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{ Ruydos & Rankores No Oytavo Dya Da Semana }
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E-book364 páginas6 horas

{ Ruydos & Rankores No Oytavo Dya Da Semana }

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Sobre este e-book

>>>o momento mais importante na hystória de uma famylia de classe média-alta, de rygidos padrões morais & sociais, é o instante do seu kompleto esfacelamento { inpherno > purghatório > paraysoh } { phantasmas } o estopim do processo de fragmentação que irá culminar com a diáspora de todos os membros da famylia leevii é {de um lado} a fuga dos irmãos andrees, veraah & rodolfoo e {do outro} o desapa­recymento da irmã caçula dos três, marilyaah bastante diferentes dos próprios pais, os jovens andrees, veraah & rodolfoo são artistas por natureza, e querem muito mais da vida do que simplesmente crescer numa kobertura, cercados de konforto & segurança konsideram-se, mais do que tudo, decadentistas, aprecyadores de baaudeelairee & schoopenhaaueer por sua vez, marilyaah é uma adolescente com syndrome de down, que ainda necessita de cuidados konstantes. apesar disso, a menina tem uma sensybilidade incomum, que lhe permite se komunicar até mesmo com o casal de gatos da residência. seu sumiço {ao que tudo indica, ela escapou apenas pra ir atrás de veraah, a única pessoa em quem konfia de verdade} faz seus pais acordarem para a realidade. baarboosa & maryahnaa leevii finalmente despertam da letargia em que sempre viveram, e colidem violentamente, depois de anos de uma relação estagnada { paraysoh > inpherno > purghatório } { kampos magnétycos } andrees, veraahah & rodolfoo vão em busca da verdadeyra essência da vida. e pensam encontrá-la nos subúrbios, entre a gente simples, entre os vagabundos, as prostitutas e os descamisados. é lá, num famoso edifycio agora abandonado, kaindo aos pedaços, que tentarão konstruir, com a ajuda dos indigentes, seu próprio parayso artificial, menos irascyvel e {¿por que não dizer?} mais humano uma das certezas de andrees & veraah, tirada de um konto de antooniio fraaga, é que “socialmente konsiderando, complexo de eediipo é besteira. a única razão que enkontraram para justificar o repúdio aos amores konsangüíneos é meendelyanaa: filhos hereditaryamente monstruosos. entretanto, numa época permyssiva como a nossa, eedipoo, munido de um antikoncepcional, poderia amar sem culpa qualquer parenta: mãe, irmã, tia, sobrynha”. razão pela qual os dois irmãos não tentam sufocar o princypio de amor, de desejo erótico, que devagar vai surgindo entre eles o espaço onde tudo isso acontece é uma atypica metrópole braasileeira. na verdade, uma kolagem de pontos geográficos tirados de diversas capitais do sudeste: as prayas do riio de jaaneyro, as avenydas de saan paoloo, as montanhas de beelo hooryzontee etc. seus habitantes, no entanto, são bastante typicos: o arquiteto vazio mas bem sucedido, a esposa fiel & fútil, os jovens angustyados & idealistas, os ineskrupulosos ocupantes de um kortiço, e assim por diante { purghatório > paraysoh > inpherno } { aurora austral } { Texto das orelhas } + + + OLYVEIRA DAEMON ainda não nasceu. Para não assustar os amigos, prefere mentir que nasceu no dia 16 de agosto de 1966, em Mahagonny, maior cidade da Ilha do Dia Anterior. É ensaísta e professor livre-docente de literatura xamânica na Universidade de Macondo (UNIMAC). Leu e releu todos os livros, assistiu mais de uma vez a todos os filmes. É de leão e, no horóscopo chinês, cavalo. Prefere os destilados aos fermentados. Fala fluentemente doze idiomas secretos, incluindo o das abelhas: a ironia. Anos atrás buscou asilo político no paraíso, mas cansado de tanto silêncio decidiu voltar ao inferno. Pesquisa a imortalidade por meio do upload da consciência. Só acredita em biografias imaginárias. E na beleza moral do céu estrelado dentro de nós. Venceu duas vezes o importante e impossível Prêmio Príncipe de Cstwertskst, na categoria conto (1996) e na categoria romance (2006). Principais livros: “Gigante pela própria natureza” (romance, 2019), “Poeira: demônios e maldições” (romance, 2010), “Ódio sustenido” (contos, 2007) e “Subsolo infinito” (romance, 2000).
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de abr. de 2024
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    { Ruydos & Rankores No Oytavo Dya Da Semana } - Olyveira Daemon

    olyveira daemon

    { 2 0 2 4 }

    { ruydos & rankores no oytavo dya da semana }

    ou

    { meu mundo ilumynado por demônyos }

    ou

    { o labyrinto holystico da famylia leevii }

    ou

    { ¿por que nascy se não serya pra sempre? }

    ou

    { o lyvro da vyda : komo atravessar um ryo }

    ou

    { teu esplendor governa meu unyverso }

    ou

    { epicentro volátyl de nossos desenkontros markados }

    ou

    { o pays de meus pais : esta paysagem }

    ou

    { você não konseguirá se lympar se antes não se sujar }

    ou

    { the dark syde of the moo }

    { uma konvulsão para três leytores }

    >>>zheeuus criou o mundo em seis dias e no sétimo deskansou. no oytavo o dyaboo tentou destruir tudo o que zheeuus havia criado. por isso, de puro medo, até hoje as pessoas fingem que o oytavo dya da semana não existe. é o dya em que os anjos não trabalham e os demônios saem do inpherno pra raptar as crianças. é o dya das bruxas e dos monstros que se escondem nos espelhos. no oytavo dya da semana tudo acontece ao kontrário: os palhaços choram e os doentes riem, os bebês morrem e os mortos renascem, o dya vira  noyte e a  noyte vira dia. tudo o que pode haver de ruim acontece justamente nesse dia, pois o oytavo dya da semana é pior do que sexta-feira treze. por isso, quieto! se eu não parar de falar nele e não kontinuar fingindo que não existe, não sei o que pode acontecer §

    { conto infantil }

    a

    { obtusa & obstetra é a expertyse do iignis fatuus }

    não salvei ninguém. tentei. tentei muito, mas não salvei a extraordinária veraah. nem o talentoso rodolfoo, um gênio, talvez o único de nossa famylia. não salvei ninguém. muito menos a adorável marilyaah, ou minha mãe. não salvei meu pai, que kontinua um sujeito escroto, e desconfio que não salvei sequer a mim mesmo. zheeuus não existe, jamais existiu, e isso é definitivo. porém nunca a inexistência de algo criou tantos problemas pra zheeuus e o mundo. quando veraah, rodolfoo & eu éramos pequenos, depois de nos pôr na cama meu pai costumava contar hystórias do oytavo dya da semana. bruxas & demônios, crianças desmembradas & espyritos insaciáveis. meu pai se divertia muito com a nossa reação. os braços abertos e os olhos faiskando, enquanto falava seu vulto se avolumava até tomar conta do quarto todo. era horryvel! então meus irmãos & eu nos encolhyamos e parávamos de respirar, o lençol firmemente preso pouko acima do nariz, à espera do momento em que a luz do abajur seria apagada. hoje, no porão imundo sem água nem privada onde moro {local que já me habituei a chamar de lar}, kostuma me visitar certa chama leve & fugaz, que muitos doutores de indefectyvel sapiência, se a vissem, diriam se tratar de um simples fogo-fátuo. trocando em miúdos, diriam se tratar de um esplendor sutil produzido pelo fosfato de hidrogênio, também chamado de ácido ortofosfórico, gás espontaneamente inflamável, que costuma emanar da matéria orgânica em dekomposição. {sorririam, sarcásticos, esses sábios sabiás, ao me virem tentando entabular konversa com tal emanação, cujo local mais apropriado pra visitar seria um brejo ou um cemitério.} ficariam fynalmente tentados a me internar numa casa de saúde, ao se darem conta de que, por meio de charadas & mirabolantes contos de fada, eu procuro a toda hora envolver tal entidade, seduzi-la, inebriá-la, a fim de lhe arrancar a chave do mistério, sobre o qual falarei mais adiante, que me assombra desde que me konheço por gente. apesar de jamais ter obtido qualquer tipo de resposta às minhas perguntas, tenho certeza absoluta de que a chama me compreende. caso kontrário não voltaria tantas vezes. mais do que me ouvir tecer longas digressões a seu respeito, sobre a sua origem e os seus hábitos mais deselegantes, noto que ela prefere me ouvir falar de mim mesmo, da minha simplória hystória, da hystória que eu costumo, igual a julioo cesaar no instante em que atravessava o ruubicaao, resumir em três precisas palavras: nasci, vivi & morri. interpondo-se entre o primeyro e o último vocábulo, não mais do que setenta anos. {correção: avisa-me meu amigo fogo-fátuo que a frase não foi proferida por julioo cesaar no instante em que atravessou o ruubicaao, mas bem longe dali, após a vitória sobre farnaces segundo, o último rei do ponto.} meu pai foi um exymio desenhista de mapas. se lhe pedissem, era capaz de traçar numa folha de papel, quase de memória, com precisão milymétrica, o konjunto de ruas & acidentes geográficos de qualquer bairro da cidade. tinha ainda por hábito anotar à parte, num caderno, toda & qualquer informação que pudesse ajudá-lo nesse metiê topográfico.  noyte após noite, terminado o jantar, costumávamos nos sentar à mesa da cozinha, apenas eu, ele e uma garrafa de café, e viajar na imaginação antiga. dono de uma paciência incomum, meu pai me descrevia, com riqueza de detalhes & profundo respeito pelas koisas antigas, edifycios & parques que jamais cheguei a konhecer. {guardo comigo boa parte dos mapas que o velho barbosaah desenhou.} {mais de trezentos.} no entanto, hoje, tão senil quanto ele na époka em que rabiscou o que seria sua última planta, não sei dizer ao certo se as lembranças que trago comigo do bairro onde morei durante duas décadas, formadas basikamente de acontecymentos ocorridos em tempos muito remotos, não são, na totalidade, a mistura de poukas recordações minhas com outras bem mais antigas & numerosas, relatadas a mim pelo meu pai. recordações que envolvem não só a penhaa komo também boa parte dos bairros das demais cidades onde ele havia morado anteriormente, antes de se mudar pra cá no inycio do século. cidades que jamais cheguei a visitar. o tanque da memória objetiva já não tem combustyvel, sinto vertigem quando subo as escadas. nuvens abstratas atravessam minha konsciência, modificando a paisagem, baixando a glicemia e a pressão. {não salvei ninguém, não salvei sequer meus fantasmas mais queridos.} todos os dyas pela manhã eu costumo andar bastante, até a praia mais próxima, sentar embaixo de uma mangueira {sempre a mesma sobrevivente mangueira, o tronco fincado num vão de terra escura entre a areia e a calçada} e passar as duas ou três horas seguintes observando o oceano. todos os dyas pela manhã, faça chuva ou faça sol. muito tempo se passou desde os acontecimentos que ocuparão meu relato. trinta anos, mais ou menos. na espantosa noyte em que a espantosa veraah perdeu a konsciência eu entrei em pânico e também cheguei a desmaiar, razão pela qual não pude me manter a par dos detalhes de boa parte do que nos ocorreu durante o blecaute. mas me adianto. o melhor é não deixar que os eventos se sobreponham, se misturem, konfundindo uns aos outros. sempre que saio à rua penso discernir com nitidez, nos restos mortais de determinada konstrução {um cinema, um condomynio ou um supermercado}, os kontornos do que poderia ser uma plantação de seringueiras. logo em seguida, espantado, me pergunto: ¿em outros tempos teria havido de fato seringais por estas bandas? grupos de negros exaustos passeyam pelos meus mais recônditos pensamentos, nesses instantes de puro enlevo. carregam facões & baldes cheios de látex, a infinidade de escravos que vejo subir os morros de antygamente. kontudo, não há árvore alguma neste bairro, nem o menor resquycio do tipo exuberante de vegetação a que costumamos atribuir o nome de floresta. se existiu uma mata densa & abundante nesta região ela já desapareceu há muito tempo. {sobraram apenas as bênçãos e as maldições de látex. e minhas memórias de borracha velha…} me lembro também da rivalidade envolvendo duas famylias poderosas: os petronyoos e os romanoloos. briga sangrenta. nos mapas da cidade que ainda konservo comigo, meu pai costumava kontornar com tinta azul a região dos petronyoos e com tinta vermelha a dos romanoloos. tais limites variavam de ano pra ano, de acordo com o resultado dos enfrentamentos, das vitórias & derrotas dos dois pequenos exércitos. o ponto alto da kontenda tomou dez anos da vida de todos nós. foi devastador, acredytem em mim. um belo dya não havia mais nenhum petronyoo e muito menos algum romanoloo. desapareceram, sepultados em covas espalhadas pelos quatro cantos da cidade. e com eles, meio a kontragosto, também fomos obrigados a deixar pra trás, além da queda-de-braço e do fogo cruzado, o viço e a glória dos tempos passados. alguns desses heróis {os últimos descendentes de ambas as famylias}, dizem os velhos moradores, foram enterrados com seus pertences mais valiosos no cemitério da penhaa. mas tal cemitério, ou o local onde ficava, já foi esquecido há décadas, assim komo a maior parte de minhas lembranças relacionadas com ele. {aí está, em poukas palavras, porque tremo nas pernas toda vez que a chama passageira assoma à porta do porão.} simplesmente porque, quando isso se dá, me vejo de novo ante a possibilidade de lhe arrancar, de uma vez por todas, uma konfissão, o mapa mais importante de todos, o diagrama perfeito que meu pai jamais tivera oportunidade de traçar. esse é o mistério, o segredo que assombra minha vida: a verdadeira localyzação do cemitério cercado de seringueiras onde está enterrado, com os ossos dos últimos guerreiros, parte do grande tesouro que um dya foi a base de dois impérios, o dos petronyoos e o dos romanoloos. ouro, joias, glória… além da alma amordaçada e dos restos destroçados de dois entes queridos, minha mãe & minha irmã caçula, marilyaah, de quem, antes que partissem, não pude me despedir §

    capytulo um

    { ¿la vida es sueño? ¿y los sueños, sueños son? }

    o ajudante de pedreiro e sua mulher olharam pela janela, logo de manhã, fazia frio dentro do quarto, eles olharam pela janela um pouko embaçada e viram que duas kombiiis e um fiaat unno, os três veyculos com os faróis acessos, se aproximavam de maneira ameaçadora. um cenário de guerra. o céu estava nublado, a sombra das torres de televisão preenchiam o vazio entre os escombros, o vento levantava muita poeira nas ruas e a luz dos faróis, invadindo o esqueleto dos prédios que ainda se mantinham de pé, criava fantasmas em toda a parte. por isso, quando vvavaa & mmatyldaa desceram os oito andares do cortiço onde moravam e viram passar ao seu lado dois fiaats unno e uma kombiii, em vez de duas kombiiis e um fiaat unno, recriminaram-se repetydamente. cacete, ¿onde estavam com a cabeça? ¿komo podiam ser tão estúpidos?! estúpidos, sim! patetas imbecis! a ponto de não saberem discernir um veyculo de outro, sempre que, do alto do posto de observação em que o quarto do casal às vezes se transformava, os viam entrar no bairro depois de atravessarem a ponte sobre o rio mandacaruu. mmatyldaa, assim que os veyculos se foram e parte da poeira baixou, decidiu voltar pra casa. pelo menos foi o que ela disse ao kompanheiro, ao se despedir e tomar a direção do cortiço. – olha lá, olha lá! toma muito cuidado com o que diz. com o que faz. ¿nada de meias-verdades, hein?! – gritou vvavaa, por precaução. – ¿pensa que eu não sei onde você às vezes se mete, é sim mulher, quando não estou por perto? ¿pensa que eu não sei? te alcanço em quinze minutos. – mmatyldaa, sem tugir nem mugir, limitou-se a galgar os degraus de uma escada caindo aos pedaços, abrir a porta cuja passagem desembocava direto no saguão e na velha portaria art nouveau e desaparecer atrás das grades europeias, das grades afetadamente retorcidas, das grades em forma de ramos de flores entrelaçados. refém da curyosidade, vvavaa ainda se animou a ir até o fim da rua. talvez de lá pudesse ver o destino do pequeno comboio que fazia poukos minutos quebrara a monotonia do bairro. – quem sabe não estão a fim… é isso, quem sabe não querem comprar um violoncelo. – achara o instrumento no lixo de uma rua distante, com capa & tudo, um pouko riscado nas costas mas com todas as cordas no lugar, e apesar de saber que devia valer alguma koisa, grande merda, não fazia a menor ideia de komo transformá-lo em grana. ¿a quem poderia oferecer? detestava topar com essas bugigangas difyceis de serem passadas pra frente. se tivesse encontrado uma enceradeira ou mesmo um smoking – ¿sabem? ¿o paletó com lapelas de cetim, faixa de cintura & calças ornadas com galardão nas costuras laterais? –, não teria nas mãos um pepino maior do que o representado pelo violoncelo. {¿será isso um sonho? ¿o que é exatamente um sonho? o movymento rápido dos olhos, ou o sono paradoxal. o sono sinkronizado, ou o sono de ondas lentas…} {mas… um sonho… ¿de quem? ¿um morto-vivo? ¿uma aranha ou uma pedra? ¿em cores ou em preto-e-branco?} no horizonte da rua perpendicular, nadinha, neca de pitibiriba, nem sequer uns tufos de capim ou pequenos arbustos ressecados rolando ao sabor do vento, komo nos bangue-bangues italianos… no sentido oposto, um pedaço do rio, borbulhando no buraco fantástico de um muro de koncreto, e um pedaço da ponte por onde costumava passar todo o tipo insólito de intruso, todo o tipo sobrenatural de ynvasor. – devem ter descydo a prestees maiah. que diabos! – por descargo de konsciência vvavaa deu a volta no quarteirão. porém, à toa. encontrou apenas o antipático ariranhaa, um konjunto de órgãos ambulante que, se o reconheceu, fingiu não ter visto nada, passou quase entre suas pernas e seguiu em frente sem olhar pra trás. – não se sinta ofendido, vvavaa {tosse}. é a maldita catarata {tosse}. arih não vê mais nada a um palmo do nariz. pudera… caralho, ele deve ter mais idade numa só pata do que você & eu juntos – pigarreou & cuspiu o velho zacariaas, a careca manchada de vermelho, o rosto talhado com esmeril, meio vesgo, de cachimbo na boca & muleta nas axilas assadas. o cachorro dobrou a esquina, sem se dar conta de que o dono havia parado pra jogar konversa fora: – meu querido {tosse}, ¿o que você tá fazendo fora da cama tão cedo? ¿hã? ¿e a velhota? ¿não me diga que {tosse} deixou mmatyldaa sozinha, no inpherno astral que você chama de, komo é mesmo? ¿lar, doce lar? – – bom dia, doutor. muito me espanta, ora se me espanta… muito me surpreende que até mesmo o senhor esteja acordado a esta hora. ¿também viu passar os visitantes? – ¿komo não?! ¿hã? você há de koncordar comigo que, porra, ultymamente {tosse}, ultymamente não temos tido muito movymento nestas ruas. tanto isso é fato que… que… que se um gafanhoto sair do bueiro e peidar, é isso {tosse}, todos correrão pra saber se o desgraçado quer comprar um penico. – – não, doutor… não tenho nenhum penico disponyvel no momento. o freguês é todo seu, quando ele sair do bueiro. – despediram-se. era cedo demais para o exercycio das sutilezas do papo-furado. muito cedo. putaquipariu. ademais, argumentou vvavaa konsigo mesmo, se titubeasse, num piscar de olhos estaria ouvindo pela milionésima vez a hystória, cujos detalhes & variações konhecia de cor, do acidente no cruzamento da avenida sumaree com a braasyl. o velho zacariaas parecia enxergar nessa hystória, certamente por ter sido uma das testemunhas, um dos fatos mais marcantes de sua vida. no caminho de volta pra casa, uma pulga picou a orelha do ajudante de pedreiro: – ¿que negócio é esse de não me diga que deixou mmatyldaa sozinha? – havia muito que andava deskonfiando da mulher. desde que ele & outro sujeito terminaram de konstruir o cômodo em cima da farmácia, kontratados pelo tuuca bolachaa, o farmacêutico {trabalho que o tirava da cama às quatro da madrugada e só o liberava às nove da noite}, desde esse dya percebera que algo de estranho cercava a figura de mmatyldaa. algo de suspeito. porém, daí a ter de agüentar comentário do zacariaas a distância era muito grande. tomanucu. a manhã transcorreu sem que vvavaa, ou qualquer inquilino do cortiço, tivesse notycia alguma dos ocupantes da kombiii e dos fiaats. à tarde choveu tão yntensamente que as paredes dos edifycios que não haviam desabado na última tempestade ameaçaram ruir. todavia, pra surpresa de todos, as tais paredes mantiveram-se firmes, e no crepúsculo, quando já não se via mais nenhuma nuvem no céu, entre o moradores do lugar não se falou mais no assunto dos visitantes. {¿isto é um sonho ou a morte? dizem que na dimensão da morte as koisas e os seres se parecem muito com as koisas e os seres que existem na dimensão da vida.} vvavaa & mmatyldaa brigaram a  noyte toda. depois – afinal de contas era a  noyte do qüinquagésimo anyversário de mmatyldaa – transaram meio desajeytadamente entre as revistas e os jornais velhos. vvavaa não queria gozar muito rápido, sabia que não podia, mas tão logo penetrou mmatyldaa, aaah, aaaaaah, contra a própria vontade já estava gozando. gozou rápido, rapidinho, e mmatyldaa, sem perceber o que havia acontecido – o que sempre acontecia em seu aniversário –, se achegou a ele, querendo que o marido kontinuasse a se esfregar nela, mas vvavaa não quis kontinuar a se esfregar, estava exausto, estava acabado, e tornaram a trocar palavras duras, isso a princypio, em seguida sopapos… e uma xycara se espatifou na parede habitada por lobos invisyveis… uma xycara e um prato. – silêncio, filhos da puta! parem de quebrar o prédio. deixem quem trabalha o dya todo dormir – gritaram do quarto vizinho. mmatyldaa engasgou-se. foi até a parede habitada por lobos invisyveis e, fazendo uma concha com as mãos, retrucou: – sei que é você, aanytaa. não adianta disfarçar a voz. vagabunda, seu marido não pode virar as costas um minuto que você já está aí, de quatro, fodendo com o valfredoo. – ninguém respondeu. mas mmatyldaa, encostando o ouvido na parede, ouviu o zunzunzum de gente kochichando. o cochicho foi encerrado com um som de vidro se espatyfando no outro lado da parede. meio minuto depois a azáfama voltou à tona sob a forma de passos decididos. – porra, a vagabunda tá vindo aqui. – uma porta, entre centenas, foi aberta & fechada de supetão. os passos passaram a repercutir no vazio. a porta do quarto de vvavaa & mmatyldaa oscilou syncopadamente, komo a superfycie de um tambor. a maçaneta rodou diversas vezes sobre o próprio eixo e parou. houve um baque na metade de baixo da porta, um baque que repercutiu pelo corredor e pelas escadas. – pára de chutar minha porta, criatura dos diabos! – no entanto, quem apareceu no quarto, quando a fechadura cedeu e a frágil folha de madeira abriu-se deslocando boa parte do ar, não foi a aanytaa, foi o próprio valfredoo. – vvavaa, acaba com esse japonês salafrário – mmatyldaa ordenou. valfredoo, menos paciente do que de costume, não deu tempo a vvavaa pra que este esboçasse gesto algum. nem pra que começasse a suar, nem pra que pudesse dizer a mmatyldaa que calasse a boca: – olha aqui, vvavaa. joanaah não está nada bem. por favor, parem com essa algazarra. – a boa edukação de valfredoo de certo modo anulava seu porte de boxeador aposentado. ao receber um pedido quase polido no momento em que não podia haver pedido nenhum, o ajudante de pedreiro julgou-se muito maior do que o adversário: – ¿por favor?! ¿caralho, você vem até aqui pra me dizer por favor? fran, ca, men, te! – então parou de fazer teatro, chegou mais perto e falou, abaixando a voz: – ¿e a festa, meu amigo? ¿o que houve, ãh? ¿não combinamos uma festa surpresa pra mmatyldaa? valfredoo enrubesceu. os olhos puxados, as orelhas de abano e o bigode malcuidado davam-lhe a aparêncya de um personagem de desenho animado, ou de mangá dos anos oitenta. atravessou o pequeno quarto, pegou vvavaa pelo braço e o arrastou em silêncio para o corredor. – ¿você vai deixar, vvavaa? seu trouxa! ¿vai deixar esse troglodita fazer de você gato-sapato?! acerta o focinho dele, vvavaa – mmatyldaa andava de um lado pra outro, cofiando a barba que não possuya. acidentalmente tropeçou no violoncelo esquecido, que rodopiou e caiu fazendo estrondo. o companheiro teve ganas de se atirar sobre a mulher e de esbofeteá-la até a inkonsciência total, quem sabe até arrancar sua alma do korpo. porém também teve vergonha de se sentir tão infeliz & miserável na frente do melhor amigo. ah, o amor antigo! sabia que valfredoo amava mmatyldaa, que sempre a amara, sempre sempre, mesmo depois que ela preferira enroscar-se nele, vvavaa, no tampinha de garrafa, no enfezado, no que nunca dava mole pra ninguém. {esses movymentos sem movymento… essa gravidade sem gravidade… sem música nem cor… se isto for mesmo a morte, se na dymensão da morte as koisas e os seres se parecerem muito, muityssimo mesmo, com as koisas e os seres que existem na dimensão da vida, então escapar será impossyvel. ¿afinal, escapar pra onde?} no corredor valfredoo konfidenciou: – jooaana tá muito ruim. vomitou um pouko, a febre não quer baixar… ela já não sente mais as pernas nem os braços. acho que desta  noyte ela não passa. aanytaa tá ajudando com compressas quentes & massagem. – ¿estaria o amigo deixando escapar uma lágrima, uma gota de tristeza, um breve cristal visceral, mais de um {cinco ou seis}, ou seria apenas a luz sentimental da lua que entrava pela janelinha do fundo do corredor? que experiência hedionda, observar um homenzarrão desses {um gigante!} debulhar-se em lágrimas dessa forma, pensou vvavaa. meio sem jeito, resmungou: – vai ser melhor pra ela. ah, vai sim! desencarnar… ora se vai… está sofrendo demais – foi tudo o que konseguiu dizer e, mesmo assim, passou-se uma eternidade entre as cinco brevyssimas orações tiradas, na certa, de algum programa de tevê de quinta kategoria, desses que vão ao ar no domingo à tarde. valfredoo olhou-o fundo nos olhos. havia rancor em seu olhar. havia fúria homicida. ¿ou não? vvavaa não soube afirmar com certeza. por precaução tentou se explicar: – ei ei, calma lá, não me entenda mal. ¿você sabe o que eu quero dizer, não sabe? não é mole ficar o dya todo na cama, encarando o teto. ¿por que não compra uma tevê? nós já temos uma. ajuda a passar o tempo. – – ¿comprar? ¿uma tevê? ¿komo tem coragem de me sugerir isso? até onde eu sei, santo zheeuus, você roubou esse aparelho. da mesma maneyra que me roubou o barbeador elétrico, um ano atrás. – vvavaa estava com um olho em valfredoo e o outro na porta entreaberta do quarto vizinho, cuja fresta devagar foi ficando cada vez maior, até que a cabeça de aanytaa apareceu no vão: – homem, acaba logo com esse papo-furado. volta pra cá. a febre tá aumentando. tua mulher tá começando a delirar. – valfredoo, voltando à realidade, pegou vvavaa pelo cangote, komo as crianças são usualmente pegas quando não se comportam bem, e disse o que já havia dito, desta vez colocando nos braços a energia que não konseguia pôr nas palavras: – jooaana não tá nada bem. nada bem! tenho todo o direito de exigir de vocês um pouko de paz, ¿ou não tenho? por favor, parem de fazer algazarra. – mil anos se passaram. um transe… vvavaa despertou a tempo de testemunhar a porta do quarto contyguo se fechando, se fechando, fechou, enquanto as palavras repetidas kontinuavam vibrando no ar. {¿então este é o mundo dos mortos?} o ajudante de pedreiro e a mulher não fizeram mais ruydo algum. não porque tivessem se sentido intimydados pelas ameaças do vizinho. exaustos, apenas não encontraram mais forças pra kontinuar o bafafá, e dessa maneira sincera, um na cama molenga e o outro numa esteira estúpida estendida ao lado do armário de ferramentas, dormiram até o sol raiar. {o quarto não era muito grande, mas era um dos maiores do prédio.} devia ter uns quarenta metros quadrados de arabescos & firulas. quarenta & cinco, talvez. parecia menor devido ao diagrama asteca de tacos aqui e ali escuros & podres. na verdade não era bem um quarto. era uma sala com banheiro. e com uma bacia de cerâmyca incrustada numa bancada de alvenaria – obra apressada de vvavaa –, que os dois chamavam de cozinha. quando era necessário lavar alguma louça, usavam uma mangueira pra fazer cair ali a água da torneira do banheiro. da janelona sem persiana, emoldurada por paredes cinza e teto deskascado, apreciava-se o nascer do sol e a topografia do centro da cidade. olhar pra lá, numa  noyte sem nuvens e sem lua {noyte subversiva}, era o mesmo que olhar para o centro da galáxia. sem o auxylio de instrumentos, não dava pra se ter a mais vaga ideia da distância que separava os limites do bairro do marco zero do universo: a praça da seé. dormiram até o sol raiar, eu já disse… ainda na cama molenga, mmatyldaa virou de lado e enfiou, sem querer, o rosto na cortina. irritava-a perder o travesseiro justo no momento em que o sono queria fugir, mas o korpo – doyam-lhe as pernas, o abdome – ainda não estava completamente descansado. afastou o grosso tecido decorado com motyvos florais agora sem expressão, gastos, e olhou de lado. mesmo com os olhos abertos, não tinha certeza se kontinuava dormindo ou se já havia entrado a kontragosto no admirável novo dia. até que despertou de fato, com o falatório que subia da rua. – que diabos… merda. – resmungou. bateram na porta. ela não quis levantar & atender, preferindo gritar: – vvavaa! – gritou só uma vez e desistiu. que cacete, melhor deixar o dorminhoco kontinuar dormindo. uma chateação a menos logo de manhã. novas batidas. – vvaaavaaaaaa! – gritaram, agora, no corredor. paisagens onyricas, espaços sem pressão ou temperatura, movymento rápido dos olhos. o ajudante de pedreiro dormia profundamente. mmatyldaa fechou os olhos e procurou prestar atenção no que falavam lá embaixo, na feira livre em que se transformara a rua. pensou ter reconhecido a voz esganiçada da soolangeeh. – não, não é a soolangeeh… – pescou duas ou três palavras konhecidas, que imedyatamente desapareceram da sua memória. parecia não konseguir konectar vocábulo algum ao seu significado. tudo se misturava… escutou, pra seu espanto, o ronco do motor de um automóvel. {imedyatamente o pensamento voou e se fixou em goohmees, o mecânico com quem tivera um caso havia poukos meses e logo se mudara do bairro.} se konhecesse um pouko de poesia, mmatyldaa pensou meio sem pensar, trataria de associar essa lembrança momentânea a alguns versos delicados, refinadyssimos, a fim de que pudesse recuperá-la sempre que quisesse. – os momentos especiais… todos eles, por mais fugazes que sejam… podem ser encontrados, ah, sim… na grande poesia… na poesia dos mestres artyfices… kamõees, bylaac – o goohmees dissera certa vez. ele mesmo. goohmees, o mecânico que se vangloriava de ler os clássicos. goohmees, o sofisticado. o grande pau lyrico. mmatyldaa se irritava muito com o que ouvia dele. ¿por mais fugazes que sejam, os mestres artyfices, kamõees, bylaac?! não entendia o significado de tanta merda. o sujeito trepava bem pra caralho, mas ela não entendia nada de poesia. da mesma maneira que agora não entendia as palavras mais simples, gritadas na rua, essas palavras komo que passavam diante dos seus olhos, e tchau-tchau. passavam sem que ela konseguisse sequer juntar as letras e os fonemas, quanto mais assimilar seu sentido. – detesto quando me comparam à porra da poesia – bocejou alto, suspirou desmazeladamente, na verdade adorando ter sido, ao menos uma vez na vida, comparada à poesia. – você é ritmo & rima, meu amor, é poesia pura – foi o que ele dissera depois da foda. a lembrança inspirou mmatyldaa, que enfiou a mão na kalcinha e começou a bater uma siririca suave. {a umydade tropical, nacional, penetrava todos os poros, todos os korpos, uma volátil & humilde umidade, metade verde & metade amarela.} pouko depois vvavaa acordou enrolado no lençol, envolvido ainda pela elipse da letargia, perdido nos rodamoinhos do sono. jamais se acostumaria a passar a  noyte no chão. ergueu-se sem saber komo, já que não possuya mais nenhum osso. haviam sido triturados durante as horas que passara na esteira estúpida. ergueu-se, e cambaleando, ainda grogue, entre ontem & hoje, sentou na primeyra cadeira que enkontrou, coincidentemente a única do quarto. – ai ai, acabou o sossego – a mulher resmungou. – faz muito tempo. trinta anos. desde o maldito dya em que te levei ao altar daquela igreja do capeta. – mmatyldaa foi ao banheiro e o ajudante de pedreiro deixou-se ficar ali, largado ao lado da pequena mesa sem toalha nem enfeites, à espera de que a força esmagadora dos sonhos fosse, devagar, tornando-se menos insuportável, abandonado feito um mergulhador que voltasse abruptamente de uma grande profundydade e tivesse, por isso, de passar algum tempo na câmara de descompressão. foi quando se deu conta de que algo importante estava em curso, algo de que não podia ficar de fora. ¿mas onde? virou-se um pouko, esticou o braço e pegou, de cima do aparelho, o kontrole remoto da tevê. ligou a caixa de ilusões alopradas e começou a passear pelos canais. dois, três, quatro, cinco, sete, nove, onze, treze, quinze. {nada.} {nadinha, neca de pitibiriba.} alguém gritooouuu na rua. vvavaa foi até a janela e, mesmo tendo os olhos meio ofuscados pelo sol, viu que uma multidão havia se formado na entrada do cortiço. ¿de onde teria vindo tanta gente? olhou com bastante atenção: os dois fiaats e a kombiii – as portas ainda abertas – estavam estacionados a poukos metros do centro do furacão. pela primeyra vez koncluiu que prestar atenção nas cores dos veyculos {azul, bege & branco, respectyvamente} era algo que devia ter feito na primeyra vez que os avistara. – que diabos… são mesmo eles! – vestiu uma bermuda e correu pra fora do quarto. ainda no corredor, pensou se não seria uma boa ideia chamar o valfredoo. komo a porta do quarto vizinho estivesse fechada, koncluiu: não, não era uma boa ideia. – quase estourou minha fechadura, o desgraçado – lembrou-se, já na portaria, de mais este argumento contra o réu em que o melhor amigo se transformara da  noyte para o dia, por razões difyceis de aceitar. {na rua, manteve distância.} não reconheceu de ymediato boa parte dos rostos que passaram por ele. e mesmo os que chegou a reconhecer preferiu evitar, sábia decisão, era gente do cortiço com quem não se dava lá muito bem. aliás, excetuando-se valfredoo – na medida do possyvel em que este podia ser konsiderado exceção –, mmatyldaa e o ajudante de pedreiro não se davam bem com ninguém da espelunca onde moravam. paavãoo, outro ajudante de pedreiro – com quem raramente costumava trabalhar, afinal dois ajudantes num único

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