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Vai Quem Quer
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E-book333 páginas4 horas

Vai Quem Quer

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Sobre este e-book

A bailarina entrou desesperada no escritório do advogado. Sua honra estava em jogo. Alguém queria destruir a sua carreira. Ignorava o motivo. Precisava que o caso fosse investigado ...
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2023
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    Vai Quem Quer - Romeu De Almeida Salles Junior

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    VAI QUEM QUER ...

    ALLES JUNIOR

    ROMEU DE ALMEIDA S

    Image 11

    ROMEU DE ALMEIDA SALLES JUNIOR

    VAI QUEM QUER ...

    Bauru, São Paulo – Brasil

    2023

    1

    Quinta-feira.

    Quando entrei em meu escritório naquela quinta-feira pela manhã, percebi que havia algo diferente no ar. Percorri com os olhos a pequena sala de entrada e nada me pareceu anormal. O ambiente estava limpo e arrumado como sempre. Porém, não era isso que me chamava a atenção. Nem mesmo o semblante, naquele momento sarcástico de minha secretária Alice, uma jovem universitária de dezenove anos estudante de Direito, conseguiu trazer-me à mente uma ideia do que estava acontecendo, ou do que estaria para acontecer. Se bem que em cada dia houvesse sempre uma surpresa, fruto da vida profissional movimentada e constante, sinceramente não imaginava que pudesse iniciar mais uma jornada diária com alguma surpresa. Parado, junto à porta de entrada, olhei com atenção para a minha auxiliar. Ela simplesmente devolveu-me o olhar, sorrindo de modo que pareceu malicioso. Para uma jovem como ela, achei aquela atitude fora do comum, máxime se atentarmos para o fato de se tratar de uma garota despida de qualquer conhecimento mais profundo dos dramas de existência.

    Olhei para a direita e deparei com a porta de minha sala principal fechada. O detalhe não teria maior importância em dias comuns, porém, naquele momento, pareceu-me a confirmação de que alguma coisa anormal acontecia. Apontei para a porta com ar interrogativo, sem dizer palavra. Alice não mencionou uma sílaba sequer, limitando-se a fazer um meneio com a cabeça como se quisesse dizer que deveria entrar ou que alguém se encontrava no interior do outro aposento à minha espera.

    Procurei recapitular meus compromissos e conclui que não havia qualquer visita agendada. Decidido, caminhei os poucos passos que me separavam da porta. Abri-a de modo quase violento.

    Parei! O aposento continuava do mesmo jeito que o deixara no dia anterior. As persianas verdes claras baixadas davam à sala um toque também verde claro, combinando bem com as paredes brancas e os 4

    móveis. Dava a sensação de que mergulhara no mar de águas rasas com reflexos solares. Em seguida, tive a sensação de haver submergido. Talvez pelo quase mistério que reinava desde a minha chegada, ou talvez por encontrar-me excitado ante a expectativa de qualquer acontecimento fora do normal. O fato é que tudo me parecia estranho; deliciosamente estranho. Cheguei a imaginar que com a semelhança da sala com o mundo encantado das águas, pudesse encontrar ali uma sereia, repousando à minha espera para uma jornada de carinhos e aventuras inesquecíveis.

    Nesse momento, senti o perfume! Num movimento rápido de cabeça vi a bela morena de cabelos negros e compridos, de corpo escultural, pernas perfeitas, olhos e lábios tentadores, deitada nua em posição provocante no sofá negro do meu escritório.

    Não será preciso dizer que um frisson percorreu minha espinha de alto abaixo, mexendo com todo o meu corpo. Se é verdade que estava acostumado com visões daquela natureza, não é menos verdade que um corpo de mulher, por mais admirado que seja nunca esgota a nossa curiosidade. Assim sendo, fitei-a, permanecendo imóvel. Parecia haver uma espécie de entendimento tácito entre nós, de modo que ninguém pronunciou qualquer palavra. Foi então que a observei com calma.

    Realmente era uma linda mulher, das mais belas que vira na vida. Sua plástica era perfeita e a maneira como se mantinha deitada revelava ter o domínio da situação. Era evidente que agia com segurança, visando alcançar objetivo definido. A cena que preparara certamente tinha essa finalidade, buscando impressionar, provocar e ao mesmo tempo impor suas intenções sem dizer qualquer palavra.

    Dei alguns passos em direção à Vênus após fechar a porta à chave.

    Ao mesmo tempo, fiquei pensando se ela teria chegado naqueles trajes.

    Certamente tal não acontecera porque minha secretária a recebera vestida e depois a vira desnuda.

    Deixei tais pensamentos de lado e novamente mergulhei naquela visão rara. Aproximei-me vagarosamente do sofá na metade onde a parte superior do seu corpo se achava, e sentei-me, fazendo afundar, de modo quase imperceptível o assento do móvel naquele lugar. Por falta de espaço 5

    nossos corpos se tocaram, de modo que senti o calor que emanava daquela mulher. Ela apenas voltou o olhar para o meu rosto, acompanhando meus movimentos sem reagir. Não esboçou qualquer movimento quando passei as mãos por trás de sua cabeça e a puxei-a para mim. Era como se ela houvesse sentado e nossas respirações se fundissem numa só. Foi quando pude apreciar melhor as linhas delicadas de seu rosto, os olhos negros ornados por sobrancelhas bem delineadas e cílios longos, o nariz de linhas delicadas e a boca de lábios sensuais. O queixo arredondado tinha uma covinha que lhe dava um toque ainda mais agradável. Os cabelos eram longos, negros e macios. Eu a segurava com firmeza e creio mesmo que cheguei a exagerar nessa atitude, pois seu rosto se contraiu ligeiramente.

    Beijei-a nos lábios e ela correspondeu calorosamente. Terminado aquele primeiro e delicioso contato, dispus-me a fitá-la mais uma vez, porém, ela impediu que o fizesse com um gesto brusco, puxando-me para si e iniciando mais um longo beijo. Senti seus braços rodearem o meu pescoço, prendendo-me com decisão. O calor que seu corpo irradiava contagiava-me de modo intenso.

    Nesse momento aconteceu o inesperado. Ela afastou-me com um empurrão, tentando livrar-se do meu abraço, ao mesmo tempo em que procurava levantar-se do sofá. Meu corpo impedia parcialmente seus movimentos. Diante daquela atitude repentina, levantei, dando-lhe total liberdade. Ela deixou o sofá rapidamente e atravessou a sala correndo, passando ao lado da minha mesa, contornando-a e desaparecendo através da porta que dava para os sanitários. Pude, ainda que rapidamente, reparar no seu belo corpo nu, correndo pelo aposento, seus seios desenvolvidos e a cintura fina, contrastando com os abundantes e redondos quadris, encimando um par de coxas grossas e bem torneadas. Ela entrou no sanitário e fechou a porta com rapidez.

    6

    2

    Eu sou advogado e tenho escritório num prédio no centro da cidade de São Paulo, Rua Barão de Itapetininga, 9º andar. Meu ambiente de trabalho é constituído por duas salas, uma pequena de entrada, e outra de maiores dimensões, além dos sanitários e locais para livros, processos e documentos. Na sala maior, permaneço durante as horas de serviço. A decoração resume-se à colocação de dois pôsteres retratando cenários tranquilos do campo. Na parede do fundo há uma porta que leva ao sanitário e banheiro. A vista é das melhores, possibilitando divisar parte da cidade de uma altura suficiente para abranger boa distância. Optei por montar meu escritório no 9º andar justamente para usufruir de uma visão mais agradável do centro de São Paulo, principalmente de toda a área verde da Praça da República. Tenho uma vida profissional movimentada, pois embora advogue para apenas dois clientes, duas empresas de grande porte no sistema home office, presto assistência em termos investigativos a dois escritórios através de exames e análises de documentos ligados ao setor imobiliário. Um deles está localizado na Rua Sete de Abril de propriedade de A. Carvalho. O outro fica do lado oposto ao Viaduto de Chá, na Rua São Bento, e pertence a Miguel Gutierrez. Apesar de todas essas vinculações, executo todo o meu trabalho sem grande movimentação. Como estagiei em várias delegacias especializadas durante todo o meu curso de Direito, dedico o tempo que sobra para trabalhar nas ruas, resolvendo através de investigações, os problemas de algumas pessoas amigas ou que me procuram por indicações daqueles que tive oportunidade de atender. Não sou detetive legalmente estabelecido, apenas um curioso que se vale dos conhecimentos práticos adquiridos durante muitos anos e da amizade dos velhos amigos da área policial.

    Gosto de andar pelas ruas de São Paulo. Resido num apartamento cujo edifício está localizado na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua da Consolação. Chegando à janela da sala, posso conferir as horas pelo relógio da Igreja da Consolação. Três vezes por semana, queimo algumas calorias caminhando pela Praça Roosevelt, alternando com 7

    frequência às academias de musculação e de karatê-do shotokan. Estou beirando os quarenta anos de idade. Tenho um metro e setenta e oito de altura e peso setenta e cinco quilos. Meus cabelos são pretos e os olhos castanhos. Nunca fumei e em termos de bebidas aprecio uísque e vinho tinto seco, ingeridos com moderação e socialmente.

    Fui casado por poucos anos com Helena. Nossa separação teve por causa questões de horários e compromissos assumidos. Uma incompatibilidade comum nos dias atuais. Ela concluiu o curso de Medicina e especializou-se em Pediatria. Pouco tempo após o divórcio casou-se novamente.

    Numa das laterais da praça está o bar-restaurante Stardust, do meu amigo Charles S (de Stone). Ali almoço e janto com frequência e por vezes toco piano no período da noite, para não perder a pouca técnica que possuo. Stone permite essa liberdade. Quando fico por mais tempo, abro o meu pequeno show musical tocando Stardust (Poeira de Estrelas), melodia composta por Hoagy Carmichel. Faço isso para homenagear o amigo Stone. Do meu apartamento ao escritório caminho apenas trezentos metros. Vivo bem como divorciado, mas isso é outra história.

    Naquele momento no interior do meu escritório, minhas funções estavam inseridas na área de lazer, ou seja, nas minhas atividades exercidas na área investigativa. Meu escritório dava espaço para essa fachada.

    Caminhei até uma poltrona individual que ficava ao lado do telefone e aguardei que a morena escultural regressasse de sua retirada para o banheiro. Evidentemente, fora para lá vestir sua roupa, já que não encontrara vestígio algum de qualquer peça do vestuário feminino naquela sala. Meus pensamentos estavam certos. Ela surgiu trajando vestido vermelho justo, que lhe cobria as formas perfeitas, mas que dava ao espectador uma noção claríssima do que se escondia por baixo do tecido.

    Fiquei sentado, observando o seu caminhar lento e bamboleante. Ao passar pelo meio da sala reparei como era elegante, como desfilava sua plástica dentro do traje vermelho, calçada com belos sapatos pretos de verniz e de saltos altos. As pernas tinham a cor morena mais acentuada, devido as 8

    meias nylon que usava no momento. Aproximou-se da poltrona. Sentou cruzou as pernas de modo a exibir um pedaço de suas belas coxas.

    - Doutor André Amaral? – perguntou com voz suave, olhando-me de frente, bem nos olhos.

    - Faz tempo! – respondi com um sorriso e observei que era a primeira vez que falávamos, embora muita coisa houvesse acontecido até aquele momento.

    A sua reação à minha resposta foi das melhores, pois também sorriu mostrando dentes alvos e perfeitos. Mexeu-se inquieta no sofá e fez menção de falar, mas arrependeu-se. Esfregou as mãos e por fim começou a narrar o motivo poque viera ao meu escritório.

    - Eu preciso muito falar com o senhor! Trata-se de algo urgente e creio que no momento somente o senhor poderá resolver meu problema de modo eficaz.

    Suas palavras saíam claras e límpidas da boca bonita. A dicção era das melhores e aquilo aumentava o encanto que possuía da cabeça aos pés.

    - Estive pensando ... – comecei - Quando a vi deitada no sofá, tive a impressão de que desejava mesmo alguma coisa. Mas, diante da cena, não pensei que quisesse conversar. Parecia que, naquelas circunstâncias, as palavras não cairiam bem!

    - Oh! – O movimento brusco e a exclamação traduziam uma boa dose de surpresa e após alguma indecisão disse – Bem ... Eu sei que aquela cena não foi das mais comuns. Não é fácil encontrar alguém daquele jeito

    ... assim, sem mais, nem mesmo. Porém, julguei necessário tudo aquilo!

    Depois que iniciar o meu relato ficará sabendo o motivo de semelhante comportamento.

    - Está bem! – concordei – Fale o que quiser e explique claramente o seu problema.

    Ajeitou-se na poltrona, recostando delicadamente o corpo e arrumando, sem muita preocupação de arrumar, o vestido que subira mais um pouco. Fitou-me e seus olhos pareciam traduzir certa hesitação que lhe 9

    tomava o espírito. Eu aguardava que aquela beleza abrisse a boca para contar o seu drama e os segundos de espera pareceram surpreendentemente irritantes.

    - Chamo-me Cristina de Alencar e sou dançarina! – fez uma pequena pausa, deixando que a afirmativa se acomodasse no meu cérebro

    – Dançarina de striptease! – acrescentou – Não sei se o senhor já esteve na Boate Maxim’s, situada em bairro da zona sul de São Paulo.

    - Ainda não! Minha religião não permite que frequente esses lugares! – respondi em tom de brincadeira.

    - O senhor deve estar brincando! – contestou com um sorriso de decepção – Afinal, a Boate Maxim’s é um lugar respeitável. O fato de apresentar números de striptease não autoriza ninguém a pensar mal do estabelecimento. Aliás, o número que apresento é artístico. Não se trata de exibição pura e simples do corpo desnudo. Estudei balé e conheço técnica da dança. – sua voz experimentava uma crescente exaltação – Procuro colocar em meu número os conhecimentos artísticos que possuo! – e arrematou ofensivamente – E se aquele lugar não fosse respeitável, eu não teria ido trabalhar como dançarina!

    Já fizera a primeira análise de sua pessoa após suas primeiras palavras. Conhecia, relativamente bem, o tipo de mulher que era Cristina de Alencar.

    - Sinto se a ofendi, senhorita Cristina! – desculpe-me – Sempre tive o péssimo costume de encarar as coisas com ironia, de modo que às vezes causo má impressão aos que me ouvem. Por favor, perdoe-me!

    - Vamos esquecer esse pequeno mal entendido e prosseguir em nossa conversa. – fiz uma pausa, tentando inventar algo que fizesse desaparecer a má impressão que minhas palavras haviam causado – Ah! –

    exclamei – A senhorita aceita uma bebida?

    - Bem ... Aceito! Martini se tiver! – concordou mais calma.

    Levantei e caminhei para a parte que dava para o corredor. Ali havia um armário, conjugado com uma pequena geladeira, que continha 10

    algumas bebidas que usava em certas ocasiões. Servi-lhe aquela que fora solicitada. E preparei uma dose para mim. Ela acompanhou minha trajetória pela sala e percebi que em seu rosto pairava ainda certa indignação. Nada existe que mais ofenda uma pessoa que ironizar tendo por tema a sua especialidade.

    - A senhorita disse que havia estudado balé e fiquei imaginando que a situação atual desse tipo de arte é muito ingrata. Imagino que tenha sentido isso.

    - O senhor acertou! Realmente, depois de dedicar-me durante anos ao balé, tive que procurar uma atividade derivada para poder viver.

    - Eu já imaginava isso! Infelizmente, ainda não estamos num estágio de cultura razoável para compreendermos as artes. Melhoramos muito, mas ainda falta certo aprimoramento em termos de educação. A senhorita nada mais é do que uma das muitas vítimas dessa falta de reconhecimento.

    Seus olhos começaram a brilhar e as expressões duras de seu belo rosto desapareceram. Senti a impressão anterior desvanecer com uma rapidez quase surpreendente. Usara sua especialidade para ofendê-la e agora servia dela para me redimir. Sua voz chegou suave aos meus ouvidos, quando voltou a falar.

    - Sinto-me mais confortável agora, após ouvir suas palavras!

    Felizmente ainda existem pessoas no mundo que têm os olhos voltados para as coisas belas da existência. Isso me conforta muitíssimo!

    - Talvez por sentir-me tão ligado à Arte tenha chegado a ver com maus olhos a referência ao trabalho numa boate. – acrescentei como última justificativa.

    - Compreendo! – sorriu – Mas, o meu número no Maxim’s tem todas as características exigidas pela Arte. O senhor será meu convidado especial para uma das minhas apresentações. Quero ouvir sua opinião, já que o senhor tanto se interessa pelas coisas do espírito.

    11

    - Terei muito prazer! Tenha a certeza de que estarei admirando todos os detalhes de seu trabalho, apreciando a qualidade artística do seu número.

    Tomamos a bebida em silêncio. Ela sorveu o líquido delicadamente, saboreando-o à cada pequeno gole. De soslaio, reparei na elegância dos seus gestos e a suavidade de todo o conjunto. Lembrei-me de que o seu andar era diferente do comum. O balé, praticado durante tanto tempo dera-lhe aquela graça toda especial e deveria, com certeza, ter colaborado para o desenvolvimento harmonioso do seu corpo, principalmente de suas belas pernas.

    Cristina terminou o martini e depositou o copo sobre a pequena mesa colocado à sua frente. Permaneceu ainda por alguns segundos de cabeça baixa, imaginando talvez como iniciar a exposição do seu problema.

    Eu a fitava de frente. Repentinamente, Cristina levantou os olhos e encarou-me. Levei meu copo à boca, sorvendo o final do meu Martini, enquanto a ouvia com atenção. Sua voz continuava clara e com timbre suave. Soava como música aos meus ouvidos.

    - Sinceramente, doutor André, não esperava encontrar no senhor um advogado tão compreensivo e admirador das coisas belas da vida! –

    interrompeu para acompanhar meus movimentos no ato de colocar o copo sobre a mesinha e depois prosseguiu – Agora, devo abordar o que interessa!

    – nova pausa – Preciso urgentemente da assistência de um advogado. Por indicação de pessoas amigas, resolvi procurá-lo.

    Fiz um gesto afirmativo de cabeça, procurando traduzir meu agradecimento por aquela maravilhosa preferência. Pelo menos alguém se lembrava de mim como profissional, e também para colocar-me diante de uma mulher de rara beleza como Cristina. Achei de bom alvitre não perguntar quem havia feito a indicação. Deixaria isso para mais tarde, dependendo de como as coisas rolariam dali em diante.

    - Estou às suas ordens, senhorita Cristina! – declarei com certa ênfase – Confie-me o seu problema e tudo farei para solucioná-lo da melhor maneira possível.

    12

    - Era justamente isso que eu esperava ouvir! – ajeitou-se novamente na poltrona antes de prosseguir. Depois iniciou o relato – Como já disse ao senhor sou dançarina de striptease na Boate Maxim’s. Exibo-me todas as noites naquele local, apresentando um número por dia. Somente às segundas-feiras não trabalho. Pois bem! Tenho contrato de trabalho com exclusividade assinado com o proprietário da boate. Meu contrato vence dentro de um ano. Acontece, porém, que de umas semanas para cá, venho sendo vítima das mentiras e das ofensas de um cronista social. Um desses idiotas que se ancoram em qualquer jornal ordinário e se metem a escrever sobre a vida e o trabalho alheios. O senhor deve ter uma ideia do mecanismo complicado dos shows. Se os artistas não conseguem atrair o público aos locais onde prestam serviços, não interessa ao estabelecimento mantê-los sob contratos. É preciso que o artista desperte interesse e corresponda aos gastos da empresa. Eu nunca tive problemas com a direção da Boate Maxim’s. Sempre contei com a estima e consideração dos que ali trabalham. Meus números são tidos como a atração principal da casa.

    Procuro sempre inovar, exibindo coisas diferentes, para que o público não se canse do espetáculo. Como conheço a técnica do balé, não tenho dificuldades em obter êxito nessa parte. Mas, voltando ao cronista, esse indivíduo iniciou uma série de ataques à minha pessoa, e como resultado de tal campanha, minha situação contratual com a direção da boate está periclitando. O sujeito publicou coisas absurdas, de início insinuando e depois, atacando abertamente. Chegou ao cúmulo de dizer que a boate contratara uma striper que, além de não ter noção da arte de se despir em público é, anatomicamente, imperfeita!!!

    Levantei-me como que impulsionado por uma mola oculta sob o assento da poltrona. Ela percebeu minha reação e parou de falar, arregalando os olhos, fitando-me admirada. Percebi que me entregara exageradamente à sua beleza e fora influenciado de plano por sua narrativa, tendo ainda deixado transparecer minha opinião em dose excessiva.

    - O senhor acha que ... que ele tem razão? Digo no que se refere à minha conformação física?

    13

    Parei no meio da sala e coloquei a mão no queixo, pensativo. Era verdade que para responder não precisaria pensar, porém, mentalmente estava considerando outras coisas, uma pouco além da simples resposta que iria dar

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