensar sua literatura e promover gradativamente um retorno às tradições e valores locais.

    O fato de existirem contos e lendas russas tradicionais que sobreviveram até os nossos dias deve-se ao trabalho de abnegados pioneiros que se dispuseram a recolher e registrar esse material, imortalizando-o, apesar das condições adversas reinante na Rússia. Afinal, tais registros eram, a princípio, proibidos e condenados pela Igreja, que os classificava como crendices pagãs. É de suma importância ressaltar que até o século XVII a língua oficial literária era o antigo Eslavônico Eclesiástico, de uso restrito aos textos bíblicos e litúrgicos.

    O primeiro estudioso a se dedicar à recopilação e publicação dos contos e lendas russas na sua forma mais autêntica foi Aleksandr Nikoláyevich Afanásiev (1826-1871). Essa foi, sem sombra de dúvidas, uma tarefa árdua.

    Uma imagem contendo homem, pessoa Descrição gerada automaticamente

    A obra de Afanásiev, "Contos Populares Russos", em oito volumes, engloba um total de 600 contos tradicionais russos, recolhidos entre 1855 e 1863. Seu feito despertou o interesse de outros pesquisadores para que desenvolvessem realizações semelhantes, promovendo assim um intenso trabalho voltado para as produções populares que, por muito tempo, foram desprezadas pelas classes letradas.

    Os "Contos Populares Russos tomaram lugar entre as coletâneas de contos e lendas mais importantes da Europa do século XIX, servindo de material de estudo para o respeitado folclorista Vladimir Propp (1895-1970) e fundamentando sua obra Morfologia do Conto Maravilhoso".

    Uma imagem contendo homem, parede, pessoa, interior Descrição gerada automaticamente

    Em sua obra, Vladimir Propp ressalta que a configuração e estrutura do conto maravilhoso seguem um pressuposto, e expõe uma metodologia de análise dos contos de fadas inovadora, definindo este tipo de narrativa não em relação aos temas, mas à sua composição e construção, que ele desmembrou em sete papéis ou personagens fixos, e 31 funções/ações a serem realizadas.

    Os papéis são:

    1: o Herói, 2: o Antagonista, 3: o Doador, 4: o Auxiliar, 5: o Imperador/Princesa, 6: o Mandante e 7: o Falso Herói.

    E as funções são:

    1: Afastamento, 2: Proibição, 3: Transgressão da Proibição, 4: Informação sobre o Herói, 5: Embuste, 6: Cumplicidade, 7: Dano, 8: Carência, 9: Mediação, 10: Início da Reação, 11: Partida, 12: Primeira Função do Doador, 13: Reação do Herói, 14: Recepção do Objeto Mágico, 15: Deslocamento no Espaço, 16: Combate, 17: Marca do Herói, 18: Vitória, 19: Reparação do Dano ou Carência, 20: Regresso do Herói, 21: Perseguição, 22: Salvamento, 23: Chegada Incógnito, 24: Falsa Pretensão, 25: Tarefa Difícil, 26: Tarefa Cumprida, 27: Reconhecimento, 28: Desmascaramento, 29: Transfiguração, 30: Castigo, 31: Casamento.

    Como já mencionado, Vladimir Propp tomou como ponto de partida, para sumarizar esses elementos, a coleção de 600 contos que compõem a obra "Contos Populares Russos" de Alexandr Afanásiev, a mais completa e respeitada até então. Diz ele:A ação de todos os contos de nosso material sem exceção, e de muitos outros contos provenientes dos mais variados povos, desenvolve-se dentro do limite destas funções. Além disso, alinhando sucessivamente todas as funções, vemos com que necessidade lógica e artística cada função se desprende da precedente. Contudo, as teses de Propp foram objeto de críticas. Elas são verdadeiras para os Contos Populares Russos, mas não regem ou se aplicam necessariamente a todas as narrativas ou contos de fadas provenientes de outros países como a Itália, a França, a Alemanha e a Dinamarca.

    Parte 1: Rússia

    Aspectos Geográficos

    Uma imagem contendo texto, mapa Descrição gerada com muito alta confiança

    A Federação Russa é o maior país do mundo em extensão territorial, ocupando uma área de 17.075.400km² que se localiza ao norte da Ásia, entre a Europa e o Oceano Pacífico Norte.

    Sua vasta extensão territorial faz com que a Rússia possua vários climas. A temperatura média anual é de 5ºC, porém, de modo geral, as estações são bem definidas. O inverno é longo e frio, enquanto o verão é curto e quente. O outono é conhecido por ser a estação mais chuvosa, enquanto a primavera possui as temperaturas mais amenas e agradáveis. Na Sibéria, por exemplo, região mais ao norte da Rússia, as temperaturas no inverno podem chegar aos -40°C.

    A Rússia faz fronteira com quatorze países. São eles, partindo do norte em sentido anti-horário: a Noruega, a Finlândia, a Estônia, a Letônia, a Bielorrússia, a Lituânia, a Polônia, a Ucrânia, a Geórgia, o Azerbaijão, o Cazaquistão, a China, a Mongólia e a Coreia do Norte. A Rússia está próxima dos Estados Unidos (estado do Alasca), Suécia e Japão, dos quais se separa por trechos de mar relativamente curtos, sendo eles o estreito de Bering, o mar Báltico e o estreito de La Pérouse, respectivamente.

    O relevo é variado, mas planícies e vales dominam cerca de três quartos do território russo. Suas planícies do Leste Europeu e do Oeste Siberiano, divididas pelos montes Urais, são as maiores do planeta. O Monte Elbrus – o mais alto da Europa, com uma altitude de 5642m – é um estratovulcão extinto localizado na parte ocidental da Cordilheira do Cáucaso, perto da fronteira com a Geórgia.

    Apesar de sua grande extensão territorial, a Rússia possui somente 7,17% de terras aráveis e 0,11% adequadas às culturas permanentes. Apenas 18% desse território é coberto de água. Contam-se 120.000 rios, dos quais se destacam o Volga, o Don, o Ienissei, o Lena, o Ob, o Dniepre e o Neva. Os lagos apresentam-se de formas irregulares e estão, normalmente, no meio do curso de um rio. O território russo compreende o Lago Ladoga, que é o maior da Europa, o Baikal, e o Onega, entre outros.

    A Rússia tem cerca de 37.000km de costa, que a delimitam dos Oceanos Ártico e Pacífico, como também do mar Negro e do Cáspio, sem esquecer a zona dos Bálcãs. Os oceanos representam uma importante fonte de riqueza para o país, uma vez que o petróleo e o peixe são produtos essenciais deles obtidos.

    Breve Relato Histórico

    Durante o período pré-cristão, esse território era habitado por grupos de tribos nômades. A grande região do norte encontrava-se povoada por tribos de eslavos. No sul se estabeleceram os Citas, antigo povo Iraniano de pastores nômades equestres, que por toda a Antiguidade Clássica dominaram a estepe Pôntico-Cáspia, que por esta razão era conhecida como Cítia. A região foi ocupada por uma sucessão de povos asiáticos, tais como os Cimérios, antigo povo indo-europeu que viveu ao norte do Cáucaso e do mar de Azov por volta de 1300 a.C., até serem expulsos para o sul, pelos Citas, chegando a Anatólia por volta do século VIII a.C.; e os Sármatas, um povo a quem Heródoto no século V a.C. localizou na fronteira oriental da Cítia além do rio Tánais.

    Com o passar do tempo, os eslavos, que dominavam a utilização dos metais, resistindo às ondas de ocupação, desenvolveram uma economia pautada na exploração da agricultura, pecuária, caça, pesca e criação de abelhas.

    No século IX, a civilização eslava estabeleceu contato com os vikings, exploradores nórdicos que invadiram seu território e foram avançando para o sul. Os vikings nomeavam os eslavos como "rus, sendo essa, provavelmente, uma das origens etimológicas do termo russo" para designar os habitantes da região.

    Graças à sua enorme extensão territorial, a Rússia desenvolveu um lento e demorado processo de centralização política. Ao longo da Idade Média, a Bulgária Volgaica e os russos de Kiev formaram algumas experiências governamentais mais estáveis que dominaram o espaço russo.

    No século XIII, a incursão dos tártaros-mongóis firmou um novo período na história russa. A destruição promovida por esse povo estrangeiro acabou desarticulando todo o legado de grandes cidades que demoraram vários séculos para se estabelecerem. Ao longo de dois séculos e meio, os mongóis exerceram uma forte dominação que somente foi revertida através dos esforços de unificação militar e política da população do Leste Europeu.

    No início do século XVII, a Dinastia Romanov adotou uma política de expansão em direção à Sibéria. O auge do processo de unificação ocorreu sob o reinado Pedro I, o Grande, quando os domínios foram estendidos até o Mar Báltico e o país foi rebatizado como Império Russo. Pedro, o Grande, preocupou-se em dinamizar a economia russa, enviando russos à Europa Ocidental para que dominassem as técnicas de navegação europeias. A ação desse monarca transformou o quadro econômico fechado e autossuficiente que outrora dominara o cenário russo. As atividades agrícolas e comerciais passaram a atingir um novo patamar e o Estado Imperial ampliou seu poder de dominação. A reforma cultural por ele implantada foi deveras impactante: Pedro I, sendo um admirador da Corte de Versalhes, decidiu introduzir esse estilo de vida francês no seu império, abandonando as tradições eslavo-ortodoxas da Rússia. O uso da língua francesa tornou-se obrigatório para a nobreza, e a língua russa se viu restringida às classes média e baixa da sociedade.

    No século XIX, os russos tiveram intensa participação nas guerras que buscavam impedir o avanço do Império Napoleônico. Em 1812, Napoleão invadiu a Rússia e sua derrota foi o início do fim do Império Francês. Os russos usaram a tática portuguesa de 1807: abandonaram sua capital, em uma manobra estratégica, para retornar com força total. Assim, ingleses, portugueses e russos venceram Napoleão.

    No início do século XX, a derrota na guerra com o Japão contribuiu para a Revolução de 1905, que resultou na formação de um parlamento e outras reformas. Pouco tempo depois, as derrotas do exército russo na Primeira Guerra Mundial geraram grande instabilidade. Os camponeses e trabalhadores urbanos experimentavam uma situação de miséria que era diametralmente oposta à riqueza de uma pequena elite detentora dos bens de produção e explicitamente protegida pelos poderes do Estado Tzarista. Tumultos generalizados nas principais cidades russas resultaram na derrubada da família imperial, em 1917.

    Os comunistas, sob a liderança de Vladimir Lenin, tomaram o poder logo depois e formaram a URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Seu sucessor, Josef Stalin, com mão de ferro, fortaleceu o regime comunista.

    Durante a Segunda Guerra Mundial, a Rússia foi arrasada pelos alemães, mas não derrotada. Os nazistas foram vencidos em Stalingrado. Stalin investiu tudo na defesa da cidade que levava seu nome. Essa derrota dos nazistas foi um ponto de inflexão na Guerra e os Aliados começaram a ganhar terreno.

    O aparente sucesso do regime soviético fortaleceu os ideais comunistas em todo o mundo. O que não muitos sabiam era que esse sucesso se embasava no terror, ao custo de milhões de vidas e da exploração do povo, em benefício da propaganda do regime. Stalin provavelmente se inspirou na política de terror de Robespierre e terminou como o líder francês, sendo liquidado. Tudo indica que Stalin foi envenenado por seus companheiros membros da Convenção Nacional.

    Os horrores e desmandos de Stalin foram denunciados por Nikita Kruschev, seu sucessor. Durante seu governo, realizações notáveis ocorreram e a Russia passou a ser vista por muitos como a nação mais avançada do planeta. Em 4 de outubro de 1957 foi lançado o Sputnik, o primeiro satélite artificial; e em 3 de novembro do mesmo ano, o Sputnik 2, com a cadela Laika. Em 12 de abril de 1961, Yuri Gagarin foi o primeiro homem a viajar pelo espaço, a bordo da espaçonave Vostok 1.

    Nos anos 70, ainda sob a liderança de Leonid Brejnev, o sonho acabou e a dura realidade foi revelada: a economia soviética estava estagnada. Entretanto, alguns russos não perdiam o humor, dizendo: o governo faz de conta que nos paga e nós fazemos de conta que trabalhamos.

    Em 1985, Mikhail Gorbachev assumiu a liderança da URSS e iniciou a Glasnost/Abertura e a Perestroika/Reestruturação, na tentativa de modernizar o comunismo, mas o imenso império soviético já era um doente em fase terminal.

    Em 1991, a URSS desmantelou-se, tornando-se uma República Federativa. A partir de então, a Rússia tem enfrentado o desafio de modernizar a sua economia e reparar os problemas trazidos pelo regime anterior. Atualmente, a nação russa é observada como um país economicamente emergente.

    A democracia russa, assim como qualquer democracia moderna, defende a separação de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário. A Constituição do país ressalva direitos e liberdades democráticas essenciais como, por exemplo, a liberdade de associação, de pensamento e de imprensa.

    Foto em preto e branco de castelo em frente a igreja Descrição gerada automaticamente

    Parte 2: Contos e Lendas Russas

    O Destino de Tzareviche Ivan

    Era uma vez um Tzar/Imperador casado com uma bela Tzarina/Imperatriz. Dessa união nasceram três filhos homens. Essas crianças foram criadas com toda a atenção e carinho, sendo agraciadas com uma educação esmerada, em termos culturais e esportivos, de acordo com os costumes e tradições vigentes. O caçula se chamava Ivan. O tempo passou e eles se tornaram jovens adultos fortes e corajosos, desejosos de encontrar uma companheira.

    O zeloso pai, ciente deste fato, convocou-os à sua presença e disse:

    Meus queridos filhos! Quero que cada um de vocês apanhe uma flecha e, utilizando-se de seu arco, lance-a em direção à região que mais lhe agradar! No local que a flecha de cada um de vocês atingir certamente deverá existir uma jovem digna de se tornar sua mulher!

    Os jovens, extremamente animados, acataram prontamente a sugestão do Tzar, seu pai.

    Alegremente, cada qual apanhou seu arco e escolheu uma flecha. Para evitar dúvidas, cada uma delas foi devidamente marcada por um sinal distintivo de seu possuidor.

    A seguir, as flechas foram lançadas...

    A primeira, do Tzareviche/Príncipe mais velho, caiu na residência de um boyar/nobre que tinha uma filha lindíssima.

    A segunda, do Tzareviche/Príncipe do meio, caiu na residência de um rico comerciante, que tinha uma filha muito bela e meiga.

    A terceira, de Ivan, o mais jovem Tzareviche/Príncipe, não teve a mesma boa sorte das anteriores! Ela caiu num pântano, onde habitava uma rã.

    Desapontado, Ivan foi ter com seu pai, dizendo:

    Como me casarei com uma rã? Ela certamente não tem nada a ver comigo!

    O Tzar respondeu:

    Pouco importa, meu filho, você terá de se casar com a rã! Evidentemente, esse é o seu destino!

    Assim os irmãos se casaram: o mais velho com a bela filha do boyar/nobre, o segundo com a meiga filha do comerciante, e Ivan, o mais jovem, com a rã resmungona.

    Depois de algum tempo, o Tzar chamou seus três filhos e disse:

    Peçam para suas mulheres assarem um pão, que deverá ser entregue a mim amanhã de manhã!

    Ivan voltou para casa visivelmente amargurado. A rã, sua mulher, ao vê-lo assim tão preocupado, perguntou gentilmente:

    Ivan, meu querido marido, por que você está tão triste? Aconteceu algo desagradável no Palácio?

    Ivan respondeu:

    Você acertou! Algo desagradável de fato! Meu pai quer que você asse um pão para ele, que deverá ser entregue no Palácio, amanhã, tão logo o sol surgir!

    Amorosamente, a rã disse:

    Não se preocupe, meu Tzareviche! Já é tarde! Vá para a cama e descanse! A noite escura não é boa conselheira!

    Ivan, seguindo o conselho da mulher, recolheu-se em seu quarto.

    Poucos minutos depois, a rã, após se certificar de que ele dormia profundamente, libertou-se de sua pele de rã, transformando-se numa linda mulher! Vasilisa era seu nome. Prontamente, ela saiu à varanda e chamou em voz alta:

    Minhas queridas damas e servas, venham até aqui! Quero que vocês assem um pão para amanhã de manhã, exatamente como aquele que eu costumava comer no Palácio do meu pai!

    Na manhã seguinte, Ivan foi acordado pelo canto dos galos. Afinal, como todos sabem, os galos e galinhas nunca se atrasam. Para sua surpresa constatou que o pão já estava pronto, e era maravilhoso! Provavelmente, somente na terra das fadas era produzido um pão tão espetacular! Ele era todo adornado com belas figuras, tendo nas extremidades cidades e fortalezas. E o detalhe mais espantoso é que era leve como uma pena!

    O Tzar ficou satisfeito ao receber os pães, e Ivan recebeu um agradecimento especial, já que seu pão se destacava dos demais.

    Sorrindo, o Tzar dirigiu-se aos seus filhos e disse:

    Vou solicitar outra tarefa! Cada uma de suas mulheres tecerá um tapete, que deverá ser entregue a mim amanhã de manhã.

    Ivan voltou para casa cabisbaixo. A rã, sua mulher, ao vê-lo, perguntou gentilmente:

    Ivan, meu querido marido, por que você está desanimado? Seu pai não gostou do pão?

    Ivan respondeu:

    Não! Pelo contrário, ele adorou o pão! Mas agora ele quer que você teça um tapete, que deverá ser entregue amanhã no Palácio.

    Delicadamente, a rã disse:

    Não se preocupe! Vá para a cama e descanse! 

    Ivan recolheu-se em seu quarto, adormecendo imediatamente.

    Novamente, Vasilisa libertou-se de sua pele de rã, transformando-se em mulher. Ela saiu à varanda e chamou em voz alta:

    Minhas queridas damas e servas, venham até aqui! Quero que vocês teçam um tapete de seda, igualzinho àquele em que eu costumava sentar-me no Palácio do meu pai!

    De manhã, os galos cantaram e Ivan acordou. Para sua surpresa, lá estava o magnífico tapete de seda, entremeado com fios de ouro e prata.

    O Tzar ficou satisfeito e agradeceu aos seus filhos, especialmente a Ivan, que lhe ofertou uma obra de arte.

    Ele então manifestou um novo desejo:

    Quero ver as três belas esposas de meus filhos! Tragam-nas aqui, amanhã, tão logo nasça o sol.

    Ivan voltou para casa, desta vez mais preocupado e inseguro do que nunca! A rã, assustada, disse:

    Ivan, meu querido Tzareviche e marido! Por que você está tão preocupado? Aconteceu algo desagradável no Palácio?

    Ivan, nervoso, respondeu:

    Desagradável de fato! O Tzar ordenou que nos apresentemos diante dele logo pela manhã, acompanhados de nossas esposas! Agora diga-me: como poderei ousar levá-la comigo?

    Suavemente, a rã respondeu:

    Não é tão ruim assim! Afinal, ele poderia ter pedido algo muito pior! Confie em mim e apenas faça o seguinte: logo que o sol nascer, você irá para o Palácio sozinho e eu o seguirei logo em seguida. Quando você ouvir um barulho, na verdade, um grande estrondo, não tenha medo! Basta dizer: Minha pobre rã está chegando em sua caixa miserável!

    O dia raiou... Os dois irmãos mais velhos foram os primeiros a chegar ao Palácio com suas mulheres, belas, brilhantes e ricamente trajadas.

    Quando Ivan adentrou o grande salão sozinho, seus irmãos zombaram dele, rindo e proferindo toda sorte de comentários maldosos. Os cortesãos convidados se limitaram a acompanhá-los, rindo descontroladamente enquanto tais comentários eram proferidos:

    Meu irmão, por que veio sozinho?

    Por que não trouxe sua esposa?

    Não havia um trapo para cobri-la?

    Eles riram e gargalharam até o momento em que um grande estrondo ocorreu!

    O Palácio tremeu e o riso cessou. Apavorados, todos abandonaram o salão, correndo para o pátio. Somente Ivan se mantinha calmo e impassível no meio da confusão geral...

    Ele limitou-se a segui-los e em alto brado se pronunciou:

    Acalmem-se! Não corremos nenhum perigo! Esse estrondo indica que minha pobre rã está chegando em sua caixa miserável!

    Nesse exato momento, algo mágico ocorreu! Uma carruagem de ouro, conduzida por seis esplêndidos cavalos brancos, sobrevoou o pátio e, numa manobra suave e precisa, aterrissou em frente ao portal de acesso ao grande salão. 

    Vasilisa, deslumbrantemente trajada, limitou-se a acenar para o marido. Ele, aproximando-se da carruagem, auxiliou-a no desembarque. Após lhe oferecer o braço, encaminharam-se para uma das pesadas mesas de carvalho, magnificamente decoradas e repletas de iguarias. Os convidados seguiram o belo casal e o alegre banquete finalmente se iniciou!

    Vasilisa bebeu um pouco de vinho, e o que foi deixado no fundo da taça ela derramou em sua manga esquerda. A seguir comeu um pouco do cisne frito e jogou os ossos na manga direita. As mulheres dos dois irmãos mais velhos, observando esses gestos, imitaram-na imediatamente!

    Após todos se fartarem, tiveram início as músicas, cantos e danças...

    A bela Vasilisa se encaminhou até o centro do salão e, tão brilhante como uma estrela, curvou-se diante do Tzar, inclinou-se para os nobres convidados... Ivan, seu marido, foi a seu encontro, tomou-a pelo braço e puseram-se a dançar, felizes e despreocupados. Enquanto dançavam,

    Vasilisa acenou com o braço esquerdo e de sua manga surgiu um belo lago no meio do salão, refrescando o ambiente...

    Ela, então, acenou com o braço direito e de sua manga surgiram cisnes brancos, que deslizaram majestosamente sobre as águas límpidas do lago. 

    O Tzar, os convidados, os servos e até o gato cinzento, sentado aos pés do trono, ficaram maravilhados, imaginando e se perguntando quem era a bela Vasilisa.

    Corroídas pela inveja, suas duas cunhadas decidiram entrar em ação com seus respectivos maridos... Afinal, toda essa exibição era demais para elas! Tentaram, com grande empenho, dançar tão leve e harmoniosamente quanto Vasilisa. E logo decidiram repetir sua façanha: acenaram com o braço esquerdo, como Vasilisa havia feito... E borrifaram vinho por todo salão, encharcando e manchando irremediavelmente os trajes de grande parte dos convidados! Não satisfeitas, acenaram com o braço direito e, em vez de surgirem cisnes, uma chuva de ossos ocorreu, atingindo especialmente o rosto do Tzar... Ferido e profundamente irritado, este ordenou que os dois filhos se retirassem do Palácio.

    Aproveitando-se da confusão geral, Ivan decidiu voltar para casa. Lá chegando, ele viu a pele de rã dobrada sobre uma cadeira... Apanhou-a e decidiu queimá-la!

    Quando, minutos depois, Vasilisa chegou, ela procurou pela pele... Ao tomar conhecimento do que havia acontecido, seu lindo rosto foi tomado pela tristeza; seus olhos brilhantes inundaram-se de lágrimas e, balbuciando, ela disse:

    Meu querido Tzareviche, o que você fez? Eu ainda precisava dessa pele de rã por um curto espaço de tempo para me libertar do feitiço! O momento estava próximo e nós poderíamos finalmente ser felizes juntos para sempre! Após todos esses anos de sofrimento e esforço em vão, agora só me resta dizer adeus! Quanto a você, se quiser encontrar-me, terá de viajar, por estradas que ninguém conhece, para um país distante, no qual se ergue o Palácio de Koshchey, o Mago!

    Prontamente, Vasilisa se transformou em um cisne branco que saiu voando pela janela, desaparecendo no horizonte...

    Ivan, perdidamente apaixonado por ela, chorou amargamente... A seguir, ele orou fervorosamente a Deus Todo-Poderoso, implorando proteção e ajuda, e decidiu partir imediatamente! Tão logo saiu de casa, após fazer o Sinal da Cruz em direção aos quatro pontos cardeais, iniciou sua jornada ao país misterioso.

    Ninguém sabe quanto tempo durou sua jornada; em verdade, ele caminhou a esmo por muito tempo... Certo dia, Ivan cruzou com um ancião sentado à beira da estrada; compadecido, inclinou-se e o cumprimentou respeitosamente.

    O velho, encarando-o respondeu:

    Bom dia para você também, jovem valente! O que você busca? Para onde você vai?

    Ivan se deteve e, sentando-se ao lado do ancião, respondeu com sinceridade, contando a ele sobre seu infortúnio sem nada esconder.

    O velho se pronunciou:

    Por que você queimou a pele de rã? Isso foi errado e deveras insensato! Ouça-me agora: Vasilisa nasceu muito sábia, ultrapassando de longe a sabedoria de seu próprio pai. Ele, um mago orgulhoso, foi incapaz de aceitar esse fato e, dominado pela inveja, condenou a própria filha a viver como uma rã por três longos anos! Tenho pena de você e, como seu amor por ela é verdadeiro, vou ajudá-lo!

    O ancião, enfiando a mão no bolso de seu mísero casaco, retirou uma pequena bola brilhante. Entregando-a a Ivan, disse:

    Tome esta bola mágica! Deixe que ela indique o caminho: lance-a ao solo e, na direção em que ela rolar, siga-a sem medo. Agora, vá!

    Ivan, após agradecer ao bom velhinho, pôs-se a caminho, seguindo a direção que a misteriosa bola apontava.

    Longa, muito longa, foi a sua jornada.

    Naquele dia, ao cruzar um vasto campo florido, Ivan avistou um grande urso. Ele prontamente pegou seu arco e estava pronto para atirar, quando o urso gritou:

    Por favor! Não me mate, Ivan, nobre Tzareviche! Quem sabe eu possa ser-lhe útil um dia!

    Compadecido, Ivan não atirou no urso.

    Pouco tempo depois, Ivan divisou um encantador pato branco cruzando o céu. Novamente ele puxou seu arco e, enquanto se preparava para atirar, ouviu o pato rogar:

    Por favor! Não me mate, Ivan, nobre Tzareviche! Quem sabe eu possa ser-lhe útil um dia!

    Compadecido, Ivan não atirou no pato.

    Sua caminhada prosseguiu e mais adiante Ivan divisou uma lebre cinza no campo.

    Mais uma vez, preparava-se para atirar sua flecha, quando a lebre cinza, piscando, disse:

    Por favor! Não me mate, Ivan, nobre Tzareviche! Vou provar minha gratidão por você em um tempo muito curto!

    Compadecido, Ivan não atirou na lebre.

    Ele andou mais e mais, cobrindo longas distâncias, sempre seguindo a incansável bola que seguia rolando, rolando...

    Horas depois Ivan se viu numa bela praia, junto a um mar azul profundo. Na areia havia um grande peixe se debatendo desesperadamente, quase morrendo na areia seca. Ao ver Ivan, implorou:

    Ivan, nobre Tzareviche! Tenha piedade de mim! Empurre-me de volta para o mar frio! Compadecido, Ivan devolveu o peixe ao mar, com grande esforço, pois ele era muito pesado, e assim salvou sua vida.

    A bola mágica pôs-se a rolar pelas areias da praia ao longo da costa... e Ivan a seguiu.

    Ao anoitecer, finalmente, a bola parou, e Ivan avistou à frente uma izboushka/cabaninha muito estranha, situada próxima a um galinheiro igualmente pequeno...

    Era a morada de Baba Yaga, por trás de sua cerca de ossos humanos, que brilhava no escuro, encimada por caveiras de olhos flamejantes! A izboushka/cabaninha, que se apoiava sobre enormes pés de galinha, rodopiava incessantemente, virando de um lado para outro, parando ora num pé, ora noutro, sacolejando, subindo e descendo o tempo todo!

    Com a firmeza característica de um Tzareviche, Ivan ordenou:

    Pare de dançar, izboushka, e deixe-me entrar!

    Como por encanto, a cabaninha parou e virou-se para ele com a porta aberta... Resolutamente, Ivan nela adentrou, deparando-se com a velha e horrenda bruxa!

    Baba Yaga, ao vê-lo, disse:

    Tzareviche! O que o traz aqui?

    Irritado, Ivan respondeu:

    Velha mal-educada! Isso são modos de receber um viajante cansado? Antes de lhe perguntar qualquer coisa, seria correto oferecer-lhe algo para comer e beber, como também um pouco de água quente para que pudesse se lavar, livrando-se da poeira!

    Sem retrucar, Baba Yaga, prontamente lhe ofereceu a água quente e, enquanto Ivan se mantinha ocupado, lavando-se, ela providenciou comida e bebida para ele.

    Terminada a refeição, Ivan se sentiu revigorado e desatou a falar... Contou a ela sua história, ressaltando como havia perdido a sua querida esposa e dizendo que seu único desejo agora era encontrá-la.

    Baba Yaga então se pronunciou:

    Eu já sabia de tudo isso! Sua esposa está agora no Palácio de Koshchey, um ser terrível! Ele vigia a prisioneira noite e dia, e só existe um meio de dominá-lo: uma agulha mágica! Mas, essa agulha mágica está muito bem guardada dentro de um ovo numa pata; essa pata está dentro de uma lebre; a lebre está num baú e o baú está em cima de um alto carvalho, que é vigiado por Koshchey como se fosse seus próprios olhos!

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    Ela então informou a Ivan como poderia chegar até o grande carvalho, ressaltando que isso era tudo que poderia fazer por ele. Agradecido e animado, Ivan despediu-se dela, dando continuidade à sua jornada...

    Após muito caminhar, seguindo rigorosamente as valiosas instruções recebidas, ele finalmente chegou aos pés do grande carvalho. Era uma árvore altíssima, espetacular, algo muito além do que ele havia imaginado! Ivan foi dominado pelo desânimo e viu-se sem saber o que fazer...

    Foi então que o urso, seu velho conhecido, surgiu correndo!

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