Poesia Reconcilia: Antologia Prêmio Absurtos 2023
De Rose Almeida
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Sobre este e-book
SOBRE A ORGANIZADORA
Rose Almeida é paulistana, nasceu no ano de 1976 e é formada em Letras pela USP. Escreve poesia desde a pré-adolescência e foi professora de português na rede pública por mais de uma década. Em 2013, venceu o concurso cultural Memórias inconsoláveis, realizado pela produtora do filme Elena, de Petra Costa, com o poema Pitangas debulhadas. Três anos mais tarde, começou a publicar seus poemas em redes sociais. Participou da Antologia Inaugural Patuscada (2016) e da Antologia Ruínas (2020), ambas pela Editora Patuá. Desde 2019 é editora-executiva na Absurtos Editora, onde já editou e lançou diversos livros, de poetas contemporâneos de todo o Brasil. Véu de vidro, seu primeiro livro individual de poemas, foi publicado em 2022.
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Poesia Reconcilia - Rose Almeida
Re+conciliare
- Valéria Aveiro (Ribeirão Pires/SP)
Verbo, onze letras
Transitivo direto, bitransitivo, jamais intransitivo
Pronominal pulsando, mim.
Tem origem no latim:
Juntar novamente
Aquilo que esteve unido?
Para escrever um folhetim:
Amor desengonçado, ciúme, traição?
Qual nada! Desacabou.
Acertando tintim por tintim:
Laço de sangue, nó de marinheiro
Laço diplomático, mão de cavalheiro
Laço de afeto, cópula com companheiro
O eu e o cerne – o tudo – re-estará-conciliado.
Abaixo à prosa, ao cotidiano que separa!
Dialogue-se a vida, lida em ritmo e verso
Da gênese ao fim, pela força do verbo-palavra.
Presença
- Jillian K. S. Antunes (Rio de Janeiro/RJ)
Parada na sala
Olho o rodo
Pego o pano
Acaricio o chão
Limpo de mim
Contrariada, rodo a casa
Movo móveis
Busco mofo
Mofo em esperas
Preencho o som de espirros
Conto gotas
Soletro bulas
Burlo o ócio
Rasgo lençóis
Desalinho a cama
Amasso (,) encosto
Lacrimejo as fronhas
Suo o ar fresco que entra
Descabelo-me na penteadeira
Destranço fios de mim
E com meus passos úmidos
Triunfantes
Volto à sala
Olho o rodo
Pego o pano
Acaricio o chão
Enfim, repleto de mim
Lampejo poético
- Ananda Falcão (Niterói/RJ)
Diante do caos sombrio dou à luz rebento poético
Para o que de minh’alma exige cuidado
Solfeja futuro em reconciliação
Pois que sob os destroços da guerra ao amor
Invenção incalculável de disfarces
Profere duro golpe sobre si mesmo
Declara do humano o desatino que lhe constitui
Bom não se estender sobre seu tempo
Seu tema obsoleto, insensato, indissoluto
Melhor seria brincar de poesia
Que de um certo irremediável destino
Ousa o fazer criativo
Esculpindo brumas de infinitos possíveis
Ante o intraduzível do mundo
Que como tal, mal se substancia diante do corpo-apelo
Nos reconcilia a tal poesia
Transbordo de ancoragem êxtima
Laço-concurso de amor
Sob leito de inconformidade bem dita
Sopro de Eros aos que se dispõem à invenção
Em lampejo, sem arranjo, de coração
A voz
- Adriana de Lima Santos (Governador Eugênio Barros/MA)
Quando se empresta às palavras,
confere-lhes vida e emoção,
traz à luz os sentimentos
de que fala o coração.
Quando canta, fala à alma,
num timbre ímpar, enlevo exala.
Se faz vibratos, é sem par e escala.
Se faz melismas, ao ser acalma.
Reúne todos os atributos
do que de mais belo há no seu canto.
E cada nota que modula
aos ouvidos, regala em espanto
de quão doce e suavemente
de si em música, se faz encanto.
Devidas desculpas
- Alessandra Fróes Vega (Bragança Paulista/SP)
Foi quando virava a esquina
Que me pararam e perguntaram
Se eu já tinha te contado
Sobre esse tanto que eu sinto
Será mesmo possível?
Está mesmo tão visível?
Eu que sempre fui tão incrível
Em toda arte do disfarce
Pareço ter seu nome escrito
Tatuado em mim por toda parte
E lá se foram meus planos
Minha carreira de atriz acabou
Muito antes mesmo
De ter de fato começado
Talvez você me deva desculpas
E possa ser logo meu namorado
Já que a rua toda já sabe
Que é você o grande culpado
Sempre… ele ressurge
- Alice Gurgel do Amaral (São Paulo/SP)
Do calor da lembrança
da herança esperança
eis que ele ressurge.
Eu, inconformada
de nada ter vivido
tendo tudo