Visão Subnormal: Um enfoque educacional
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Sobre este e-book
O Curso para Educadores, do I Congresso de Visão Subnormal, fruto do trabalho de profissionais com ampla experiência na área da deficiência visual, constituiu uma reflexão sobre essa pergunta. Reiterou que a criança com grave deficiência visual consegue, por meio de interações ao longo de seu desenvolvimento, ampliar sua habilidade de perceber, entrar em contato, organizar e compreender o mundo onde está.
Esta obra registra aulas ministradas nesse curso. Emergiu da convicção de que é indispensável disseminar conhecimentos e experiências em benefício das pessoas com visão subnormal e de que é importante a divulgação para que os caminhos encontrados, às vezes em situações economicamente precárias, instiguem outros trabalhos.
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Visão Subnormal - Elcie F. Salzano Masini
Agradecimentos
A idealização e realização do I Congresso de Visão Subnormal da Sociedade Brasileira de Visão Subnormal foi iniciativa do Prof. Dr. Marcos Wilson Sampaio e da Profa. Dra. Maria Aparecida Onuki Haddad que não mediram esforços para transformarem um sonho em realidade. Agrademos o convite para participarmos desde a organização do evento à confiança que nos foi depositada.
Reconhecemos também a dedicação de todos os membros da Sociedade Brasileira de Visão Subnormal que contribuíram para que o I Congresso de Visão Subnormal da Sociedade Brasileira de Visão Subnormal proporcionasse o aprofundamento de estudos sobre o processo educacional de crianças com visão subnormal.
Nossa gratidão às professoras, Eliana Ormelezi, Hsu Yun Min, Lucimar Ezequiel, Maria da Graça Corsi, Marilda Moraes Garcia Bruno, Sônia Maria Salomon, Tânia Guizzardi e Thaís Solér, que com muita competência oriunda da ampla experiência profissional, ministraram palestras no Curso de Educadores.
Nossos agradecimentos aos profissionais que participaram do Congresso, mas, principalmente, aos educadores que se inscreveram no curso sobre Visão Subnormal, participando ativamente de todas as apresentações, debatendo e proporcionando-nos valorosos relatos de experiências.
Fundamentalmente agradecemos a todas as pessoas com visão subnormal, a seus familiares, professores da sala regular e profissionais especializados que têm partilhado conosco o desejo de alcançar uma educação mais apropriada e uma escola mais justa.
Apresentação
Assim a flecha ultrapassa a corda, para ser no vôo mais do que ela mesma. Pois em parte alguma se detém. (RILKE, 1976, p. 5).
Quando uma criança nasce cega ou com grave deficiência visual ou ainda quando adquire essa deficiência nos primeiros anos de sua infância, a maneira de entrar em contato com o mundo que a cerca, de descobri-lo e de explorá-lo é bastante diferente dos caminhos daqueles que dispõem da visão. É por meio de seus movimentos e interações com o que a cerca que a criança deficiente visual vai desenvolvendo sua habilidade de perceber, organizar e compreender o mundo onde está. Isso vai ocorrendo ao longo de seu desenvolvimento corporal, afetivo/social e cognitivo. O que é necessário para que uma pessoa com deficiência visual evolua da dependência total do organismo para um ser adulto integrado e realizado como pessoa e socialmente participante? Que condições são necessárias na educação de uma criança com visão subnormal para que ela se torne uma pessoa adulta e autônoma?
Essas perguntas fazem sentido considerando que, na educação de modo geral é atribuída grande importância à visão. Isso é facilmente identificado em situações do cotidiano e em textos referentes à percepção e a teorias do conhecimento. Quer, no entanto, para lidar com o deficiente visual, quer para investigar fundamentos sobre seu perceber e seu conhecer, é essencial estar atento ao fato de que a importância do ver e do enxergar é determinada pelo vidente. Em situações do diaa-dia, isso fica facilmente ilustrado ao comparar as respostas de uma pessoa cega e de uma pessoa vidente, quando solicitada a descrever as características por ela percebidas quando identifica pessoas. Do ponto de vista teórico, na epistemologia, há muitas questões concernentes aos caminhos perceptuais do deficiente visual e de como ele adquire conhecimento, diferentemente da pessoa que dispõe integralmente da visão (DIDEROT 1988).
Esse filósofo assinalou que a questão está na diferença perceptual e não na deficiência, ao afirmar que para o cego o problema
de sua cegueira e a vontade de curá-la é dos videntes. O neurologista Sacks (1995) reitera esse ponto de vista ao relatar que Virgil, como cego, foi hábil e auto-suficiente, experimentando com naturalidade e facilidade o mundo com suas mãos. A recuperação da visão trouxe-lhe angústias e conflitos, sem saber quando tocar ou quando olhar, e passou a caminhar, assustado e confuso, devido a noções incertas e instáveis sobre o espaço e a distância.
Esses dados enfatizam que a tarefa primeira para quem se propõe a realizar qualquer ação educativa com o deficiente visual é procurar saber sobre ele, sua experiência de vida e sobre sua percepção. É só a partir dos significados dele – o que sente e o que compreende – é que ele poderá organizar as informações sobre o mundo que o cerca e a agir nas situações. Com base nessa concepção foi proposto o curso sobre Visão Subnormal para educadores, no I Congresso de Visão Subnormal da Sociedade Brasileira de Visão Subnormal (SBVSN),
em junho de 2005.
O delineamento desse congresso refletiu a ampla perspectiva do Dr. Marcos Wilson Sampaio e da Dra. Maria Aparecida Onuki Haddad – presidente e vice-presidente da Associação Brasileira de Visão Subnormal – ao convidarem profissionais de diferentes áreas de estudos sobre deficiência visual a com eles participarem desse Evento desde sua organização. Essa atitude propiciou uma rede integrada de encontros e compartilhamento de informações, de experiências e de pesquisas, durante a estruturação do evento dos expositores para a assistência composta de profissionais, pessoas com visão subnormal e seus pais e/ou familiares.
Foi uma vivência de interdisciplinaridade, entendendo-se interdisciplinaridade no sentido de Jantsch (1995, passim):
[...] síntese de duas ou mais disciplinas a fim de instaurar um novo nível do discurso, caracterizado por nova linguagem descritiva e novas relações estruturais [...] o conhecimento constituído pelas disciplinas significa querer soterrar o planeta sob uma espessa camada de gelo para furar buracos estreitos e fundos no solo congelado [...] em vez de observar o rio da vida em todos os seus processos e interações é ver através de furos estreitos. A interdisciplinaridade é uma abordagem que tenta derreter em parte o gelo e relacionar os furos
. Implica que se impulsione certa dinâmica às estruturas do conhecimento.
Esse enfoque interdisciplinar foi se complementando nas conferências, mesas, cursos, propiciando um impulso dinâmico às estruturas de conhecimento sobre visão subnormal – desalojou as informações compartimentadas em áreas e ofereceu um novo enfoque: o conhecimento sobre a pessoa que entre suas características tem a de um específico funcionamento visual.
O curso sobre Visão subnormal – Enfoque Educacional – objetivou oferecer ao professor, especializado ou do ensino regular, informações sobre: a importância de considerar a pessoa que tem visão subnormal, atento às suas específicas características, quer se trate de criança, do jovem ou adulto; o que é visão subnormal e a variedade de possibilidades de uso do resíduo visual e do desenvolvimento de sua eficiência; os recursos específicos e instrumentos auxiliares para uso do resíduo visual. Foi organizado de forma a, também, receber dos participantes relatos de suas experiências desenvolvidas em outros estados e outras cidades; delinear um panorama nacional do que tem sido oferecido às pessoas com visão subnormal no ensino dos diferentes níveis, como também o que têm podido realizar os professores especializados e professores de classes comuns no ensino regular.
Após e durante as aulas houve perguntas, relatos de experiências dos que assistiam às aulas e discussões com os professores expositores e com os colegas da assistência. O curso foi estruturado conforme mostra o quadro a seguir.
Um dos comentários comuns, de professoras de diferentes estados, inclusive de São Paulo, foi a falta de publicações a respeito. Foram feitas solicitações para o material sobre visão subnormal que estava sendo ministrado no curso fosse enviado aos participantes.
Assumimos o compromisso nesse sentido. Este livro é uma resposta a essas solicitações e à nossa convicção de que é indispensável divulgar o que ocorre na realidade brasileira no atendimento à pessoa com deficiência. É premente assinalar os limites existentes e as tentativas de encaminhamentos. É necessário disseminar o conhecimento sobre as experiências bem-sucedidas e trabalhos originais e criativos em benefício de pessoas com visão subnormal. É importante a divulgação para que os caminhos encontrados, às vezes em situações economicamente precárias, instiguem outros trabalhos.
Esperamos que esta publicação, que se construiu no trabalho de profissionais em anos de experiência, possa constituir sugestão e modelo e contribua para a educação de pessoas com visão subnormal.
Elcie F. Salzano