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Operações de Informação: Névoa de Conceitos
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Operações de Informação: Névoa de Conceitos
E-book391 páginas4 horas

Operações de Informação: Névoa de Conceitos

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Sobre este e-book

As Operações de Informação trouxeram um profundo impacto nas estruturas das relações internacionais, não sendo fácil a distinção entre ambiente de paz e de guerra. Esse fenômeno multidimensional e multidomínio, de revoluções no campo técnico e científico, engloba os avanços do conhecimento nas dimensões humana, informacional e física bem como nas possibilidades das operações no ambiente da informação no caso de conflitos.
O emprego regular das Forças Armadas está diante de um cenário mundial de indefinição da realidade, que vai muito além do emprego de armas tradicionais, adotando-se o amplo uso da informação e da influência. No âmbito operacional e tático militar, a integração de capacidades especializadas — como inteligência, guerra cibernética, guerra eletrônica, operações psicológicas, comunicação social e assuntos civis — passou a determinar o sucesso das operações, sendo que o ambiente operacional multidimensional tem transformado os cenários estratégicos em uma permanente "Guerra de Informação". Entretanto, nos dias atuais, ainda persiste a dificuldade da compreensão desse novo domínio, caracterizando uma névoa de conceitos que dificulta estabelecer significados cognitivos e limites físicos da guerra.
Nesse contexto, a obra analisa o desafio organizacional e cognitivo das Forças Armadas brasileiras de incorporar a doutrina das Operações de Informação, considerando variados parâmetros da percepção do ambiente da informação das operações militares para adequar-se ao caráter holístico das futuras ameaças e de cenários militares cada vez mais complexos e intangíveis.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento8 de mar. de 2024
ISBN9786525471389
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    Operações de Informação - Márcio Walker

    A névoa de conceitos informacionais

    Os fenômenos da globalização e do avanço tecnológico constante ampliaram o desafio de atualização das capacidades das Forças Armadas brasileiras. Preparar as Forças Armadas, mantendo-as em permanente estado de prontidão, permitirá ao país enfrentar os desafios militares contemporâneos da Era da Informação. O problema está em alinhar o caráter holístico das ameaças futuras às necessidades atuais de defesa do Brasil, com cenários cada vez mais complexos e intangíveis. Nesse contexto, as Operações de Informação (Op Info) assumirão um papel cada vez mais relevante no ambiente operacional multidimensional e multidomínio, transformando as possibilidades do planejamento estratégico e operacional militar em uma permanente Guerra de Informação.

    A Era de Informação tem início nos últimos anos do século XX e foi assim definida por Castells pelo seu profundo impacto nas estruturas políticas das relações internacionais (2002). Ela parte do princípio da trilogia da Economia, Sociedade e Cultura, com a substituição da cultura material pelo avanço do segmento informacional e das novas tecnologias. Esse período de revoluções no campo técnico engloba os avanços nas telecomunicações, na computação, nos transportes, na produção industrial, na medicina e nas fontes de energia, bem como na forma de se fazer a guerra. A Era da Informação é mais que um período temporal, pois não tem perspectiva exclusivamente física. Ao contrário, marca a mudança na forma de se perceber o conflito, considerando a importância cada vez maior de se considerar as dimensões humana e informacional das ações militares.

    As Operações de Informação são ações doutrinárias do emprego militar das Forças Armadas no ambiente da informação das operações militares, visualizado em três dimensões: física, humana e informacional. Em linhas gerais, reúnem capacidades técnicas e especializadas relacionadas à informação que são integradas e coordenadas. Entretanto, em que pese haver uma concepção geral, o conceito doutrinário de Operações de Informação tem variado de acordo com a percepção militar de cada país, bem como de acordo com realidade local em seu tempo. Essa indefinição e falta de padronização, com o amplo uso de termos relacionados à informação no âmbito civil e militar, estabeleceu uma névoa de conceitos que dificulta diferenciar dentre os inúmeros termos utilizados para fenômenos similares ou distintos no ambiente da informação. Ocorre, dessa forma, a confusão entre o emissor e o receptor quanto aos seus verdadeiros significantes e significados. Essa névoa de conceitos tem dificultado a interpretação no meio militar do que são as Operações de Informação.

    Clausewitz, um dos maiores estrategos da história, que tem ensinamentos clássicos amplamente utilizados como referência aos estudos militares, referia-se à existência de um fenômeno que chamou de névoa da guerra (1984), ou seja, a névoa era uma imagem turva e cegante que caracterizava a falta de conhecimento dos fatores militares em tempo oportuno, tanto por parte dos decisores como dos executores. Isso poderia ocorrer antes, durante ou após os eventos de uma guerra, distanciando os propósitos da decisão do que realmente era executado. Clausewitz dizia que durante um conflito se estabelecia um caos de informação e a incerteza em ambas as partes em conflito, sobre as reais capacidades e planos do inimigo. Este caos ocorria também dentre mesmo das forças aliadas quando as ordens eram mal interpretadas, por falta de percepção da intenção do comandante ou falhas na execução das tarefas no nível tático.

    No mesmo sentido, a Guerra de Informação tem estabelecido uma névoa de conceitos, dificultando a integração das Operações de Informação nas Forças Armadas. A Guerra de Informação é um fenômeno que desafia a necessidade de declaração de guerra formal, exigindo novos parâmetros para a doutrina militar e o conflito físico tradicional. Isto muito se deve ao fato de que existe uma constante evolução dos cenários de guerra, com a frequência de ambientes em disputa de não guerra. A névoa de conceitos surgiu da generalização e banalização de conceitos, desafiando o estabelecimento de percepções entre civis e militares, mesmo nos níveis mais altos do pensamento estratégico. Dessa forma, tem ocorrido uma falta de percepção única do problema da guerra no ambiente estratégico nacional. O que tem gerado um caos de incerteza quanto às ameaças informacionais, oferecendo grandes dificuldades para a integração das ações de defesa nacional no campo informacional.

    O presente estudo iniciou em 2015 na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro, sob enfoque acadêmico. O objetivo principal foi analisar o fenômeno da dificuldade em integrar os conhecimentos e a doutrina militar de Operações de Informação nas Forças Armadas do Brasil. A análise partiu das premissas de que as ações de Operações de Informação não estão integradas e que as Ciências Militares abrangem processos complexos na área de ciências humanas do ambiente da informação das operações militares, que precisam de percepções alinhadas e de conceitos bem definidos para que sejam entendidos e aplicados. As Ciências Militares são um grande campo de estudo heterogêneo que abrange todos os conhecimentos doutrinários da Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira.

    Considerou-se também um enfoque epistemológico das operações no ambiente da informação, sob o qual o estabelecimento dos significados da palavra informação poderia ser constantemente submetido à refutação, por divergências de percepção no meio militar, expandindo-se para a complexidade de percepções de emprego em diferentes ambientes não militares. Observou-se, com base na análise dos conceitos propostos em documentos doutrinários para as Operações de Informação, que existiria a possibilidade de haver a falta de integração no ambiente militar de processos de gestão de Defesa na área de Op Info. Assim sendo, o problema a ser esclarecido é que poderia estar ocorrendo a divergência na formulação de opiniões sobre o tema, o que poderia variar entre os oficiais de Estado-Maior ou oficiais generais, até mesmo dentro de cada uma das três Forças.

    No Brasil, o manual do Exército Brasileiro de 2014, Operações de Informação (EB20-MC-10.213), apresentou a seguinte definição em relação ao termo:

    Atuação metodologicamente integrada de capacidades relacionadas à informação, em conjunto com outros vetores, para informar e influenciar grupos e indivíduos, bem como afetar o ciclo decisório de oponentes, ao mesmo tempo protegendo o nosso. Além disso, visam a evitar, impedir ou neutralizar os efeitos das ações adversas na Dimensão Informacional (BRASIL, 2014c, p. 3-1).

    Em seguida, de forma complementar e com a finalidade de permitir a atuação conjunta das Forças Armadas, o manual do Ministério da Defesa de 2015, Glossário das Forças Armadas (MD35-G-01), definiu o termo como:

    Ações coordenadas que concorrem para a consecução de objetivos políticos e militares. Executadas com o propósito de influenciar um oponente real ou potencial, diminuindo sua combatividade, coesão interna e externa e capacidade de tomada de decisão. Atuam sobre os campos cognitivo, informacional e físico da informação do oponente, e, também, sobre os processos e os sistemas nos quais elas trafegam, ao mesmo tempo em que procuram proteger forças amigas e os respectivos processos e sistemas de tomada de decisão (BRASIL, 2015c, p. 196).

    Desse modo, em uma breve análise de dois documentos militares aqui apresentados, verificou-se um primeiro problema para a integração da doutrina militar e entendimento do fenômeno informacional a ser estudado, ou seja, a existência de dois diferentes conceitos para as Operações de Informação nas Ciências Militares estudadas nas Forças Armadas do Brasil.

    Com vistas a elucidar tais divergências encontradas, a sequência do estudo buscou agregar fundamentos da Ciência da Linguagem e da Ciência da Informação, a fim de elencar elementos adicionais que poderiam explicar os fenômenos relacionados com a percepção. A indefinição de significantes e a névoa de conceitos no ambiente da informação de uma operação militar, existente entre emissor e receptor de uma mensagem, resultaria no estabelecimento de parâmetros ineficientes aos seus significados. As considerações da análise da Ciência da Linguagem e da Ciência da Informação, portanto, seriam fundamentais para entender a relação de névoa e de confusão de conceitos.

    Essa aparente fragilidade de percepção e de estabelecimento do conceito de Operações de Informação foi evidenciada passados poucos anos após o estabelecimento da doutrina no Brasil, quando a falta de entendimento comum resultou em novos conceitos com pouco alinhamento de parâmetros.

    Em 2019, o Exército Brasileiro atualizou o seu manual de campanha e adotou outro conceito para Operações de Informação:

    São o emprego integrado de CRI e outros recursos relacionados à informação, no âmbito da dimensão informacional, para influenciar, interromper, corromper ou para usurpar o processo de tomada de decisões de adversários e potenciais adversários, enquanto protege o nosso próprio (BRASIL, 2019, p. 3.1).

    Logo em seguida, em 2020, o Ministério da Defesa alterou também, novamente, o seu conceito de Operações de Informação:

    Consistem na coordenação do emprego integrado das Capacidades Relacionadas à Informação (CRI), em contribuição a outras operações ou mesmo compondo o esforço principal, para informar e influenciar pessoas ou grupos hostis, neutros ou favoráveis, capazes de impactar positiva ou negativamente o alcance dos objetivos políticos e militares, bem como para comprometer o processo decisório dos oponentes ou potenciais oponentes, enquanto garantindo a integridade do nosso processo. Dentre as CRI, destacam-se como principais: Operações Psicológicas, Ações de Guerra Eletrônica, Defesa Cibernética, Comunicação Social e Assuntos Civis (BRASIL, 2020b, p. 193).

    Além dos documentos apresentados, cabe esclarecer que as observações filosóficas a respeito do tema resultaram de uma visão prática e participante do problema. Isso porque as divergências que motivaram esta pesquisa foram evidenciadas em conflitos doutrinários de exercícios de planejamento de operações, observados pelo autor quando participou como integrante do trabalho em Estado-Maior Conjunto, no Centro de Operações do Comando Militar do Sul, nos anos de 2012 e 2013. Os exercícios envolviam militares das três Forças Armadas e ocorriam sob a condução do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Ministério da Defesa do Brasil.

    Nos exercícios das operações convencionais, tal como a Operação Atlântico III, que ocorria em teatro de operações do Rio de Janeiro, e a Operação Laçador, que ocorria no teatro de operações do Rio Grande do Sul, o Estado-Maior conjunto era composto por militares da Marinha, Exército e Força Aérea. Com base nos trabalhos diários de Estado-Maior, verificou-se que havia uma lacuna doutrinária sobre Op Info, o que provocava a dificuldade de integração entre as células de planejamento dos integrantes do Comando Conjunto. Especificamente, existia dificuldade em adequar alguns processos entre as seções componentes do Estado-Maior, ou seja, entre os processos da Seção de Operações (D-3), da Seção de Comunicação Social (D-7) e da Seção de Operações de Informação (D-8). Ocorria a falta de percepção conjunta dos significados, uma vez que os significantes eram distintos nos trabalhos diários dos militares. Essa falta de percepção conjunta sobre Op Info resultava do fenômeno de confusão de significantes e significados, o que estabelecia uma névoa de conceitos e gerava, por sua vez, a dificuldade de integrar as capacidades relacionadas à informação entre três componentes das Forças Armadas.

    O mesmo problema de integração de conceitos no ambiente da informação foi verificado de forma prática por este autor durante a participação no emprego das Forças Armadas na Faixa de Fronteira do Brasil, no período entre 2012 e 2013, por ocasião de operações de Garantia da Lei e da Ordem, na Operações Ágata e na Operação Fronteira Sul. Nessas operações ocorreram problemas quanto à diferença de processos particulares a cada Força e quanto à sistematização de ações humanas e de efeitos informacionais. Além disso, existia uma grande rotatividade de militares entre as fases de planejamento e as fases de execução durante essas operações conjuntas. Somando-se a isso, havia a preponderância pelo planejamento de ações físicas, por desconsiderarem a importância ou simplesmente pelo desconhecimento da doutrina de Op Info, o que dificultava abranger as ameaças intangíveis do ambiente da informação. Isto ocorria porque cada Força preservava seus diferentes procedimentos para a obtenção, o planejamento e a utilização da informação, de forma a estabelecer ações com diferentes parâmetros de percepção diante dos mesmos fatos.

    Pressupôs-se, assim, a possibilidade de que os elementos geradores dos problemas de Op Info se deviam à tendência de que a perspectiva do planejamento de guerra nas Forças Armadas tradicionalmente reunia aspectos preponderantemente físicos e tangíveis, com processos internos a cada Força, resistentes às influências externas e internas da dimensão humana e dimensão informacional do ambiente da informação. Nesses processos de planejamento, altamente especializados e com características eminentemente técnicas, frequentemente não se considerava adequadamente a compreensão dos efeitos da dimensão humana e os aspectos da dimensão informacional, o que influenciava os efeitos esperados e os resultados físicos de cada operação militar.

    O estudo aqui apresentado fundamentou-se na evolução de conceitos dos documentos oficiais da Política Nacional de Defesa (PND) e Estratégia Nacional de Defesa (END), e tem o vínculo principal no conceito de Defesa Integrada à sociedade. No Brasil, os documentos da PND e da END, em sua versão 2020, ainda são os principais documentos para garantir a obtenção e manutenção integrada dos objetivos nacionais permanentes estabelecidos pela Política Nacional¹. Ambos os documentos consideram a importância de o Brasil estar integrado ao cenário globalizado mundial, bem como orientam para a necessidade de adequação dos sistemas de defesa do Brasil, junto ao processo de transformação tecnológica dos armamentos e às possibilidades de ameaças cada vez mais híbridas.

    A PND e a END priorizam as iniciativas de modernização tecnológica das Forças Armadas, tal como os macroprojetos estratégicos² dos setores nuclear, cibernético e espacial. Os documentos ressaltam que os eixos de desenvolvimento tecnológico serão decisivos para a estruturação de projetos de longa duração para a Defesa Nacional. Entretanto, nos níveis estratégicos e operacionais de planejamento da defesa, observou-se que permaneceram lacunas quanto à necessidade de estabelecer nos referidos documentos um projeto conjunto para as Operações de Informação no Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Neste sentido, verificou-se que as capacidades relacionadas à informação, das Operações de Informação do Estado-Maior Conjunto, sob comando do Ministério da Defesa, ainda encontram dificuldades estruturais e doutrinárias para estarem efetivamente integradas.

    Cabe destacar que, em que pese esse grande esforço no ambiente da informação em desenvolver a área cibernética (em curto, médio e longo prazo), existe ainda a necessidade de estruturar e ampliar o domínio tecnológico na área da informação nas três Forças. Isso porque, tanto a dimensão informacional, como a dimensão humana e a dimensão física, requerem a consideração dos tomadores de decisão da importância dos efeitos gerados pelas ações estratégicas e operacionais, bem como da necessidade de ampliação da integração das Operações de Informação.

    Considerou-se, ainda, pertinente a este problema o fato de que a tomada da decisão, nos níveis mais altos de planejamento do Comando Conjunto (Estratégico e Operacional), depende da visão holística do cenário de defesa nacional, que abrange diferentes domínios do poder nacional, mais além do poder militar. Isso porque, como explica Araújo (2013)³, diante dos conflitos armados de Amplo Espectro, a atividade de Operações de Informação engloba o esforço conjunto das diferentes capacidades de informação e depende da demanda da inter-relação com as dessemelhantes agências militares e civis.

    Do exposto, os aspectos teóricos e práticos dos antecedentes do problema no ambiente da informação pressuporiam a possibilidade de carência da percepção única na doutrina militar vigente, com ausência de enlaces convergentes nos níveis de planejamento militar Estratégico e Operacional. A hipótese de solução esteve direcionada ao fato de que a diferença de percepção única seria o principal fator que dificultaria a integração dos vetores de informações nos componentes das Forças Armadas, cabendo a este estudo constatá-las e elaborar parâmetros para a integração das Operações de Informação. Nesse sentido, quando a integração de percepções fosse realizada a partir dos níveis mais altos de planejamento, seria possível que essa integração de Operações de Informação fosse replicada verticalmente, para as operações dos escalões mais baixos, e horizontalmente, para os demais órgãos civis do Poder Nacional.

    Pelo apresentado, o presente trabalho buscou esclarecer a formulação indagatória: como integrar as capacidades relacionadas à informação nas Operações de Informação de Estado-Maior Conjunto?

    Para responder a esta pergunta, a pesquisa teve como objetivo principal analisar o nível de conhecimento das capacidades relacionadas à informação, as CRI, nas Forças Armadas do Brasil. O objetivo foi obter elementos para elucidar o estabelecimento de um conceito com vistas à integração das Operações de Informação de Estado-Maior Conjunto, segundo um enfoque holístico das dimensões do ambiente da informação, ou seja, as dimensões integradas: humana, física e informacional.

    Ao analisar o conhecimento na dimensão humana, o trabalho buscou concluir sobre a identificação de elementos estruturantes das ciências que já fornecem subsídios ao estudar o fenômeno da informação, em particular para atender o objetivo de identificar:

    – junto à Ciência da Linguagem, buscou-se desenvolver a base filosófica para a definição de conceitos relacionados com as Operações de Informação, analisando a relatividade do ponto de vista de cada emissor ou receptor de uma mensagem, bem como a complexidade na construção da linguagem da informação;

    – junto à Ciência da Informação, buscou-se abranger o estudo dos agentes tecnológicos e dos problemas de parâmetros terminológicos, bem como realizar a construção epistemológica relacionada às necessidades do combate no campo humano, como a importância assimétrica do indivíduo no âmbito da competição informacional; e

    – junto às Ciências Militares, buscou-se elementos epistemológicos que caracterizem a importância do enfoque informacional nos combates de amplo espectro, bem como a evolução de natureza doutrinária das Forças Armadas que afetam estudo do problema nos dias de hoje.

    Quando a análise deste trabalho considerou o conhecimento na dimensão informacional, procurou-se concluir sobre:

    – a relação de vínculo entre as características holísticas das Operações de Amplo Espectro⁴ e a natureza transversal entre as dimensões das Operações de Informação;

    – a possibilidade de estabelecimento de estruturas sistêmicas integradoras dos componentes das Forças Armadas, sob enfoque transnacional dos efeitos da forma de emprego de Operações de Informação, com a ampliação de limites no nível internacional;

    – as especificidades técnicas e especializadas dos diferentes órgãos estruturantes do poder militar, em relação à concepção militar das Operações de Informação das Forças Armadas do Brasil, restringindo o estudo de Op Info no âmbito Estado-Maior Conjunto, dos níveis Estratégico e Operacional.

    Em um terceiro momento, o trabalho analisou a relação dos conhecimentos intangíveis, tal como as possibilidades dos efeitos, e a sua contribuição e influência na percepção da dimensão física, buscando elencar as capacidades relacionadas à informação a serem integradas, bem como atender às concepções operacionais dos componentes das Forças Armadas. Para permitir o obtivo de adequar o estudo às necessidades do Brasil, considerou-se pertinente abranger e ater-se ao estudo das capacidades militares específicas relacionadas com a informação que já estão estruturadas no país, ou seja, de Inteligência, de Defesa e Guerra Cibernética, de Guerra Eletrônica, de Operações Psicológicas e de Comunicação Social.

    A hipótese da pesquisa foi que quanto maior o conhecimento das capacidades relacionadas à informação (CRI), considerando os elementos estruturais da capacidade militar nas Forças Armadas do Brasil no ambiente da informação, nas dimensões humana, física e informacional, maior seria a possibilidade de integrar as Operações de Informação de Estado-Maior Conjunto. Esta hipótese partiu da premissa de que as capacidades relacionadas à informação não estão integradas no trabalho de Estado-Maior Conjunto dos níveis Estratégico e Operacional da Forças Armadas.

    Para analisar a hipótese, o trabalho foi dividido sob influência de variáveis independentes e dependentes. Como variável independente, foi estabelecido o conhecimento das capacidades relacionadas à informação das Forças singulares (Marinha, Exército e Força Aérea), na dimensão humana, física e informacional. Como primeira variante da variável independente, foi estabelecido o conhecimento no campo humano, a fim de identificar a percepção ontológica quanto às Op Info nos níveis de planejamento do trabalho de Estado-Maior Conjunto e a influência de doutrinas estrangeiras sobre a doutrina das Forças singulares brasileiras. Como variante número dois da variável independente, foi estabelecido o conhecimento no campo informacional, a fim de caracterizar gestão e fluxo organizacional das Op Info das três Forças singulares e as iniciativas diante da evolução informacional e tecnológica do setor de Defesa. Como terceira variante da variável independente, foi estabelecido o conhecimento no campo físico, a fim de estudar a organização das estruturas de cada uma das CRI: a Comunicação Social (Com Soc), as Operações Psicológicas (Op Psc), Guerra Eletrônica (GE), Guerra Cibernética (G Ciber) e Inteligência (Intlg). Finalmente, como variável dependente da hipótese, foi estabelecida a integração nas dimensões humana, informacional e física nas Operações de Informação de Estado-Maior Conjunto.

    A comprovação da hipótese foi submetida por uma pesquisa de campo com características qualitativas que foi delimitada segundo o escopo das capacidades relacionadas às Op Info, no seu emprego de planejamento estratégico e operacional de Estado-Maior Conjunto. As entrevistas e questionários serviram para medir o nível de importância do tema, bem como o nível de conhecimento, considerando como base as capacidades específicas da Guerra Eletrônica, da Defesa e Guerra Cibernética, das Operações Psicológicas, da Inteligência e da Comunicação Social do Brasil.

    O estudo teve como ponto de partida os conceitos teóricos da Ciência da Linguagem e Ciência da Informação e o novo cenário de amplo espectro das Op Info. Em seguida, foram analisados os paradigmas e estruturas epistemológicas e ontológicas na concepção operacional do ambiente da informação das Forças Armadas, particularmente na abordagem das Op Info. Finalmente, buscou-se identificar a possibilidade de integração das capacidades de informação nas Op Info no nível Estratégico e Operacional do Ministério da Defesa, elencando fatores pertinentes à análise de Estado-Maior Conjunto do Brasil.

    Para tanto, o capítulo dois apresenta a perspectiva informacional deste trabalho acadêmico utilizada para delinear a condução das pesquisas de forma qualitativa e quantitativa. A caracterização da perspectiva epistemológica servirá de referência para pesquisa qualitativa, iniciada na pesquisa teórica, que foi relacionada ao estudo das Operações de Informação nas Forças Armadas. Esta fase permitiu verificar a integração de forma holística das capacidades relacionadas às Op Info (GE, Op Ciber, Op Psc, Op Intlg e Com Soc), bem como as particularidades estruturais de cada Força. A fase qualitativa privilegiou a análise doutrinária no exterior e no Brasil, de forma bibliográfica e documental, principalmente esta última, em virtude do ineditismo da produção acadêmica sobre o tema no país. Em complemento, a apresentação do fundamento epistemológico é importante para analisar o Estudo de Caso apresentado no capítulo quatro, para comparar a teoria com fatos colhidos no emprego real de Operações de Informação conjuntas. O objetivo do método foi verificar a evolução epistemológica e ontológica do conceito das capacidades relacionadas à informação (CRI) nas Operações de Informação, de forma qualitativa, em preparação para uma fase quantitativa, o que permitiria a análise por triangulação de métodos. O detalhamento da perspectiva doutrinária, por sua vez, serve de base para a interpretação do trabalho de campo qualitativo e quantitativo. O formato qualitativo articulou entrevistas em profundidade, com oficiais generais e oficiais de Estado-Maior, estabelecendo resultados comparando a experiência dos tomadores de decisão. Já o formato quantitativo, com e questionários estruturados, que foram aplicados aos oficiais de Estado-Maior e aos especialistas das CRI das três Forças, produziram resultados comparáveis que permitiam mensurar o conhecimento doutrinário. Portanto, pode-se caracterizar que sob a perspectiva adotada neste estudo, os métodos aplicados foram comprovados em dupla análise, sob rígidos controles do formato acadêmico de pesquisa segundo à metodologia qualiquantitativa.

    No capítulo três são apresentados os resultados da pesquisa bibliográfica e documental sob os temas: Ciência da Linguagem, Ciência da Informação e Ciências Militares, com particular destaque à origem das Operações de Informação em Sun Tzu. A análise buscou entender por que os conceitos são tratados de forma distinta entre as Forças Armadas, focando a visão intrínseca da dimensão humana, em que o problema de definir significados pode advir de circunstâncias internas ou externas aos indivíduos, ou seja, como que cada Força, ou até mesmo cada membro das Forças Armadas, pode perceber o tema. Portanto, antes de iniciar a abordagem militar do estudo foi necessário investigar as relações conceituais e ontológicas ligadas à Ciência da Linguagem e à Ciência da Informação. Em seguida, aprofundou-se o assunto nas Forças Armadas, abordando sua epistemologia e concepção das estruturas voltadas aos níveis estratégico e operacional. Verificou-se

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