Amor E Redenção

De Sarah Willians

Clara, uma jovem com uma vida aparentemente perfeita, decide seguir sua vocação religiosa na Oracle of God School, uma escola de Teologia em Bibury, Inglaterra. Ela busca propósito e espiritualidade após a perda de sua irmã Alice. Clara enfrenta desafios relacionados à sua fé, bem como questões pessoais decorrentes de sua difícil relação com seu pai. Ela divide o quarto com Cecília e Catarina, formando uma amizade improvável enquanto se prepara para a vida religiosa. Enquanto Clara avança em sua jornada, sua fé é testada, e ela confronta questões profundas sobre seu propósito e a natureza humana. Ela embarca em uma jornada de autodescoberta, explorando temas de fé, amor, perdão e segredos familiares. Clara também se vê atraída por um misterioso rapaz depois de um encontro inesperado na escola. O romance revela que a perfeição muitas vezes é uma ilusão e que o verdadeiro propósito pode ser encontrado nos lugares mais inesperados.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 2 de mar. de 2024

Pré-visualização do livro

Capítulo 1: O Despertar na Escuridão.

Acordei com uma imagem de escuridão que aos poucos foi ganhando forma e me dei conta de que se tratava do teto do meu quarto. Com os olhos piscando contra o ambiente ainda sonolento, olhei ao redor e me deparei com um cenário deslumbrante, digno de uma princesa.

Meu quarto, um verdadeiro refúgio encantado, estava decorado com requinte e detalhes que evocavam a era medieval. Uma majestosa cama, conhecida como cama de dossel, dominava o espaço, com cortinas pesadas que fluíam graciosamente. O tapete, um clássico daquela época, cobria o chão em padrões intrincados. Objetos característicos, como espelhos ornamentados e uma escrivaninha de madeira esculpida, completavam o ambiente. Era tudo o que qualquer garota da minha idade sonharia em ter, especialmente aquelas que tinham um fascínio por histórias de princesas.

Entretanto, à medida que eu explorava cada detalhe daquele quarto de conto de fadas, um sentimento de vazio começou a se insinuar em meu coração. Era como se, sob toda a beleza e opulência, algo obscuro espreitasse. Minha vida parecia perfeita à primeira vista, mas havia algo inquietante no meu íntimo, um mistério que eu não conseguia compreender.

O que estava faltando em meio a toda essa realeza? Qual era o segredo por trás das cortinas de veludo?

Este é o início da minha jornada, onde o mundo de sonhos e realidade se entrelaçam de maneiras inesperadas, revelando que nem sempre o que parece ser perfeito é realmente o que preenche nossos corações.

Logo me vem à mente: Que dia é esse?  

O grande dia em que começarei a trilhar o caminho para realizar meu grande sonho de ser freira e dedicar minha vida a Deus. Serei sua serva, ajudarei os necessitados e orarei, pedindo e agradecendo a ele por sua bondade e glória todos os dias, até o fim de minha vida.

Você deve estar se perguntando o que levou uma jovem bonita, popular na escola, com todos ao seu redor desejando fazer parte de seu círculo de amigos (apesar de eu não dar a mínima para isso), com uma condição financeira excelente e pais que fariam qualquer coisa que você pedisse, inclusive todos os seus caprichos, escolher seguir uma carreira religiosa e se tornar freira. Bem, irei contar minha história...

Quando eu tinha 12 anos, lembro-me vividamente de brincar com minhas bonecas, que eu adorava. Ficava horas a fio imersa naquelas brincadeiras. Montava meticulosamente cada cômodo da casa: quarto, cozinha, banheiro, e mergulhava na história que eu criava em minha mente. Minha boneca assumia o papel da mocinha, e o boneco, o papel do mocinho.

De repente, ouvi minha mãe começar a chorar inconsolavelmente. Provavelmente, era por algo que meu pai havia contado a ela. Corri até a porta do meu quarto, que estava entreaberta, e olhei entre o vão e a parede. Os dois estavam abraçados e chorando. Meu pai havia acabado de dar a triste notícia à minha mãe de que minha irmã mais velha, Alice, havia falecido. Minha mãe ficou desolada, e foi necessário um calmante para que ela conseguisse dormir.

No dia seguinte, minha mãe veio até o meu quarto.

Escutei três batidas na porta: Toc, toc, toc.

- Filha, posso entrar?

- Sim, mamãe. O que aconteceu com Alice?

No momento em que fiz essa pergunta, olhei nos olhos dela e pude ver as lágrimas que começaram a cair incessantemente.

- Nossa princesinha (era o apelido carinhoso pelo qual a chamávamos) tornou-se uma estrelinha e agora está morando no céu com nosso glorioso Deus.

Minha mãe sempre foi muito católica. Frequentávamos as missas todos os domingos, mas ela não era tão devota como é hoje. Após o falecimento de minha irmã, de certa forma, ela passou a usar apenas roupas pretas e buscou um caminho para encontrar refúgio e conforto para seu coração, tentando aliviar a dor que corroía seu coração.

Eu, como sua filha, testemunhando todo o seu sofrimento, comecei a me espelhar em suas atitudes e a buscar maneiras de fazê-la se orgulhar, de alguma forma preenchendo o vazio que permanecia em seu coração. Embora eu tenha percebido que nem sempre ela fazia as melhores escolhas e que nem sempre era benevolente, muitas vezes conseguia enxergar em seu olhar triste e sombrio a revolta e a ira por tudo o que havia acontecido com nossa família. No entanto, eu sempre procurei extrair os aspectos positivos que me ajudariam a atingir meu objetivo, que era ser uma filha de Deus.

E foi assim que me tornei uma pessoa profundamente devota ao nosso glorioso e bondoso Deus. Minha mãe sempre me incentivou a dedicar-me inteiramente ao Senhor.

Lembro-me de um dia específico em que estávamos almoçando. Na mesa estavam minha avó, meus pais e eu. Minha vó disse, com carinho:

- Bonequinha (um apelido afetuoso que me davam), em breve você se tornará uma mocinha e conhecerá o que é o amor!

Minha mãe, imediatamente, respondeu com um tom ríspido e agressivo:

- Para quê? Para que algum insolente acabe com a sua vida, assim como aquele monstro fez com a minha Alice?

- Minha bonequinha servirá ao Senhor!

Meu pai e minha avó se olharam com expressões de reprovação, mas não discutiram com minha mãe. Eles tinham pena de tudo o que ela havia sofrido devido à perda da minha irmã.

Foi assim que comecei a planejar minha vida adulta. Serviria ao Senhor e daria orgulho à minha mãe. Minha convicção ficou ainda mais forte depois de descobrir uma aposta que o Ricardo, o rapaz