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Os Cinco Sentinelas
Os Cinco Sentinelas
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E-book355 páginas5 horas

Os Cinco Sentinelas

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Sobre este e-book

Após o assassinato do chefe do Serviço Secreto de Inteligência, uma organização terrorista planeja lançar uma arma de proporções apocalípticas e deixar o governo britânico de joelhos.


Uma equipe combatível é montada para caçar os terroristas. Chamado de volta da obscuridade para liderá-los, está Jack "Gorilla" Grant: um freelancer com uma Smith & Wesson .39 e uma navalha cortante. E ele está pronto para acertar as contas à sua maneira brutal.


A equipe dos Cinco Sentinelas vira sua mira para o leste e entra em um campo de matança mortal.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2024
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    Os Cinco Sentinelas - James Quinn

    Os Cinco Sentinelas

    OS CINCO SENTINELAS

    AS CRÔNICAS DE REDAÇÃO LIVRO 2

    JAMES QUINN

    TRADUZIDO POR

    DORALICE SILVA

    Copyright (C) 2016 James Quinn

    Design de layout e copyright (C) 2023 por Next Chapter

    Publicado em 2023 por Next Chapter

    Capa de http://www.thecovercollection.com/

    Editado por Luiza Arce

    Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer semelhança com eventos reais, locais ou pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou por qualquer sistema de armazenamento e recuperação de informações, sem a permissão do autor.

    CONTEÚDOS

    Livro 1

    Livro 2

    Livro 3

    Livro 4

    Epilogue

    Caro leitor

    Glossário

    Uma mensagem de James Quinn

    Agradecimentos

    Sobre o autor

    Este livro é dedicado aos membros e patronos do Special Forces Club, em Londres.

    É um agradecimento por todo o seu apoio e encorajamento ao longo dos anos.

    Espírito de Resistência

    Um homem que deseja vingança deve primeiro cavar duas sepulturas

    ANON

    LIVRO UM

    O RETORNO

    1

    DOCAS DE MELBOURNE, AUSTRÁLIA — 18 DE JUNHO DE 1966

    Os quatro fantasmas permaneciam, amontoados na escuridão da noite, escondidos atrás dos caixotes, caixas e contêineres que ladeavam a doca. Os fantasmas, embora não fosse uma descrição precisa, encaixavam-se perfeitamente em seus perfis. Eram homens que sabiam se esconder durante a noite, usavam casacos pretos e gorros de malha e, durante a última hora, conseguiram manter-se escondidos dos trabalhadores regulares que transportavam suprimentos e carga para os numerosos navios de contêineres. Todos estavam armados com facas commando afiadas e todos estavam prontos para usá-las de modo letal, a fim de completar sua missão. Esse trabalho precisava ser feito silenciosamente, para que fosse uma extração bem-sucedida.

    O líder deles estava na vanguarda, com sua equipe o flanqueando. O coronel Stephen Masterman, chefe da Unidade de Redação do Serviço Secreto de Inteligência Britânico, ergueu o binóculo e olhou para a rampa de desembarque do navio de contêineres enquanto esperava que seu agente aparecesse. O homem que esperavam era um contrabandista de heroína metade português, metade chinês de nome Raymond Yu. Yu era um subtenente na quase mítica organização Karasu-Tengu e tinha sido persuadido a vender seu patrão em troca de um pagamento único dos britânicos. O SSI queria que o Corvo — o homem em pessoa, o líder — fosse redigido. As ordens do chefe eram claras.

    — Faça-o falar, Stephen, use o maldito método que quiser, mas consiga a localização do próprio Corvo — sussurrou o chefe em sua última reunião secreta em Londres.

    Masterman havia pesquisado, coletado informações, conspirado e planejado. Mas, até agora, seu alvo havia sido evasivo. O líder de Yu tinha dinheiro, informações e recursos e sabia como ficar escondido enquanto ainda era capaz de atacar seus inimigos e matá-los. Até então, o Corvo havia assassinado quatro dos agentes de Masterman da Unidade de Redação.

    Primeiro, Spence tinha sido abatido em Istambul, depois Trench tinha desaparecido da face da Terra em Macau, depois Marlowe… depois Burch. Todos tinham como objetivo penetrar e assassinar o chefe da organização, todos tinham sido mortos. Agora a Redação estava gravemente reduzida; os dois redatores restantes tinham sido designados para cobrir uma missão no Oriente Médio e Masterman tinha ficado com pouca opção, a não ser pedir um favor de seu antigo Regimento das Forças Especiais de guerra. Não esperava problemas com a extração, mas, só por precaução, ele sentiu que era melhor ter um pequeno número de bons homens o apoiando. Não que fossem os homens que ele preferia ter ao seu lado, mas eram bons, mesmo assim. Seu reforço ideal não estava mais no jogo. Ele havia se afastado do SSI vários anos antes, quando se aposentou da guerra secreta. Masterman tinha aprendido da maneira mais difícil com os agentes que as coisas poderiam dar errado rapidamente, então ele se contentou com os soldados destacados da elite militar. Eles ficaram em silêncio por mais alguns instantes e então, ao longe, ele percebeu que algo novo estava acontecendo — um carro, com os faróis apagados, parou logo abaixo da prancha para o navio porta-contêineres mais próximo. Três homens saíram do Ford Falcon marrom. Eram chineses de aparência durona, vestidos com ternos pretos sombrios. Os guarda-costas.

    Masterman acenou com uma mão quase casualmente para seus homens e observou enquanto eles se afastavam, fundindo-se na escuridão. Ele os imaginou se aproximando, se preparando para se lançar de uma posição oculta para eliminar seus alvos, caso Yu e sua equipe de segurança decidissem partir para briga. Quando a equipe das Forças Especiais estava em posição, ele voltou sua atenção para o carro e viu o homem que ele estava esperando saindo do veículo. Ele era alto e bem constituído e, mesmo nessa meia-luz, Masterman conseguia perceber as feições meio asiáticas do homem. Yu e sua equipe de guarda-costas começaram a caminhar em direção ao ponto de encontro combinado, ao norte do Píer 41. Quando eles estavam a dezoito metros de distância, Masterman saiu da escuridão e se aproximou deles.

    — Sentinela? — perguntou Yu, soando aliviado.

    Masterman assentiu e estendeu a mão.

    — Por favor, por aqui, temos um veículo esperando por você.

    O caminhão os levaria ao longo do porto para um barco rápido e, de lá, para uma casa segura na costa, onde Yu poderia informar sobre o Corvo. Depois disso, ele voltaria à sua vida normal sem ninguém saber. Voltaria logo de manhã ao seu gabinete e cem mil dólares mais rico, graças ao Serviço Secreto Britânico.

    Yu se virou, disse algo para sua equipe de segurança e começou a caminhar em direção ao seu novo protetor quando a explosão de tiros automáticos levou os dois guarda-costas para o lado direito de Yu. As balas bateram em suas cabeças e os dois homens desabaram como bonecos de pano. O que se seguiu foi um hiato de terror e confusão. Masterman estava ciente de sua equipe de Forças Especiais emergindo das sombras em velocidade, correndo para movê-lo rapidamente para a segurança e fornecer cobertura corporal. Dois deles morreram no local, antes que conseguissem alcançá-lo. Os homens que estavam no cais corriam e pulavam para encontrar qualquer tipo de cobertura, até conseguirem averiguar onde o atirador de elite estava localizado.

    Masterman se agachou atrás de um caixote, mas era capaz de ver claramente a cena diante dele. Ele ouviu o barulho dos tiros novamente e o último guarda-costas de Yu foi atacado pelas costas, enviando-o esparramado, morto, nos paralelepípedos. Masterman, sempre soldado, olhou para cima e foi capaz de ver o flash do cano da arma do atirador de elite na posição dele. Ele quase conseguia ver a figura escura empoleirada em cima de um bloco de contêineres, o fuzil de assalto M16 nas mãos do assassino estava agora procurando por mais alvos. Masterman havia passado tempo suficiente sob fogo em sua carreira para reconhecer o turbilhão de um massacre, e quem quer que fosse o atirador de elite escondido, ele era bom. Até aquele momento, todos os seus tiros tinham acertado seus alvos sem erros. Sua prioridade agora era tirar seu agente, Yu, da zona de extermínio e colocá-lo em segurança. Ele chamou a atenção do soldado remanescente das Forças Especiais que estava escondido atrás de uma barricada e deu o sinal de mão para que ele chegasse a Yu e o evacuasse. O soldado assentiu com a cabeça, respirou fundo e ficou de pé e correu. Quase imediatamente, Masterman também estava de pé e em movimento. Dois alvos! Nenhum atirador de elite, por melhor que fosse, poderia atirar em dois alvos simultaneamente.

    Masterman correu, mas, antes de dar dez passos, ouviu a próxima saraivada de tiros enquanto passavam por ele e viu o soldado cair com um tiro na cabeça. O chefe de Redação mudou de direção, buscando freneticamente cobertura do atirador de elite e saltou os últimos metros até que estivesse seguro atrás de uma pilha abandonada de paletes. Ele procurou uma rota de fuga… Nada… E então lembrou-se do carro em que Yu e seus guarda-costas haviam chegado. Se ele conseguisse fazer com que Yu fizesse a corrida maluca para alcançá-lo atrás dos paletes — um pouco mais de três metros —, então havia uma chance de que eles pudessem chegar ao carro e escapar.

    Masterman estendeu a mão, acenando para o homem o qual ele havia sido enviado ali para extrair.

    — Vamos, mexa-se, porra! É a sua única esperança!

    Yu olhou para ele com medo. Os homens que inicialmente vieram salvá-lo estavam agora quase todos mortos e ele havia sido comprometido, traído, de alguma forma! Masterman estava ciente dos tiros se aproximando, as munições estavam arrancando a madeira dos paletes e depois desviando para o granito do cais. Yu fechou os olhos por um momento e então, como se tivesse tomado uma decisão monumental, levantou-se e ficou de pé, com sua estrutura alta alongada e suas mãos no ar em rendição. Ele se virou na direção do atirador de elite escondido e gritou:

    — Eu não falei, não contei nada! Nunca trairia os Karasu, eu nunca…

    Houve uma cacofonia de tiros automáticos e ele foi arremessado de volta ao chão, com o peito e o rosto com uma massa de explosões enquanto as balas o rasgavam. Com seu agente morto e sua equipe massacrada, Masterman correu para a opção de fuga do carro. Ele quase conseguiu, e, se fosse dez anos mais novo, provavelmente teria conseguido. Ele estava quase a uma curta distância do lado do motorista quando ouviu um CRECK causado por um pequeno objeto de metal que caiu embaixo do carro. Uma granada, pensou. O atirador de elite estava tentando limpar seus alvos ocultos com granadas e…

    A explosão dizimou o carro, enviando fragmentos de metal e detritos para fora e Masterman sentiu dores intensas quando o metal do veículo rasgou suas costas, o fogo da explosão queimou seu rosto e a força da detonação o levantou, jogando-o na água escura e fria. De repente, seu mundo se encheu de sangue, medo e escuridão. Ele deu um impulso, empurrando-se para cima, tomando uma enorme lufada de ar quando chegou à superfície. Deu outro impulso e nadou para longe do tiroteio na doca, colocando distância entre ele e o cais. À sua esquerda, ouviu outra explosão na água. Era outra granada, mas tinha caído tão longe que não tinha chance de atingi-lo. O atirador de elite deve ter perdido o rumo, tentando acertar um tiro de sorte em vez de um alvo direcionado, pensou. Foi nos últimos momentos antes de sua consciência começar a escapar que Masterman viu um homem morto, um fantasma; um homem que ele sabia que tinha morrido há seis meses. Ele sabia que o homem estava morto, porque o próprio Masterman o havia enviado na missão da qual ele nunca havia retornado. O morto estava no alto dos contêineres que haviam fornecido a posição para o atirador de elite, seu fuzil pesava em uma das mãos quando ele começou sua descida. Ele deu mais uma olhada ao redor da área de devastação, talvez para se convencer de que não havia mais sobreviventes, e só então continuou descendo a escada.

    — Trench… Trench… Trench — murmurou Masterman, como se se convencesse de que havia testemunhado uma ilusão. Mas isso não era ilusão. Um morto tinha voltado à vida e quase o matado. Masterman olhava incrédulo, mesmo quando a água gelada começou a mover seu corpo ferido para longe do cais, flutuando ao longo da parede do porto. E então ele não pensou mais na situação, pois a escuridão o dominou e ele se afastou cada vez mais.

    FLORESTA DE ASHDOWN, INGLATERRA — 19 DE JUNHO DE 1966

    O espião idoso foi arrastado pela mata por braços fortes. Seu roupão havia rasgado, e seus pés descalços tinham sido cortados e ficado com bolhas por terem sido puxados e empurrados no chão de barro, depois que seus chinelos haviam sido perdidos em algum lugar nas profundezas da floresta há muito tempo.

    Ele não sabia como eram seus captores. Eles estavam encapuzados, lembrando algo saído de um pesadelo, e apenas fendas nas balaclavas negras revelavam seus olhos intensos. Ele sabia que eles eram fortes, certamente; capazes, definitivamente. Afinal, eles haviam matado seus guarda-costas policiais, que eram um adorno perpétuo na frente de sua residência particular em Royal Tunbridge Wells. Em seguida, mataram sua esposa, que estava deitada ao lado dele na cama. Ele tinha visto como eles a cobriram com um cobertor e silenciosamente inseriram uma longa lâmina fina através do material do tecido… uma, duas vezes… e então ela parou de se mover. Ele havia sido espancado, empurrado escadas abaixo e então para o frio da noite. Depois, houve a viagem, foi empurrado para o porta-malas de um carro anônimo e conduzido em alta velocidade para sabe-se lá onde. A julgar pelos arredores e pela distância que percorreram no veículo, ele imaginou que estava em algum lugar no fundo do labirinto da Floresta Ashdown. Suas antigas habilidades de espião, pelo menos, não haviam falhado completamente.

    Ele havia sido retirado do carro como um saco de batatas e empurrado para o fundo da escuridão da noite, com mãos o manipulando e levando para mais perto de seu destino. A floresta foi ficando cada vez mais espessa, as névoas noturnas subindo do chão dando ao seu entorno uma qualidade etérea, até que, finalmente, assim que ele pensou que iria desmaiar de medo e exaustão, eles entraram em uma pequena clareira. A área não tinha mais do que cinco metros de largura e era iluminada por uma pequena lâmpada de parafina. E ali, esperando como um carrasco paciente, estava o homem que ordenara que o velho espião fosse retirado de sua cama na calada da noite e levado àquele lugar de horror. Ele era magro, estava em forma e vestia um terno escuro. Seus cabelos curtos e expressão carrancuda lhe davam a aparência de um homem acostumado a seguir seu próprio caminho. Ele era o Karasu.

    — O Corvo, eu suponho — disse o velho, fraco. Os guardas o empurraram para o chão, então ele se ajoelhou diretamente na frente de seu captor. O solo frio e úmido rapidamente encharcava suas finas calças de pijama e ele tremia.

    Quando o Corvo falou, foi com um poder e autoridade que desmentia sua pequena estrutura. Era uma voz que não recuava ao emitir exigências violentas.

    — Houve muito derramamento de sangue em nossa guerra clandestina… mas isso não é inesperado. Nosso negócio cobra um preço alto em vidas.

    — Eu entendo que, quando você parte para a vingança, deve cavar duas sepulturas. Não é esse o provérbio? — murmurou o velho. Ele fez uma careta enquanto as palavras passavam por seus lábios rachados.

    O Corvo o ignorou, em vez disso, estendeu a mão para a bainha que estava ali. Em um movimento suave e silencioso, ele retirou uma espada Ninjato reluzente de um só gume. Ele a ergueu para examinar cuidadosamente o perfil da lâmina e, satisfeito, a baixou para o seu lado.

    — Cavei muitas sepulturas, para muita gente. Você ousou me desafiar, ousou desafiar minha organização. É inevitável que eu destruísse qualquer coisa que estivesse no meu caminho. Você certamente deveria saber disso — ele disse.

    O velho espião assentiu, resignado com seu destino inevitável.

    — É meu trabalho, minha responsabilidade, parar homens loucos. Você foi apenas o último de uma longa fila.

    O Corvo assentiu, aceitando as palavras finais do velho.

    — E, no entanto, os Kyonshi se levantarão e prosperarão, apesar de suas tentativas de destruí-los. Não tem importância agora. Você falhou e chegou a hora de colher o que semeou. — Em um movimento soberbamente fluido, o japonês torceu seu corpo e voou com a espada afiada dos assassinos. Um rastro de prata brilhou contra a escuridão, um assobio de aço soou no ar, e então a cabeça de Sir Richard Crosby, o chefe do Serviço Secreto de Inteligência nos últimos vinte anos, voou noite adentro.

    2

    ARISAIG, ESCÓCIA — SETEMBRO DE 1967

    A pequena vila de pescadores de Arisaig estava particularmente bonita naquela manhã, quando Jack Grant saiu pela sua porta da frente e olhou a cena diante dele. Luzes dançavam nas pequenas casas que estavam aninhadas ao longo da costa, quebrando a escuridão ainda persistente. Os últimos vestígios do verão agarravam-se à aldeia e, àquela hora da manhã, o nevoeiro ainda rolava sobre a terra a partir do mar, dando à cena uma qualidade etérea. Para Jack Grant, sempre parecia que uma pintura tinha ganhado vida. A chuva e o vento haviam varrido as folhas para a sarjeta do lado de fora da pequena casa. Ele virou a gola de sua jaqueta revestida e enfiou a cabeça para baixo, de modo que seu queixo barbudo penetrou profundamente no topo da sua velha suéter gola rolê.

    Durante o ano passado, Jack Grant, um ex-membro do Serviço Secreto de inteligência, trabalhava como braço direito no barco de pesca de seu cunhado. Tinha deixado para trás a sua antiga vida, mudou a sua aparência da melhor maneira possível e se estabeleceu na mediocridade de remendar redes, consertar motores e transportar peixe para o mercado. Embora não estivesse de forma alguma contente, ele se satisfazia com o fato de estar onde deveria estar, com o que restava de sua família ao seu redor. Esta manhã era igual a qualquer outra. Ele estava acordado por volta das cinco e meia da manhã, tomando café da manhã, enquanto o resto da família dormia ou começava o alvoroço para se aprontar para o trabalho e para escola. Hoje, porém, ele estava dirigindo até Fort William para pegar uma peça de motor para Hughie, seu cunhado. Na verdade, para o velho barco de Hughie, A Tempestade.

    Ele subiu na Land Rover surrada e cheia de lama, deu partida no motor e saiu de Arisaig. A viagem foi lenta e despreocupada, com Grant contemplando a vista deslumbrante das montanhas que abrigavam a vila das forças da natureza escocesas mais duras em qualquer estação. Grant estava dirigindo por não mais do que dez minutos quando avistou um veículo seguindo sua velha Land Rover.

    Ele o tinha sentido antes de vê-lo. Um espetar na pele, os sentidos trêmulos, os pelos nos braços arrepiados — tudo o alertavam para o fato de que ele estava sendo vigiado, observado, examinado e avaliado por pessoas desconhecidas. Fosse quem fosse, era inútil na vigilância veicular. Dirigir a droga de um carro exibido e grande como um Jag o fazia se destacar em um ambiente rural. As únicas pessoas que tinham carros chamativos por ali eram os cambistas e gângsteres de Glasgow, e eles não costumavam visitar pequenas vilas de pescadores às cinco da manhã na experiência de Jack.

    — Ok, querido — murmurou para si mesmo, com os olhos grudados no retrovisor. — Vamos ver qual é o seu jogo.

    Grant havia observado os faróis do Jag durante toda a viagem de uma hora até Fort William. Tinha sido tão fácil. Dirigir até o centro da cidade, largar o Land Rover e ir fazer suas coisas. Demorou menos de dez minutos se arrastando pelas lojas e ruas para identificar o seu vigia, e depois levou mais cinco para achar o nome na sua lista mental de rostos. Jack Grant reconheceu o rosto dele; um oficial superior em Berlim, de muitos anos atrás. Um Capitão do Corpo de Inteligência, ligado ao agente de operações. Penn, era isso. Jordan Penn, Jordie para abreviar. Um cara bom. Que pena. Bem, Sr. Penn, pensou Grant, um cara bom ou não, estou prestes a estragar o seu dia.

    Jordie Penn, ex-capitão do Corpo de Inteligência e agora consultor de segurança privada dos ricos e famosos de Mayfair, já tinha tido um péssimo dia. Ele estava em movimento desde às três da manhã. Jack Grant, seu alvo, costumava acordar cedo e, portanto, ele precisava estar acordado pelo menos algumas horas antes, deitado em um local ao longo da estrada. Ele ficou sentado, congelando, no Jaguar, tentando não deixar as janelas embaçarem. Ele não podia ligar o aquecedor, porque isso significaria ligar o motor e possivelmente alertar alguém, então ele teve que deixar a janela do motorista aberta para parar a condensação… e foi congelante pra caralho. Que inferno!

    Penn havia aproveitado o passeio pelas montanhas escocesas no dia anterior. Tinha apreciado as vistas majestosas dos Glens e das colinas e se gloriara em seu vigor. Ele havia testemunhado as nuvens se fundindo e pairando sobre os picos das montanhas como uma espécie de camuflagem. Eram, tinha certeza, uma das melhores realizações de Deus. Mas era a chuva e o frio que estavam crucificando sua parte na vigilância.

    Ele tinha visto Grant — por Deus, ele tinha aparência de um pescador desgrenhado — subindo na Land Rover e indo ao longo da via arterial principal pelas montanhas, passando por Ben Nevis e entrando em Fort William. Tinha sido uma lenta ida para Penn no Jaguar, tentando manter o veículo de Grant à vista enquanto permanecia invisível. Quando chegaram a Fort William, foi mais fácil. Ter mais pessoas na rua, mesmo nesta madrugada, o ajudou a se misturar ao seu entorno. Não que Jordie Penn fosse qualquer tipo de especialista em vigilância hostil, longe disso. Seu forte vinha sendo comandando um grupo patético de deslocados como agentes na Berlim do pós-guerra. Então, seguir um alvo, mesmo em solo britânico, era algo muito fora de suas atribuições. Mas… desde o seu recrutamento para esta nova operação, ele vinha fazendo muitas coisas fora de sua descrição habitual de trabalho. A ordem tinha sido dada pelo chefe, então ele estava determinado a cumpri-la. Siga-o, Jordie, pegue-o por conta própria, depois faça a abordagem… Traga-o de volta ao rebanho, havia sido sua instrução na noite anterior.

    Então, Penn colou no Grant o melhor que pôde. Subindo e descendo a rua, observando para onde ele ia. Era sua segunda visita à mesma rua em que ele havia estado há menos de cinco minutos, quando Grant fez uma súbita e repentina entrada em uma viela entre duas lojas. Provavelmente era a via de acesso para as entregas. Penn demorou algum tempo e espiou a passarela de concreto, antes de seguir cautelosamente seu alvo. A pista o levou para um pátio, cheio de pequenas unidades industriais. Vários trabalhadores olharam e fizeram cara feia para ele, antes de continuarem com seu trabalho.

    — Caramba, para onde ele foi? — Penn murmurou quando começou a caminhar de volta para a rua. Ele estava no meio da pista quando viu o pescador desgrenhado que conhecera em Berlim e que… vinha direto para ele em alta velocidade! Ele exalou bruscamente com o impacto e o punho de Grant apertou a gravata regimental do Corpo de Inteligência em sua garganta. Empurrado para trás, seus pés foram chutados por baixo dele, e suas costas bateram no chão duro com uma força que não era insignificante. Acima dele, o rosto furioso de Jack Grant brilhava, com seu punho puxado para trás e pronto bater em seu rosto até virar uma polpa sangrenta.

    Jack Grant rosnou.

    — Bem, Sr. Penn, é melhor você me dizer o que você quer ou vai catar seus dentes com os dedos quebrados!

    Penn tinha sido colocado de pé e, sabiamente, ele falou… rápido. Ele obviamente conhecia a reputação de violência do Gorila e foi inteligente o suficiente para não a testar.

    — Alguém quer que você participe de uma reunião. Agora. A trinta minutos de carro daqui. Uma reunião particular.

    — Quem? — rosnou Grant, tirando o pó da jaqueta de Penn.

    — Não sei dizer. Mas é uma reunião que você vai querer participar. É um amigo. — Seu rosto havia ruborizado sob o súbito ataque de violência do homem menor, mas ele estava lentamente recuperando sua compostura.

    Amigo era um nome informal para os membros do SSI. Grant ficou intrigado, mas estava mais do que determinado a se fazer de difícil, pelo menos até ter informações mais sólidas.

    — Sai fora. Você acha que eu vou cair em uma armadilha? Você esteve no uísque, querido.

    — Me falaram para te dizer que estava relacionado com os seus antigos oficiais, lá em Pimlico — disse Penn sensatamente.

    — Estou fora disso há um tempo, não conheço mais ninguém lá.

    — De qualquer forma, meu patrão tomou todas as providências para manter essa reunião em segredo. Ele está respeitando a sua privacidade e a segurança da sua família.

    Ao mencionar sua família, o comportamento de Grant ficou ainda mais agressivo e ele olhou para Penn com a fúria invadindo seu rosto.

    — Por quanto tempo?

    — Algumas horas, não mais que isso, então você poderá voltar para sua vila — respondeu Penn.

    Grant avaliou suas opções e, em seguida, emitiu um aviso.

    — Qualquer gracinha e eu começo a quebrar membros. O seu será o primeiro, Penn. Só para você saber. Só pra constar… Entendeu?

    Eles viajaram de volta em comboio, Penn liderando o caminho no Jaguar e Grant seguindo logo atrás na lama espalhada no Land Rover. A estrada de Fort William levou-os para o norte, quase de volta para onde Grant havia começado o dia naquela mesma manhã em sua pequena vila de pescadores. Penn de repente virou bruscamente para a esquerda alguns quilômetros antes da vila, trafegando o Jaguar por uma estrada particular que era pouco mais do que uma trilha. A menos de meio quilômetro de distância, entre a neblina e a chuva, Grant conseguiu distinguir uma grande mansão em seus próprios

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