Científica Ficção #003
()
Sobre este e-book
Autores relacionados
Relacionado a Científica Ficção #003
Títulos nesta série (3)
Científica Ficção #001 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCientífica Ficção #002 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCientífica Ficção #003 Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ebooks relacionados
Científica Ficção #001 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistórias de horror e mistério Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO reino dos elfos: romance de fantasia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVampiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMúltiplo 53 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCientífica Ficção #002 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO chamado selvagem Nota: 4 de 5 estrelas4/5Lorde Jim Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTrilhas do Pé Grande: Uma coleção de esquadrão Creep # 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPela a Coroa E O Dragão: Duologia do Reino Triplo, #1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscapando do Inferno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDRÁCULA - Bram Stocker Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA casa do juiz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO olho maligno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA corrente do destino Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBox - A ficção científica de H. G. Wells Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Montanha Da Passagem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRobur, o Conquistador Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Essencial De Lovecraft Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Chamado da Floresta - Nova edição Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Voto De Glória (Livro #5 Da Série: O Anel Do Feiticeiro) Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Arte do Terror: História Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Casa do Vampiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMissão para Mightadore Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVazio Entre as Estrelas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm esqueleto Nota: 5 de 5 estrelas5/5Nas Profundezas Sombrias: Contos do Mar de Steve Vernon Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEl País de los Ciegos: Y otros relatos Nota: 3 de 5 estrelas3/5Mundos apocalípticos Nota: 4 de 5 estrelas4/5A ilha do dr. Moreau Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção Científica para você
Os Círculos Ingleses E Suas Mensagens Extraterrestres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMúltiplo 35 Nota: 3 de 5 estrelas3/5O homem invisível Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA marca da besta Nota: 5 de 5 estrelas5/5Braço De Órion Nota: 5 de 5 estrelas5/5Guerra Mundial Z: Uma história oral da guerra dos zumbis Nota: 4 de 5 estrelas4/5Starsight: Veja além das estrelas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Batman - o cavaleiro de Arkham: O lance do Charada Nota: 5 de 5 estrelas5/5Um Voto De Glória (Livro #5 Da Série: O Anel Do Feiticeiro) Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sonhando com o Apocalipse Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBox - A ficção científica de H. G. Wells Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vinte mil léguas submarinas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUniverso Alien: Se os extraterrestres existissem... cadê eles? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo aprendi a amar o futuro: Contos solarpunk Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMundos apocalípticos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Transformada (Livro Número 1 na série Memórias de um Vampiro) Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Máquina do Tempo de Adolf Hitler: Uma Aventura no Tempo que Mudará o Curso da História - Romance Histórico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEm Busca de Heróis (Livro #1 O Anel Do Feiticeiro) Nota: 4 de 5 estrelas4/5Senhores da escuridão Nota: 5 de 5 estrelas5/5Interestelar Nota: 4 de 5 estrelas4/5O médico e o monstro Nota: 3 de 5 estrelas3/5Éden Nota: 3 de 5 estrelas3/5A Realidade de Madhu Nota: 5 de 5 estrelas5/5Homem-Aranha: Entre trovões Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Máquina do Tempo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Um Destino De Dragões (Livro #3 O Anel Do Feiticeiro) Nota: 5 de 5 estrelas5/5Skyward: Conquiste as estrelas Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Ilha do Dr. Moreau Nota: 4 de 5 estrelas4/5Quando as estrelas caem Nota: 4 de 5 estrelas4/5As águas-vivas não sabem de si Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Avaliações de Científica Ficção #003
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Científica Ficção #003 - Alfred Coppel
Sumário
Científica Ficção #003
Citação de abertura
Editorial
Conto 1
O Rebelde de Valkyr
Sobre Alfred Coppel
Ilustração de Allen Anderson.
A arte de Allen Anderson
Conto 2
... e chega até aqui
Sobre Lester Del Rey
Conto 3
Mundo de imitação
Sobre Sam Moskowitz
Conto 4
Lua verde
Sobre Hal K. Wells
Conto 5
Invasão romana
Sobre Miles J. Breuer
Conto 6
Nave capturada
Sobre Philip K. Dick
Conto 7
A voz do tempo
Sobre Rodrigo Teixeira
Scifi Cinema
O Monstro do Ártico, de 1951.
Enigma do Outro Mundo, de 1982
The Thing, de 2011
Correspondência Intergaláctica
Copyright Científica Ficção #003
Científica Ficção #003
Alfred Coppel
Allen Anderson
Lester Del Rey
Sam Moskowitz
Hal K. Wells
Miles J. Breuer
Philip K. Dick
Escritor convidado: Rodrigo Teixeira
Ilustração da capa: Alessandro Abrahão
Tradução de: Jefferson Sarmento
TramaturaLogoEbookA realidade é aquilo que, quando você para de acreditar, não desaparece.
Philip K. Dick
Editorial
Cá estamos nós no terceiro volume da Científica Ficção! E já abrimos esse número tocando na ferida exposta nas duas primeiras edições e na Gritos de Horror: você notou a nossa capa?
Que bom que sim — esperamos que sim! Depois de muita controvérsia, muitas críticas e sugestões, finalmente temos nosso primeiro número com uma arte humana. Podemos chamar de arte IH? — de Inteligência Humana? Está bem, isso foi meio infame. Mas é real. A arte de capa da nossa terceira edição foi um presente que um dos nossos leitores enviou. E aqui cabe uma explicação: passamos parte do tempo de produção buscando um ilustrador que conseguisse emular o tipo de arte que caras como Allen Anderson, H. J. Ward, Samson Pollen, Margaret Brundage... entregavam para as revistas pulp. Não estava sendo fácil. Estávamos quase fechando esta edição e então batemos o olho na arte que havíamos recebido por um direct de Instagram.
— Ei, espere aí! Deixa eu colocar essa arte na capa da CF#3 pra ver como fica... — disse nosso capista. E buuuuuum!
Alguma coisa explodiu dentro das nossas cabeças.
Sendo assim, leitoras e leitores, apresentamos a vocês Alessandro Abrahão, nosso ilustrador de capa, inaugurando a primeira de uma Era! E podem acreditar que veremos mais de sua arte por aqui. Principalmente porque, quando demos uma olhada nessa pintura digital maravilhosa que ele nos entregou, parecia que estávamos vendo aquela imagem numa Astounding, numa Amazing, numa Imagination!
Na contracapa da edição física nós temos a arte da edição de outono de 1950 da "Planet Stories" — mas não se sinta órfão por estar lendo a edição em ebook, pois reproduzimos a capa logo abaixo deste parágrafo. Quanto a Planet, ela teve 71 edições, publicadas entre 1939 e 1955, nascida quase que ao mesmo tempo que "Planet Comics", revista em quadrinhos de ficção científica da Fiction House que, como sua irmã literária, dedicava-se a óperas espaciais cheias de aventuras com heróis musculosos que se lançavam em batalhas espaciais para salvar lindas donzelas em perigo, sempre às voltas com criaturas maléficas do espaço sideral ou perversos impérios intergalácticos tentando dominar o universo! A arte que ilustrou a capa da edição que trouxemos foi pintada por Allen Anderson, e abrimos com ele uma nova seção aqui na CF: já que passamos a incluir artistas de verdade (e não copiadoras digitais anabolizadas), nada mais justo do que falarmos também dos maiores desenhistas, ilustradores e pintores (sim, grande parte das artes de capa das revistas pulp traziam ilustrações pintadas — em geral em aquarela) que tornaram essas publicações muito mais atrativas, sedutoras aos olhos dos leitores.
Reprodução da capa da Planet Stories do outono de 1950Mas essa contracapa não está ali à toa. Foi da "Planet Stories do outono de 1950 que garimpamos a primeira história desta edição. Decidimos que era hora de trazermos uma ópera espacial para a Científica Ficção. E estreamos com a noveleta
O Rebelde de Valkyr", de Alfred Coppel. É impossível não fazer um paralelo justíssimo com os criadores de aventuras espada e magia aqui. Todos os elementos que fizeram das aventuras de Conan, O Bárbaro, de Robert E. Howard, um sucesso estão aqui. Enquanto trabalhávamos na história e nos enveredávamos pelos mundos do Império de Coppel, parecia que estávamos lendo uma das aventuras do cimério! Se você se lembrar de Duna, Star Wars, Flash Gordon, do filme Krull... enquanto lê a história do guerreiro rei-estelar de Valkyr, saiba que isso não é mera coincidência.
Entre viagens espaciais, paradoxos temporais, acidentes interplanetários e até uma invasão romana, foram mais seis histórias buscadas diretamente da Era de Ouro (e adjacências). Para nossa seção Scifi Cinema trouxemos não um, mas três adaptações do conto "Who Goes There?", de John W. Campbell Jr.: O Monstro do Ártico, Enigma do Outro Mundo e The Thing (aquele prequel bacaníssimo de 2011, com Mary Elizabeth Winstead).
Pois bem, fechamos este nosso editorial alertando para algumas edições que estão já em produção aqui na Tramatura: a Gritos de Horror #002 — em fase de tradução; a Científica Ficção #004, claro — estamos em fase de curadoria das histórias e de busca de um conto de autor nacional para apresentar a vocês; uma edição nova de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, vinda diretamente das edições pulp de aventura da década de 1910 — especificamente da All-Story Magazine de outubro de 1912; e por fim: a estreia de dois autores nacionais de ficção científica, terror e fantasia que nós amamos ter conhecido. Aguardem, porque teremos uma revista-livro novíssima (em todos os sentidos) aportando por aqui com a Fronteiras da Imaginação
, de J.C. Carbel e Marcos Ferrer.
Cara, você não perde nadinha por esperar!
No mais...
Boa leitura!
Tramatura
Da Idade das Trevas do Espaço surgiu o Segundo Império — governado por uma criança, um usurpador, um tolo! O Grande Trono da Terra Imperial comandava mil mundos vassalos — mundos sombrios e famintos que sussurravam taciturnamente sobre uma revolta galáctica. Por fim, como águias num ninho distante, os reis-estelares reuniram-se não para confabular, mas para guerrear!
O Rebelde de Valkyr
de Alfred Coppel
Publicado originalmente na
Planet Stories
no outono de 1950
Da Idade das Trevas do Interregno emergiu o Segundo Império. Mais uma vez, no espaço de um milênio, a bandeira da Terra Imperial tremulava acima das terras dizimadas dos mundos habitados. Quatro gerações de conquistadores, herdeiros do grandioso legado dos Mil Imperadores, recriaram o Império Galáctico, agora pela força das armas. Mas a tecnologia, que os povos chamavam de O Grande Destruidor, era temida e proibida. Apenas bruxos, magos e feiticeiros se lembravam do antigo conhecimento, mas as turbas, torturadas pelas memórias de toda uma raça sobre a terrível destruição das Guerras Civis, apedrejaram esses guardadores do saber e queimaram-nos nas praças das cidades construídas entre os escombros das antigas guerras. As antigas e poderosas naves espaciais — indestrutíveis, eternas — transportavam homens e cavalos, fogo e espadas através da Galáxia, a pedido dos senhores da guerra. O Segundo Império — quatro gerações de selvageria feudal e sombria — mantinha-se unido por laços forjados a sangue e ferro, mas também pela lealdade dos reis-estelares, guerreiros em sua mais profunda essência.
— Quintus Bland, Ensaios sobre História Galáctica
I
Kieron, Senhor da Guerra de Valkyr, andava de um lado para outro no chão polido. Ele tinha raiva. As luzes bruxuleantes da vasta câmara espelhada brilhavam nas joias de sua armadura cerimonial e reluziam ao longo de sua capa prateada. Por um momento, o rei-estelar parou diante das altas portas duplas, forjadas em bronze batido, suas mãos fortes brincando com o punho da espada. Os imponentes janízaros da Guarda do Palácio permaneciam imóveis de cada lado da porta em arco, com os seus grandes machados apoiados sobre o piso brilhante. Era como se os pensamentos sombrios que passavam pela mente de Kieron fossem — para eles — insondáveis. Os enormes guerreiros dos planetas mais brutais das Plêiades eram impassíveis, leais e incapazes de pensamentos que extrapolassem o significado material do que viam. E mesmo um rei-estelar jamais sonharia em atacar os portais fechados dos aposentos do Imperador.
Os dedos de Kieron abriram e fecharam espasmodicamente sobre o punho incrustado de pedras preciosas de sua arma. Seus olhos escuros brilhavam com fúria incontida. Murmurando um juramento, ele se afastou da porta silenciosa e voltou a andar. Seu companheiro, um homem mais velho, abrutalhado, usando o uniforme de batalha de Valkyr, observava-o em silêncio por baixo de espessas sobrancelhas amarelas. Tinha os braços cruzados sobre o peito, encimando as tranças de cabelos amarelos e grisalhos que lhe pendiam até a cintura. O rosto era sulcado por rugas profundas, emoldurado pelos laços soltos de um capacete com asas nas têmporas. Uma enorme espada repousava em sua coxa nua — uma lâmina enorme, com cabo desgastado e manchado de suor.
O senhor de Valkyr interrompeu seus furiosos movimentos e encarou o ajudante.
— Pelo Grande Destruidor, Nevitta! Quanto tempo mais vamos aguentar isso?
— Paciência, Kieron, paciência — o velho guerreiro falou com a segurança de alguém que conhecia o rei-estelar desde sempre. — Eles estão nos testando ao limite, eu sei. Mas já esperamos três semanas, um pouco mais não fará mal.
— Três semanas! — Kieron fez uma careta para Nevitta. — Será que eles querem que nos rebelemos? É essa a intenção deles? Juro que não toleraria uma coisa assim do próprio Gilmer!
— O Grande Imperador nunca teria nos tratado assim. Os guerreiros de Valkyr sempre foram muito próximos de seu coração, Kieron. A maneira como estão lidando conosco agora parece ser coisa daquela mulher. — Ele cuspiu no chão polido. — Que os Sete Infernos reivindiquem sua alma!
Kieron grunhiu brevemente e virou-se novamente em direção à porta silenciosa. Ivane! Ivane, a Bela! Ivane, a Maquinadora. Que bebida do diabo ela estava misturando agora? A intriga sempre fora sua arma — e agora que Gilmer havia morrido e ela estava ao lado do Grande Trono...
Kieron a amaldiçoou baixinho. Nevitta falava a verdade. Ivane estava por trás daquilo, tão certo quanto estrelas formavam galáxias!
Três semanas desperdiçadas. Longas semanas. Vinte e um dias inteiros desde que suas naves chegaram à Cidade Imperial. Dias de luta contra os enxames de diletantes e alcoviteiros que lotavam o Palácio Imperial. Houve momentos em que Kieron quis abrir caminho por entre os dândis bajuladores com sua espada!
Gilmer de Kaidor jazia morto há um ano e a nova Corte era um hospício de bajuladores afetados. O número de petições crescia e apenas os favoritos recebiam a generosidade do menino-imperador Toran. E Kieron sabia muito bem que quaisquer favores concedidos passavam pelas mãos ambiciosas da Consorte Ivane. Ela jamais usaria uma coroa de Imperatriz, porque não tinha o sangue dos Mil Imperadores em suas veias, mas até agora ninguém na Corte negava que ela era quem decidia tudo no Império. No entanto, isso não era suficiente para ela, Kieron sabia. Ivane sonhava bem mais. E por conta de todo aquele jogo de sombras, os antigos aliados do guerreiro Gilmer iam sendo desprezados, seus pedidos de audiência recusados sumariamente. Um novo círculo interno estava sendo construído, e Kieron de Valkyr não estava nele — era fácil de ver. Fora impedido até mesmo de apresentar suas justas reclamações ao Imperador Toran.
Outros assuntos, disseram-lhe repetidas vezes, ocupavam a atenção de Sua Majestade Imperial. Outros assuntos! Kieron podia sentir o calor da ira latejando em suas veias. Que outras questões poderiam ser mais importantes para um soberano do que a lealdade dos seus melhores guerreiros? Se Toran era um tolo, como afirmavam os cortesãos quando cochichavam nas sombras, certamente Ivane era perspicaz o suficiente para perceber o risco de manter um Senhor da Guerra das Fronteiras Exteriores congelando os calcanhares nas antecâmaras do palácio por três semanas! Lady Ivane, ela mesma tão orgulhosa, deveria saber o quão perto de uma rebelião estavam os povos guerreiros da Periferia.
Instado por aquelas provocações sórdidas, era difícil para Kieron ignorar o convite de Freka de Kalgan para se reunir com os outros reis-estelares no conselho dos queixosos. Uma rebelião não era algo que Kieron aceitasse facilmente. Passara a juventude lutando ao lado de Gilmer! Contudo, havia limite para a resiliência de um homem. E ele estava chegando a esse limite rapidamente.
— Nevitta — Kieron falou abruptamente. — Você conseguiu descobrir alguma coisa sobre Lady Alys?
O guerreiro de cabelos grisalhos balançou a cabeça.
— Nada além das fofocas da Corte. Dizem que ela se isolou, ainda de luto por Gilmer. Você sabe, Kieron, como a princesinha amava seu pai.
O senhor de Valkyr franziu a testa pensativamente. Sim, era verdade que Alys amava Gilmer. Lembrava-se dela ao lado do Grande Imperador após a batalha de Kaidor. Até mesmo os senhores das terras conquistadas daquele mundo alegavam que Gilmer teria se rendido, entregando o planeta sem lutar, se tivessem conseguido capturar sua filha. O vínculo entre pai e filha era estreito. Era mesmo possível que Alys tivesse se isolado para continuar com seu luto — mas Kieron duvidava disso. Esse não teria sido o caminho que Gilmer tomaria, nem sua filha.
— As coisas seriam diferentes — disse Nevitta, cheio de sentimento —, se a princesa governasse no lugar de Toran.
Muito diferentes — pensou Kieron. O tolo Toran arriscava perder o que quatro gerações de combatentes leais haviam construído a partir dos escombros da Idade das Trevas. Alys, a princesa guerreira, buscaria novas glórias para o Império, jamais correria o risco de vê-la encolher. Mas Kieron entendia que seus pensamentos tendiam a favor dela. Era difícil não ser assim.
Ele se lembrou de seus olhos alegres e de sua coragem. Uma criança ágil, com seus jeitos e trejeitos assertivos. Envergonhando-o diante de suas ruidosas tropas de Valkyr ao declarar a ele seu mais profundo amor. Os exércitos a adoravam. Uma criança tão amável — com o orgulho de pertencer à linhagem de seu pai estampado no rosto. Mas ela era caridosa também. Confortava com ternura os moribundos e os feridos pessoalmente, sempre com uma palavra de consolo, um toque carinhoso.
Oito anos haviam se passado desde a sangrenta batalha de Kaidor. A criança de doze anos seria uma mulher agora. E uma ameaça ao poder ascendente da Consorte Ivane... — Kieron considerou com temor.
As altas portas de bronze se abriram de repente e Kieron se virou. Mas não foi o Imperador quem surgiu emoldurado pelo arco, nem mesmo a Consorte. Era Landor, o Primeiro Lorde do Espaço, metido em seus trajes carregados de pedras preciosas.
Kieron bufou com escárnio. Primeiro Senhor! As sombras dos poderosos guerreiros que um dia defenderam aquele título em milhares de batalhas na Terra Imperial ficariam enojadas com a escolha que o jovem Toran fizera... Ou que Ivane fizera, ao indicar o cortesão afetado que agora estava diante dele.
Os cortesãos mais cínicos diziam que Landor havia conquistado suas honras na cama de Ivane, e Kieron achava que isso podia muito bem ser verdade. Nos vastos vazios da Borda, os homens viviam segundo padrões diferentes. Lá fora, uma mulher devia ser respeitada, valorizada, amada, embora alguns canalhas às vezes as rejeitassem depois de usá-las. Mas uma mulher jamais seria usada como um atalho indigno para a riqueza e o poder — guerreiros conquistavam seu espaço com honra!
Kieron odiara Landor à primeira vista, e havia motivos suficientes para acreditar que o Primeiro Lorde retribuía esse sentimento. Não era recomendável para ninguém, mesmo um Senhor da Guerra, desprezar abertamente os favoritos da Consorte — mas a moderação não era uma das virtudes do senhor de Valkyr, embora até mesmo Nevitta o alertasse para tomar cuidado. Assassinatos e traições eram uma arte na Cidade Imperial — e amplamente incentivados pelo Primeiro Lorde do Espaço.
— E então, Primeiro Lorde Landor? — Kieron exigiu, o desdém escorrendo de sua boca ao usar o título de Landor.
As feições suaves do assecla de Ivane não mostravam expressão — olhos claros velados como os de uma serpente.
— Lamento — disse o Primeiro Lorde do Espaço com facilidade. — Sua Majestade Imperial já se recolheu para descansar em seus aposentos, Valkyr. Dadas as circunstâncias...
Ele abriu as mãos delgadas em um gesto de desamparo.
A mentira era óbvia. Pela porta aberta dos aposentos reais vinha o som murmurante de risadas e a melodia estridente da flauta de um menestrel entoando a antiga balada de Lady Greensleeves. Kieron pôde ouvir a voz esganiçada de Toran cantando:
Greensleeves foi toda a minha alegria
Greensleeves foi toda a minha alegria
E quem senão Lady Greensleeves?
Kieron podia quase ver aquele garoto tolo prostrando-se diante da exuberante Ivane, tentando ganhar com versos o que qualquer homem poderia ter ao prometer lealdade à Consorte.
O Valkyr encarou Landor.
— Ele não vai me receber, é isso? Pelos Sete Infernos, por que você não diz o que quer dizer?
O sorriso de Landor foi desdenhoso.
— Vocês, estrangeiros da Borda! Precisam aprender onde é verdadeiramente o seu lugar. Talvez mais tarde...
— Mais tarde já estará tudo perdido! — retrucou Kieron. — Meu povo está morrendo de fome agora! Seus coletores de impostos estão nos torturando! Quanto tempo você acha que eles vão suportar? Quanto tempo você acha que eu vou suportar?
— Isso é uma ameaça, Valkyr? — perguntou o Primeiro Lorde, seus olhos de repente venenosos. — Está ameaçando seu Imperador? Homens foram chicoteados até a morte por muito menos.
— Não os homens de Valkyr — retrucou Kieron.
— Os homens de Valkyr já não gozam dos mesmos privilégios de antes, Kieron. Aconselho você a se lembrar disso.
— É verdade — Kieron respondeu com desdém. — Enquanto Gilmer era imperador, os guerreiros eram o poder do Império. Agora Toran governa pelas mãos de mulheres desfrutáveis e... e mestres de dança.
O rosto do Primeiro Lorde se contraiu com o insulto. Ele levou a mão ao punho de sua espada ornamentada, mas os olhos do Valkyr permaneceram impassíveis em sua insolência. O enorme Nevitta se virou, olhando para os janízaros das Plêiades em guarda na porta, prontos para entrarem ao menor sinal de problemas.
Mas Landor não tinha coragem de sacar a espada — especialmente contra um lutador tão experiente e ágil como o Senhor da Guerra de Valkyr. Sua língua afiada era sua melhor arma, quase tão boa quanto o aço. Com certa relutância, ele se forçou a sorrir. Era um sorriso frio, carregado de um perigo sutil.
— Palavras duras, Valkyr. E imprudentes. Não as esquecerei. Duvido que você consiga ver Sua Majestade, já que não acredito que as tribulações de um planeta de selvagens o preocupem. Você perde seu tempo aqui. Se você tem outros assuntos, é melhor cuidar deles.
Foi a vez de Kieron sentir o aguilhão da raiva queimando em sua carne.
— Essas são as palavras de Toran ou do mestre de dança de Ivane?
— A Consorte Ivane, é claro, concorda. Se o seu povo não pode pagar seus impostos, deixe-os vender alguns de seus pirralhos como escravos — disse Landor suavemente.
A sorte está lançada, então — pensou Kieron furiosamente. Toda a esperança de uma aliança com Toran havia desaparecido. Restava apenas um caminho agora.
— Nevitta! Certifique-se de que nossos homens e cavalos embarquem esta noite, que as naves estejam preparadas para cruzarmos o espaço!
Nevitta fez uma saudação e virou-se para ir embora, mas fez também uma pequena pausa, entre um passo e outro. Olhou insolentemente para o Primeiro Lorde e cuspiu deliberadamente no chão. E se foi, o metal de suas esporas ressoando enquanto desaparecia através do arco alto da passagem.
— Selvagem — murmurou Landor.
— Selvagem o suficiente para ser leal e digno de alta confiança — disse Kieron. — Mas você jamais entenderia isso.
Landor ignorou o insulto.
— Para onde você vai agora, Valkyr?
— Embora deste planeta.
— Claro — Landor sorriu levemente, suas sobrancelhas arqueando sobre olhos claros e astutos. — Para fora do planeta.
Kieron percebeu que havia suspeita ali. O quanto Landor sabia? Teriam seus espiões rompido o cordão de contraespionagem de Freka, o Desconhecido, e trazido a notícia da reunião dos reis-estelares em Kalgan?
— Não é da sua conta para onde vou, Landor — disse Kieron severamente. — Você ganhou desta vez. Mas... — Kieron deu um passo para mais perto do afetado comandante do