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Viver a dois em tempos de incerteza: Razão e emoção na união conjugal
Viver a dois em tempos de incerteza: Razão e emoção na união conjugal
Viver a dois em tempos de incerteza: Razão e emoção na união conjugal
E-book144 páginas2 horas

Viver a dois em tempos de incerteza: Razão e emoção na união conjugal

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Sobre este e-book

O que mais nos espanta é precisamente a grande questão abordada neste fascinante estudo: ou seja, as transformações que se têm vindo a operar não só na intimidade propriamente dita (…) mas a inter-relação que o casal mantém com o exterior. O que esse exterior espera/aceita/tolera no casal e o que este vai buscar aos espaços que se colocam para além da sua intimidade.
Essas transformações têm ocorrido a um ritmo que foi acelerando ao longo do século XX, acompanhando a aceleração da própria história de que, obviamente, fazem parte.
Não sabemos ainda para onde é que esta disparidade entre os ritmos da vivência quotidiana e os ritmos da história nos vai conduzir. A autora discute com perspicácia o que será a modernidade e como é que o ‘novo casal’ se situa na, ou como constrói, essa mesma modernidade.

(do prefácio) - Ana Vicente
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de set. de 2012
ISBN9789898407825
Viver a dois em tempos de incerteza: Razão e emoção na união conjugal
Autor

Maria José Quinteiro

Maria Quinteiro nasceu em Castelo Branco, aldeia de Trás-os-Montes, concelho de Mogadouro, distrito de Bragança, Portugal. Luso-brasileira migrante em São Paulo, estudou Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde defendeu mestrado e doutoramento na área de Sociologia. Foi investigadora visitante no Center for Cross Cultural Research on Women, University of Oxford, no Instituto de Ciências Sociais — ICS, da Universidade de Lisboa e no mestrado de Estudos sobre as Mulheres, na Universidade Aberta, Lisboa. Atualmente é investigadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e investigadora convidada do Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho. É coordenadora do grupo de Estudos Género, Mulheres e Temas Transnacionais — GEMTTRA.

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    Viver a dois em tempos de incerteza - Maria José Quinteiro

    Maria Quinteiro

    viver a dois em tempos de incerteza

    Razão e Emoção

    na União Conjugal

    nota à edição:

    Este excerto foi extraído da tese «União conjugal: a grande busca», apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de doutora em Ciências, área de concentração de Sociologia. São Paulo: FFLCH/USP, 1993.

    Para Luís Pardal, Gualter Jorge, Isabel, Luísa,

    Dorotéia e Ilda, meus tios (in memoriam)

    Para Teresa, minha mãe

    Antes de tudo, a publicação deste trabalho é devida ao encorajamento e estímulo do professor Hermínio Martins, Emeritus Fellow do St. Antony’s College da Universidade de Oxford, e investigador honorário do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O meu muitíssimo obrigada.

    O meu agradecimento especial a Carlos Savério Ferrante, amigo fraternal, que me incentivou o exercício do diálogo, da crítica e da generosidade no trato das questões quotidianas.

    Ao professor doutor Carlos Veloso da Veiga, professor de Sociologia e vice presidente do Centro de Investigação em Ciências Sociais, da Universidade do Minho, pela amizade e apoio na aventura sociológica.

    À escritora e investigadora, minha grande amiga Dra. Ana Vicente, sempre prestativa em compartilhar inquietações, sugestões, solidariedades e desafios. O meu agradecimento.

    À Elisa Seixas, pelo acolhimento e atenção para com este trabalho, muito obrigada.

    Às amigas e amigos lusos que me brindam com sua amizade e a sua solidariedade, graças a eles refiz raízes na terra lusitana. O meu obrigada.

    Maria da Conceição Quinteiro

    prefácio

    O que se espera de um Prefácio é, sobretudo, que não seja longo de mais, e que não caia na tentação de fazer um resumo do livro. Tentarei antes, com as minhas poucas palavras, estimular a curiosidade, a vontade, e o interesse das potenciais leitoras e leitores da obra da minha querida amiga luso-brasileira Maria da Conceição Quinteiro.

    Há longos anos que sigo as suas inquietações e interrogações; sempre que nos encontramos a conversa não acaba mais em torno das matérias que nos interessam sobremaneira — e das quais mais se destaca a misteriosa e sempre equívoca relação entre mulheres e homens, e a história das mulheres propriamente dita.

    O que mais nos espanta é precisamente a grande questão abordada neste fascinante estudo: ou seja, as transformações que se têm vindo a operar não só na intimidade propriamente dita, e evocamos aqui o grande Giddens[1], mas a inter-relação que o casal mantém com o exterior. O que esse exterior espera/aceita/tolera no casal e o que este vai buscar aos espaços que se colocam para além da sua intimidade.

    Essas transformações têm ocorrido a um ritmo que foi acelerando ao longo do século xx, acompanhando a aceleração da própria história de que, obviamente, fazem parte. Essa aceleração, como sabemos, tem sido motivada pelas novas tecnologias. Contudo, certos ritmos do ser humano inserido na natureza, não sofreram essa aceleração e, em consequência, há um desfasamento cada vez maior entre esses ritmos e o correr célere da história. Continuam a ser necessários nove meses para a gestação; o tempo do desenvolvimento infantil e adolescente mantém-se; falar, rir, chorar, comer, amar, dormir, andar, são atividades que não incorreram em transformações na sua essência. Não sabemos ainda para onde é que esta disparidade entre os ritmos da vivência quotidiana e os ritmos da história nos vai conduzir.

    A autora discute com perspicácia o que será a modernidade e como é que o ‘novo casal’ se situa na, ou como constrói, essa mesma modernidade. Se conseguimos, finalmente, reconhecer a complexidade do mundo e das pessoas que nele interagem, (quantas vezes de forma destruidora para a restante criação), e ultrapassar leituras naturalistas dos fenómenos, nem por isso podemos considerar que estamos na posse de uma capacidade analítica correta.

    As vozes alarmistas que falam da crise da família e da crise de valores, supostamente observados antigamente, como seja o respeito, a fidelidade, a solidariedade, a generosidade, devem ser contraditas. Sabemos, para começar, que a família é em si uma construção social, portanto mutável, de contornos imprecisos e móveis, sujeita às mais diversas influências e contribuições externas e agindo, por sua vez, sobre o mundo que lhe é exterior. Como espaço de vivência assume uma importância fundamental no ser e no estar dos humanos, de qualquer sexo, idade ou condição, precisamente porque é na família que se estabelecem as relações interpessoais mais significativas e que mais marcam a pessoa no seu agir fora da família. Creio, portanto, ser difícil definir família se não como um espaço de pertença relacionalmente significativo. Os estudos sociológicos realizados em todo o espaço da União Europeia, e certamente também no Brasil, demonstram que as populações, de todas as idades, colocam a família no lugar mais importante das suas vidas.

    Quanto à crise de valores, mais uma vez são os estudos que nos encorajam a afirmar que, antes pelo contrário, há cada vez mais a perceção da importância do respeito, da fidelidade, da solidariedade e da generosidade para a qualidade de vida familiar, mesmo que, obviamente, possa haver muitas quebras na prática quotidiana desses valores. Mas a perceção dessa importância é que traz consigo os traços da modernidade que buscamos. Pois o respeito já não é apenas dos mais novos pelos mais velhos mas entre todos; a fidelidade já não é a submissão da mulher aos devaneios do homem, mas o reconhecimento de iguais aspirações emocionais e sexuais; a solidariedade não é mais a dependência dos mais frágeis em relação aos mais poderosos mas antes o reconhecimento que a solidariedade tem muitas formas e que os pequenos também podem partilhar solidariedade com os mais velhos. Quanto à generosidade, material ou imaterial, pode ser distribuída por qualquer elemento da família.

    Como nos recorda Anália Cardoso Torres em múltiplos estudos, agora há mais divórcios porque a expetativa da mulher e do homem ligados por casamento mudou face à relação: «De instituição a preservar a qualquer custo, o casamento tornou-se, tendencialmente, numa relação que dura enquanto se mantiver compensadora para quem nele está envolvida».[2] No entanto, e contraditoriamente, ainda paira uma névoa de suspeição sobre aquele ou aquela que se mantém solteiro, não comprometido. A suspeição já não será motivada por interrogações sobre a orientação sexual da pessoa, o que já em si constitui um avanço em termos qualitativos extraordinário, mas antes uma certa inquietação acerca da sua capacidade-incapacidade de manter uma relação.

    E, no entanto, conforme aponta Maria da Conceição Quinteiro, muitos (a maioria?) casais ainda crêem ser possível uma união que seja simultaneamente permanente e gratificante para ambos e estão dispostos a trabalhar para que assim aconteça. Dentro deste contexto de, por um lado, a existência de um grande número de ruturas relacionais e por outro, a manutenção do ideal da permanência, temos vindo a assistir a todo um desenvolvimento de iniciativas orientadas para apoiar e alicerçar essa permanência. Iniciativas essas que, por sua vez, vão beber aos saberes científicos mais diversos. Surgem os cursos de preparação para o matrimónio, muitos ministrados pelas instituições da Igreja Católica, num reconhecimento que manter uma relação é difícil, e que procurar uma aprendizagem pode ser útil. Surgem os especialistas de aconselhamento conjugal, chamados a intervir quando a crise toca na relação, ou os mediadores quando a relação está moribunda ou mesmo defunta, para além de outras estratégias de formação ou de terapia.

    Na base de entrevistas a uma amostra diversificada de pessoas, em termos sociais, de sexo, e idade, a autora propõe que esta vontade de conseguir viver uma relação tanto emocionalmente gratificante como duradoira, é aspiração que atravessa a sociedade em geral e é este um elemento muito importante da modernidade. Sobretudo porque num espaço relativamente curto de tempo (50 anos?) as mulheres, ou melhor dizendo, muitas delas, já nem sequer reclamam para si igual acesso ao prazer e à gratificação emocional, mas sim o vivem como um direito inato.

    Daqui saúdo Maria da Conceição Quinteiro por se ter aventurado na abordagem de assuntos complexos, que pairam em nosso torno, mas sobre os quais é difícil encontrar uma reflexão estruturada e inovadora como é esta.

    Ana Vicente

    (investigadora e escritora)

    Estoril, Fevereiro de 2011

    [1]giddens, Anthony; (1996). Transformações da Intimidade — sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas, Oeiras, Celta.

    [2]torres, Anália Cardoso; (1996). Divórcio em Portugal, Oeiras, Celta, pp. 6-7.

    introdução

    O trabalho ora apresentado, em forma de livro, resulta da tese de doutoramento «União Conjugal: A Grande Busca». Esta procurou, por meio da entrevista com homens e mulheres, confirmar ou não a hipótese de que na modernidade contemporânea há o desejo e procura para a concretização de uma união conjugal gratificante e permanente (que dure toda a vida). Porém, em caso de rutura da união, após o período de lamento e dor, a busca por outro/a parceiro/a conjugal recomeça porque aquele desejo não satisfeito impulsiona a procura de novo enlace, gratificante e permanente.

    O texto percorre, em linhas gerais, o processo sócio-histórico da gestação da sociabilidade moderna e emergência da família burguesa até o momento contemporâneo. Entendemos por sociabilidade o conjunto de condições que fundam o convívio social — normas, regras, valores, divisão do trabalho que, aprendidas desde o nascimento, orientam homens e mulheres nas suas práticas quotidianas e nos seus modos de pensar, ser e agir.

    Ao longo deste cenário, são apontados os principais modelos de casamento e respetivas recomendações ao casal quanto aos comportamentos conjugais apropriados; os traços definidores da sociedade moderna e pós-moderna; os traços do indivíduo da modernidade e do indivíduo contemporâneo.

    Quanto ao momento contemporâneo da modernidade, o trabalho endossa a interpretação de Heller (1991)1,

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