Diretrizes para o Ministério do Exorcismo à luz do Ritual vigente - Digital
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Diretrizes para o Ministério do Exorcismo à luz do Ritual vigente - Digital - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Diretrizes para o Ministério do Exorcismo à luz do Ritual vigente
Associação Internacional dos Exorcistas Secretaria Linguística Portuguesa
1ª edição – 2024
Direção-Geral:
Mons. Jamil Alves de Souza
Tradução:
Mons. Dr. Rubens Miraglia Zani
Título original:
Linee guida per il ministero dell’esorcismo
alla luce del rituale vigente
Edição:
João Vítor Gonzaga Moura
Revisão:
Vinicius Pereira Sales
Capa:
Samuel Ricardo Sales
Imagens da capa:
Ícone Antigo de São Miguel (séc. XVII)
© Adobe Stock
Projeto Gráfico:
Keille Lorainne Dourado Silva
Diagramação:
Henrique Billygran Santos de Jesus
978-65-5975-406-9
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão da CNBB. Todos os direitos reservados ©
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SUMÁRIO
ABREVIAÇÕES E SIGLAS
Abreviações
Siglas
APRESENTAÇÃO
NOTA DO TRADUTOR À EDIÇÃO BRASILEIRA
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
Utilidade das Diretrizes
Valor das Diretrizes
Introdução à leitura e ao estudo das Diretrizes
A atividade exorcística de Jesus como parte essencial de seu ministério messiânico
A atitude diferente de Jesus para com as pessoas doentes e aquelas possuídas
A atitude diferente dos enfermos e dos possuídos em relação a Jesus
Algumas diferenças entre os doentes e os possessos que os Evangelhos ressaltam
A linguagem dos Evangelistas
Algumas ênfases realizadas pelos Evangelhos relativas à presença e à atividade demoníaca
Em síntese
Considerações finais
CAPÍTULO I
DEUS E SUA PROVIDÊNCIA
CAPÍTULO II
O DIABO E SEUS ANJOS
CAPÍTULO III
A AÇÃO ORDINÁRIA DO MALIGNO
CAPÍTULO IV
A AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO
Possessão diabólica
Obsessão diabólica
Vexação diabólica
A infestação diabólica
CAPÍTULO V
CAUSAS DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO
CAPÍTULO VI
O MALEFÍCIO COMO POSSÍVEL CAUSA DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO
Indicações práticas
CAPÍTULO VII
A SUPERSTIÇÃO
CAPÍTULO VIII
A LIBERTAÇÃO DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO: SUAS NOTAS ESSENCIAIS E POSSÍVEIS ERROS
CAPÍTULO IX
EXORCISMOS, ORAÇÕES DE LIBERTAÇÃO E DE CURA
Noção genérica de exorcismo
Exorcismo público e exorcismo privado
Exorcismo público
Exorcismo privado
Orações de libertação
Orações de cura
CAPÍTULO X
O MINISTRO DOS EXORCISMOS
CAPÍTULO XI
O INSTRUMENTUM DO SACERDOTE EXORCISTA
CAPÍTULO XII
O DISCERNIMENTO: CRITÉRIOS GERAIS
Justificação doutrinal do disposto no DESQ, n. 16
Certeza moral
Critérios de caráter geral: fatos naturais e fatos preternaturais
Critérios de caráter geral: atenção à relação entre os supostos sinais da ação diabólica extraordinária com a fé e o empenho espiritual na vida cristã
Conclusão
CAPÍTULO XIII
O DISCERNIMENTO: CRITÉRIOS PARTICULARES
Sinais evidentes e sinais prováveis
Os sinais específicos da ação extraordinária do Maligno
Os sinais indicados pelo DESQ: "ignoto sermone pluribus verbis loqui vel loquentem intellegere"
(pronunciar numerosas palavras em idioma desconhecido ou compreender quem as fala)
Os sinais indicados pelo DESQ: "distantia et occulta patefacere"
(revelar coisas ocultas e distantes)
Os sinais indicados pelo DESQ: "vires supra aetatis seu condicionis naturam ostendere"
(manifestar forças incompatíveis com idade ou condição de uma pessoa)
Os sinais indicados pelo DESQ: "attendere etiam oportet ad (...) aversionem vehementem a Deo, Sanctissimo Nomine Iesu, Beata Virgine Maria et Sanctis, Ecclesia, verbo Dei, rebus, ritibus, praesertim sacramentalibus, et imaginibus sacris"
(é necessário também prestar atenção a … uma forte aversão a Deus, ao Santíssimo Nome de Jesus, da Beata Virgem Maria e dos Santos, à Igreja, à Palavra de Deus, às coisas, ritos, sobretudo sacramentais, e às imagens sacras)
Os sinais da possessão diabólica
Os sinais da obsessão diabólica
Os sinais da vexação diabólica
Conclusão
CAPÍTULO XIV
EFICÁCIA DO EXORCISMO
CAPÍTULO XV
INSTRUMENTOS PECULIARES DO DISCERNIMENTO DA AÇÃO DIABÓLICA EXTRAORDINÁRIA
Oração, Palavra de Deus e Sacramentais como instrumentos peculiares do discernimento
O exorcismo como instrumento peculiar de discernimento, na prática exorcística precedente ao RR
O exorcismo como instrumento peculiar de discernimento,na prática exorcística sucessiva ao RR
Justificação doutrinal do exorcismo, como instrumento peculiar de discernimento
O modo de proceder
Notas conclusivas
Apêndice: o que jamais deve ser feito para fins de discernimento
CAPÍTULO XVI
NECESSIDADE DE ADEQUADO ACOMPANHAMENTO DOS FIÉIS QUE PEDEM PARA SE LIBERTAREM DO MALIGNO
CAPÍTULO XVII
OS PRECEITOS DADOS AO DEMÔNIO
Preceitos comuns
Preceitos lenitivos
Preceitos expulsivos
Preceitos probativos
CAPÍTULO XVIII
AS PERGUNTAS AO DEMÔNIO
CAPÍTULO XIX
O RITO DO EXORCISMO EM GERAL
Indicações gerais sobre o exorcista
Indicações gerais sobre o lugar da celebração
Indicações gerais sobre o fiel atribulado pelo Maligno
Indicações gerais sobre a presença de outras pessoas diversas dos auxiliares
A estrutura do rito do exorcismo maior segundo o DESQ
Exorcismo e princípio de discricionariedade em geral
O princípio de discricionariedade no DESQ
Nota final
CAPÍTULO XX
OS AUXILIARES DO EXORCISTA
As tarefas do auxiliar
O perfil do auxiliar do sacerdote exorcista
O relacionamento do exorcista com os próprios auxiliares
Indicações práticas
CAPÍTULO XXI
MODO DE PROCEDER NOS CASOS DE SIMULAÇÃO
CAPÍTULO XXII
MODO DE PROCEDER NOS CASOS DE INFESTAÇÃO
O que deve preceder o ato litúrgico de libertação de uma casa infestada
O ato litúrgico de libertação da casa infestada
CAPÍTULO XXIII
CRITÉRIOS DE DISCERNIMENTO A OFERECER AOS PASTORES DE ALMAS PARA COMPREENDER SE UMA PESSOA DEVE SER SUBMETIDA À AVALIAÇÃO DE UM SACERDOTE EXORCISTA
O que compete ao exorcista e o que compete ao pastor de almas
Sobre a existência do mundo demoníaco e a sua atividade ordinária e extraordinária
Sobre as formas da ação diabólica extraordinária
A chamada parapsicologia
A primeira fase do primeiro discernimento: a escuta
A segunda fase do primeiro discernimento: a análise
A terceira fase do primeiro discernimento: a oração
Notas conclusivas sobre o primeiro discernimento
O papel e a colaboração do sacerdote em cura de almas e do exorcista nos casos confirmados de ação extraordinária do demônio em um fiel
ABREVIAÇÕES E SIGLAS
Abreviações
art. — artigo, artigos
cân. — cânon, cânones¹
cf. — conferir, comparar
Ibid. — ibidem, no mesmo lugar (para uma citação idêntica à da nota antecedente)
Ivi. — no mesmo lugar (para uma citação idêntica à da nota antecedente, mas com números de página diversos)
n. — número, números
op. cit. — opere citato, na obra citada
p. — página, páginas
Siglas
IICan — Institutiones Iuris Canonici ad usum utriusque Cleri et Scholarum
RRCom — Ad Rituale Romanum Commentaria
RRDEO — Ritualis Romani Documenta de Exorcizandis Obsessis a daemonio
RRBPap — Rituale Romanum Benedicti Papae XIV
CIgC — Catecismo da Igreja Católica
PNRdE — Presentazione al Nuovo Rito degli Esorcismi
CIC — Codex Iuris Canonici: Código de Direito Canônico
DESQ — De Exorcismis et Supplicationibus Quibusdam²
EG — Evangelii gaudium
EsAIE — Estatuto da Associação Internacional dos Exorcistas
FCD — Fede cristiana e demonologia
GeE — Gaudete et exsultate
GS — Gaudium et spes
DDpS — Il dito di Dio e il potere di Satana
RR: — Rituale Romanum³
RSPS — Rituale Sacramentorum ad praescriptum Sanctae Romanae Ecclesiae
SsS — Sacerdotale sive Sacerdotum
RSR — Rituale Sacramentorum Romanum
SDo — Salvifici doloris
STh — Summa Theologiae
APRESENTAÇÃO
A Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB, da qual faço parte, atendendo a uma solicitação, tratou do Exorcismo, com reflexões teológicas e orientações pastorais.⁴ Por isso, pediram-me para fazer esta apresentação após examinar a obra em suas mãos.
Conforme renomado biblista, Jesus praticou exorcismos: O fato de haver, nos Sinóticos, sete amostras individuais de um tipo muito específico de milagre, ou seja, do exorcismo, favorece o ponto de vista de que este constitui maioria no ministério de Jesus
. ⁵ Na Igreja primitiva, foi instituído o ministério de exorcista. Em nossos dias, a Congregação para o Clero reconheceu juridicamente a Associação Internacional dos Exorcistas (AIE), com o decreto de 13 de junho de 2014.
A Igreja sempre reprovou a preocupação excessiva com Satanás e com os demônios, preferindo priorizar a pregação do Evangelho do Reino. Contudo não se pode fugir desse assunto. A luta espiritual contra os poderes escravizadores, o exorcismo de um mundo iludido por demônios, pertence inseparavelmente ao caminho espiritual de Jesus, e o centro da missão dele mesmo e de seus discípulos
. ⁶ O Papa Francisco exorta: Por favor, não façamos negócios com o Diabo e levemos a sério os perigos que derivam da sua presença no mundo
. ⁷
Este livro é muito útil e há tempos se fazia necessário. São muitas e variadas as publicações sobre o assunto feitas por particulares e grupos diversos. Esta obra condensa, em forma de instrução, o ensinamento da Igreja sobre o Exorcismo e sua prática, oferecendo instruções precisas e seguras, dada sua aprovação pela Congregação para a Doutrina da Fé.
Aos que elaboraram de modo competente estas Diretrizes
, nosso apreço e gratidão pelos esclarecimentos pontuais que oferecem e o bem que certamente farão.
+ Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André – SP Presidente da CEPDF/CNBB
NOTA DO TRADUTOR À EDIÇÃO BRASILEIRA
Caros irmãos sacerdotes exorcistas e prezados auxiliares de língua portuguesa,
É com grande alegria e profunda gratidão a Deus que apresentamos a tradução em língua portuguesa das Linee guida per il ministero dell’Esorcismo alla luce del rituale vigente, de autoria da Associação Internacional dos Exorcistas, que decidimos chamar de Diretrizes na presente tradução brasileira e que condensa anos de experiência, estudos e trabalho de campo de muitos membros da nossa Associação, coordenados e cuidados pela Presidência e seu Conselho.
Aqui o leitor encontrará a genuína doutrina exorcística católica fundada sobre a Sagrada Escritura, a Tradição, o Magistério e os melhores e mais autorizados autores.
Só por esses méritos já seria este um instrumento de trabalho precioso para o nosso ministério, seja como exorcistas seja como auxiliares.
Entretanto, o texto – um vade-mécum de doutrina e praxe exorcística à luz do novo Ritual dos Exorcismos – se tornou ainda mais digno de autoridade após ser avaliado, corrigido e aprovado por três Congregações da Cúria Romana: Clero, Doutrina da Fé e Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, além do Imprimatur do Cardeal Vigário Geral para a Diocese de Roma. Esta tradução do original italiano traz consigo, inclusive, a avaliação e a aprovação da Congregação para o Clero.
Oferecemos, assim, à Igreja no Brasil, em Portugal e nos demais países lusófonos, um precioso e válido instrumento que bem pode preencher os requisitos de um Diretório pastoral sobre o uso do exorcismo maior, segundo o auspício da Introdução Geral do DESQ, n. 38.
Gostaria também de colher a ocasião para agradecer sentidamente o trabalho de revisão da tradução feito pelo Pe. Dr. Piermario Burgo, minucioso e impecável como sempre no seu labor, e pela Sr.ª Ivânia Paula Leite Barros.
Abraçando-os fraternalmente, desejo que a paz e a bênção de Deus os alcance e acompanhe por toda a vida e ministério, sob o olhar materno da Imaculada.
Mons. Dr. Rubens Miraglia Zani
Delegado Coordenador da Secretaria de Língua Portuguesa
Tradutor
PREFÁCIO
O ministério da libertação e da consolação que a Igreja confia aos sacerdotes exorcistas deve encontrar, nestes últimos, pessoas que vivem um seguimento convicto e radical de Jesus Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem. Neles deve, de fato, transparecer a segurança de quem encontrou o tesouro no campo ou a pérola de grande valor e, juntamente, deve agir a força serena e prudente da caridade de Cristo, sendo esta, em última instância, a verdadeira potência que põe em fuga o Maligno.
O ministério do exorcista é particularmente delicado. Exposto a múltiplos perigos, exige uma prudência especial, fruto não só de reta intenção e boa vontade, mas também de uma conveniente preparação específica, que o exorcista é obrigado a receber para desempenhar de modo adequado o seu ofício (DESQ, n. 13).
A Igreja recomenda, em primeiro lugar, que se faça um discernimento atento antes de recorrer ao exorcismo (DESQ, n. 14-17) e isso exige que os exorcistas tenham bem presentes os princípios e as modalidades de implementá-lo. Uma vez apurada a realidade de uma ação diabólica extraordinária, ao exorcista se pede que saiba acompanhar os atribulados pelo Maligno num caminho de fé pois, se seu objetivo é justamente o da libertação da presença e do influxo demoníaco, não pode prescindir da necessária conversão. Como nos ensina a doutrina espiritual, o mistério do mal pode, de fato, irromper na nossa vida seja por causa da nossa negligência e infidelidade seja por uma especial permissão divina, querendo o próprio Deus realizar aquele processo de purificação que Ele pede a cada um e que, especialmente naqueles que buscam se assemelhar ao Filho com todas as suas forças, pode assumir aspectos particularmente fortes. Este último aspecto do ministério exorcístico comporta que o papel do exorcista não se reduza àquele de distribuidor de bênçãos
. Ao contrário, o contexto de secularização e de neo paganismo, a diluição ou a perda da fé, o relativismo e a confusão geral devem impeli-lo a cuidar mais da vida espiritual de seus pacientes, para fazer-se realmente próximo de quem assiste. Caso contrário, é muito difícil que o fiel alcance a plena libertação do Maligno
(Diretrizes, n. 364).
À luz dessas considerações, só posso expressar minha satisfação pela feliz conclusão do iter de preparação do texto das Diretrizes para o ministério do exorcismo à luz do ritual vigente
aprontado pela Presidência da Associação Internacional dos Exorcistas, cuja redação requereu muito tempo e tanta fadiga dada a vastidão e delicadeza da matéria tratada. Tal texto, submetido ao Dicastério da Congregação para o Clero, que o examinou e corrigiu valendo-se também do contributo da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e da Congregação para a Doutrina da Fé com base nas respectivas competências, foi considerado, assim emendado, "um precioso e válido instrumento para uso interno desta Associação". ⁸
Certamente as presentes Diretrizes ajudarão os sacerdotes exorcistas, membros da AIE, a evitar, no exercício de seu munus, práticas ou métodos não correspondentes às normas com as quais a Igreja regula o ministério do exorcistato. O exorcista, com efeito, não pode proceder segundo o próprio arbítrio, do momento que opera no quadro de uma missão oficial que o torna de algum modo representante de Cristo e da Igreja. No exercício do seu ministério ele deve, portanto, conhecer, entender e ater-se às normas estabelecidas pela Autoridade eclesiástica, que compreendem certamente o que diz respeito à correta celebração do sacramental do exorcismo, mas juntamente regulam muito mais do que apenas a ação litúrgica, como muito oportunamente as Diretrizes continuamente evidenciam e recordam.
Uma segunda função que as Diretrizes poderão cumprir será contribuir para a formação inicial dos candidatos ao ministério de exorcista todas as vezes que seus Ordinários considerem por bem servirem-se da Associação Internacional dos Exorcistas para assegurar-lhes princípios fundados e linhas seguras de comportamento na atuação deste delicado e difícil serviço eclesial.
Com tudo isso, é necessário precisar que as presentes Diretrizes da Associação Internacional dos Exorcistas não são um texto do Magistério autêntico da Igreja, nem têm a força de uma disposição disciplinar emanada pela Autoridade eclesiástica. Como está bem sublinhado na Apresentação que lhes faz o Presidente da AIE, Pe. Bamonte, e como foi recordado pelo Prefeito da Congregação para o Clero na carta já citada, as Diretrizes permanecem um documento privado, reservado para o uso interno dos associados à AIE, e "cedem em face de eventuais disposições, pelas quais Bispos individuais ou Conferências Episcopais pretendem regular o exercício do ministério dos exorcistas no âmbito do território de sua competência, com a consequência que o exorcista, membro da AIE,
deverá ater-se a essas disposições, se elas diferirem das indicações das Diretrizes".
Dito isto, julgo, como opinião pessoal, que o texto das presentes Diretrizes possa ser de ajuda não só aos membros da AIE no exercício de seu ministério, mas também às Conferências Episcopais individuais caso considerassem oportuno redigir e acrescentar, às Premissas gerais do DESQ, "um Diretório pastoral sobre o uso do exorcismo maior, pelo qual os exorcistas compreendam melhor a doutrina da Introdução Geral e aprendam o seu significado pleno", segundo as indicações que o novo Ritual oferece em matéria (cf. DESQ, n. 38).
Ao conceder de bom grado o meu imprimatur ao texto das Diretrizes da Associação Internacional dos Exorcistas, não posso não recordar, neste momento, os saudosos Don Gabriele Amorth e o Servo de Deus Padre Cândido Amantini, ambos estimados exorcistas ao serviço da Igreja de Roma por muitos anos e sem os quais a Associação Internacional dos Exorcistas não teria nascido, nem as presentes Diretrizes teriam visto a luz. Possa a intercessão deles obter de Deus o dom de exorcistas ornados de piedade, prudência, ciência e integridade de vida, especificamente preparados para seu serviço eclesial e capazes de guiar os fiéis à santidade, porque eles primeiro a buscam e vivem.
Concluo estas linhas de apresentação, agradecendo ao Pe. Francesco Bamonte por ter-me pedido de escrevê-las e referindo-me ao que eu disse na homilia de 28 de setembro de 2018, no contexto da Convenção Internacional da AIE:
Caros exorcistas que irão ler estas minhas palavras, recordo-vos que o ministério que vos foi confiado vos torna colaboradores particulares do vosso Bispo e torna atual a missão própria dos Apóstolos. As situações que se vos apresentam, em muitos casos, vos oferecem a oportunidade de anunciar Cristo a quem busca salvação e de chamar à conversão quem se perdera. A vós abrem o coração as pessoas e as famílias, a vós são reveladas chagas profundas e dolorosas, e no vosso ministério verdadeiramente revive o de Jesus. A vossa acolhida e a delicadeza, com que sabereis curar os corações despedaçados, são a Boa Notícia
que continua a ressoar no mundo, e a sua força saneante aparece ainda mais evidente onde a nossa incapacidade de criaturas aparece mais desoladora. Vós, muito mais do que tantos Sacerdotes, sois testemunhas da potência do Senhor, que age através da Sua Palavra e da imposição das vossas mãos: cultivai o dom na maior humildade e, quanto mais possais, no escondimento. Confio o vosso precioso ministério à Virgem Imaculada: que a sua celeste proteção vos acompanhe, vos obtenha do Senhor a verdadeira sabedoria e confirme o vosso coração na fé serena dos amigos do Senhor.
Angelo Card. De Donatis
Vigário-Geral de Sua Santidade
para a Diocese de Roma
APRESENTAÇÃO
Caríssimos sócios da Associação Internacional dos Exorcistas, com sentimentos de alegria e vivo reconhecimento ao Senhor Jesus Cristo e à Virgem Imaculada, sua e nossa Mãe, transmito-lhes as Diretrizes para o Ministério do Exorcismo, fruto de um estudo acurado que, por diversos anos, engajou a Presidência da nossa Associação.
A constante escuta que em todo este tempo a Presidência da AIE manteve com vocês, anotando dificuldades, problemas, necessidades e pedidos, juntamente com a atenção reservada a tudo aquilo que, nos vários países do mundo e nas diversas realidades eclesiais, diz respeito ao ministério dos exorcistas, influiu bastante no projeto inicial das Diretrizes, orientando sua elaboração e dando a elas a ordem considerada mais idônea, a fim de satisfazer as exigências do serviço prestado por vocês à Igreja.
Utilidade das Diretrizes
a. O resultado obtido é, em primeiro lugar, aquele de um instrumento considerado idôneo por nós para que os sacerdotes exorcistas de nossa Associação evitem, no exercício de seu munus, práticas ou métodos não correspondentes às normas com que a Igreja regula o ministério do exorcistado. O exorcista não pode proceder segundo o próprio arbítrio, uma vez que opera no quadro de uma missão oficial, a qual o torna, de algum modo, representante de Cristo e da Igreja. No desempenho de seu ministério, ele deve, portanto, conhecer e cumprir as normas estabelecidas pela Autoridade eclesiástica, as quais certamente incluem o que diz respeito à correta celebração do sacramental do exorcismo e, ao mesmo tempo, regulam muito mais do que apenas a ação litúrgica.
b. Uma segunda função, que as Diretrizes poderão cumprir, será contribuir para a formação inicial dos candidatos ao ministério de exorcista, sempre que seus Ordinários considerem apropriado servir-se da nossa Associação para assegurar-lhes princípios bem fundados e orientações seguras de comportamento na implementação deste delicado e difícil serviço eclesial.
c. Uma vez que há uma demanda crescente, por parte de Conferências Episcopais, Dioceses ou outras realidades eclesiais, de encontros formativos que visem facilitar o primeiro discernimento nos casos de fiéis que se consideram necessitados do ministério dos exorcistas, as Diretrizes poderão ser, ademais, um útil instrumento para os membros de nossa Associação, chamados a falar sobre este argumento aos pastores de almas em geral ou aos sacerdotes, religiosos ou leigos encarregados, pelos respectivos Bispos, para servir de filtro entre os fiéis e os próprios exorcistas.
d. Por fim, as Diretrizes poderão ser úteis para os membros de nossa Associação na escolha e formação de seus possíveis colaboradores (auxiliares), graças às indicações pontuais que dão acerca dos requisitos e tarefas de quem se oferece para ajudar os sacerdotes exorcistas no exercício de seu ministério.
Valor das Diretrizes
Para evitar equívocos, desejo fazer imediatamente alguns esclarecimentos importantes.
e. O primeiro é que as Diretrizes não são uma "Summa" de todo o saber relativo ao nosso ministério de exorcistas. Ademais, no que diz respeito a cada um dos pontos tratados, não pretendem expô-los de modo exaustivo; mas, espera-se, apenas suficiente.
f. O segundo é que as Diretrizes são e permanecem um documento privado, destinado ao uso interno da nossa Associação. Não constituem uma interpretação autêntica da disciplina da Igreja em matéria de exorcismos, sendo essa reservada apenas à Autoridade eclesiástica competente. Às Diretrizes só deve ser atribuído um valor doutrinal, aberto a possíveis correções, melhorias e integrações.
g. O terceiro, consequência do acima exposto, é que as Diretrizes cedem em face de eventuais disposições, pelas quais Bispos individuais ou Conferências Episcopais pretendam regular o exercício do ministério dos exorcistas no âmbito do território de sua competência. Isso significa, concretamente, que o exorcista, membro da nossa Associação, deverá ater-se a essas disposições se elas diferirem das indicações das Diretrizes.
Introdução à leitura e ao estudo das Diretrizes
Dito isso, caríssimos sócios, desejo oferecer-lhes algumas reflexões pessoais que possam servir de introdução à leitura e ao estudo destas Diretrizes.
Nos últimos decênios, deu-se, em todo o mundo ocidental, um notável aumento de interesse sobre alguns aspectos ligados ao nosso ministério, particularmente no que diz respeito ao fenômeno da possessão diabólica e ao consequente papel que os exorcistas católicos desempenham na árdua tarefa de libertar dela.
Sobre tal interesse – que, devido à influência dos meios de comunicação social, tem envolvido não só o mundo acadêmico, mas também vastos setores da população –, não tenciono deter-me nesta sede, apresentando dados e exprimindo avaliações. Limito-me, ao invés, a sublinhar que, em alguns ambientes culturais, continua uma peremptória descrição do exorcismo católico como se fosse uma realidade escabrosa, violenta, obscura, quase como a prática de magia, à qual se quer contrapô-lo, mas que acaba, em última instância, colocando-o no mesmo plano das práticas ocultas.
Na verdade, nós, exorcistas católicos, sabemos bem que as coisas são muito diferentes. O exorcismo não é fruto de um saber esotérico; ao contrário, corresponde plenamente ao ditado
da autêntica Tradição. Quando é feito em situações de real possessão diabólica e segundo as normas estabelecidas pela Igreja – inspiradas na fé genuína e na necessária prudência –, manifesta o seu caráter salvífico, positivo, caracterizado por uma experiência viva de pureza, luz e paz. A tônica
, poderíamos dizer, é constituída pela alegria, fruto do Espírito Santo, prometida por Jesus àqueles que acolhem com confiança a sua Palavra.
Ora, quem apresenta o exorcismo católico nos termos apresentados anteriormente é evidente que não o conhece e, sobretudo, que não aceita seus pressupostos. Além disso, exigir compreender o exorcismo católico sem ter uma fé viva em Cristo e no que Ele, na Revelação entregue à Igreja, nos ensina sobre Satanás e sobre o mundo demoníaco é como querer afrontar equações de segundo grau sem conhecer as quatro operações fundamentais da matemática e suas propriedades. Que compreensão se pode ter da ação exorcística realizada pela Igreja, por meio de seus ministros, se se recusa, a priori, a estabelecer se tem razão quem crê na presença concreta de Satanás nos endemoniados, ou quem, ao invés, a nega? Que cientificidade pode haver em semelhante tomada de posição, embora apenas em nível metodológico?
Considerando essas coisas, caríssimos sócios, parece-me necessário, da nossa parte, voltar sempre às fontes do nosso ministério, que não nasce absolutamente do medo das bruxas, do desejo de se opor à magia ou da vontade de impor uma determinada visão religiosa em detrimento de outras diferentes concepções sobre Deus e o mundo, mas apenas do que Jesus disse e do que Ele, por primeiro, fez, dando aos Apóstolos e aos seus sucessores a missão de continuar sua mesma obra.
A atividade exorcística de Jesus como parte essencial de seu ministério messiânico
Os Evangelhos nos dizem, sem sombra de dúvida, que Jesus, em sua vida terrena, se confrontou e lutou contra as duas formas de ação do mundo demoníaco: a ordinária e a extraordinária.
A ordinária, enfrentou-a não só ensinando às pessoas o modo de vencer as seduções de Satanás, mas sofrendo-as pessoalmente, como quando o Maligno o tentou por quarenta dias no deserto (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13).
A ação extraordinária, por sua vez, enfrentou-a socorrendo pessoas que eram vítimas, mediante os exorcismos.⁹
Nos assim chamados sumários
dos Evangelhos sinóticos, a obra exorcística de Jesus, destinada a libertar pessoas possuídas ou atormentadas por espíritos malignos, é apresentada como parte essencial de seu ministério messiânico, distinguindo-a nitidamente da igualmente importante atividade taumatúrgica, imediatamente destinada à cura de pessoas afligidas por várias doenças e enfermidades (Mt 4,24 e Mc 1,39; cf. também Mt 8,16; Mc 1,32-34; Lc 4,40-41).
No Evangelho de São Lucas, é o próprio Jesus que dá testemunho deste seu obrar enquanto agir messiânico orientado ao mistério pascal: Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: ‘Sai e parte daqui, pois Herodes quer matar-te’. Ele disse: ‘Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã, e no terceiro dia se completará a minha obra’
(Lc 13,31-32).
São Lucas informa também que algumas mulheres, libertas de espíritos maus e de enfermidades, se puseram a seguir Jesus, detendo-se em particular na pessoa de Maria Madalena, dada a relevância de seu caso
e a importância atribuída a ela pela comunidade eclesial: Depois disso, Jesus percorria cidades e povoados, proclamando e anunciando o evangelho do Reino de Deus. Estavam com ele os Doze, e também algumas mulheres que tinham sido curadas de maus espíritos e de doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens
(Lc 8,1-3).
Dos muitos exorcismos realizados por Jesus – a maior parte em território palestino, mas alguns também em território pagão – os Evangelhos sinóticos transmitem uma narração mais ou menos detalhada de alguns desses:
1) A libertação do endemoniado na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,21-28; Lc 4,31-37);
2) A libertação do endemoniado – ou dos endemoniados – no território dos Gerasenos – ou dos Gadarenos (Mt 8,28-34; Mc 5,1-20; Lc 8,26-39);
3) A libertação do jovem lunático (Mt 17,14-21; Mc 9,14-29; Lc 9,37-43);
4) A libertação da filha da Cananeia (Mt 15,21-28; Mc 7,24-30);
5) A libertação e a cura de um endemoniado cego e mudo (Mt 12,22);
6) A libertação e a cura de um endemoniado mudo (Mt 9,32-34; Lc 11,14);
7) A libertação e cura de uma mulher encurvada há dezoito anos (Lc 13,10-17).
A atitude diferente de Jesus para com as pessoas doentes e aquelas possuídas
Do que os Evangelistas relatam mais detalhadamente, emerge uma atitude diferente de Jesus para com as pessoas possessas pelo demônio em comparação com aquelas simplesmente doentes.
Quando a pessoa está doente, Jesus estabelece um relacionamento imediato com o doente e o cura. As palavras que nessas circunstâncias Jesus pronuncia às vezes evidenciam a importância que a fé nele teve para a obtenção da cura (Mt 9,22; Mc 5,34; Lc 8,48); às vezes são comandos dirigidos ao doente para fazer algo;¹⁰ às vezes são expressões com as quais declara sua vontade.¹¹
Se, pelo contrário, se depara com uma pessoa cujo corpo está possesso pelo demônio, Jesus volta-se decididamente para alguém outro – distinguindo-o da pessoa do possesso – e, com um comando imperativo, ordena-lhe que abandone aquele corpo e não atormente mais aquela criatura.¹²
A atitude diferente dos enfermos e dos possuídos em relação a Jesus
Nos Evangelhos, porém, a distinção entre a condição de