Toda luz é lava
De Carla Santos
()
Sobre este e-book
Relacionado a Toda luz é lava
Ebooks relacionados
As palavras que escrevi nas noites que não morri Nota: 0 de 5 estrelas0 notasResenhando Sorrisos: Entre pétalas e covas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEspiral: Contos e vertigens Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tempos Verbais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJanelas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSobre Pedras e Flores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSorte Irlandesa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPeripécias Nas Entrelinhas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntes Que Tudo Se Apague Nota: 0 de 5 estrelas0 notas13 segundos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Encontro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMastigando borboletas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm pouco além do resto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHockmah Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos Da Vovózinha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHormônios, me ouçam!: relatos bem-humorados e sem tabus de como a escritora sobreviveu à menopausa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO conto da libélula Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConversas que não tive com a minha mãe Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm estranho em mim Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cuide dos pais antes que seja tarde Nota: 5 de 5 estrelas5/5Etelvina Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA namorada do Dom Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMeu mundo pelo mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Última Sullivam Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVinda do interior Nota: 0 de 5 estrelas0 notasChá de Jasmim: Contos de um Sodalício Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRosa Negra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPanela Depressão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDevaneio de um escritor de meia-idade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Próximo Livro Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Contos para você
Só você pode curar seu coração quebrado Nota: 4 de 5 estrelas4/5Procurando por sexo? romance erótico: Histórias de sexo sem censura português erotismo Nota: 3 de 5 estrelas3/5A bela perdida e a fera devassa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos pervertidos: Box 5 em 1 Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Melhores Contos de Franz Kafka Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os Melhores Contos de Isaac Asimov Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPara não desistir do amor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Homens pretos (não) choram Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos de Edgar Allan Poe Nota: 5 de 5 estrelas5/5Melhores Contos Guimarães Rosa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Rua sem Saída Nota: 4 de 5 estrelas4/5Meu misterioso amante Nota: 4 de 5 estrelas4/5SADE: Contos Libertinos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Quando você for sua: talvez não queira ser de mais ninguém Nota: 4 de 5 estrelas4/5Todo mundo que amei já me fez chorar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmar e perder Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrometo falhar Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Espera Nota: 5 de 5 estrelas5/5Safada Nota: 4 de 5 estrelas4/5O DIABO e Outras Histórias - Tolstoi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO louco seguido de Areia e espuma Nota: 5 de 5 estrelas5/5O homem que sabia javanês e outros contos Nota: 4 de 5 estrelas4/5TCHEKHOV: Melhores Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFelicidade em copo d'Água: Como encontrar alegria até nas piores tempestades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDono do tempo Nota: 5 de 5 estrelas5/5MACHADO DE ASSIS: Os melhores contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Toda luz é lava
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Toda luz é lava - Carla Santos
POLEGAR
Em latim
– Assina.
São dez processos em pastas perfuradas recebidas de outros três estados. O escritório é grande. Minha função aqui é entregar todas elas peticionadas até sexta-feira em português perfeito. Peticionar é implorar alguma coisa.
A primeira delas é de Maria Rosa Lima, e, pela falta de mais um sobrenome no RG, pergunto-me se ela sentiu essa ausência em plano físico. Ela é pescadora e vive na margem do Rio Xingu, no Pará. Deve passar um café tão gostoso quanto o da minha avó, que também se chama Maria.
São 206 cópias para embasar o pedido. Eu passo uma por uma procurando provas mais consistentes. E acho. Consistente como uma tala de ferro na garganta. É o comprovante de uma renda que não existe, a única garantia para quando a rede voltar do rio sem o sustento do corpo. Sinto meu semblante abalado, mas preciso de mais provas.
A primeira página da petição é um curriculum, assim mesmo, em latim, como as sentenças dos juízes. Tem o nome da Maria, o nome de sua mãe, seu CPF e endereço. Depois, preciso colocar uma preliminar de idade. Ela tem 61 anos, e a justiça precisa tirar as vendas dos olhos para uma senhora no fim de seus dias.
Organizo alguns documentos no decorrer do arquivo: comprovante de vida e residência, cópias do sindicato, certidões de batismo dos filhos. Vai ajudar, eu penso. Foram três laudas. A doutora pede um texto bem elaborado e eu tentei, antes de segurar uma declaração sucinta, autenticada, a qual a dona Maria assentiu com o polegar. E aquela mancha fica na minha cabeça até às 18 horas, quando todos os computadores desligam. Aquela estampa. Aquele pedido.
Sinto-me um espaço inabitado por precisar gastar todo um vocabulário numa petição para alguém que não vai ter a oportunidade de ler as linhas. Se tivesse, não entenderia, porque a vida foi a primeira a lhe tratar de forma desigual. E a chance que ela tem de ser amparada depende de mim, que não sou ninguém.
Até sexta-feira eu tenho quinze petições; até dezembro terei 720. Eu não posso abraçar todas essas lutas, mas queria abraçar a dona Maria.
NÃO ESTOU ESCREVENDO, ESTOU VOMITANDO
A depressão e eu
Eu não lembro quando isso começou. Pode ser pelo fato de a minha memória não funcionar muito bem, por ter a mente sempre tão exausta. Isso não é uma narrativa cronológica de tudo, e também não obedece à concordância temporal, porque, por mais que eu relate como vivido no passado, talvez eu ainda viva no presente. E no futuro.
Eu cresci lado a lado com essa doença. Em cada canto da minha vida alguém já tinha sido engolido e regurgitado pela depressão, então eu não tinha como escapar. Só entendi que tinha aquilo depois de perceber que eu estava descendo os degraus de uma escada em espiral, a caminho do lugar mais escuro e isolado de um labirinto. Eu não tinha mais sonhos. Eu não tinha mais alma.
Fui apagando como uma vela na ventania. Tropeçando nas correntes que me atavam às pessoas. Convencida de que nenhuma parte de mim valia e de que meu coração não era nada além de esmola. Fumando, bebendo, fodendo, matando e morrendo. Fui