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Dois Mundos (edição integral)
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Dois Mundos (edição integral)
E-book426 páginas5 horas

Dois Mundos (edição integral)

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Sobre este e-book

Num velho templo em ruínas, invadido pela natureza, Pedro vê-se rodeado por todos os chefes das diversas espécies humanas do planeta Lumen: Vulcan, representando os humanos do elemento de fogo, Ocean, do elemento de água, Cyclon, pelos do ar e Continen, pelos da terra. Charles, o envelhecido representante máximo de Lumen, explica-lhes que quando uma decisão importante é tomada, cada mundo divide-se em dois, um no qual é tomada e outro em que não o é, e encarrega Pedro de uma importante missão: viajar até ao futuro de cada um desses mundos para avaliar as consequências das suas escolhas. Pedro parte para Terra 2815, mas a sua viagem, utilizando os discos interplanetários dourados, não corre bem, e Pedro é salvo da morte por Davis, um belo rapaz de cabelos loiros e pele bronzeada por quem Pedro se apaixona. Davis é o líder dos rapazes e raparigas que restam no planeta e têm de enfrentar os malévolos Guerreiros, que mataram todos os adultos e querem agora exterminar os jovens. Pedro prometera não utilizar os seus extraordinários poderes para influenciar o decurso da história dos planetas visitados, mas o seu amor por Davis, e a ajuda de Vita, a velha árvore sábia, de Athenas, Gabriel e Mateus, permitir-lhes-á enfrentar os Guerreiros e o seu chefe, o terrivel Inominável...

Dois Mundos, de Pedro Xavier, conta a história do romance e das aventuras de Pedro e Davis, dois rapazes separados por dois mundos que se encontram para combater o mal e defender o amor. Esta é a obra de estreia de Pedro Xavier, um jovem autor, cheio de criatividade e imaginação, natural do Alentejo e amante da natureza. Um autor que a INDEX ebooks se orgulha de editar e que tem a certeza de que te vai surpreender.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de fev. de 2015
ISBN9789898575012
Dois Mundos (edição integral)

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    Dois Mundos (edição integral) - Pedro Xavier

    Dois Mundos

    Edição integral

    Pedro Xavier

    INDEX ebooks

    2015

    Ficha técnica

    Título: Dois Mundos (edição integral)

    Autor: Pedro Xavier

    Inclui os 5 volumes da série Dois Mundos: 1. Dois Mundos, Uma Paixão, 2. Dois Mundos, Um Destino, 3. Dois Mundos, Uma Aliança, 4. Dois Mundos, Um Inimigo e 5. Dois Mundos, A Paz.

    Revisão: Patrícia Relvas, Luís Chainho, Margarida Leitão e João Máximo

    Capa e ilustrações: Pedro Xavier

    Edição 1.00 de 9 de fevereiro de 2014

    Copyright © Pedro Xavier, João Máximo e Luís Chainho, 2015

    Todos os direitos reservados.

    Esta publicação não poderá ser reproduzida nem transmitida, parcial ou totalmente, de nenhuma forma e por nenhuns meios, eletrónicos ou mecânicos, incluindo fotocópia, digitalização, gravação ou qualquer outro suporte de informação ou sistema de reprodução, sem o consentimento escrito prévio dos editores, exceto no caso de citações breves para inclusão em artigos críticos ou estudos.

    INDEX ebooks

    www.indexebooks.com

    indexebooks.com@gmail.com

    www.facebook.com/indexebooks

    Lisboa, Portugal

    ISBN: 978-989-8575-01-2 (ebook)

    DOIS MUNDOS, UMA PAIXÃO

    Ao meu amigo Guilherme.

    Inspirado num sonho de uma só noite, dedicado ao meu grande amigo Guilherme, que passou um mau bocado, lido por amigas do coração e amigos da alma, um tributo aos desejos da nossa alma que ganham vida em sonhos.

    Pedro Xavier

    Capítulo 1

    Quando uma decisão importante é tomada, o mundo divide-se em dois, um no qual é tomada e o outro em que não é – disse Charles. – A vossa missão é viajar até ao futuro de cada um desses mundos e aprender a sua história, para podermos analisar o efeito que as escolhas têm sobre o nosso futuro.

    Que tenho de fazer? – perguntei, surpreendido. Estávamos num velho templo hindu em ruínas, invadido pela natureza em toda a sua plenitude e beleza. Raios de luz iluminavam o interior, enquanto pequenas flores violetas e azuis preenchiam as fendas das paredes que ainda estavam de pé. Era lindíssimo. Ainda há minutos tinha entrado calmamente pela entrada principal, seguido de John. Tínhamos atravessado um pátio repleto de flores tropicais, que trepavam pelos pilares que suportavam as partes da cúpula que ainda não tinham ruído. Mais à frente encontrámos uma sala enorme, sem teto, na qual se encontrava um disco circular com cerca de quatro metros de diâmetro. Era um disco dourado, mas não era feito de ouro. O material que o compunha era de origem alienígena e não tinha nome. Na sala encontravam-se os representantes máximos de cada espécie humana existente em Lumen. Da raça dos humana elementum estava Vulcan, representando os humanos do elemento de fogo, Ocean, do elemento de água, Cyclon, pelos do ar e Continen, pelos da terra. Um pouco destacados dos restantes, estavam uma humana navitas, cujo nome não consegui entender e Charles, o representante máximo dos antiqua humana.

    Charles pousou a sua mão envelhecida sobre a minha cabeça e fechou os seus olhos negros, rodeados de rugas que denunciavam as inúmeras décadas que já haviam presenciado. Era um pouco mais baixo que eu, a sua pele estava seca e manchada pelo tempo, mas a chama da vida mantinha-se bem viva no seu corpo degradado.

    Vou passar-te tudo o que precisas de saber para a tua missão.

    Sim – respondi-lhe, e desfiz a minha muralha mental para permitir o seu contacto com a minha mente.

    De repente ouvi a sua voz dentro da minha cabeça. "Tu és um explorador de Lumen. Os exploradores são sempre humanos pertencentes à raça antiqua humana que possuem uma afinidade com as espadas. Surgiu na minha mente uma imagem de duas espadas, uma com o cabo de cristal branco e a outra com o cabo de cristal negro, ambas com uma lâmina dourada feita do mesmo material do disco. Os exploradores usam as suas espadas para fazer o disco funcionar, permitindo viagens entre mundos paralelos. Uma sucessão de imagens mostrou-me mundos completamente diferentes daquele em que me encontrava mas, no entanto, com algumas semelhanças. Logo que chegarem ao vosso destino" – prosseguiu para mim e para John – "e antes de contactarem a civilização dominante, têm de estudar o meio que vos rodeia e para isso bastar-vos-á usar as vossas capacidades mentais. Depois, logo que contactarem alguma espécie inteligente, devem criar uma barreira telepática e deixar de usar os vossos poderes, a não ser em casos em que a vossa própria segurança esteja comprometida. Enquanto aprendem a história das civilizações existentes, deverão procurar as espadas existentes nesse mundo para as eliminar com um toque da vossa, antes que fiquem na posse do respetivo mestre, caso contrário já não o conseguirão fazer."

    Porquê? – interroguei-o, esquecendo-me da telepatia.

    "Para impedir que algumas espécies locais hostis dominem outras. Assim estaremos a protegê-las e a nós mesmos. Por fim, têm de encontrar o disco desse mundo, para poderem regressar. A memória deste mundo bastar-vos-á para que a máquina vos traga de volta. Charles levantou a sua mão da minha cabeça e olhou-me nos olhos. Nunca deverão interferir na evolução das espécie nesses mundos ou trazer alguém de lá. Nunca mesmo!" – exclamou, frisando bem a ideia.

    John pôs-se por detrás de mim e colocou as suas mãos sobre os meus ombros, apertando-os carinhosamente.

    Tenho a certeza de que ele não fará nada tão insensato – disse para Charles, sorrindo.

    Acho que não – respondi, desconfortável com o abraço de John e um pouco desnorteado com tudo o que se estava a passar.

    Capítulo 2

    Acordara horas antes numa casa completamente estranha, mas senti que absorvia a história do que me rodeava pelo simples facto de estar ali. As memórias iam-se formando e era como se passasse a pertencer àquele estranho mundo, de onde aparentemente nunca saíra. Levantei-me e soube que tinha de caminhar em direção à floresta. Saí de casa e entrei pelo arvoredo, percorrendo alguns trilhos de folhagem seca e amarelada, até perder a casa de vista. Uma leve brisa movimentava as copas das árvores daquela floresta temperada, cheia de fetos e musgo. Senti-me puxado por algo e foi então que me apercebi, pela primeira vez, da presença de uma humana elementum de ar. A sua silhueta era quase indetetável, sendo-me possível observar os seus ondulantes contornos pela presença de pequenas partículas de poeira no ar que compunha o seu corpo imaterial.

    Vem, estão à tua espera no templo – disse-me, num suspiro.

    Na minha cabeça surgiram mais peças do puzzle de memórias e conhecimentos, sobre o templo, os humana elementum e todas as raças de Lumen. Após uma grande transformação, na primeira metade do século XXI, a humanidade entrou num período de luz, tendo iniciado um novo processo evolutivo que durou várias centenas de anos. A espécie humana acabou por se ramificar em 3 novas espécies, que coexistem em harmonia desde então. Havia os humanos de energia, humana navitas, seres que se libertaram da sua forma material, assumindo uma puramente energética. Assemelhavam-se a esferas luminosas que adotavam contornos humanoides sempre que necessário. Alguns humana navitas uniram-se aos quatro elementos, originando a segunda espécie, humana elementum. Uns eram feitos de fogo e viviam em vulcões, outros eram feitos de terra, ou de ar, e também existiam aqueles que se tinham fundido com água. Eram seres de uma beleza sem igual. Os restantes humanos mantiveram a sua aparência, evoluindo apenas a sua intelectualidade. Chamavam-se antiqua humana e dominavam a telepatia, a telecinética e muitas outros poderes relacionados com o cérebro, como distinguir entre a mentira e a verdade, influenciar os seus próprios sonhos e criar campos de forças e barreiras psíquicas. Tinham uma capacidade inata para analisar tudo o que os rodeava, podendo absorver com facilidade os detalhes do meio envolvente.

    Avançámos pelo trilho da floresta, ladeados por acácias de múltiplas cores, sob o céu de um azul límpido, embrenhados na complexa rede de ramos, folhas e troncos. Percorríamos um caminho de seixos negros e nas bifurcações, eu seguia-a.

    Reparei então na minha roupa. Tinha um estranho traje, semelhante ao dos monges, mas mais moderno. Sandálias de um material maleável cinzento, mas resistente, com tiras que me tapavam parte do peito dos pés e se entrelaçavam um pouco acima do tornozelo. Calças até aos calcanhares, com aberturas circulares e largas nas extremidades, feitas de um tecido branco e leve que se movia suavemente com os meus movimentos, tal como a camisola, de mangas compridas, com um lado mais comprido que o oposto. A roupa interior, uma espécie de t-shirt de mangas curtas e boxers feitos com o mesmo tecido especial, colava-se ao corpo, como se de uma segunda pele se tratasse.

    Olhei para a minha esquerda e por entre a folhagem das árvores descobri um riacho onde humana elementum de água brincavam alegremente e em cujas margens alguns dos seus companheiros de terra riam e conversavam entusiasmados.

    Já falta pouco – disse-me.

    Como te chamas? – perguntei, tentando fixá-la com o olhar.

    Podes analisar-me. Não me importo – respondeu-me.

    Não, quero que sejas tu a dizer-me – respondi, sorrindo para onde supunha que ela estava.

    Tu és um antigo muito estranho – comentou ela. – Chamo-me Ieiunare na língua antiga.

    Porque dizes que sou estranho, Ieiunare? – inquiri, curioso.

    Por fazeres perguntas – respondeu-me, com um riso semelhante ao som do vento nos ouvidos.

    Foi então que um rapaz apareceu no trilho que percorríamos. Era alto, musculado, de cabelo curto loiro, com olhos azuis que observavam todos os meus movimentos. Vestia um traje idêntico ao meu, mas de um tom verde-escuro e enegrecido nas pontas das mangas e das pernas das calças, que lhe tapava a pele cor de marfim.

    Olá, Pedro, olá, Ieiunare – cumprimentou-nos, com um sorriso, para depois acrescentar para a minha guia: – Eu levo-o até ao templo.

    Obrigado por me guiares, Ieiunare – despedi-me.

    És mesmo muito estranho – respondeu-me, rindo-se. – Gostei de ti – e desapareceu por entre as árvores. Recomecei a andar, com John ao meu lado, e, apesar de não fazer a mínima ideia de quem ele era, senti que o conhecia de algum lado.

    Hoje vais receber a tua espada – comentou ele, aproximando-se.

    Pois... – respondi, sem saber o que dizer, porque não sabia do que é que ele estava a falar.

    E em breve partirás na tua missão para outro mundo – acrescentou, colocando-me um braço pelos ombros. Afastei-o de imediato.

    Que se passa contigo? – perguntou-me, visivelmente triste com a minha reação.

    Não me sinto à vontade... assim... – respondi, corando de imediato.

    Como assim? Não é a primeira vez... – respondeu-me, confuso. – Estás bem?

    Não, acordei mal disposto hoje. Desculpa mas não sei o que se passa comigo, deve ser cansaço – inventei, para escapar daquela situação desconfortável. Ele olhou desconfiado para mim, mas recomeçou a sorrir.

    Isso são nervos de principiante – comentou. – Não te preocupes, isso passa...

    Minutos depois parámos em frente de um enorme templo hindu em ruínas.

    Sejam bem-vindos, Pedro e John. Eu sou o Charles e sou o representante máximo dos antiqua humana – disse o homem idoso que nos esperava.

    Capítulo 3

    Os raios de sol que penetravam na sala, por entre a ramagem das árvores que invadiam o velho templo, refletiam-se magicamente no disco dourado. Gravados a toda a volta em relevo, na periferia, reparei em duas criaturas semelhantes a dragões, que mordiam as caudas um do outro e, no centro, uma fissura em forma de losango, dentro de um outro círculo mais pequeno, aparentemente movível.

    Acho que podemos continuar – declarou Vulcan, com a sua voz profunda, enquanto as chamas que o compunham se crispavam, passando de vermelho a laranja.

    Até daqui a uma semana – disse-me John, apertando-me a mão, para depois subir para o disco, posicionando-se no seu centro. Retirou da sua capa protetora a espada de cabo negro que trazia às costas, inseriu-a na fissura do disco e rodou-a 45º. Ouviu-se um som parecido ao de um clique e surgiu uma coluna de luz muito branca, que o envolveu.

    Para que mundo foi ele? – perguntei, curioso, depois de o ver desaparecer.

    Então... – disse Charles, olhando para cima pensativo. – Nós estamos no ano 2607...

    Ele foi para um dos mundos do ano 2800, United Earth, do qual ainda não recolhemos qualquer informação – acrescentou Ocean, cujo corpo de águas azuis cristalinas, ondulando num ciclo eterno, se revelava pela espuma que se formava nalgumas zonas. A sua voz lembrava a queda de água de uma nascente.

    Isso – concordou Charles, que parecia perdido nos seus pensamentos.

    E eu vou para que mundo? – perguntei-lhes.

    Vais para um dos mundos do ano 2815 – respondeu Cyclon, com partículas de poeira a girarem no seu interior a velocidades incríveis. Tive de fazer um esforço para não levar as mãos aos ouvidos para me proteger da intensidade do som da sua voz, que ecoava pela sala. A humana navitas aproximou-se de mim, flutuando suavemente pelo ar da sala. A luz que emanava era hipnotizante, de um amarelo pálido e eletrizante.

    Sei que estás nervoso por ser a tua primeira viagem, mas não é preciso. Os escolhidos possuem mais capacidades que qualquer um de nós – disse, flutuando em meu redor. – E tu, para além do mais, és diferente de todos os que já conheci.

    Porquê? – perguntei à esfera de energia que se aproximava cada vez mais de mim.

    Porque irradias uma energia diferente. Gosto da tua energia – disse ela, quase tocando a pele da minha cara com os seus filamentos de luz, dando-me um leve choque que me eriçou os pelos dos braços e me arrepiou as costas.

    Toma a tua espada – disse Continen, estendendo-a na sua mão feita de uma mistura de obsidianas, cristais de quartzo e diamantes vermelhos. Agarrei o cabo de cristal branco da espada e ela brilhou intensamente, como se me saudasse.

    Uau! – exclamou a humana de energia, saltitando agora no ar, entusiasmada.

    Estás reservado para grandes coisas, Pedro – comentou Ocean, enquanto bolhas de ar lhe percorriam o corpo.

    Amigos, está na hora de lhe darmos as nossas bênçãos – lembrou Cyclon, sugando sem querer algumas folhas secas que ficaram a rodopiar, presas no interior do seu corpo de ar. Ocean aproximou-se de mim, colocou as suas mãos sobre as minhas e senti uma ligação criar-se com o seu elemento quando algumas pesadas gotas de água caíram sobre as palmas das minhas mãos e se passearam pela minha pele antes de voltarem ao seu corpo líquido. Depois veio Vulcan, que rodou à minha volta, num movimento rápido, envolvendo-me nas suas labaredas, como a uma fénix. Continen esperou que as chamas se apagassem para deixar cair alguma areia avermelhada sobre as minhas mãos. Em seguida veio Cyclon, que me rodeou nos seus ventos, despenteando-me e fustigando-me a cara. Por fim, a humana navitas aproximou-se de mim, adotando uma forma humanoide, de proporções semelhantes às minhas. Ao tocar nas minhas mãos com as suas, fez fluir a sua energia para mim.

    Agora que já tens a força dos elementos, podes partir, Pedro – anunciou Vulcan. Avancei para o grande disco dourado, coloquei a capa às costas e inseri cuidadosamente a espada na fissura central. O que se passou a seguir foi uma grande confusão de cores e sensações. Lembro-me apenas de que quando acordei estava caído no chão, sem a minha espada, e completamente esgotado. Levantei-me a custo e andei uns metros, enquanto olhava em volta, procurando-a. Estava numa cidade parcialmente destruída, com plantas de cores estranhas invadindo todas as rachas e espaços abertos. Alguns minutos depois a minha visão enevoou-se, senti-me sem forças, o meu corpo cedeu ao cansaço e caí no chão, envolvido pelas trevas.

    Capítulo 4

    Inspirei fundo ao acordar e logo os meus sentidos ficaram alerta. Não estava na rua, mas num quarto escuro iluminado pelo luar roxo da segunda lua presente no céu nublado. Estava deitado no chão e coberto por uma fina camada de lençóis. Não estava sozinho. Percebi que estava no meio de dois rapazes que dormiam profundamente. O da direita estava de costas e podia perceber o seu respirar pelo movimento dos lençóis, mas o da esquerda tinha-me nos seus braços, que me apertavam, um pelos ombros e outro pela cintura, prendendo-me num abraço adormecido bem junto do seu corpo.

    Sustive a respiração, nervoso, quando ele se mexeu levemente, apertando-me mais, enquanto uma das suas pernas se encostava às minhas. "O que é que eu faço agora?" – pensei, tentando acalmar-me. Decidi levantar-me lentamente, pegando na mão que me prendia a cintura, para a afastar, mas em vão, porque fui logo puxado para baixo.

    Onde é que pensas que vais? – sussurrou-me ele, ao ouvido esquerdo.

    Senti o coração acelerar, descontrolado, como se estivesse a correr uma maratona desenfreada. Pensei criar uma explosão luminosa, que me permitisse fugir, mas lembrei-me do que Charles me tinha dito quanto a usarmos os nossos poderes. Bem vistas as coisas, não estava numa situação de perigo de morte, a menos que sofresse algum ataque cardíaco.

    Eu não te faço mal – sussurrou-me ele de novo, antes de virar a cabeça para fazer um barulho semelhante ao piar de um mocho. Ouviu-se um remexer de lençóis e ele voltou a fazer o mesmo som.

    Ele já acordou? – disse uma voz ensonada, acompanhada de um bocejo sonoro.

    Quem é que acordou? – ouviu-se de outro canto da divisão.

    De repente comecei a ouvir gemidos e barulhos de reprovação, e exclamações de "deixem-me dormir" por todo o lado. Afinal não estava acompanhado apenas por dois rapazes, mas por dezenas deles.

    Sim, o forasteiro já acordou – disse o rapaz que me segurava firmemente nos seus braços.

    Acenderam-se velas dentro de campânulas de vidro e foi então que pude ver bem onde estava. O quarto comum dos rapazes era grande, tinha duas janelas altas com vidros partidos e não tinha qualquer tipo de mobília, apenas lençóis muito compridos nos quais os rapazes se enrolavam. Dei-me conta do silêncio que se instalara enquanto observava, um pouco distraído, o espaço em volta. Todos os rapazes que estavam acordados tinham os olhos postos em mim. "Oh boa..." – pensei, sem saber o que fazer.

    Então? Não falas? – perguntou o rapaz que me segurava, agora sentado, com o braço direito em volta dos meus ombros e o outro apoiado sobre a sua perna esquerda fletida.

    Se calhar é surdo.

    Ou mudo.

    Ou as duas coisas.

    Começaram todos a rir-se e eu ali, sem saber o que fazer. Virei-me e olhei nos olhos o rapaz que me mantinha sentado perto dele. Tinha olhos castanhos com laivos dourados, cabelo encaracolado da cor de caramelo escuro, mais claro nas pontas, pele morena e lábios carnudos.

    Quem és tu? – perguntei, mais baixo do que esperava.

    O que é que ele perguntou?

    Perguntou-me quem sou – esclareceu o rapaz. – Sou aquele que te salvou de uma noite ao relento. O meu nome é Davis, e o teu?

    Hum... Pedro – respondi, um pouco a medo.

    O nome dele é Pedro – anunciou Davis a todos os outros.

    Não, não conhecemos ninguém com esse nome – respondeu um outro rapaz, perto das janelas.

    Pois, eu até agora também não conhecia – disse Davis, sorrindo para mim.

    O seu cabelo roçou a minha pele.

    Estás com frio? – perguntou-me Davis, preocupado. – Anda cá – disse-me com ternura, puxando-me para junto de si. Senti o calor do seu corpo em contacto com o meu, uma sensação estranha, mas boa, e comecei a corar.

    Já estás melhor? – perguntou ele, afastando os cabelos que me tinham descaído para os olhos, e fazendo-me corar mais.

    Estás a deixá-lo desconfortável. – disse maliciosamente o rapaz que estava à minha direita, virando-se ligeiramente.

    Ainda havia pouca luminosidade no quarto e não conseguia ver bem a sua cara.

    Não estou. Tu é que estás com ciúmes, Gabriel. – ripostou Davis, rindo-se.

    O seu riso era franco e lindo. "Concentra-te Pedro!", pensei, agitado.

    Não, não estou – tentou ripostar o rapaz, virando-se completamente de costas para nós, amuado.

    Mas parece – disse Davis e, virando-se para mim, perguntou de novo: – Estás bem assim?

    Não sabia o que dizer. Estava à procura das palavras certas quando me lembrei subitamente da minha missão, das espadas e de Lumen.

    Em que ano estamos? Como se chama este planeta? – perguntei, atabalhoadamente.

    Terra, e estamos em 2815, porquê? – respondeu Davis, confuso com a pergunta.

    Ainda bem – disse eu, aliviado.

    És estranho... – comentou Davis. – Mas ainda não me respondeste.

    Hum... estou bem – respondi, embaraçado.

    Estava tão cansado que me apetecia voltar a adormecer, assim mesmo, nos braços de um rapaz.

    Ainda bem. Já percebi que não és daqui... Quando te encontrei já estava a escurecer e tu estavas inconsciente. Fui eu que te trouxe para cá, para dormires connosco, para partilhares do nosso calor e recuperares as forças.

    Obrigado – agradeci, desviando ligeiramente a cara.

    Ainda deves estar muito cansado. Não sei quem és nem de onde vieste, mas amanhã poderás contar-nos tudo – disse ele, apertando-me mais pela cintura, a coberto dos lençóis, como se não quisesse que os outros percebessem.

    Ouviu-se imediatamente um "Ohhhhhh" geral de desilusão.

    Sem discussões! Ele precisa de descansar e nós também! – exclamou Davis, autoritário. – Mas só uma última pergunta – calaram-se todos para ouvir – lá de onde vens não é costume os rapazes serem carinhosos uns para os outros, pois não? – perguntou-me ele.

    O sangue que já começara a abandonar-me a cara, voltou em força e fiquei vermelho como um tomate. Queria esconder-me num buraco bem fundo para nunca mais ser encontrado.

    Eu vi logo – comentou o Davis, rindo-se – aqui esse preconceito desapareceu há cerca de 3 séculos, não percebo... para nós é normal os rapazes brincarem e serem carinhosos uns com os outros, tal como as raparigas. Levamos tudo com grande naturalidade.

    Risota geral, com alguns comentários brincalhões e alguns beijos roubados da cara dos mais distraídos.

    Por isso, podes ficar à vontade, porque aqui não serás criticado – concluiu Davis, olhando-me nos olhos e transmitindo-me uma calma imensa.

    Olhei para os rapazes que ali estavam connosco e depois olhei para ele e subitamente senti algo muito forte a acontecer entre nós, a atrair-me a ele, tão forte que ultrapassava as minhas barreiras psíquicas. "Estarei a apaixonar-me? Por um rapaz? Isso será, sequer, possível?" – perguntei para mim mesmo. Sem dizer palavra, encarei-o, virei-me lentamente e abracei-o, deitando a minha cabeça sobre o seu peito e intercalando as minhas pernas nas suas. Sorri, um pouco envergonhado, porque nunca tinha feito nada assim, mas com ele, sem saber muito bem porquê, senti que o podia fazer, talvez por me sentir seguro na sua presença.

    Opa! – ouvi alguns rapazes dizer, espantados.

    Temos aqui uma boa peça – comentou um.

    Parece-me que tens rival, Gabriel! – exclamou outro, travesso.

    Gabriel, virado de costas para nós, murmurou algo entre dentes, e puxou mais o lençol que lhe tapava a cabeça. Davis estava espantado comigo. Eu mesmo, estava espantado comigo! Ouviam-se exclamações, risos e assobios por todo o lado. Ele deixou-se escorregar para baixo na cama improvisada, passou os braços por baixo dos meus e puxou-me mais para cima, para me acomodar melhor. Depois puxou os lençóis e tapou-nos cuidadosamente.

    Toca a dormir! – exclamou, pondo fim aos comentários brincalhões.

    As velas foram-se apagando com sopros rápidos.

    Estás bem? Não te estou a magoar, pois não? – disse-lhe, baixinho.

    Davis não respondeu, mas fez-me um cafuné. Aninhei-me nele, no seu peito forte, mas ao mesmo tempo macio, ouvindo o bater do seu coração. Passei a mão sobre a sua pele nua, tapando-a com a manga comprida da minha camisola.

    Obrigado – agradeci sorrindo, tranquilo e satisfeito.

    Descansa, porque o dia, amanhã, vai ser longo – sussurrou-me, antes de adormecer.

    Fechei lentamente os olhos, sentindo os seus cabelos no meu pescoço, o seu bafo morno afagando a pele nua do meu ombro, o seu cheiro doce, que eu não conseguia identificar. Abandonei-me àquela sensação tão diferente, tão incorreta, tão boa... e adormeci.

    Capítulo 5

    Acordei sozinho. Não se ouvia um único ruído. A noite passada parecia-me já um sonho longínquo e surreal. Sorri ao lembrar-me de Davis. "Realmente, acontece-me cada coisa! – pensei, abanando a cabeça. Levantei-me e olhei em volta. Lá fora, as densas nuvens deixavam passar pouca luz. Como não estava mais ninguém comigo, decidi arrumar o quarto usando as minhas capacidades, antes de começar a analisar a cidade e a erguer as minhas barreiras mentais. Expandi a minha mente e libertei os meus poderes. Estranhamente, estavam mais soltos que o habitual. Deveria estar mais enferrujado", porque ontem não tinha criado mais que simples muralhas psíquicas. Acabei por ignorar o assunto e deixei a energia percorrer-me e, com simples gestos e pensamentos, fiz os lençóis flutuarem, dobrarem-se sozinhos e arrumarem-se a um canto. Depois sentei-me no centro do quarto, concentrei-me e alarguei o meu campo telepático a toda a cidade. Havia uma grande densidade de sinais de vida no rés-do-chão do edifício onde me encontrava mas, fora isso, parecia uma cidade fantasma. De repente pressenti que alguém vinha em direção ao quarto. Edifiquei rapidamente uma muralha psíquica intransponível e saí do meu transe, ainda sentado numa posição de meditação de ioga, com as pernas cruzadas e as mãos sobre os joelhos, as costas direitas e os olhos fechados. Percebi que era Davis e que não tinha passado do vão da porta, de olhos fixos em mim, sem reação, boquiaberto.

    Desculpa, só queria ajudar um pouco – disse-lhe, levantando-me de um salto.

    Não, não! Não faz mal, nós agradecemos – respondeu-me. – Estou é espantado com a rapidez com que arrumaste tudo. Estive aqui há menos de 20 minutos e ainda estavas a dormir tão bem...

    Pois... sou muito rápido.

    E que estavas a fazer agora mesmo? – perguntou-me, muito curioso.

    Estava a meditar – omiti.

    Ah... então desculpa se te interrompi... mas agora já está – disse ele, sorrindo, mas meio sem jeito e passando a mão no cabelo.

    Entrou no quarto e aproximou-se de mim.

    Dormiste bem?

    Sim – respondi, corando ligeiramente pela sua referência à noite anterior.

    Ainda bem – disse-me ele, carinhosamente. – Deves estar cheio de fome. Não te acordámos para o pequeno-almoço porque estavas a dormir profundamente. Por isso vem, vamos almoçar.

    Virou-se, transpôs a porta e eu segui atrás dele.

    De que material são feitas as tuas roupas? – perguntou-me, parando para agarrar numa das minhas mangas e passando as mãos pelo seu tecido. O meu traje estava imaculadamente branco, sem rugas nem manchas, luminoso e límpido.

    Não sei bem, foram-me oferecidas.

    Hum... é que nunca tinha dormido tão quentinho – disse-me, rindo-se. – E não se sujam nem se amarrotam. Isso dava-nos muito jeito por cá.

    Quando voltar ao meu mundo trago algumas

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