Religião E Religiosidade Inaciana No Brasil
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Religião E Religiosidade Inaciana No Brasil - Saluar Antonio Magni
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 5
CAP 1 RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE 13
CAP 2 SINCRETISMO RELIGIOSO 31
CAP 3 OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DE S. INÁCIO DE
LOYOLA 54
CAP 4 QUEM FOI INÁCIO DE LOYOLA, CRIADOR DOS
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS? 68
CAP 5 QUAL A MÍSTICA E A METODOLOGIA QUE SE
BASEIAM OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS? 75
CAP 6 PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DA VIDA 89
CAP 7 EU PECADOR: AMADO E CHAMADO POR DEUS 106
CAP 8 FAZER-SE DISCÍPULO CRISTIFICADO PELA CONTEMPLAÇÃO DOS MISTÉRIOS DE CRISTO 129
CAP 9 CONFIRMANDO A OPÇÃO DE VIDA NOVA NA PAIXÃO
DE CRISTO 218
CAP 10 IDENTIFICANDO-SE COM A VIDA NOVA QUE A RESSURREIÇÃO NOS TRÁS 243
CONCLUSÃO 266
BIBLIOGRAFIA 271
LIVROS PUBLICADOS PELO AUTOR NO CLUBE DOS
AUTORES 272
2
AGRADECIMENTO
Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro.
Agradeço também aos Padres: Adroaldo, orientador do CEI, que me orientou nos exercícios espirituais, e me ajudou a construir toda experiência dos retiros, contemplações, meditações e estudos, obtidos durante os Exercícios Espirituais em etapas, que realizamos eu e minha querida esposa, em Itaici. Ao padre Chiquinho, Vitor e em especial Geraldo de almeida Sampaio, que ajudaram na minha formação religiosa e apostólica no movimento de Cursilhos de Cristandade. À Márcia, minha acompanhante nos exercícios, pelas suas inspiradas orientações, à Irmã Fátima que orientou nosso grupo de oração e discernimento e me orientou na busca de conhecer a minha personalidade através das tipologias e em especial o eneagrama.
Irmã Zenaide, psicóloga que acompanhou o nosso grupo de partilha e melhoria da personalidade. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana.
E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte.
Ao Movimento de Cursilho de Cristandade, especialmente à Escola Vivencial, onde durante mais de 30 anos tenho recebido e compartilhado com amigos e irmãos de fé, a minha vida de cristão comprometido, procurando vivenciar o tripé: oração, formação e ação evangelizadora. Em especial à Canção Nova, especialmente ao Padre Léo, que já vive na eternidade, pelos ensinamentos e orientações nos muitos seminários de cura interior que tive oportunidade e a felicidade de participar, sob a orientação do nosso querido e cheio da Graça de Deus, MonSenhor Jonas Abib, fundador da Canção Nova, hoje a maior e mais efetiva comunidade de evangelização do mundo católico.
3
Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei!
Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci!
Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, enfim vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o principio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)
Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes te conheceres a ti mesmo.
(Abade Evágrio Pôntico).
Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no
(Jo 24, 31).
4
INTRODUÇÃO
Quero iniciar este livro sobre Religião e Religiosidade Inaciana no Brasil
, mostrando que a religião e religiosidade expressam, mais que as crenças ou práticas, a cultura contemporânea, um emaranhado de significados simbólicos que permite entender o universo das ideias e mentalidades, os ritos do cotidiano, as relações sociais e as instituições políticas; enfim, permite entender a alma do povo brasileiro.
É comum ouvirmos dizer que o Brasil é um país caracterizado pelo sincretismo religioso. Esse processo teria se originado pela confluência de povos que constituíram o Brasil, como os europeus, africanos, indígenas e demais grupos que se somaram após a colonização. Há uma diversidade muito grande de religiões em todo o mundo, e no Brasil não é diferente.
Mesmo o Cristianismo, religião predominante no Brasil, possui vários tipos de correntes e movimentos teológicos. Essa variedade de religiões influencia a cultura dos brasileiros, suas crenças, manifestações, festividades e modos de compreender a vida.
É importante conhecer mais sobre o que é o sincretismo religioso, e como ele está presente em nossas vidas e na cultura do Brasil. Neste livro, vamos conhecer mais sobre as religiões do mundo, as religiões brasileiras e como se originou este sincretismo no Brasil. Além disso, vai entender o que significa a palavra sincrético
e, também, que há pessoas que não possuem religião alguma. O sincretismo religioso é uma das marcas da cultura brasileira. No contexto do Brasil Colonial, entraram em contato vários tipos de manifestações religiosas, como aquelas praticadas por cada uma das tribos indígenas que já habitavam as terras brasileiras. Além das religiões africanas e da religião dos europeus (cristianismo). No contato entre estes povos e suas manifestações religiosas, houve uma confluência entre os costumes, hábitos e crenças, e isso se estendeu para a forma como a religião era praticada também.
No Brasil, houve a mistura entre as religiões dos indígenas, europeus e africanos. Apesar desta mistura, que ocorreu em menor ou maior 5
intensidade em alguns aspectos, os preceitos originais de cada uma das religiões não foram modificados. Após isso, somaram-se várias outras religiões, as quais eram trazidas pelos povos que chegavam ao Brasil, tornando ainda mais sincrética a religiosidade brasileira.
Hoje, o Cristianismo é reconhecido como religião predominante no Brasil, embora ele próprio seja caracterizado por várias correntes teológicas (catolicismo, protestantismo, pentecostalismo, adventismo, etc). No Brasil, em primeiro lugar aparece o Catolicismo, em segundo os Evangélicos, posteriormente os Espíritas, já em menor quantidade. As demais religiões, que são muitas e bem diversificadas, aparecem na categoria Outras
. Ou seja, não são contabilizadas individualmente e, por vezes, pouco conhecidas.
Compreender a formação da religiosidade brasileira e pensar a diversidade religiosa a partir da construção histórica do Brasil, considerando essas quatro matrizes religiosas: indígena, ocidental, africana e oriental, na ordem histórica da formação do povo brasileiro.
Nossos pressupostos se definem a partir do próprio território brasileiro e de suas genealogias religiosas. Dito isto, colocamos a questão fundacional: Qual é a primeira matriz religiosa brasileira? Ora, ainda que a religiosidade indígena tenha sido negada pelos primeiros invasores e antropólogos, inegavelmente temos que admitir que a primeira matriz religiosa do Brasil é a indígena.
Os povos indígenas brasileiros em toda a sua diversidade e riqueza cultural possuíam e possuem uma enorme variedade de religiosidades, visto que são muitos povos com costumes e dialetos diferentes. Então, não podemos falar em religião indígena, pois há tantas formas de religiosidade quanto há povos distintos.
Para efetuar uma intermediação entre a academia e a religiosidade dos povos indígenas brasileiros, adotamos o termo religião sem esquecer que o termo não se aplica ao caso estudado em todas as suas nuances e particularidades. Tal identificação não é apenas uma questão de resgate histórico, mas também de alteridade e reconhecimento da importância do xamanismo indígena brasileiro, tanto para esses povos tão massacrados como para a formação da espiritualidade de nosso povo.
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A segunda matriz presente no território brasileiro é oriunda da Europa ocidental, pois, ainda que se possa afirmar a gênese geográfica oriental do cristianismo, foi de Portugal e Espanha que o cristianismo católico apostólico romano veio para o Brasil no processo de colonização.
No período colonial e imperial, o cristianismo enquanto matriz religiosa difundiu, por meio das missões jesuíticas e da devoção aos santos e santas, o chamado cristianismo popular. Segundo Leonardo Boff, uma das maiores criações culturais de âmbito religioso no Brasil é representada pelo cristianismo popular, que se tornou uma força impositiva nas comunidades.
Assim, colocados à margem do sistema político e religioso, os pobres, indígenas e negros deram corpo à sua experiência espiritual no código da cultura popular que se rege mais pela lógica do inconsciente e do emocional do que do racional e do doutrinário.
A terceira matriz introduzida no Brasil foi a matriz africana, que trouxe nas galeras os negros escravizados, a crença nos orixás e também alguns traços de influência da religião islâmica, entre outras formas de religiosidade praticadas na África. Segundo o pensador brasileiro Gilberto Freyre, a nossa herança cultural e religiosa africana é notória e pode ser percebida no sincretismo religioso entre santos e orixás, e também numa série de elementos da linguagem, da alimentação, dos hábitos e das crenças.
O que chamamos de religião de matriz africana, mais propriamente dita, é o candomblé e a umbanda. Os bantos, depois de um primeiro período de autonomia religiosa, que se conhece através de documentos históricos, assistiram à transformação de seus cultos. Por um lado, esses deram lugar à macumba; por outro, amoldaram-se às regras dos candomblés nagôs, não se distinguindo deles senão por uma maior tolerância. Os cultos bantos em gradativo declínio acolheram os espíritos dos índios, o que iria levar ao surgimento de um candomblé de caboclos
, e adotaram cantos em língua portuguesa, ao passo que os candomblés nagôs só usam cantos em língua africana.
A quarta matriz religiosa também desembarca nas terras dos indígenas no processo de imigração dos povos orientais, principalmente com os japoneses, mas que posteriormente se expande, ampliando assim o 7
leque de religiões orientais seguidas no Brasil. O budismo desembarca nas terras tupiniquins no início do século 20 e é a organização religiosa mais antiga e numerosa no Brasil, dentre as religiões de matriz oriental. Segundo o último Censo são aproximadamente 300.000 praticantes no Brasil. O
budismo que mais prospera no Brasil é o tibetano, liderado pela sua santidade o Dalai Lama. Mas não podemos nos esquecer, entre as religiões de origem japonesa, da Igreja Messiânica Mundial do Brasil, que inicia sua trajetória religiosa aqui no ano 1955, e a Seicho-No-Ie, que inicia suas atividades religiosas em terras brasileiras em 1930. Assim como o movimento Hare Krishna originário na Índia e a Fé Bahá’í, de origem persa e cuja comunidade começa no Brasil em fevereiro de 1921.
A Companhia de Jesus, os Jesuítas, desde seu início, atua nos mais diversos campos das atividades humanas. Sob o estandarte da Cruz, os jesuítas atravessam as fronteiras geográficas e culturais, indo onde ninguém mais quer, fazendo o que ninguém mais pode ou, se já o faz, procuram fazer melhor. Sua missão: salvar as almas, e todas elas, em uma promoção da fé, da cultura e da justiça. Seguindo a premissa inaciana Encontrar a Deus em tudo e tudo em Deus
, em 1549, um pequeno grupo de jesuítas – formado pelos padres Manuel da Nobrega, João de Azpicuelta Navarro, Leonardo Nunes, Antonio Pires e pelos Irmãos Diogo Jacome e Vicente Rodrigues –
atravessou o oceano, sem saber ao certo o que iria encontrar, quais os desafios e as dificuldades a serem superadas. Tinham apenas a certeza: mostrar a todos a felicidade plena que se encontra no Deus revelado, Jesus Cristo. Assim, aportaram no litoral brasileiro em 29 de março daquele ano.
Por meio da acolhida, da escuta e do diálogo, passos fundamentais para o processo de inculturação, conseguiram se aproximar dos povos nativos, entrando em tal comunhão que os ensinamentos passam a ser oferecidos na língua dos próprios gentios. Com esse olhar atento e compassivo sobre os indígenas, compreenderam que a arte poderia ser uma forma também eficaz de instrução e, juntamente com ela, a música, o teatro. Adentrando no território pelos caminhos indígenas, fizeram daquele novo mundo sua casa, vivenciando a presença de Deus nos eventos mais cotidianos.
Os jesuítas, homens para os outros e com os outros, têm esse amor apaixonado ao Cristo, que desinstala de nós mesmos e, por consequência, 8
faz com que haja um despojamento apostólico que interage com o que lhe é distinto. À vista disso, a Companhia de Jesus, assim como o povo brasileiro, passou a ter diversos rostos e sotaques. O trabalho missionário da companhia de jesus foi, e ainda é, muito significativo para o Brasil. Ao longo desses 500 anos de trabalho missionário no Brasil, os jesuítas passaram por todo o tipo de infortúnio, mas nunca se deixaram abater pelas fadigas que aquela realidade lhes trazia. Mesmo perseguidos e expulsos, sabiam que nada deveriam temer, pois a vida não mais lhes pertencia e Deus estava se servindo deles para fazer bem aos outros e, assim, realizariam melhor a missão do Cristo: a concretização da vontade do Pai.
Com um discernimento constante, conseguiram identificar as necessidades de adaptação de suas diferentes missões. Por vezes, tiveram que tomar decisões difíceis como término e alterações de diversos trabalhos, não por desânimo, mas por saber que suas raízes não estão nos lugares. A permanência da Companhia de Jesus se dá por meio dos dons reconhecidos e compartilhados, do acolhimento, da educação de excelência, dos projetos desenvolvidos, das injeções de ânimo nos momentos de dificuldade, no oferecimento da rica espiritualidade inaciana, ou seja, na vida das pessoas que eles encontraram e inspiraram, e inspiram, ao longo do caminho nesses 500 anos de missão no Brasil.
Mais à frente vamos estudar e meditar a espiritualidade Inaciana que enraíza-se na experiência de Santo Inácio e nos Exercícios Espirituais.
Inácio de Loiola vivia convicto de que Deus habita e trabalha em tudo o que existe e acontece. A vida espiritual não se resume a momentos de oração ou à celebração dos Sacramentos, mas implica identificar-se com Jesus, procurando e encontrando Deus e a Sua vontade em todas as coisas. Esta procura exige viver numa atitude de discernimento. Implica também recordar que o ser humano não se inventou a si próprio, sendo convidado a reconhecer todo o bem recebido e a viver agradecido. Qualquer espiritualidade cristã é um caminho inspirado pelo Evangelho, através do qual se procura seguir Jesus. Sem perder o seu vínculo à Igreja, cada espiritualidade assume formas próprias: na relação com Deus, no estilo de vida e no modo como se compromete com a transformação do mundo.
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Caros leitores/as, nestes anos tenho aprendido que nós somos responsáveis por tudo que acontece à nossa volta. Através dos nossos pensamentos, emoções e palavras, criamos situações ao longo de nossas vidas que poderão ser destrutivas ou construtivas. Todos os acontecimentos em nossas vidas até o momento em que nos encontramos foram criados por nossos pensamentos e crenças que tivemos no passado, pensamentos estes que usamos ontem, na semana passada, no mês passado, no ano passado e durante toda nossa vida. O que passou não pode ser modificado, mas, o importante é o que estamos escolhendo pensar agora, porque o pensamento sim pode ser modificado, pois todos os estados mentais negativos atuam como obstáculos à nossa felicidade.
Muitos vivem irados, com raiva, e essa atitude é um dos maiores empecilhos para atingirmos o estado de liberdade interior, que é onde reside a felicidade. A raiva é tida como a mais hedionda das emoções, ela perturba nosso discernimento, nos causa desconforto e consegue devastar nossos relacionamentos pessoais com a força de um furacão, que põe abaixo ou pelos ares tudo que se interpõe à sua passagem. Estudos comprovam que a raiva, a fúria e a hostilidade são prejudiciais ao sistema cardiovascular, causando aumento de colesterol, de pressão alta e até de mortes prematuras.
Muitas pessoas têm ânimo instável e atuam impulsivamente, duvidando de sua identidade e sofrendo explosões de violência contra ela mesma e contra os demais. Essas pessoas padecem de um transtorno que conduz ao abatimento e desesperança, caracterizada pela instabilidade emocional. Sem conseguir se controlar contra o abandono, ataques de ira, sensação de vazio interior e impetuosidade. Suas relações, seu sentido de si mesmo e o seu ânimo, se tornam muito instáveis.
Muitos têm impulsos de gastar, ter relações sexuais abusivas e descontroladas, abusar de substâncias e comidas ou dirigir de forma temerária e incontrolável. Suas possibilidades de continuar estudando, ter um emprego ou estabelecer uma relação sentimental, casamento ou namoro se tornam difíceis. Essas pessoas tendem a experimentar longos períodos de abatimento e desilusão, interrompidos às vezes por breves episódios de irritabilidade, atos de autodestruição e cólera impulsiva.
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Estes estados de ânimo costumam ser imprevisível e parecem ser desencadeados menos por fatos externos do que por fatores internos da pessoa. Fique certo caro amigo, pois estes sentimentos destrutivos quando brotam dentro de nós, acabam nos dominando de tal forma que destroem nossa paz mental e por isso são corretamente considerados como os nossos inimigos internos. Esses nossos inimigos internos só têm uma função, a de nos destruir e muitas vezes envolver também quem está a nossa volta, especialmente nossos familiares e amigos, exatamente os que mais amamos ou que deveríamos amar.
Nossa presença de espírito e nossa sabedoria desaparecem, sentimos uma ansiedade que nos sufoca. Acabamos perdendo a capacidade de distinguir o que é certo ou errado, e aí, somos lançados num estado de confusão tamanha que agrava ainda mais nossos problemas e dificuldades.
Você já deve ter percebido que quando isto acontece nossa tensão tende a aumentar, nosso nervosismo e nossa fisionomia também se transformam, e emanamos, desprendemos uma vibração tão hostil que todos se afastam.
Até os nossos animais de estimação, como o gato ou cachorro, podendo mesmo nos transformar em autores ou vítimas de crimes hediondos contra pessoas próximas, ou mesmo contra nosso próprio ser.
Quantos suicídios e vidas autodestruídas eu tenho visto nestes últimos anos. Quantas tristezas geram! Casais se separam de uma união que deveria ser indissolúvel, filhos matam pais, pais matam filhos, amigos se distanciam, pessoas perdem o emprego. Quanta angústia e desolação!
A ira, a raiva, a depressão, o mau humor constante, a indolência e muitos outros problemas. São todos inimigos tão poderosos, que podem ficar atuando somente por instantes ou passar de geração para geração. Em alguns casos temos até raiva de pessoas que já faleceram há muito tempo, e assim o inimigo interno continua ativo com toda a sua força. Em outros casos mantemos raiva por desastres financeiros ou relacionamentos que já acabou há muito tempo.
Francamente caros amigos, eu já passei por muito disso, e ainda hoje luto contra minhas instabilidades, temperamento difícil, impaciência e intolerância. Porém tenho descoberto, juntamente com minha querida 11
esposa, que todos estes sentimentos podem ser construtivos, quando os utilizamos para detectar o que está dentro de nós como inimigos e com isso enxergar nossos egoísmos, nossas críticas, nossas lamentações, nossa falta de fé, ou sentimentos de culpar os outros por nossas mazelas, etc. Temos aprendido que devemos usar a força destas emoções para destruir os maus sentimentos que habitam em nossa alma e impedem que nossa vida, e a de todos aqueles que dela participam desfrutem de alegria, paz e amor. Para conseguirmos dominar esses inimigos internos, temos descoberto algumas ferramentas que são acessíveis a cada um de nós, basta força de vontade e perseverança em aplicá-los e transformarmos para melhor, nossas vidas e a vida daqueles com os quais convivemos. Uma grande ferramenta que temos descoberto nestes últimos 20 anos, são os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola. Trata-se, pois, de uma metodologia de desenvolvimento espiritual, proposta por Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (Ordem Religiosa dos Padres e Irmãos Jesuítas).
Esse é o grande motivo pelo qual escrevo este livro: que minha experiência e a experiência de minha esposa, nossos erros e acertos, ajudem a cada um de vocês leitor/as a buscarem uma vida feliz e cheia de sentido e que a cura interior seja alcançada através da oração, da contemplação e da busca de nos conformarmos à pessoa de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor.
12
CAP 1 RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE
A religião e religiosidade expressam, mais que as crenças ou práticas, a cultura contemporânea, um emaranhado de significados simbólicos que permite entender o universo das ideias e mentalidades, os ritos do cotidiano, as relações sociais e as instituições políticas; enfim, permite entender a alma do povo brasileiro. Neste sentido, a análise do período colonial alcança as raízes da formação deste sistema de crenças. A miscigenação cultural, durante a constituição colonial, criou no Brasil um conjunto de elementos religiosos polissômicos, comunicando vários sentidos que deixam transparecer o econômico, o social, o lúdico e o étnico.
Um sistema cultural que espelha o sincretismo e a extrema capacidade adaptativa do povo brasileiro, capaz
de absorver características externas e
transformá-las. Em certo sentido, o
achamento do Brasil esteve inserido
dentro do ideal de cruzada presente
em Portugal.
Os lusos desbravaram os
oceanos em busca de cristãos e
especiarias, pretendendo encontrar
riquezas
que
pudessem
ser
comercializadas e cristianizar o
mundo.
13
Portanto, a origem do processo de ocupação territorial da Terra de Santa Cruz, serviu, de certa forma, as intenções da igreja católica.
Os portugueses que vieram para o Brasil estiveram inseridos no universo mental de seu tempo e espaço, partilharam o ideal de cruzada, adotando o catolicismo como insígnia do poder da coroa. Diante desta concepção, todo o não católico foi considerado um inimigo em potencial, a não aceitação da fé em cristo foi considerada como contestação do poder do rei e afronta direta a todo português, uma motivação que incentivou, dentre outros fatores, o extermínio dos indígenas, vistos como pagãos e infiéis. Os verdadeiros donos da América foram diabolizados, ao contrário do que levaria supor o estereótipo do bom selvagem em voga ainda hoje, e que tantas vezes falseou a retratação dos ameríndios quinhentistas. Dentro deste contexto, a construção de igrejas passou a delimitar a conquista territorial, garantindo a soberania do Estado perante os gentis, criando mecanismo de conversão forçada dos nativos e aculturação em prol dos valores europeus. Pelo prima dos indígenas, a alternativa foi partir rumo ao interior, entregando-se a movimentos messiânicos como a busca da terra sem mal, abrindo espaço para a penetração lusitana. Uma outra saída, adotada principalmente pelos africanos, depois da introdução da escravidão negra, foi maquiar suas crenças, disfarçando-as no culto de imagens e signos cristãos, compondo irmandades, nominalmente católicas, com intuito de facilitar a vida social.
Vigiados de perto por seus senhores e fiscalizados pelos eclesiásticos católicos, na qualidade de escravos, considerados utensílios de trabalho a semelhança de uma ferramenta, os africanos foram obrigados a aceitar a fé em cristo como símbolo da submissão
aos europeus e a coroa portuguesa.
No
entanto,
a
despeito
da
documentação existente sobre os ritos
africanos ter sido produzida, quase
sempre, por autoridades policiais ou da
igreja, interessadas em desqualificar a
religiosidade negra, reduzida a
feitiçaria; a verdade é que elementos
14
das religiões africanas sobreviveram se ocultando em meio à simbologia cristã. Associações de caráter locais, as irmandades negras contribuíram para forjar a polissemia e sincretismo religioso brasileiro. Impedidos de frequentar espaços que expressavam a religião católica dos brancos, as irmandades representavam uma das poucas formas de associação permitidas aos negros no contexto colonial. As irmandades negras surgiram como forma de conferir status e proteção aos seus membros, sendo responsáveis pela construção de capelas, organização de festas religiosas e pela compra de alforrias de seus irmãos, oficialmente auxiliando a ação da igreja e demonstrando a eficácia da cristianização da população escravizada.
Entretanto, ao organizarem-se, geralmente, em torno da devoção a um santo especifico, a qual
assumiu múltiplos significados,
incorporando ritos e cultos aos
deuses africanos, permitiu o
nascimento de religiões afro-
brasileiras como o acontundá, o
candomblé e o calundu.
Muitos indivíduos que
oficialmente cultuavam, por
exemplo, São José, na capela
erguida pela irmandade negra,
dentro do âmbito do acontundá, clandestinamente dançavam em frente a uma imagem semelhante ao som do tambor em casas simples com paredes de barro cobertas de capim, utilizando palavras extraídas de textos católicos, mescladas a um dialeto da Costa da Mina (atual Gana). Um sincretismo que se tornaria típico do povo brasileiro, também presente no candomblé, onde o rito do deus africano Coura e a devoção a Nossa Senhora do Rosário se fundiram, fornecendo um valioso exemplo da simbiose religiosa no Brasil.
A aculturação da santa católica permitiu aos africanos cultuarem seus próprios santos com outros nomes, forjando novas práticas religiosas.
Foi este também o caso do calundu, um rito religioso de origem jeje, uma tribo do atual Benin, responsável por dar aos seus participantes um 15
sentido para a vida e um sentimento de segurança e proteção em um mundo que parecia aos escravos incerto e hostil, o qual sobreviveu convertido ao culto a divindades católicas que foram incorporadas com outros nomes ao candomblé.
Não obstante, não foram apenas religiões africanas ou praticas religiosas indígenas que contribuíram para a formação do sincretismo religioso
brasileiro
e
sua
simbologia
polissêmica.
É interessante lembrar que outros credos estiveram presentes no contexto colonial, também colaborando para formar a cultura brasileira. Dentre uma das crenças que mais exerceu influencia na formação do sincretismo religioso brasileiro, cabe destacar o papel desempenhado pelo judaísmo.
Perseguidos pelo Tribunal do Santo Oficio na Europa, os judeus sempre estiveram em situação de perigo iminente, sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo em Portugal. Aos olhos do Estado os convertidos passaram a ser considerados cristãos-novos, vigiados de perto pela Inquisição, sofrendo preconceitos e perseguições esporádicas. Em muitos casos, judeus mantiveram suas crenças na esfera privada, adotando o catolicismo como fé pública em oposição à prática oculta da religião de Abrão. Nenhuma lei obrigou os judeus a investirem na expansão ultramarina, todavia, quando se fazia patente à falta de recursos do Estado e a perseguição aos judeus era acirrada, os judeus detentores de capital investiram tudo ou quase tudo que possuíssem nas novas rotas que eram abertas, ao que muitos migravam para as novas possessões a fim de escapar de perseguições mais violentas. Em uma breve carta, um tanto danificada pelo tempo, endereçada a El Rei
, datada apenas em 18 de maio, sem referência ao ano, tratando-se provavelmente de correspondência emitida na primeira metade do século XVI, D.
Alvaro de Noronha, "Capitão Mor de
Azamor", faz