Recursos nada humanos
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Sobre este e-book
Em Recursos nada humanos, Maxwell dos Santos denuncia as condutas abusivas de alguns profissionais de recursos humanos, especialmente na área de recrutamento e seleção, e como elas podem prejudicar os candidatos e afetar negativamente sua autoestima. Com contos, o autor relata experiências reais de candidatos que foram submetidos a tratamentos grosseiros, invasivos e discriminatórios por parte de recrutadores.
Em um dos contos, uma candidata foi julgada pela sua capacidade de fazer entregas por ser mãe solo. Em outro, uma candidata foi reprovada por ser vocalista de uma banda de rock, pois o recrutador não acreditava que pudesse conciliar a carreira com a arte.
Recursos nada humanos é um livro importante para todos que buscam emprego, pois ajuda a conscientizar sobre os direitos dos candidatos.
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Recursos nada humanos - Maxwell dos Santos
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fichacatalograficaPara todos (as) candidatos que sofreram na mão de profissionais de RH com síndrome de pequeno poder.
É tanta qualidade que exigem pra dar emprego, que não conheço um patrão com condições de ser empregado.
Ariano Susssuna (1927-2014)
Sumário
Sororidade zero
Delicada que nem uma mula
Músico flopado
Por trás da fina estampa
Cama de gato
Leilão de salários
Sobre o autor
Apoie o autor independente
Sororidade zero
Mariana, naquela manhã, faria uma entrevista na RapidRango, uma plataforma digital de delivery de alimentos, para o cargo de gerente de marketing de patrocínios. Ela se preparou para a entrevista, revisou seus pontos fortes e fracos, e chegou no horário marcado. Porém, teve que esperar um pouco na recepção, pois Laura, a entrevistadora, psicóloga graduada pela Unicav, estava atrasada. Ela recebeu uma mensagem dela no celular, dizendo que teve um imprevisto com o filho doente, e logo chegaria.
Mariana entendeu a situação, pois ela também era mãe, e sabia como era difícil conciliar a vida profissional e pessoal. Ela esperou pacientemente, lendo uma revista, até que Laura apareceu. Era uma mulher loira, 32 anos, com um terninho azul e um semblante cansado.
— Desculpe o atraso — disse Laura, cumprimentando Mariana com um aperto de mão — Meu filho acordou com febre e dor de garganta, tive que levá-lo ao pronto-atendimento, e depois arrumar alguém pra ficar com ele, porque meu marido tá trabalhando em casa e não pode parar.
— Não tem problema — disse Mariana, sorrindo — Entendo perfeitamente. Espero que seu filho melhore logo.
— Obrigada. Vamos pra sala de reuniões? — disse Laura, conduzindo Mariana pelo corredor.
Elas entraram em uma sala ampla e bem iluminada, com uma mesa redonda e várias cadeiras. A entrevistadora se sentou em uma delas, e indicou outra para Mariana. Ela pegou uma pasta com alguns papéis, e começou a fazer perguntas sobre o currículo de Mariana.
— Vejo que você tem bastante experiência na área de marketing de patrocínios — disse Laura — Você trabalhou em várias empresas renomadas, com ótimas referências. Fala pra mim um pouco sobre seus projetos mais recentes.
Mariana falou com entusiasmo sobre seu trabalho, mostrando sua competência e criatividade. Ela explicou que na passagem na Companhia Siderúrgica do Atlântico Sul, era responsável em analisar os pedidos de patrocínio de projetos culturais aprovados nas leis de incentivo, com vistas à troca dos bônus. A entrevistadora parecia impressionada, e fazia comentários elogiosos.
— Você é muito talentosa — disse Laura — Tem o perfil que estamos procurando para essa vaga. É uma posição de confiança e importância na empresa, que exige dedicação e comprometimento.
— Obrigada — disse Mariana — Eu me sinto preparada para esse desafio.
— Ótimo — respondeu a entrevistadora — Agora vamos falar um pouco sobre sua vida pessoal. Você é casada?
— Não — disse Mariana — Sou mãe solo.
A expressão da entrevistadora mudou na hora. Ela franziu o cenho, e olhou para Mariana com desconfiança.
— Mãe solo? — repetiu Laura — E quem fica com sua filha? E em caso de doenças?
Mariana sentiu um desconforto na voz da mulher, mas tentou responder calmamente.
— Tenho uma babá que dorme em casa de domingo a sexta — disse ela — Caso minha filha fique doente, o pai dela ou a avó paterna sempre ficam com ela. Meus pais moram em Brasília, mas eles vêm me visitar sempre que podem.
Laura balançou a cabeça negativamente.
— Isso é muito arriscado — disse ela — Você não pode depender de terceiros pra cuidar da sua filha. E se a babá faltar? E se o pai ou a avó não puderem ficar com ela? E se você tiver que viajar a trabalho? Como você vai dar