Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Formação da Criança pela Família:  perspectiva interacional tridimensional
Formação da Criança pela Família:  perspectiva interacional tridimensional
Formação da Criança pela Família:  perspectiva interacional tridimensional
E-book233 páginas2 horas

Formação da Criança pela Família: perspectiva interacional tridimensional

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Este livro é um presente para as famílias com crianças e adolescentes que precisam ser cuidados e preparados para a vida, bem como para educadores, namorados, futuros pais e pesquisadores interessados na temática. O Ministério da Educação, além da alfabetização universal na infância, começou a incluir o projeto de vida na educação dos jovens. Mas a educação pela família vem antes da escolar. A autora baseou-se em informações obtidas com mães e pais de crianças e adolescentes e em pareceres de especialistas entrevistados sobre suas experiências como formadores de seus filhos, educandos ou clientes, para fazer uma análise criteriosa e propor alternativas à luz de novos fundamentos teóricos e metodológicos científicos da Pedagogia Alpha, do Dr. Luiz Síveres, e da Neuroeducação Tricerebral, do Dr. Waldemar De Gregori.
Espera-se, portanto, que este livro ajude na melhoria do processo educativo e no desenvolvimento tricerebral de crianças e adolescentes, pela interação tridimensional do pensar-saber, do ser-sentir e do agir-fazer, para termos crianças mais saudáveis e felizes nas famílias e cidadãos mais responsáveis, construtivos e éticos na sociedade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mai. de 2024
ISBN9786527009924
Formação da Criança pela Família:  perspectiva interacional tridimensional

Relacionado a Formação da Criança pela Família

Ebooks relacionados

Métodos e Materiais de Ensino para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Formação da Criança pela Família

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Formação da Criança pela Família - Davina Maria da Silva Maia

    CAPÍTULO 1: A QUESTÃO PESQUISADA

    A problemática pesquisada se caracteriza sob o enfoque de diversas teorias sociais e humanas, por se tratar de fenômeno relacionado a múltiplas áreas do conhecimento, mas foi delimitada aos achados bibliográficos mais próximos ao marco teórico escolhido e ao contexto real em que vivemos.

    Parte-se da premissa de que o ser humano, ao nascer e durante a primeira infância, depende de seus pais para sobreviver e para se desenvolver, passando a depender gradualmente de outras pessoas, como médicos, cuidadores e professores, e buscando cada vez mais informações encontradas nas telinhas de computadores, celulares e tablets, nos programas de televisão etc. Assim, a formação da criança aqui contextualizada vai além do ensinar a se alimentar, a caminhar, a ter hábitos higiênicos e disciplinares, para incluir o desenvolvimento de habilidades para além das recreativas, comunicacionais, relacionais e operativas, necessárias à maturidade e à autonomia física, intelectual e emocional.

    Nos primeiros anos de vida, as crianças vão amadurecendo física e cognitivamente numa verdadeira explosão de aprendizagens, que vão desde a adaptação à vida fora do útero, aos primeiros conceitos concretos dos cinco sentidos, às emoções boas e ruins, ao enfrentamento de fracassos e erros e de vitórias também. Aos poucos a criança vai se autoconhecendo e construindo sua identidade, os padrões de comportamento e de inserção social.

    Todo esse processo, conduzido primordialmente por mães e pais, precisa ser cuidadosamente realizado, respeitando as diferenças individuais de cada criança, as características de cada época e contexto, para conseguir um desenvolvimento integral e harmonioso em preparação à vida posterior (PALFREY et al., 2003; SIEGEL; BRYSON, 2015; LEVY, 2010). Ter êxito na criação educativa dos filhos, segundo esses autores, é o desafio principal para mães e pais no cotidiano do mundo pós-moderno. As informações que seguem tentam revelar esse contraste entre o estudado e o praticado ou experienciado e entre o teórico e o prático da educação familiar, para demonstrar sua aproximação ou não à perspectiva interacional.

    Atualmente, seja por influência do mercado globalizado ou do avanço tecnológico e científico, mães e pais vêm-se ocupando sempre mais com suas profissões e compromissos sociais fora do lar, deixando suas crianças em mãos de cuidadores; estes geralmente prestam os cuidados básicos de alimentação, higiene, sono; e costumam entretê-las com programas eletrônicos e televisivos sem primar pela escolha de seus conteúdos que, muitas vezes, são incoerentes e até contraditórios com o que a família defende ou tem incorporado à sua cultura e tem ensinado a suas crianças. Essa realidade faz com que haja uma transferência do papel educador, antes reservado aos pais, para cuidadores, tais como babás, empregadas, avós, vizinhos, tios, profissionais da creche e da escola infantil, como constatou uma pesquisa sobre família e colaboradores da educação dos filhos, publicada por Moreira e Biasoli-Alves (2007).

    Diversos autores defendem que a educação da criança pela família se complementa com a educação escolar, em coerência e continuidade do mesmo processo de aprendizagem. Porém, muitas entidades educacionais reclamam de um desencontro familiar-escolar e de pouca participação das famílias na educação escolar de seus filhos, o que limita a capacidade de aprendizagem destes e suas habilidades de interação com as outras crianças. A pouca participação da família na escola talvez se dê por supor que a tarefa de educar é exclusiva da escola, sendo a ela transferidas todas as funções educacionais, o que dispensaria a família de sua responsabilidade maior pela educação e pelo desenvolvimento da criança.

    Na contramão do mencionado no parágrafo anterior, a sociedade e a escola esperam que as famílias cumpram com a responsabilidade de prover o desenvolvimento integral de suas crianças, de acompanhar e participar do processo de educação escolar, constantemente, e de não limitar sua responsabilidade aos cuidados básicos e às tarefas escolares realizadas em casa. Nesse jogo de empurra-empurra, o processo educacional familiar-escolar continua sendo um conjunto de ações intuitivas, desencontradas e insuficientes (CANEDO, 2018; MAIA et al., 2011; CASTRO; REGATTIERI, 2009).

    Sendo a educação infantil um dever também atribuído ao Estado, vale a pena citar que o governo mantém alguns programas de provimento das condições necessárias ao desenvolvimento infantil e ao direito à educação, saúde e assistência social para famílias que não as têm. Dois desses instrumentos são o Programa Bolsa Família e o Programa Criança Feliz, cujos benefícios são assegurados à medida que as famílias cumprem com as condições exigidas de manter as crianças na escola e ter assistência médica e social. Apesar de serem beneficiadas por esses programas, muitas famílias têm descumprido as condicionalidades dos programas, tanto em relação à frequência escolar quanto à vacinação, condições estas, consideradas pelos estudos do desenvolvimento infantil, indispensáveis ao bem-estar para uma boa formação da criança.

    Levy (2010, p. 10) considera que, na atualidade, criar filhos se tornou uma tarefa que exige habilidade, raciocínio e determinação. A criação de um bebê acontece por meio de interações diversas, não apenas com cuidados pelas necessidades biológicas, mas, principalmente, com cuidados pela maturidade emocional, a disciplina e pelos valores. Além disso, a autora considera que os pais devem assumir a educação dos filhos como um processo de ensiná-los a fazerem escolhas acertadas. Trata-se de uma educação que desenvolve capacidade de autodisciplina e de tomada de decisões, mesmo correndo riscos, sendo que os pais também aprendem com os filhos; e como cada um é diferente do outro, é preciso observar e respeitar as individualidades. O problema é saber se mães e pais conseguem desempenhar seus papéis com bons resultados para eles e para os filhos.

    Outra informação que sinaliza uma possível omissão ou falha da família na formação de suas crianças é revelada nos dados estatísticos encontrados no Anuário Brasileiro da Educação Básica (2019), apontando que 1,5 milhão de crianças e jovens se encontravam fora da escola do Ensino Fundamental entre os anos 2016 e 2017, o que pode gerar atraso escolar e em seu desenvolvimento geral. Essa questão da evasão escolar nos remete a outra que se refere à capacidade de a família suprir, ainda que parcialmente, o que a criança deixa de aprender fugindo à escola, sem a socialização e sem outras atividades comuns à educação infantil e ao ensino fundamental.

    Se por um lado a família mantém as crianças na escola, mas não participa do processo educacional, essa relação continua conflituosa, em que uma parte espera que a outra cumpra os papéis de ambas, num jogo de empurra-empurra, deixando as crianças em último plano de prioridade, como critica Maranhão (2008). Nesse aspecto, vale a pena destacar a afirmativa de outro autor:

    É sabido que pais que acompanham os estudos de seus filhos propiciam que eles melhorem seu rendimento em 80%. Alunos que rendem bem na escola ficam também mais motivados para aprender. Filhos saudáveis querem corresponder às expectativas dos pais (TIBA, 2012, p. 53).

    Mesmo se observarmos informalmente as famílias em nosso contexto, percebe-se que a maioria demonstra entender o processo educacional voltado apenas para o desenvolvimento da cognição e que se desenvolve pela escolarização. As famílias que adotam essa concepção, exibem o filho inteligente ou superdotado cognitivamente, como um troféu, motivo de maior orgulho na família. Com isso, deixam de estimular a aprendizagem vivencial e intuitiva, comum às dimensões do ser e do agir na infância e ao longo da vida.

    Há também aquelas famílias para as quais o importante é a inteligência emocional da criança, para que ela saiba lidar com as emoções e ser feliz, que possa brincar alegremente, ter todos os brinquedos possíveis, viver em um mundo de fantasia. Para essas famílias, só o amor doado espontaneamente educa uma criança. Nesse sentido, o médico psiquiatra e escritor Içami Tiba (2002) explica que amor sem ensino e sem exigência de aplicação do aprendizado, não ensina; e a criança não aprende o que precisa aprender. Pais que seguem essa linha não valorizam muito o rendimento escolar e preferem deixar sem explicação os fatos ocorridos na vida da criança; preferem não responder às muitas perguntas que geralmente elas fazem, como se as crianças não fossem capazes de compreender suas respostas.

    Já em outras famílias, o valor reside em preparar os filhos para um futuro econômico promissor, colocando os filhos, ainda crianças, em escolas com o ensino centrado no empreendedorismo, a fim de aprenderem a lidar com negócios e dinheiro desde cedo. Outras vezes, tratam seus filhos como incapazes fazendo tudo por eles, o que pode gerar uma autoimagem distorcida quanto a sua capacidade para fazer suas próprias tarefas, tais como guardar os brinquedos, arrumar a cama, comer sozinhos, levantar-se de uma caída, trocar de roupa, calçar os sapatos, entre outras.

    Cada uma dessas três linhas educacionais tende à unilateralidade ou unidimensionalidade, estimulando apenas algumas potencialidades específicas, o que pode resultar em uma formação fragmentada ou desconectada do todo da criança. O investimento em apenas uma das dimensões humanas pode gerar lacunas que aparecem em outros momentos da vida, quando a criança ou o adolescente apresentar baixo rendimento cognitivo, ou baixas habilidades sociais, ou ainda, dificuldades de motricidade, praticidade e inaptidão para viver em sociedade.

    Qualquer tipo de família, independentemente de classe social e corrente educacional adotada, dispõe de formas alternativas para a educação formal e informal de seus filhos. Exemplo disso é o sistema do homeschooling que já começa em lares brasileiros, embora já seja tradição em outros países, como nos Estados Unidos. Uma pesquisa de campo realizada com cinco famílias brasileiras, concluiu que as tecnologias de informação e comunicação (TIC), assim como a prática do diálogo, são recursos que possibilitam mais e melhor qualidade da aprendizagem de crianças e adolescentes que participam dessa modalidade de educação (BRITO et al., 2020). Tal como apontado pelos autores, o uso de tecnologias da informação e comunicação e do diálogo podem produzir resultados satisfatórios na educação dos filhos, mas não indicam se tal educação, com o uso desses recursos, vai além do processo cognitivo – pura aquisição de conhecimentos teóricos – ou se também complementa a formação familiar, emocional, disciplinar.

    Outros aspectos a considerar são as mudanças na comunicação, decorrentes do avanço tecnológico que vem, cada vez mais, impondo o uso de aparelhos eletrônicos. Diante desse fenômeno, a comunicação dialógica vem sendo uma das competências mais afetadas e, portanto, prejudicada na convivência familiar, especialmente na relação com as crianças, quando as interações, as emoções e os gestos falam mais que as palavras e quando os exemplos de vida ensinam mais que as teorias, mais que as explicações verbais e os conselhos.

    Nessa mesma linha, encontram-se os resultados de um grupo focal com membros de onze famílias no Distrito Federal, realizado por Maia (2019): mostram que as famílias vêm enfrentando problemas para conciliar a comunicação pessoal direta com a eletrônica. As maiores dificuldades estão entre as pessoas mais idosas, que preferem a comunicação pessoal e as crianças ou adolescentes que preferem usar recursos eletrônicos na comunicação, gerando diferenças de linguagem, de significados, de gestão do tempo, fatores esses que afetam a convivência. Por esses resultados pode-se supor que a forma de interação entre as pessoas da família, mais centrada na tecnologia, pode estar afetando negativamente a formação das crianças, afinal, os eletrônicos acompanham as crianças a todos os lugares, enquanto os formadores familiares não.

    De acordo com a Psicologia do Desenvolvimento (PILETTI; ROSSATO, 2011), a estruturação da identidade do ser humano é feita basicamente na infância; e a atuação da família no processo de desenvolvimento infantil é fundamental para que a criança viva bem seu cotidiano e seja capaz de enfrentar e vencer, com êxito, os desafios que surgirem. Obter resultados como esses tem maior possibilidade quando o processo de criação está apoiado em objetivos formativos bem definidos e os formadores utilizam métodos, estratégias e ações cotidianas adequadas ao processo em cada idade e cada contexto. Supõem, também, que pais e outros familiares adultos saibam perceber quando a criança já possui conhecimentos e habilidades para atuar em diferentes situações e em quais ela ainda necessita se desenvolver para adquirir maturidade e autonomia típicas de cada idade.

    Cabe mencionar a existência de famílias que preservam as crianças do enfrentamento de dificuldades e turbulências da vida, demonstrando desconhecer que elas se desenvolvem à medida que enfrentam, sofrem e superam desafios. Ao passar por experiências desafiadoras elas têm a oportunidade de usar ao máximo sua capacidade de pensar, criar e fazer algo para obter os resultados que necessitam e assim adquirir outras habilidades importantes para o enfrentamento de situações diversas ao longo da vida. Alguns exemplos corriqueiros dessas situações são: a aquisição de motricidade suficiente para caminharem sozinhas, que é precedida do engatinhar, período em geral prolongado pelos pais, ou por medo infantil; o alimentar-se, primeiro levando as mãos à boca, depois com colher e depois com garfo e faca etc.

    A autonomia das crianças vai-se dando à medida que elas recebem proteção e incentivos, mas também à medida que forem cobradas, de acordo com suas necessidades e capacidades. Até chegar a reconhecer e evitar situações perigosas com o fogo, com a eletricidade e com animais, a criança aprende muito sobre si mesma, sobre os outros e o ambiente em que vive. Essas e muitas outras são experiências pelas quais passa a maioria das famílias, mas não se sabe até que ponto são conduzidas de forma a integrar, conscientemente, os conhecimentos com as emoções e com a prática que as situações suscitam (PILETTI, 2015; OLIVEIRA; PEDROSO, 2017; LEVY, 2010; KLINJEY,

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1