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Científica Ficção #003
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Científica Ficção #003
E-book327 páginas4 horas

Científica Ficção #003

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Sobre este e-book

A terceira edição da Científica Ficção faz algumas viagens no tempo, escancara os paradoxos e mergulha numa aventura espacial que não deixa nada a desejar para as histórias espada e magia! Começamos com Alfred Coppel e uma verdadeira aventura bárbara no espaço, uma ópera espacial recheada de guerreiros prestes a travar uma guerra civil na novela "O rebelde de Valkyr". Em "... e chega até aqui", Lester Del Rey inicia nosso debate sobre paradoxos temporais com uma história que pode dar um nó na realidade! Do controverso Sam Moskowitz, "Mundo de imitação" nos faz colidir contra a lua Ganimedes junto com John Hall, um astronauta que encontra estranhas criaturas capazes de imitar tudo o que veem e... talvez mais que isso. A nossa lua se tornou um tormento esverdeado no céu, os seres vivos caem num estado de quase morte e criaturas bestiais invadem o planeta em "Lua verde", de Hall K. Wells! Já o escritor Miles J. Breuer nos levará para o meio dos Estados Unidos, para uma estranha invasão de soldados... romanos! Armados com lanças e espadas, navegando galés e pilotando bigas. Isso é o que teremos em "Invasão romana". E com o mestre Philip K. Dick, retornamos a Ganimedes, desta vez para tentar defender nossos portos e salvar as colônias de Proxima Centauri. Os cientistas aliados tentarão vencer a guerra com as armas do inimigo, mas antes precisam entender como ela funciona e embarcar nessa "Nave capturada". O conto original desta vez fica por conta do escritor e designer Rodrigo Teixeira, com "A voz do tempo", que nos revela o caos da descoberta de uma máquina do tempo e seu uso desenfreado! Fechamos nossa edição com um passeio ao cinema, com as adaptações de "Who Goes There?", começando por "O monstro do Ártico", de 1951, depois "Enigma do Outro Mundo" e, por fim "The Thing" (2011). Pegue seu ingresso e venha se sentar aqui para assistir!​
IdiomaPortuguês
EditoraTramatura
Data de lançamento2 de mai. de 2024
ISBN9786585657181
Científica Ficção #003

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    Científica Ficção #003 - Alfred Coppel

    Sumário

    Científica Ficção #003

    Citação de abertura

    Editorial

    Conto 1

    O Rebelde de Valkyr

    Sobre Alfred Coppel

    Ilustração de Allen Anderson.

    A arte de Allen Anderson

    Conto 2

    ... e chega até aqui

    Sobre Lester Del Rey

    Conto 3

    Mundo de imitação

    Sobre Sam Moskowitz

    Conto 4

    Lua verde

    Sobre Hal K. Wells

    Conto 5

    Invasão romana

    Sobre Miles J. Breuer

    Conto 6

    Nave capturada

    Sobre Philip K. Dick

    Conto 7

    A voz do tempo

    Sobre Rodrigo Teixeira

    Scifi Cinema

    O Monstro do Ártico, de 1951.

    Enigma do Outro Mundo, de 1982

    The Thing, de 2011

    Correspondência Intergaláctica

    Copyright Científica Ficção #003

    Científica Ficção #003

    Alfred Coppel

    Allen Anderson

    Lester Del Rey

    Sam Moskowitz

    Hal K. Wells

    Miles J. Breuer

    Philip K. Dick

    Escritor convidado: Rodrigo Teixeira

    Ilustração da capa: Alessandro Abrahão

    Tradução de: Jefferson Sarmento

    TramaturaLogoEbook

    A realidade é aquilo que, quando você para de acreditar, não desaparece.

    Philip K. Dick

    Editorial

    Cá estamos nós no terceiro volume da Científica Ficção! E já abrimos esse número tocando na ferida exposta nas duas primeiras edições e na Gritos de Horror: você notou a nossa capa?

    Que bom que sim — esperamos que sim! Depois de muita controvérsia, muitas críticas e sugestões, finalmente temos nosso primeiro número com uma arte humana. Podemos chamar de arte IH? — de Inteligência Humana? Está bem, isso foi meio infame. Mas é real. A arte de capa da nossa terceira edição foi um presente que um dos nossos leitores enviou. E aqui cabe uma explicação: passamos parte do tempo de produção buscando um ilustrador que conseguisse emular o tipo de arte que caras como Allen Anderson, H. J. Ward, Samson Pollen, Margaret Brundage... entregavam para as revistas pulp. Não estava sendo fácil. Estávamos quase fechando esta edição e então batemos o olho na arte que havíamos recebido por um direct de Instagram.

    — Ei, espere aí! Deixa eu colocar essa arte na capa da CF#3 pra ver como fica... — disse nosso capista. E buuuuuum!

    Alguma coisa explodiu dentro das nossas cabeças.

    Sendo assim, leitoras e leitores, apresentamos a vocês Alessandro Abrahão, nosso ilustrador de capa, inaugurando a primeira de uma Era! E podem acreditar que veremos mais de sua arte por aqui. Principalmente porque, quando demos uma olhada nessa pintura digital maravilhosa que ele nos entregou, parecia que estávamos vendo aquela imagem numa Astounding, numa Amazing, numa Imagination!

    Na contracapa da edição física nós temos a arte da edição de outono de 1950 da "Planet Stories" — mas não se sinta órfão por estar lendo a edição em ebook, pois reproduzimos a capa logo abaixo deste parágrafo. Quanto a Planet, ela teve 71 edições, publicadas entre 1939 e 1955, nascida quase que ao mesmo tempo que "Planet Comics", revista em quadrinhos de ficção científica da Fiction House que, como sua irmã literária, dedicava-se a óperas espaciais cheias de aventuras com heróis musculosos que se lançavam em batalhas espaciais para salvar lindas donzelas em perigo, sempre às voltas com criaturas maléficas do espaço sideral ou perversos impérios intergalácticos tentando dominar o universo! A arte que ilustrou a capa da edição que trouxemos foi pintada por Allen Anderson, e abrimos com ele uma nova seção aqui na CF: já que passamos a incluir artistas de verdade (e não copiadoras digitais anabolizadas), nada mais justo do que falarmos também dos maiores desenhistas, ilustradores e pintores (sim, grande parte das artes de capa das revistas pulp traziam ilustrações pintadas — em geral em aquarela) que tornaram essas publicações muito mais atrativas, sedutoras aos olhos dos leitores.

    Reprodução da capa da Planet Stories do outono de 1950

    Mas essa contracapa não está ali à toa. Foi da "Planet Stories do outono de 1950 que garimpamos a primeira história desta edição. Decidimos que era hora de trazermos uma ópera espacial para a Científica Ficção. E estreamos com a noveleta O Rebelde de Valkyr", de Alfred Coppel. É impossível não fazer um paralelo justíssimo com os criadores de aventuras espada e magia aqui. Todos os elementos que fizeram das aventuras de Conan, O Bárbaro, de Robert E. Howard, um sucesso estão aqui. Enquanto trabalhávamos na história e nos enveredávamos pelos mundos do Império de Coppel, parecia que estávamos lendo uma das aventuras do cimério! Se você se lembrar de Duna, Star Wars, Flash Gordon, do filme Krull... enquanto lê a história do guerreiro rei-estelar de Valkyr, saiba que isso não é mera coincidência.

    Entre viagens espaciais, paradoxos temporais, acidentes interplanetários e até uma invasão romana, foram mais seis histórias buscadas diretamente da Era de Ouro (e adjacências). Para nossa seção Scifi Cinema trouxemos não um, mas três adaptações do conto "Who Goes There?", de John W. Campbell Jr.: O Monstro do Ártico, Enigma do Outro Mundo e The Thing (aquele prequel bacaníssimo de 2011, com Mary Elizabeth Winstead).

    Pois bem, fechamos este nosso editorial alertando para algumas edições que estão já em produção aqui na Tramatura: a Gritos de Horror #002 — em fase de tradução; a Científica Ficção #004, claro — estamos em fase de curadoria das histórias e de busca de um conto de autor nacional para apresentar a vocês; uma edição nova de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, vinda diretamente das edições pulp de aventura da década de 1910 — especificamente da All-Story Magazine de outubro de 1912; e por fim: a estreia de dois autores nacionais de ficção científica, terror e fantasia que nós amamos ter conhecido. Aguardem, porque teremos uma revista-livro novíssima (em todos os sentidos) aportando por aqui com a Fronteiras da Imaginação, de J.C. Carbel e Marcos Ferrer.

    Cara, você não perde nadinha por esperar!

    No mais...

    Boa leitura!

    Tramatura

    Da Idade das Trevas do Espaço surgiu o Segundo Império — governado por uma criança, um usurpador, um tolo! O Grande Trono da Terra Imperial comandava mil mundos vassalos — mundos sombrios e famintos que sussurravam taciturnamente sobre uma revolta galáctica. Por fim, como águias num ninho distante, os reis-estelares reuniram-se não para confabular, mas para guerrear!

    O Rebelde de Valkyr

    de Alfred Coppel

    Publicado originalmente na

    Planet Stories

    no outono de 1950

    Da Idade das Trevas do Interregno emergiu o Segundo Império. Mais uma vez, no espaço de um milênio, a bandeira da Terra Imperial tremulava acima das terras dizimadas dos mundos habitados. Quatro gerações de conquistadores, herdeiros do grandioso legado dos Mil Imperadores, recriaram o Império Galáctico, agora pela força das armas. Mas a tecnologia, que os povos chamavam de O Grande Destruidor, era temida e proibida. Apenas bruxos, magos e feiticeiros se lembravam do antigo conhecimento, mas as turbas, torturadas pelas memórias de toda uma raça sobre a terrível destruição das Guerras Civis, apedrejaram esses guardadores do saber e queimaram-nos nas praças das cidades construídas entre os escombros das antigas guerras. As antigas e poderosas naves espaciais — indestrutíveis, eternas — transportavam homens e cavalos, fogo e espadas através da Galáxia, a pedido dos senhores da guerra. O Segundo Império — quatro gerações de selvageria feudal e sombria — mantinha-se unido por laços forjados a sangue e ferro, mas também pela lealdade dos reis-estelares, guerreiros em sua mais profunda essência.

    — Quintus Bland, Ensaios sobre História Galáctica

    I

    Kieron, Senhor da Guerra de Valkyr, andava de um lado para outro no chão polido. Ele tinha raiva. As luzes bruxuleantes da vasta câmara espelhada brilhavam nas joias de sua armadura cerimonial e reluziam ao longo de sua capa prateada. Por um momento, o rei-estelar parou diante das altas portas duplas, forjadas em bronze batido, suas mãos fortes brincando com o punho da espada. Os imponentes janízaros da Guarda do Palácio permaneciam imóveis de cada lado da porta em arco, com os seus grandes machados apoiados sobre o piso brilhante. Era como se os pensamentos sombrios que passavam pela mente de Kieron fossem — para eles — insondáveis. Os enormes guerreiros dos planetas mais brutais das Plêiades eram impassíveis, leais e incapazes de pensamentos que extrapolassem o significado material do que viam. E mesmo um rei-estelar jamais sonharia em atacar os portais fechados dos aposentos do Imperador.

    Os dedos de Kieron abriram e fecharam espasmodicamente sobre o punho incrustado de pedras preciosas de sua arma. Seus olhos escuros brilhavam com fúria incontida. Murmurando um juramento, ele se afastou da porta silenciosa e voltou a andar. Seu companheiro, um homem mais velho, abrutalhado, usando o uniforme de batalha de Valkyr, observava-o em silêncio por baixo de espessas sobrancelhas amarelas. Tinha os braços cruzados sobre o peito, encimando as tranças de cabelos amarelos e grisalhos que lhe pendiam até a cintura. O rosto era sulcado por rugas profundas, emoldurado pelos laços soltos de um capacete com asas nas têmporas. Uma enorme espada repousava em sua coxa nua — uma lâmina enorme, com cabo desgastado e manchado de suor.

    O senhor de Valkyr interrompeu seus furiosos movimentos e encarou o ajudante.

    — Pelo Grande Destruidor, Nevitta! Quanto tempo mais vamos aguentar isso?

    — Paciência, Kieron, paciência — o velho guerreiro falou com a segurança de alguém que conhecia o rei-estelar desde sempre. — Eles estão nos testando ao limite, eu sei. Mas já esperamos três semanas, um pouco mais não fará mal.

    — Três semanas! — Kieron fez uma careta para Nevitta. — Será que eles querem que nos rebelemos? É essa a intenção deles? Juro que não toleraria uma coisa assim do próprio Gilmer!

    — O Grande Imperador nunca teria nos tratado assim. Os guerreiros de Valkyr sempre foram muito próximos de seu coração, Kieron. A maneira como estão lidando conosco agora parece ser coisa daquela mulher. — Ele cuspiu no chão polido. — Que os Sete Infernos reivindiquem sua alma!

    Kieron grunhiu brevemente e virou-se novamente em direção à porta silenciosa. Ivane! Ivane, a Bela! Ivane, a Maquinadora. Que bebida do diabo ela estava misturando agora? A intriga sempre fora sua arma — e agora que Gilmer havia morrido e ela estava ao lado do Grande Trono...

    Kieron a amaldiçoou baixinho. Nevitta falava a verdade. Ivane estava por trás daquilo, tão certo quanto estrelas formavam galáxias!

    Três semanas desperdiçadas. Longas semanas. Vinte e um dias inteiros desde que suas naves chegaram à Cidade Imperial. Dias de luta contra os enxames de diletantes e alcoviteiros que lotavam o Palácio Imperial. Houve momentos em que Kieron quis abrir caminho por entre os dândis bajuladores com sua espada!

    Gilmer de Kaidor jazia morto há um ano e a nova Corte era um hospício de bajuladores afetados. O número de petições crescia e apenas os favoritos recebiam a generosidade do menino-imperador Toran. E Kieron sabia muito bem que quaisquer favores concedidos passavam pelas mãos ambiciosas da Consorte Ivane. Ela jamais usaria uma coroa de Imperatriz, porque não tinha o sangue dos Mil Imperadores em suas veias, mas até agora ninguém na Corte negava que ela era quem decidia tudo no Império. No entanto, isso não era suficiente para ela, Kieron sabia. Ivane sonhava bem mais. E por conta de todo aquele jogo de sombras, os antigos aliados do guerreiro Gilmer iam sendo desprezados, seus pedidos de audiência recusados sumariamente. Um novo círculo interno estava sendo construído, e Kieron de Valkyr não estava nele — era fácil de ver. Fora impedido até mesmo de apresentar suas justas reclamações ao Imperador Toran.

    Outros assuntos, disseram-lhe repetidas vezes, ocupavam a atenção de Sua Majestade Imperial. Outros assuntos! Kieron podia sentir o calor da ira latejando em suas veias. Que outras questões poderiam ser mais importantes para um soberano do que a lealdade dos seus melhores guerreiros? Se Toran era um tolo, como afirmavam os cortesãos quando cochichavam nas sombras, certamente Ivane era perspicaz o suficiente para perceber o risco de manter um Senhor da Guerra das Fronteiras Exteriores congelando os calcanhares nas antecâmaras do palácio por três semanas! Lady Ivane, ela mesma tão orgulhosa, deveria saber o quão perto de uma rebelião estavam os povos guerreiros da Periferia.

    Instado por aquelas provocações sórdidas, era difícil para Kieron ignorar o convite de Freka de Kalgan para se reunir com os outros reis-estelares no conselho dos queixosos. Uma rebelião não era algo que Kieron aceitasse facilmente. Passara a juventude lutando ao lado de Gilmer! Contudo, havia limite para a resiliência de um homem. E ele estava chegando a esse limite rapidamente.

    — Nevitta — Kieron falou abruptamente. — Você conseguiu descobrir alguma coisa sobre Lady Alys?

    O guerreiro de cabelos grisalhos balançou a cabeça.

    — Nada além das fofocas da Corte. Dizem que ela se isolou, ainda de luto por Gilmer. Você sabe, Kieron, como a princesinha amava seu pai.

    O senhor de Valkyr franziu a testa pensativamente. Sim, era verdade que Alys amava Gilmer. Lembrava-se dela ao lado do Grande Imperador após a batalha de Kaidor. Até mesmo os senhores das terras conquistadas daquele mundo alegavam que Gilmer teria se rendido, entregando o planeta sem lutar, se tivessem conseguido capturar sua filha. O vínculo entre pai e filha era estreito. Era mesmo possível que Alys tivesse se isolado para continuar com seu luto — mas Kieron duvidava disso. Esse não teria sido o caminho que Gilmer tomaria, nem sua filha.

    — As coisas seriam diferentes — disse Nevitta, cheio de sentimento —, se a princesa governasse no lugar de Toran.

    Muito diferentes — pensou Kieron. O tolo Toran arriscava perder o que quatro gerações de combatentes leais haviam construído a partir dos escombros da Idade das Trevas. Alys, a princesa guerreira, buscaria novas glórias para o Império, jamais correria o risco de vê-la encolher. Mas Kieron entendia que seus pensamentos tendiam a favor dela. Era difícil não ser assim.

    Ele se lembrou de seus olhos alegres e de sua coragem. Uma criança ágil, com seus jeitos e trejeitos assertivos. Envergonhando-o diante de suas ruidosas tropas de Valkyr ao declarar a ele seu mais profundo amor. Os exércitos a adoravam. Uma criança tão amável — com o orgulho de pertencer à linhagem de seu pai estampado no rosto. Mas ela era caridosa também. Confortava com ternura os moribundos e os feridos pessoalmente, sempre com uma palavra de consolo, um toque carinhoso.

    Oito anos haviam se passado desde a sangrenta batalha de Kaidor. A criança de doze anos seria uma mulher agora. E uma ameaça ao poder ascendente da Consorte Ivane... — Kieron considerou com temor.

    As altas portas de bronze se abriram de repente e Kieron se virou. Mas não foi o Imperador quem surgiu emoldurado pelo arco, nem mesmo a Consorte. Era Landor, o Primeiro Lorde do Espaço, metido em seus trajes carregados de pedras preciosas.

    Kieron bufou com escárnio. Primeiro Senhor! As sombras dos poderosos guerreiros que um dia defenderam aquele título em milhares de batalhas na Terra Imperial ficariam enojadas com a escolha que o jovem Toran fizera... Ou que Ivane fizera, ao indicar o cortesão afetado que agora estava diante dele.

    Os cortesãos mais cínicos diziam que Landor havia conquistado suas honras na cama de Ivane, e Kieron achava que isso podia muito bem ser verdade. Nos vastos vazios da Borda, os homens viviam segundo padrões diferentes. Lá fora, uma mulher devia ser respeitada, valorizada, amada, embora alguns canalhas às vezes as rejeitassem depois de usá-las. Mas uma mulher jamais seria usada como um atalho indigno para a riqueza e o poder — guerreiros conquistavam seu espaço com honra!

    Kieron odiara Landor à primeira vista, e havia motivos suficientes para acreditar que o Primeiro Lorde retribuía esse sentimento. Não era recomendável para ninguém, mesmo um Senhor da Guerra, desprezar abertamente os favoritos da Consorte — mas a moderação não era uma das virtudes do senhor de Valkyr, embora até mesmo Nevitta o alertasse para tomar cuidado. Assassinatos e traições eram uma arte na Cidade Imperial — e amplamente incentivados pelo Primeiro Lorde do Espaço.

    — E então, Primeiro Lorde Landor? — Kieron exigiu, o desdém escorrendo de sua boca ao usar o título de Landor.

    As feições suaves do assecla de Ivane não mostravam expressão — olhos claros velados como os de uma serpente.

    — Lamento — disse o Primeiro Lorde do Espaço com facilidade. — Sua Majestade Imperial já se recolheu para descansar em seus aposentos, Valkyr. Dadas as circunstâncias...

    Ele abriu as mãos delgadas em um gesto de desamparo.

    A mentira era óbvia. Pela porta aberta dos aposentos reais vinha o som murmurante de risadas e a melodia estridente da flauta de um menestrel entoando a antiga balada de Lady Greensleeves. Kieron pôde ouvir a voz esganiçada de Toran cantando:

    Greensleeves foi toda a minha alegria

    Greensleeves foi toda a minha alegria

    E quem senão Lady Greensleeves?

    Kieron podia quase ver aquele garoto tolo prostrando-se diante da exuberante Ivane, tentando ganhar com versos o que qualquer homem poderia ter ao prometer lealdade à Consorte.

    O Valkyr encarou Landor.

    — Ele não vai me receber, é isso? Pelos Sete Infernos, por que você não diz o que quer dizer?

    O sorriso de Landor foi desdenhoso.

    — Vocês, estrangeiros da Borda! Precisam aprender onde é verdadeiramente o seu lugar. Talvez mais tarde...

    — Mais tarde já estará tudo perdido! — retrucou Kieron. — Meu povo está morrendo de fome agora! Seus coletores de impostos estão nos torturando! Quanto tempo você acha que eles vão suportar? Quanto tempo você acha que eu vou suportar?

    — Isso é uma ameaça, Valkyr? — perguntou o Primeiro Lorde, seus olhos de repente venenosos. — Está ameaçando seu Imperador? Homens foram chicoteados até a morte por muito menos.

    — Não os homens de Valkyr — retrucou Kieron.

    — Os homens de Valkyr já não gozam dos mesmos privilégios de antes, Kieron. Aconselho você a se lembrar disso.

    — É verdade — Kieron respondeu com desdém. — Enquanto Gilmer era imperador, os guerreiros eram o poder do Império. Agora Toran governa pelas mãos de mulheres desfrutáveis e... e mestres de dança.

    O rosto do Primeiro Lorde se contraiu com o insulto. Ele levou a mão ao punho de sua espada ornamentada, mas os olhos do Valkyr permaneceram impassíveis em sua insolência. O enorme Nevitta se virou, olhando para os janízaros das Plêiades em guarda na porta, prontos para entrarem ao menor sinal de problemas.

    Mas Landor não tinha coragem de sacar a espada — especialmente contra um lutador tão experiente e ágil como o Senhor da Guerra de Valkyr. Sua língua afiada era sua melhor arma, quase tão boa quanto o aço. Com certa relutância, ele se forçou a sorrir. Era um sorriso frio, carregado de um perigo sutil.

    — Palavras duras, Valkyr. E imprudentes. Não as esquecerei. Duvido que você consiga ver Sua Majestade, já que não acredito que as tribulações de um planeta de selvagens o preocupem. Você perde seu tempo aqui. Se você tem outros assuntos, é melhor cuidar deles.

    Foi a vez de Kieron sentir o aguilhão da raiva queimando em sua carne.

    — Essas são as palavras de Toran ou do mestre de dança de Ivane?

    — A Consorte Ivane, é claro, concorda. Se o seu povo não pode pagar seus impostos, deixe-os vender alguns de seus pirralhos como escravos — disse Landor suavemente.

    A sorte está lançada, então — pensou Kieron furiosamente. Toda a esperança de uma aliança com Toran havia desaparecido. Restava apenas um caminho agora.

    — Nevitta! Certifique-se de que nossos homens e cavalos embarquem esta noite, que as naves estejam preparadas para cruzarmos o espaço!

    Nevitta fez uma saudação e virou-se para ir embora, mas fez também uma pequena pausa, entre um passo e outro. Olhou insolentemente para o Primeiro Lorde e cuspiu deliberadamente no chão. E se foi, o metal de suas esporas ressoando enquanto desaparecia através do arco alto da passagem.

    — Selvagem — murmurou Landor.

    — Selvagem o suficiente para ser leal e digno de alta confiança — disse Kieron. — Mas você jamais entenderia isso.

    Landor ignorou o insulto.

    — Para onde você vai agora, Valkyr?

    — Embora deste planeta.

    — Claro — Landor sorriu levemente, suas sobrancelhas arqueando sobre olhos claros e astutos. — Para fora do planeta.

    Kieron percebeu que havia suspeita ali. O quanto Landor sabia? Teriam seus espiões rompido o cordão de contraespionagem de Freka, o Desconhecido, e trazido a notícia da reunião dos reis-estelares em Kalgan?

    — Não é da sua conta para onde vou, Landor — disse Kieron severamente. — Você ganhou desta vez. Mas... — Kieron deu um passo para mais perto do afetado comandante do

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