Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Historia alegre de Portugal
leitura para o povo e para as escolas
Historia alegre de Portugal
leitura para o povo e para as escolas
Historia alegre de Portugal
leitura para o povo e para as escolas
E-book156 páginas2 horas

Historia alegre de Portugal leitura para o povo e para as escolas

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de nov. de 2013
Historia alegre de Portugal
leitura para o povo e para as escolas

Leia mais títulos de Manuel Pinheiro Chagas

Relacionado a Historia alegre de Portugal leitura para o povo e para as escolas

Ebooks relacionados

Artigos relacionados

Avaliações de Historia alegre de Portugal leitura para o povo e para as escolas

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Historia alegre de Portugal leitura para o povo e para as escolas - Manuel Pinheiro Chagas

    Project Gutenberg's Historia alegre de Portugal, by Manuel Pinheiro Chagas

    This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with

    almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or

    re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included

    with this eBook or online at www.gutenberg.net

    Title: Historia alegre de Portugal

    leitura para o povo e para as escolas

    Author: Manuel Pinheiro Chagas

    Release Date: July 13, 2009 [EBook #29394]

    Language: Portuguese

    *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK HISTORIA ALEGRE DE PORTUGAL ***

    Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images

    of public domain material from Google Book Search)

    HISTORIA ALEGRE DE PORTUGAL

    HISTORIA ALEGRE

    DE

    PORTUGAL

    LEITURA PARA O POVO E PARA AS ESCOLAS

    POR

    M. PINHEIRO CHAGAS

    DAVID CORAZZI—EDITOR

    EMPREZA HORAS ROMANTICAS

    Lisboa—Rua da Atalaya—40 a 52

    1880

    Ao Ill.mo e Ex.mo Sr.

    CONSELHEIRO

    MIGUEL MARTINS DANTAS

    Ministro de Portugal em Londres{VI}

    {VII}

    Ill.mo e Ex.mo Am.o e Sr.

    Ha dois ou tres annos, desejando eu obter de Inglaterra um livro que fôra citado no parlamento por um deputado da opposição ao ministerio Beaconsfield, dirigi-me a v. ex.ª, meu collega na Academia, perguntando-lhe se seria possivel alcançal-o. A resposta de v. ex.ª não se fez esperar. Enviou-me o livro pedido, que obtivera com summa difficuldade, e juntamente com elle quantos documentos officiaes se referiam á questão da escravatura, questão de que esse livro se occupava, e que então me captivava mais particularmente a attenção. Foi mais longe ainda a amabilidade de v. ex.ª; enviou-me um livrinho francez, de que eu não tinha conhecimento, intitulado Entretiens populaires sur l'histoire de France, perguntando-me se não seria possivel fazer, com relação{VIII} á historia portugueza, um livro n'esse genero.

    Li o livro e achei-o encantador. Tempos depois, encontrei-me com v. ex.ª em Lisboa, e disse-lhe que ía tentar o emprehendimento a que v. ex.ª me incitára, e pedi-lhe licença para lhe dedicar o livro, que fosse o fructo d'essa tentativa. É o que faço agora. Como v. ex.ª verá, o plano da Historia alegre de Portugal é diversissimo do dos Entretiens populaires sur l'histoire de France, mas a Historia alegre vae escripta tambem no tom faceto, folgazão, singelo e popular que achei original, picante e util no livro francez que v. ex.ª me recommendava.

    Folgo de ter ensejo de mostrar publicamente a minha gratidão a v. ex.ª pelas provas de estima e de consideração que me dispensou n'esta e n'outras{IX} occasiões, e o alto apreço em que tenho o talento e o saber do escriptor distinctissimo, que renovou completamente, com os seus Faux Don Sébastien, o estudo de uma época interessante da historia portugueza, que nos deu emfim n'esse primoroso livro um estudo profundamente moderno, um estudo, como Gachard os sabe fazer, de um dos episodios mais curiosos e mais romanescos da nossa vida nacional.

    De v. ex.ª

    Cruz Quebrada, 25 de outubro de 1880.

    Att.o v.or e ob.o

    Pinheiro Chagas.{X}

    {XI}

    INTRODUCÇÃO

    O sr. João Martins, mais conhecido pelo nome de João da Agualva, porque morava na pequena aldeia d'este nome, que fica entre Bellas e o Cacem n'um sitio árido e feio, fôra mestre de instrucção primaria numa das freguezias do concelho de Cintra. Conseguira a sua aposentação, e viera para a sua aldeia natal amanhar umas terras que ali possuia, e cujo rendimento o impedira já de morrer de fome nos tempos, em que o Estado lhe pagava munificentemente os noventa mil réis annuaes, com que remunerava n'essa época os primeiros guias do homem nos ásperos caminhos da instrucção. Mas o João da Agualva era homem de uma illustração excepcional. Convivera muito tempo com o prior de Monte-lavar, padre instruido que emprestára{XII} ao bom do professor os livros da sua limitada bibliotheca; em Bellas tambem se relacionára com um engenheiro francez, empregado nas obras de agua de Valle de Lobos, de Broco e de Valle de Figueira, o qual tomára gosto em desenvolver o espirito intelligente e ávido de saber do velho professor. Apezar d'isto vivia modestamente na sua pobre casa, lidando com os saloios que o tratavam com verdadeiro respeito, e tinham por elle um affecto em que entrava um pouco de veneração.

    Era no inverno, e o João da Agualva estava passando a noite em casa de uma boa velha, a tia Margarida, viuva de um caseiro do marquez de Bellas, e mãe do Francisco Artilheiro, que, depois de ter servido cinco annos em artilheria, como indicava o seu sobre-nome, viera para Bellas ajudar a mãe a cuidar de umas leiras de terra, que a velhinha herdára do marido. Um grupo de saloios de Bellas e das aldeias proximas, sabendo que o João da Agualva viera para ali seroar, tinham vindo tambem, desejosos de ouvir algumas das historias que o velho ás vezes contava e que entretinham agradavelmente a noite. N'essa occasião, porém, o professor estava macambusio, e, quando o velho Bartholomeu, irmão da tia Margarida, que era dos que mais gostavam de o ouvir, lhe pediu que contasse alguma das suas historias, o bom do João da Agualva abanou negativamente a cabeça.

    —Não estou hoje com disposição para historias da{XIII} carochinha, disse elle, e sabem vocês? Tenho andado a matutar n'uma cousa. Não é uma vergonha que vocês saibam de cór as alteiadas historias de cousas que nunca succederam, nem podiam succeder, e não saibam ao mesmo tempo nem o que foram seus paes nem os seus avós, nem o que fizeram, nem como elles viveram, nem o que succedeu n'esta boa terra de Portugal, que nós todos regamos com o nosso suor, que hoje nada vale, mas que deu brado no mundo pelas façanhas que os nossos praticaram?

    —Tomára eu saber tudo isso, sr. João da Agualva, disse o Manuel da Idanha, rapazote de cara esperta, moço de lavoura do sr. Garignan, o antigo dono de collegio, que hoje reside na aldeia da Idanha, a cousa de quinhentos metros de Bellas, tomára eu saber tudo isso, mas como ha de ser!? É verdade que, graças a Deus, sei ler e escrever, e lá o patrão emprestou-me uma vez uns livros de historia que eu lhe pedi, mas, mal os comecei a ler, deu-me o somno. Diziam á gente os nomes dos reis e os filhos que tinham tido, e as batalhas que tinham ganho, e mais umas lenga-lengas de que não percebi patavina. Ora, sr. João da Agualva, eu, para dormir, graças a Deus, ainda não preciso de ler historia.

    —Mas que diriam vocês, tornou o velho professor, se eu, n'estes nossos serões, lhes contasse, em vez de contos de fadas, e de historias de Carlos Magno, a historia do que succedeu em Portugal? Talvez vocês me{XIV} entendessem, quer-me parecer que se não aborreceriam muito, e, em todo o caso, se se enfastiassem, diziam-m'o francamente, e eu não continuava, porque lá para massador é que não sirvo.

    —Ah! sr. João, exclamou o Manuel da Idanha, isso é que era um regalo!

    Os outros não disseram palavra, e o João, que os percebeu, riu-se para dentro, e fingiu-se desentendido.

    —Pois então, vá feito, eu hoje estou cançado, porque já fui a pé ao Sabugo tratar da compra de um boi, mas amanhã é domingo. Venham vocês á noite aqui para casa da tia Margarida, e eu começarei a minha historia.

    No domingo á noite ninguem faltou; mas, se vieram, foi pelo respeito que tinham ao João da Agualva, não porque esperassem divertir-se muito. O Bartholomeu já abria a bôca ainda antes do João da Agualva principiar. Mas o João chegou-se mais para o lume, porque a noite estava fria a valer, sorriu-se, e principiou como o leitor verá no capitulo immediato.{1}

    PRIMEIRO SERÃO

    O que era Portugal.—Os seus primeiros habitantes.—As colonias estrangeiras.—Os phenicios.—Os gregos.—Os carthaginezes.—Os romanos.—Viriato.—Sertorio.

    —Meus amigos, começou o João da Agualva, é de saber que esta terra em que nós vivemos nem sempre foi Portugal, e, se alguem se lembrasse de fallar, aqui ha cousa de uns tres ou quatro mil annos ou mesmo só de mil annos, em Portugal e em portuguezes, havia de ver como todos ficavam embasbacados sem perceber patavina. Isto lá para os antigos era tudo Hespanha, desde os cocurutos dos Pyrinéus, que são uns montes que separam a Hespanha da França, até essas aguas do mar que cercam por todos os lados a nossa terra, mais a dos hespanhoes, e até por estar este pedação de terra cercado de agua por toda a parte, menos pela banda dos Pyrinéus, é que se chama a isto peninsula,{2} que quer dizer uma cousa que é quasi uma ilha, mas que o não vem a ser de todo.

    —Bem sei, bem sei! peninsula é onde houve uma guerra em que entrou meu avô! exclamou o fallador do Manuel da Idanha.

    —Mette a viola no sacco, Manuel, quem muito falla pouco acerta. Lá chegaremos á guerra da peninsula. Roma e Pavia não se fez n'um dia.

    —Pois então, vá lá vocemecê contando a sua historia.

    —Como eu ía dizendo, esta peninsula, a que se chama Hespanha e Portugal, era então só Hespanha. Hespanhoes éramos nós todos...

    —Menos eu! acudiu o Bartholomeu, levantando-se todo furioso, hespanhol é que nunca fui, nem sou, nem serei. Vae aqui tudo raso, se...

    —Espera, homem de Deus! Que tem que tudo isto fosse hespanhol se nunca mais o ha de ser? Tambem a Hespanha, e a França, e a Inglaterra, e a Italia, e a Grecia, e o Egypto foi tudo imperio romano, e vae lá dizer agora a essas nações todas que se sujeitem ao mesmo governo! Tambem a França d'antes se chamava Gallia e estendia-se pela Belgica fóra, e mais pela Suissa, e, se o Gambetta, ou quem é que governa lá na França, quizesse por isso empolgar a Suissa e a Belgica, ía ahi em toda a Europa uma berraria de seiscentos demonios.{3}

    —Pois sim, resmungou o Bartholomeu sentando-se de mau humor, mas não me digam a mim que eu fui hespanhol.

    —Ora, meus amigos, quem foram os que primeiro moraram cá n'este canto de terra é que ninguem sabe. Seriam uns iberos, que fallavam uma lingua arrevesada, assim a modo similhante á que fallam hoje os hespanhoes das Vascongadas que nem o demo entende? Isso é que lhes não posso dizer. O que sei é que, quando a Hespanha começou a ser conhecida, havia aqui uma sucia de povos que era uma cousa por demais, turdetanos para um lado, celtiberos para outro, ilergetas para aqui, bastetanos para acolá. Estava até ámanhã a dizer-lhes nomes estramboticos, se não preferisse fallar-lhes só nos nossos avós, cá nos que moraram na nossa terra.

    —Isso é que é! bradaram todos em côro.

    —Pois muito bem! Saibam vocês que não era um povo só. No Algarve e n'um pedaço do Alemtejo havia os cuneenses, no resto do Alemtejo, na Estremadura e na Beira moravam os lusitanos, e lá para cima para o Douro, para o Minho e mais para Traz-os-Montes moravam os gallegos.

    —Os gallegos! exclamou o irritavel Bartholomeu, veja lá como falla, sr. João da Agualva, olhe que o pae de minha mulher veiu de Traz-os-Montes, e meus sogro não era nenhum gallego, ouviu?{4}

    —Valha-te Deus, Bartholomeu, então tu cuidas que os gallegos andam todos com o barril ás costas, e são todos uns grosseirões como os aguadeiros dos chafarizes de Lisboa? Pois digo-te, e depois t'o mostrarei, que de todos os povos lá das Hespanhas foram os gallegos os que mais depressa se poliram. Mas, cala-te bôca, não vá o carro adiante dos bois, e, como tu não queres ser genro de um gallego, sempre te direi que os que moravam para cá do Minho não eram da mesma casta que os de lá. Os nossos chamavam-se Bracharos e os gallegos da Galliza chamavam-se Lucenses.

    —Ainda bem! murmurou o Bartholomeu, isso de Bracharos até parece que dá idéa de Braga.

    —E é verdade que dá, sr. Bartholomeu, lavre lá dois tentos.

    Todos se riram, e o João da Agualva continuou:

    —Mas não imaginem que os nossos antepassados eram assim como nós, que viviam em cidades, villas e aldeias, que andavam vestidos dos pés até á cabeça, que tinham espingardas para a caça e para a guerra. Qual carapuça! Eram uns selvagens, uns lapuzes. As armas eram lanças de cobre, e o amante pedregulho, mais uns dardos e uma especie de escudo para

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1