Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Malditos Sejam
Malditos Sejam
Malditos Sejam
E-book135 páginas42 minutos

Malditos Sejam

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

"Viu que estava morta. Mortinha. Tetê, a criança: durinha no chão do quarto. Uma garrafada na cabeça. Deu umas bicas. Pisou. Tetê, a criança, estava morta. L. então pediu ajuda da mulher, R., pra desovar o corpo. — Um anjo de vitral – disse a mulher. — Moído – respondeu o homem. Foram pra Antonina, jogar o cadáver no mar. Cortaram e guardaram uma mecha de cabelo de Tetê, a criança, a filha." Malditos sejam poderia ser definido como um livro de microcontos ou ser chamado apenas de ficções. É um exercício de estilo sobre a língua e a vida de anônimos, esquecidos, excluídos, vendedores de doce, chapeiros de padaria, velhos tarados, bolivianos, baianos, homens e mulheres invisíveis do Brasil. Os personagens de Malditos não frequentam lugares burgueses, salões e baladas mundanos. Avistam tais oásis apenas da janelinha do ônibus e entram pela porta de serviço das casas dos bacanas. Só vão à Disney no vale a pena ver de novo da TV. Andam com bolsos estufados de carnês, contas de luz, água, gás e a cada fim de noite muitos perdem o último ônibus para o Jaçanã – e, então, só amanhã de manhã. Essa brava gente resiste nos cantões de uma metrópole brasileira. Vive um assim seja, um faz de conta, um tanto faz. Cai-lhe, como uma luva de Mike Tyson, uma máxima de Jamil Snege: "viver é prejudicial à saúde". Não vislumbra uma saída além de um camburão ou uma maca do SUS.
IdiomaPortuguês
EditoraMinotauro
Data de lançamento1 de jul. de 2023
ISBN9788563920386
Malditos Sejam
Autor

Marcos Barrero

Marcos Barrero, paulista de Assis, é escritor, jornalista e professor de jornalismo em São Paulo. Autor dos livros Assis de A a Z – a Enciclopédia do Século, Catchup, Mostarda e Calorias  e Pra machucar meu coração (poesias), História dos Campeonatos Regionais (esportes), Casa de Fazenda (co-autoria) e Dez Décadas – a História do Santos F. C. (co-autoria). Foi roteirista e diretor da Rede Globo, e primeiro ombudsman de rádio do mundo na Bandeirantes/AM, em 1996, conforme registra a ONO – Organization of News Ombudsmen/San Diego, Califórnia. Atuou como professor de jornalismo, telejornalismo e radialismo na PUC/SP, de 1990 a 2004. Foi diretor artístico, apresentador e um dos fundadores da allTV – com a qual ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição ao Telejornalismo Brasileiro em 2005. Formou-se em jornalismo pela Faculdade Casper Libero e possui curso de especialização em jornalismo brasileiro pela mesma instituição. Fez cursos parciais de pós-graduação de Rádio e TV na ECA/USP, Língua Portuguesa na PUC/SP e Intertextualidade na FFCL/USP. Foi repórter, redator e editor na revista Manchete, O Estado de S. Paulo, Gazeta Esportiva, Diário de S. Paulo, Editora Abril, rádios Jovem Pan e Bandeirantes.Escreveu para Veja, IstoÉ, Folha de S. Paulo e Leia Livros.  

Relacionado a Malditos Sejam

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Malditos Sejam

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Malditos Sejam - Marcos Barrero

    1

    Claudinha

    Foi no enterro do desgraçado.

    Esgueirou-se pelos muros do Chora Menino.

    Espiou, de longe.

    Cadê os filhos da puta que batiam no portão

    os filhos de muitas camas

    os filhos e pais de santo

    os 15 vagabundos do Flor de Liz

    os pingaiadas dos salões do Leão Azul.

    Onde a família do fundão alagoano,

    pai e mãe,

    o irmão que virou pastor,

    o cunhado de Seridó,

    a cunhada de shortinho e bustiê

    os padrinhos de todos os casamentos.

    Onde os parceiros da firma,

    o esquadrão do Vasquinho

    o Xavier Fumaça

    o plantel de vacas

    os credores incrédulos

    os inimigos pra cuspir no cadáver.

    %

    Viu três caras carregando o caixão.

    Espiou e saiu.

    - Sobrou uma alça, sorriu.

    Princesa

    Abraçou a garrafa de Campari e dançou no bar escuro.

    Princesa

    a deusa da minha poesia

    ternura da minha alegria

    nos meus sonhos quero te ver

    %

    Eita, porra!

    Tenho tudinho dele, Luiz.

    Meu rei.

    LP, CD, DVD.

    Escuto de manhã, antes de vir pra padoca.

    Abro uma garrafa e fico ali.

    Tem hora que é de foder.

    Sou macho, Luiz,

    mas dá vontade de enfiar o dedo no cu e rasgar.

    Eita dor de corno.

    %

    Avisei lá em casa:

    ninguém põe a mão no meu Amado.

    Fiz cópia de tudo, só escuto com os pirata,

    guardo os originais, um por um,

    numa caixa dentro do guarda-roupa.

    Mulé, fio, ninguém é louco de mexer.

    Amado na terra, Deus no céu.

    Morro com ele.

    Tudo a gente troca, menos o Amado.

    Time, brigo sim,

    mas não sou de sair na faca,

    um dia Fortaleza, outro Ceará.

    Fio é provisório, logo vai embora,

    uns nem voltam pro enterro da gente.

    Mulé, tive muitas, ainda tenho,

    mas passo tudo pra frente

    antes que elas me passem pra trás.

    %

    Tropeça e afasta uma cadeira com o pé.

    Dança de olhos fechados.

    %

    E agora não durmo direito pensando em você

    Lembrando os seus olhos bonitos perdidos nos meus

    Que vontade louca que eu tenho de vê-la comigo

    Calar sua boca bonita com um beijo meu

    %

    Um avião pra Cumbica rola baixinho sobre a Cantareira.

    Ele olha pra cima, procura o som e aperta mais o Campari no peito.

    Olha eu aqui:

    zoado,

    pé redondo,

    biriteiro

    bêbado, bebum, bebinho.

    Sabe de uma coisa?

    Pra você, eu falo, Luiz,

    você me entende,

    pra você eu falo,

    nem meu pai eu beijo,

    mas um dia, se eu ficar louco,

    se eu tiver fodido, encadelado,

    se eu tiver corneado, quebrado,

    se eu tiver chumbado, triscado,

    eu subo no palco e dou um beijo no Amado Batista.

    O velho e a loirinha

    O velho veio na frente.

    Ela, loirinha, atrás, com um bercinho na mão.

    O bebê era gorducho como todos os bebês.

    Encostaram no balcão.

    O velho tinha cabelos brancos e uma bic azul no bolso da camisa.

    A loirinha era baixa, cabelos longos, bunda e peitos de comercial de TV.

    O velho apontou a estufa de salgadinhos com o queixo.

    - Não quero nada, ela disse.

    - Um lanche, falou o velho.

    Ela indicou, com a chave do carro, um Toddynho na prateleira.

    - Só isso.

    O velho saiu. Foi dar uma mijadinha. Voltou.

    Passou a mão que pegou no pau na careca do bebê.

    - Fofinho!

    Ela sacudiu a caixinha. Como uma punheta. Furou e chupou o caldinho

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1