Malditos Sejam
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Sobre este e-book
Marcos Barrero
Marcos Barrero, paulista de Assis, é escritor, jornalista e professor de jornalismo em São Paulo. Autor dos livros Assis de A a Z – a Enciclopédia do Século, Catchup, Mostarda e Calorias e Pra machucar meu coração (poesias), História dos Campeonatos Regionais (esportes), Casa de Fazenda (co-autoria) e Dez Décadas – a História do Santos F. C. (co-autoria). Foi roteirista e diretor da Rede Globo, e primeiro ombudsman de rádio do mundo na Bandeirantes/AM, em 1996, conforme registra a ONO – Organization of News Ombudsmen/San Diego, Califórnia. Atuou como professor de jornalismo, telejornalismo e radialismo na PUC/SP, de 1990 a 2004. Foi diretor artístico, apresentador e um dos fundadores da allTV – com a qual ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição ao Telejornalismo Brasileiro em 2005. Formou-se em jornalismo pela Faculdade Casper Libero e possui curso de especialização em jornalismo brasileiro pela mesma instituição. Fez cursos parciais de pós-graduação de Rádio e TV na ECA/USP, Língua Portuguesa na PUC/SP e Intertextualidade na FFCL/USP. Foi repórter, redator e editor na revista Manchete, O Estado de S. Paulo, Gazeta Esportiva, Diário de S. Paulo, Editora Abril, rádios Jovem Pan e Bandeirantes.Escreveu para Veja, IstoÉ, Folha de S. Paulo e Leia Livros.
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Malditos Sejam - Marcos Barrero
1
Claudinha
Foi no enterro do desgraçado.
Esgueirou-se pelos muros do Chora Menino.
Espiou, de longe.
Cadê os filhos da puta que batiam no portão
os filhos de muitas camas
os filhos e pais de santo
os 15 vagabundos do Flor de Liz
os pingaiadas dos salões do Leão Azul.
Onde a família do fundão alagoano,
pai e mãe,
o irmão que virou pastor,
o cunhado de Seridó,
a cunhada de shortinho e bustiê
os padrinhos de todos os casamentos.
Onde os parceiros da firma,
o esquadrão do Vasquinho
o Xavier Fumaça
o plantel de vacas
os credores incrédulos
os inimigos pra cuspir no cadáver.
%
Viu três caras carregando o caixão.
Espiou e saiu.
- Sobrou uma alça, sorriu.
Princesa
Abraçou a garrafa de Campari e dançou no bar escuro.
Princesa
a deusa da minha poesia
ternura da minha alegria
nos meus sonhos quero te ver
%
Eita, porra!
Tenho tudinho dele, Luiz.
Meu rei.
LP, CD, DVD.
Escuto de manhã, antes de vir pra padoca.
Abro uma garrafa e fico ali.
Tem hora que é de foder.
Sou macho, Luiz,
mas dá vontade de enfiar o dedo no cu e rasgar.
Eita dor de corno.
%
Avisei lá em casa:
ninguém põe a mão no meu Amado.
Fiz cópia de tudo, só escuto com os pirata,
guardo os originais, um por um,
numa caixa dentro do guarda-roupa.
Mulé, fio, ninguém é louco de mexer.
Amado na terra, Deus no céu.
Morro com ele.
Tudo a gente troca, menos o Amado.
Time, brigo sim,
mas não sou de sair na faca,
um dia Fortaleza, outro Ceará.
Fio é provisório, logo vai embora,
uns nem voltam pro enterro da gente.
Mulé, tive muitas, ainda tenho,
mas passo tudo pra frente
antes que elas me passem pra trás.
%
Tropeça e afasta uma cadeira com o pé.
Dança de olhos fechados.
%
E agora não durmo direito pensando em você
Lembrando os seus olhos bonitos perdidos nos meus
Que vontade louca que eu tenho de vê-la comigo
Calar sua boca bonita com um beijo meu
%
Um avião pra Cumbica rola baixinho sobre a Cantareira.
Ele olha pra cima, procura o som e aperta mais o Campari no peito.
Olha eu aqui:
zoado,
pé redondo,
biriteiro
bêbado, bebum, bebinho.
Sabe de uma coisa?
Pra você, eu falo, Luiz,
você me entende,
pra você eu falo,
nem meu pai eu beijo,
mas um dia, se eu ficar louco,
se eu tiver fodido, encadelado,
se eu tiver corneado, quebrado,
se eu tiver chumbado, triscado,
eu subo no palco e dou um beijo no Amado Batista.
O velho e a loirinha
O velho veio na frente.
Ela, loirinha, atrás, com um bercinho na mão.
O bebê era gorducho como todos os bebês.
Encostaram no balcão.
O velho tinha cabelos brancos e uma bic azul no bolso da camisa.
A loirinha era baixa, cabelos longos, bunda e peitos de comercial de TV.
O velho apontou a estufa de salgadinhos com o queixo.
- Não quero nada, ela disse.
- Um lanche, falou o velho.
Ela indicou, com a chave do carro, um Toddynho na prateleira.
- Só isso.
O velho saiu. Foi dar uma mijadinha. Voltou.
Passou a mão que pegou no pau na careca do bebê.
- Fofinho!
Ela sacudiu a caixinha. Como uma punheta. Furou e chupou o caldinho