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O Ressoar das Estrelas Perdidas
O Ressoar das Estrelas Perdidas
O Ressoar das Estrelas Perdidas
E-book412 páginas4 horas

O Ressoar das Estrelas Perdidas

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Sobre este e-book

Com o desaparecimento de sua mãe e o florescer de uma flor mágica, Csilla se vê presa em um mundo de pesadelos, tão reais a ponto de feri-la e memórias perdidas que sussurram em seus ouvidos quando ainda está acordada. Guiada pelas lembranças e por uma fada mal educada, ela encontra o mapa que a leva até a cidade escondida das fadas. Ao entrar na cidade ela começa a esbarrar em pessoas que dizem já conhecê-la, mas tudo fica mais complicado quando conhece Ethan. Embora ela tente lutar contra os sentimentos que vão surgindo, a cada momento que passa seu coração lhe diz que ele é quem ela sempre procurava.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2024
ISBN9788595941786
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    O Ressoar das Estrelas Perdidas - Mar Rodrigues

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    Eram exatamente seis da manhã quando a cidade se ergueu da poeira e das cinzas. As rochas cresciam e se moldavam ao formato que Olga desejava. Suas mãos partiam as pedras como se fossem meros pedaços de barro; claro que ela não precisava sequer tocar nas rochas, sua mágica dava conta do serviço.

    Olga era uma mulher alta, de descendência asiática, com cabelos castanhos e olhos selvagens. Não era o tipo de mulher que aceitava receber ordens facilmente e muito menos se submetia às leis estúpidas que a proibiam de socializar com humanos, afinal havia nascido neste mundo e era de se esperar que desejasse voltar para ele após um tempo.

    Suas mãos se moviam à medida que a hospedaria se levantava à sua frente. Ela sentia que finalmente estava em casa, pois, desde a grande guerra, o povo mágico voltou para as terras de Antares, onde Olga permaneceu até esta manhã, quando os portais entre o mundo invisível e o humano se abriram. Mesmo após tanto tempo, nunca se desligou por completo deste lado de sua vida. Por isso, decidiu juntar o máximo de pessoas que, assim como ela, queriam viver entre os dois mundos novamente e os trouxe para construírem uma nova cidade entre os humanos.

    Fazia mais de trezentos anos desde a separação, e ela duvidava até que os humanos se lembrassem deles — e estava certa! Tudo o que eles sabiam sobre seu povo estava em livros que julgavam serem fábulas, afinal só conseguiam acreditar no que seus olhos podiam ver.

    — Olga! — gritou Rose. — Conseguimos terminar a maior parte e... o que está construindo?

    — Uma hospedaria — respondeu orgulhosa.

    — Uma hospedaria? Mas, para quê? Todos que vieram conosco já estão instalados em casas — exclamou Rose. Para ela, seria um desperdício de tempo e espaço, pois poucas pessoas tinham tido coragem para segui-las.

    Com um breve estalo, a frente da estalagem estava finalizada. Ela fizera até algumas sacadas que eram enfeitadas com diversas flores para os quartos que ainda decoraria, embora estivesse em dúvida se deixaria que os próprios cômodos se decorassem, conforme os gostos de seus hóspedes.

    Tudo está perfeito, pensou.

    — Sabe, haverá um dia que não precisaremos mais nos esconder, e nosso povo virá para esta terra. — Soltou um suspiro triste. Ainda se lembrava do dia em que partiu: as pessoas gritavam de terror enquanto sua família fugia para salvar a própria vida. Havia tido tanto tempo de paz que foi um choque para todos quando a guerra se iniciou. Os humanos os acusaram de várias coisas: desde raptos de crianças, até coisas bobas como estragar suas comidas e esconder objetos. Como se alguma fada fosse perder seu tempo com algo tolo assim, embora Olga admitisse que alguns sequestravam humanos para torná-los escravos, mas tudo tinha se iniciado com o massacre de alguns gnomos e pequenas fadas das flores, ambos inofensivos. Por essa razão, seu povo começou a retaliar. Rose colocou sua mão no ombro da amiga como se pudesse ler seus pensamentos. Olga limpou a garganta e, tocando a mão em seu ombro, tentou sorrir para afastar as más lembranças. Estava recomeçando, precisava ter esperança. — Acredito que pessoas do nosso mundo podem querer nos visitar e ver como tudo está por aqui. Não acho que somos os únicos que sentem falta deste lugar e, quando vierem, irei recebê-los — disse, apontando para sua mais nova casa.

    Casa, pensou. Uma palavra tão pequena que significava tanto.

    — Bem, enquanto esse dia não chega, por que não me mostra o interior da sua hospedaria?

    — Certamente! Você será minha primeira hóspede — disse com um sorriso largo.

    Olga fez um gesto para que Rose entrasse, e assim ela fez. Rose tinha uma aparência jovem, seu cabelo preto era longo com ondas perfeitas, seus olhos eram de um azul intenso e tempestuoso, como o mar poucas horas antes da tempestade. Vestia um sobretudo que outrora havia sido preto: agora estava cinza devido à poeira das construções. Bateu o salto da bota no degrau da frente. Para dar sorte, pensou.

    O lado interno da hospedaria era de tirar o fôlego, embora algumas coisas ainda estivessem sendo arrumadas. Essa era a vantagem da magia: enquanto elas caminhavam, as coisas se encaixavam sozinhas. Rose abaixou quando uma pequena fada das flores passou voando perto de sua cabeça.

    — Desculpe — respondeu Olga sorrindo. — Ainda estou adaptando as coisas e pedi ajuda das pequenas fadas. — Rose se endireitou e continuou andando. Um lustre se formava no teto ao mesmo tempo que livros voavam para a prateleira. O saguão levaria ainda alguns minutos para estar pronto. — O que acha do espaço? — perguntou, ansiosa para ouvir a opinião de sua primeira hóspede.

    — Está incrível! — Suspirou. — Quando terminar, ficará de tirar o fôlego.

    — Venha, quero lhe mostrar um dos quartos. — Ela puxou Rose pela mão e subiu em êxtase as escadas.

    Ao chegarem no primeiro quarto, abriram a porta e, assim como o saguão, ainda não estava pronto. As pequenas fadas voavam de um canto para o outro do quarto. Embora seus minúsculos vestidos fossem feitos de pétalas de flores, não as chamavam assim por isso. Na verdade, faziam suas casas em flores específicas, como a lanterninha chinesa e a saia branca. Ambas pareciam pequenos sinos e eram as casas mais comuns para elas, por isso Olga havia colocado algumas em seu novo jardim.

    O quarto estava bastante iluminado com a luz que vinha da sacada, onde uma enorme porta de vidro era formada com o intuito de preservar a iluminação natural. Alguns móveis já habitavam o local, como uma cama de casal no centro, uma pequena cômoda de cor creme, uma mesa de cabeceira com um abajur, uma poltrona de cor mostarda, um quadro de um gato cinzento acima da cama e algumas prateleiras vazias. Olga levou as mãos à boca e soltou um pequeno grito de alegria, ela conseguia imaginar as pessoas usando aquele cômodo.

    Um grande vento soprou na janela, empurrando as fadas contra a parede. Rose e Olga se entreolharam e correram até a sacada. Uma enorme nuvem de poeira vinha em sua direção, seguida por um intenso tremor. O abajur, que antes estava na mesa de cabeceira, espatifou-se no chão. As fadas não conseguiam mais se segurar no ar e se refugiaram na cama, segurando-se no colchão com toda a força que tinham. Rose e Olga correram para dentro para se protegerem da nuvem de poeira.

    As prateleiras recém-colocadas cederam e a cômoda dançava no piso de pedra quando a poeira invadiu o quarto. Olga voou para a cama e cobriu as fadas com seu corpo. Não acreditava que aquilo estava acontecendo, mal tinha acabado de construir. O quadro, que estava acima da cabeceira da cama, caiu, acertando a cabeça de Olga, que abraçou ainda mais forte as fadas. Lá fora as pessoas gritavam e corriam, outras se deitavam no chão fechando os olhos e ouvidos, até que finalmente a tempestade passou. Não era comum na região este tipo de coisa. Rose foi a primeira a se levantar de onde estava, sacudiu a poeira de seu cabelo e do sobretudo que vestia. O quarto estava coberto de areia. Olga e as fadas permaneceram deitadas na cama.

    — Olga! Olga! Olga! — gritou Rose sacudindo a amiga.

    — Estou bem, só tire o quadro de cima de mim e limpe a poeira dos meus olhos, por favor, não posso abri-los.

    Rose levantou o quadro e notou que havia um pequeno corte acima da sobrancelha onde ele havia acertado. Ela ajudou a amiga a se levantar e a conferir se as fadas estavam bem, e graças a Olga estavam. Embora as fadas fossem bastante fortes, poderiam ter se machucado seriamente com os móveis caindo. Rapidamente desceram as escadas para ver o estrago causado pela tempestade. Passaram pelo saguão que estava completamente destruído e coberto de areia e foram para a entrada.

    — Senhora! — gritou uma fada que vinha ao seu encontro. Ela estava voando o mais rápido que conseguia, até que pousou cansada nas mãos de Olga. A pequenina tossiu enquanto tentava recuperar o fôlego.

    — O que houve? — perguntou Rose, olhando ao redor.

    — Os portais... se fecharam! — falou a fada com tristeza.

    — O quê?! Como assim se fecharam?! — gritou Olga. Os portais não poderiam se fechar, pelo menos não antes do pôr do sol daquele mesmo dia.

    — Não sabemos, simplesmente foram se fechando um a um — respondeu a fada.

    — Não podemos mais voltar — Rose sussurrou em choque.

    Olga a encarou sem acreditar no que estava acontecendo. A esta altura, algumas pessoas já se reuniam ao redor delas. Não seria possível, seria? Com os portais fechados antes do tempo, elas não poderiam voltar para se despedir e nem trazer o restante das coisas que haviam deixado.

    — Bem... vamos entrar, vou acomodá-los — falou Olga, que havia começado a esfregar os dedos, ansiosa, olhando para a multidão à procura de um rosto familiar. Ela abriu caminho para que as pessoas passassem pela porta da hospedaria. Esperava ter mais tempo até que as visitas começassem a chegar, mas não se tratava de uma visita, e sim de pessoas que não tinham mais casas. Ela os abrigaria! Decidiu. Rose a olhou como se soubesse o que se passava em sua cabeça.

    — Vamos dar um jeito — Rose sussurrou para ela, que sorriu em resposta.

    Agora não poderiam mais voltar atrás porque não havia para onde voltar. Seu mundo fora trancado e estavam presos no mundo humano por cem anos, até que os portais voltassem a se abrir. Teria que dar certo, e elas fariam dar, custe o que custar!

    Sentada à beira do lago, Csilla sentia a brisa leve tocar seu rosto. De olhos fechados, deixou que seus pensamentos voassem pela noite tranquila. Não conseguia se lembrar da última vez que havia se sentido assim, em paz. Os últimos meses foram realmente conturbados, como se estivesse em uma montanha-russa que, após chegar ao topo, despencou sem previsão de subir novamente, e tudo o que restou foi ser empurrada para baixo enquanto o tempo passava ao seu redor.

    A lua saiu tímida de trás das nuvens e iluminou lentamente o crepúsculo que havia entre as árvores, fazendo com que as sombras tocassem o lago. O vento tratou de levar algumas folhas para a superfície da água e, como um beijo, elas o tocaram levemente, o que a fez se mover em resposta, formando pequenos círculos ao redor.

    — É maravilhoso! — exclamou ao se inclinar para ver a grande bola prateada refletida como em um espelho turvo. De onde estava, não conseguia ver o começo do lago, apenas o término. Como a proa de um navio, o formato da borda era estranhamente arredondado e inclinado. Ao mesmo tempo que mostrava seu fim, dava abertura para um novo horizonte. E eis que o vento se levantou mais forte que a brisa, trazendo com ele o choro de uma criança, o som ecoava estridente pelas sombras. Csilla se levantou e estreitou os olhos à procura de onde vinha.

    O que faz uma criança aqui a esta hora?, pensou repentinamente.

    O choro veio mais intenso que da última vez; sombras se mexiam com certa rapidez atrás das árvores, na borda oposta ao lago. Csilla começou a se mover tentando acompanhá-las, porém sua visão era limitada devido à distância que estava. Um arrepio percorreu seu corpo quando, finalmente, conseguiu ver duas mulheres que emergiram do meio de folhas, galhos e sombras. Sentiu um desejo incontrolável de ir até elas, então começou a correr na mesma direção de onde o lago acabava.

    — Peguem-nas! Rápido! Não deixem que escapem! — Alguns homens haviam surgido logo em seguida. Pareciam estar naquela perseguição há algumas horas, pois, ao mesmo tempo que corriam, tentavam puxar o fôlego. Usavam grandes casacos pretos com detalhes bordados em linha prata, que reluziam ao toque dos raios lunares.

    Csilla gritou e acenou para tentar chamar a atenção dos homens e atrasá-los um pouco, porém pareciam não ouvir ou sequer ligar para sua presença ali. As mulheres estavam próximas à borda do lago. Ela correu com mais intensidade para tentar se aproximar. Contudo, o que poderia fazer? Nunca esteve em uma situação assim. Na verdade, considerava-se uma pessoa bem pacífica; nunca se envolveu em brigas ou conflitos, nem sequer na época da escola quando um menino de sua sala tentou roubar seu lanche. Se não fosse por Cleo, ele teria sido bem-sucedido.

    Finalmente, as duas mulheres conseguiram dar a volta e agora corriam de frente para a luz da lua. Csilla pôde ver que uma delas carregava uma criança dentro de uma pequena rede presa ao redor do corpo. A primeira mulher tinha cabelo escuro e seus olhos eram de um castanho muito intenso. Usava um longo vestido preto com um colar fino em seu pescoço. Já a segunda mulher tinha longos cabelos loiros, usava um vestido verde-escuro com um decote em v e pequenos brincos em forma de coração. A moça de cabelos castanhos tropeçou, pisou na barra do vestido e, cambaleando, caiu de joelhos perto o suficiente do lago para molhar parte do tecido. Ela gritou de dor, pois assim que caiu, apoiou-se unicamente em sua mão direita, que absorveu o impacto de seu corpo evitando que tombasse por completo.

    — Alice! — gritou a de cabelo loiro, estendendo a mão para levantá-la, porém ela não olhou para cima, uma vez que estava abraçando a criança em seu colo, que chorava devido ao susto que havia tomado.

    — Vamos, levante-se! Eles estão perto!

    Csilla finalmente as alcançou, estava quase sem fôlego. Olhou atrás delas para comparar a distância, e realmente os homens estavam muito perto! Se não se apressassem, com certeza as pegariam. Ela virou-se para avisá-las de que estava ali, mas, ao abrir sua boca, não saiu ruído algum. Assustou-se ao tentar gritar mais uma vez, porém sem sucesso, era como se nem ao menos soubesse formar palavras, som ou qualquer barulho naquele momento. Estava completamente sem voz. Tentou tocar no ombro da mulher loira que estava de costas para ela, porém sua mão passou por ela como se Csilla fosse apenas uma ilusão.

    — Eu... não vou conseguir — sussurrou Alice entre lágrimas.

    — Vai sim, me dê sua mão e…

    — Não! Karoline! — Exclamou afastando a mão dela com um tapa.

    Naquele momento, Csilla parou de olhar para a mão que tinha atravessado Karoline e olhou para ela assustada. Não poderia ser! Poderia? Deu a volta para que pudesse ficar de frente para a mulher loira e encarou seus grandes olhos âmbar. O rosto da mulher estava vermelho e suado, seus olhos estavam em pleno desespero por Alice não querer se levantar. Csilla observou tudo com atenção.

    Estou sonhando!, concluiu.

    — Nós vamos! Alice, me dê sua mão! — Karoline estendeu a mão mais uma vez e a sacudiu freneticamente. — Nós levaremos a bebê daqui e daremos a ela uma vida muito melhor do que a que tivemos; a vida que você sonhou para ela.

    Alice ergueu a cabeça e Csilla pôde ver que os olhos dela estavam cheios de angústia. Apesar de estar paralisada, estava com medo de não conseguir seguir com o plano e finalmente fugir dali.

    — Certo! Conseguiremos, mas precisamos nos separar na floresta — disse Alice, colocando-se de pé.

    — O quê?! — Karoline arregalou os olhos em espanto, porém Alice estava decidida. — Está brincando, não é? Não podemos nos separar! — Ela sabia que seria difícil atravessar a floresta àquela hora, e seria quase impossível sozinha, mesmo conhecendo a região.

    — Não estou. — Suspirou. — É a única maneira, eles não podem pegar nós duas; do contrário, tudo terá sido em vão. — Karoline desviou os olhos para que Alice não pudesse ver seu medo e sua preocupação aumentarem. — Eu não confiaria minha filha a mais ninguém, então, por favor, faça isso por ela. — Karoline fez que sim com a cabeça; seu rosto estava coberto de lágrimas pela possibilidade de não conseguirem fugir juntas. — Ótimo! — Alice sorriu na esperança de tranquilizá-la um pouco. Agachou-se aos pés da amiga, apoiou a criança em seus joelhos, ergueu as duas mãos sobre o tecido verde-escuro e, com um puxão, o rasgou, deixando-o com uma enorme fenda. — Isso vai te ajudar a correr mais rápido! — disse, pondo-se de pé mais uma vez.

    Ela se inclinou para a criança que dormia. Deu-lhe um pequeno beijo e as lágrimas vieram mais uma vez. Tirou a pequena rede de seu corpo e o passou para Karoline, pois sabia que não chegaria muito longe.

    — Se eu não conseguir, cuide dela assim como cuidou de mim e, se puder, ame-a por nós duas, está bem? — Karoline assentiu.

    — Venha, deixe-me ajudá-la com seu vestido também!

    — Não há para onde fugir, meninas! — Olharam na direção da voz.

    Os soldados estavam perto o suficiente para que elas pudessem ouvir seus passos esmagando as folhas secas.

    — Não dá mais tempo! Se eu não chegar no local que combinamos até o amanhecer, vá embora, me ouviu? Não olhe para trás! — ordenou Alice. Elas deram um rápido abraço, que se tornou uma despedida e, ao mesmo tempo, uma prece para se encontrarem do outro lado.

    — Corra, agora! — gritou Karoline e as duas correram em direção à floresta. Assim que entraram, foram cada uma para um lado.

    Csilla ouviu os guardas xingarem enquanto decidiam quem iria para qual caminho e as observou por um tempo, até não conseguir mais vê-las.

    Como se tivesse sido empurrada do sonho, ela sentou-se bruscamente na cama. Estava suada e ofegante. Já havia sonhado com sua mãe outras vezes — sempre quando Karoline estava fora de casa —, mas nada lhe pareceu ser tão real quanto hoje. Erguendo as mãos, esfregou os olhos que ardiam por mais uma noite maldormida. Seus pensamentos voavam ao redor de sua cabeça, como andorinhas em volta de uma árvore. Decidiu, então, se levantar, pois fitar o teto não resolveria sua falta de sono.

    Seu quarto mal-iluminado pela janela entreaberta era espaçoso, porém simples. Tinha um guarda-roupa marrom aos pés da cama, uma pequena mesinha de cabeceira na qual deixava seu abajur, um cesto grande com roupas sujas, que ela deveria lavar em breve, e um espelho comprido que ia do chão ao teto. Ao passar pela porta de seu quarto, um corredor mal-iluminado surgiu e, com ele, mais três portas: a primeira, do lado direito e em frente ao seu quarto, era um escritório; a segunda, que ficava bem no meio, ao fim do corredor, um banheiro; e a última, do lado esquerdo, vizinha à sua, era o quarto de Karoline, que agora estava vazio.

    Csilla desceu as escadas, passando pela sala, e seguiu até a cozinha.

    — Chá? — perguntou-lhe uma voz suave vinda do balcão. Ela ergueu os olhos para sua amiga, que bebericava um líquido quente e alaranjado. Csilla não se assustou ao vê-la ali sem prévio aviso; pelo contrário, sorriu. Cleo tinha o costume de aparecer independente da hora que fosse.

    — O que faz aqui tão cedo? — indagou.

    — Combinamos de correr um pouco antes do trabalho, esqueceu? —respondeu.

    — Verdade… Humm, tem café?

    — Não sei, a casa é sua. Tem café? — perguntou Cleo, arqueando a sobrancelha.

    Com resmungos, Csilla andou até o fogão e sacudiu a chaleira, que, para sua sorte, abrigava um pouco mais que meia xícara. Após esquentá-la, juntou-se à amiga no balcão.

    — Combinamos de correr apenas às cinco e meia e ainda são quatro e… quinze — concluiu após verificar a hora em seu celular.

    — E o que você faz na minha casa às quatro e quinze se combinamos às cinco e meia? — retrucou com desdém, porém Cleo não pareceu se importar; pelo contrário, deu um leve empurrão em sua amiga, que sorriu.

    — Estou de pé desde as três. — Suspirou. — Minha mãe decidiu que eu deveria treinar mais do que nunca agora. Ela me derrubou da cama, literalmente. Então, quando saiu para usar o banheiro, fugi para cá.

    Ambas sorriram ao imaginar Marise a procurando pela casa após voltar e não a encontrar. Cleo recolheu os ombros ao pensar na bronca que levaria quando estivesse em casa.

    — Bom, podemos dizer que eu te liguei desesperada e pedi para vir aqui.

    — Pode funcionar já que ela gosta de você.

    — O que posso dizer? Sou adorável — disse com sarcasmo. — Logo logo sua mãe cansa desses treinos excessivos; não é como se o guardião fosse bater na sua porta a qualquer momento.

    — Bem, tente dizer isso a ela.

    — Se quiser, eu direi, e ainda a ponho contra a parede e posso obrigá-la a te deixar em paz! — falou Csilla confiante.

    — Como se pudesse segurar alguém com quinze vezes mais força que você!

    — Claro que posso! Só preciso de apoio. — Cleo riu. — Sinto muito.

    — Não precisa se desculpar, estou acostumada. Alguma notícia de Karoline? — perguntou Cleo.

    — Não, nenhuma. — Suspirou.

    — Humm, não se preocupe, ela deve estar bem.

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