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Pérola de Lótus: Uma intrusa
Pérola de Lótus: Uma intrusa
Pérola de Lótus: Uma intrusa
E-book147 páginas2 horas

Pérola de Lótus: Uma intrusa

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Sobre este e-book

Ishi é uma menina de treze anos, que vê o mundo de uma forma bem particular, vive fechada em sua cabana sob a custódia de sua família. Num descuido, conhece Tian e com ele descobre o primeiro amor junto com um novo mundo, longe dos maus tratos que vive em sua casa. Meses mais tarde, ante de estourar a Guerra do Ópio, seus pais tem a possibilidade de vendê-la a um mercador inglês, quem decide pagá-la como seu maior patrimônio.

A chegada de Ishi em Londres será desajeitada e angustiosa. Aprenderá novos trabalhos com muitas dificuldades, mas também descobrirá aí a verdadeira paixão e amor nas mãos de Adolf, um jovem aristocrático de nobre coração. Contudo, o amor entre raças sempre foi um castigo para qualquer família de posse, e Ishi vai pagá-lo com desprezo. Terminada a Guerra do Ópio, Ishi deixa de se sentir parte de Londres e daquele homem que tanto ama, pois seu sangue inglês foi a maldição de seu povo oriental. Poderá o tempo reuni-los outra vez, para que se amem sem rancores?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de jun. de 2017
ISBN9781547506811
Pérola de Lótus: Uma intrusa

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    Pérola de Lótus - Mariela Saravia

    Pérola de Lótus

    Livro 1:

    Uma intrusa

    Mariela Saravia

    Todos os direitos reservados copyright 2016. Mariela Saravia.

    Código de registro: 1601316376699

    Desenho da capa: Maykol Hernández

    Primeira edição: 2016

    Conteúdo

    Conteúdo................................................................................................................3

    Capítulo 1............................................................................................................6

    Capítulo 2.........................................................................................................15

    Capítulo 3.........................................................................................................23

    Capítulo 4.........................................................................................................28

    Capítulo 5.........................................................................................................34

    Capítulo 6.........................................................................................................39

    Capítulo 7.........................................................................................................45

    Capítulo 8.........................................................................................................51

    Capítulo 9.........................................................................................................56

    Capítulo 10.......................................................................................................65

    Capítulo 11.......................................................................................................76

    Capítulo 12.......................................................................................................84

    Capítulo 13.......................................................................................................90

    Capítulo 14.......................................................................................................96

    Capítulo 15....................................................................................................101

    Capítulo 16....................................................................................................105

    Capítulo 17....................................................................................................115

    Capítulo 18....................................................................................................120

    Epilogo................................................................................................................126

    Resumo

    Ishi é uma menina de treze anos, que vê o mundo de uma forma bem particular, vive fechada em sua cabana sob a custódia de sua família. Num descuido, conhece Tian e com ele descobre o primeiro amor junto com um novo mundo, longe dos maus tratos que vive em sua casa. Meses mais tarde, ante de estourar a Guerra do Ópio, seus pais tem a possibilidade de vendê-la a um mercador inglês, quem decide pagá-la como seu maior patrimônio.

    A chegada de Ishi em Londres será desajeitada e angustiosa. Aprenderá novos trabalhos com muitas dificuldades, mas também descobrirá aí a verdadeira paixão e amor nas mãos de Adolf, um jovem aristocrático de nobre coração. Contudo, o amor entre raças sempre foi um castigo para qualquer família de posse, e Ishi vai pagá-lo com desprezo. Terminada a Guerra do Ópio, Ishi deixa de se sentir parte de Londres e daquele homem que tanto ama, pois seu sangue inglês foi a maldição de seu povo oriental. Poderá o tempo reuni-los outra vez, para que se amem sem rancores? 

    Ser cego não significa viver em uma cela escura:

    muitos se orientam entre o luminoso e o sombrio,

    a nitidez e a névoa, a lembrança e a imaginação.

    Prezi

    Capítulo 1

    ––––––––

    Hong Kong,

    Século XVIII

    ––––––––

    Pertencia a uma família de camponeses e pobres, vivíamos nas montanhas longe da cidade. Meu pai trabalhava nos cultivos de chá desde que era jovem. Em seguida foi enviado para trabalhar na produção de seda, onde transformava a seda em longos metros de tecido, que dobrava em várias partes, era exportada para Europa. Quando a China entrou no período de industrialização através dos ingleses, a fabricação começou a ter uma demanda maior e como o controle de natalidade e a entrada de estrangeiros, já não tinham vigilância, a superpopulação aumentava os operários nunca diminuíam, mas se as demandas para conseguir um trabalho efetivo eram cada vez maiores, igual às condições de trabalho e insalubridade na qual os operários se encontravam. 

    Meu pai Rytsuki era um camponês magro, com a pele seca e pouco elástica, por causa de todos os anos trabalhando debaixo do sol. Tinha as mãos calejadas e os dedos cheios de verrugas. Era careca e com o resto deformado como a semente de um caju tostado. Tinha o olhar opaco, julgador e cheio de rancor, como se em toda sue vida nunca tivesse conhecido o amor. Normalmente, tinha mal caráter e não era de falar muito. Quando o fazia gritava irritado ou murmurava agoniado; seus diálogos estavam cheio de constantes repreensões, queixas e raiva. Abria a boca só para chamar atenção ou para silenciar o barulho na casa. Diferente de minha mãe quem como toda mulher, foi ensinada para servir o marido e sua família. Seus passos lentos e curtos por causa dos pequenos pés enfaixados desde pequena, a agitavam com o passar do tempo. Lin era incapaz de se mover com liberdade dentro de casa, e muito menos podia fazê-lo fora de casa. Era uma oriental de feições delicadas, quinze anos mais jovem que meu pai, com a pele cansada e mechas grisalhas no cabelo. Era dedicada ao marido e filhos, exceto eu. Eu era somente uma sombra na vida de minha família; pouco se importavam na maneira que me desenvolvia e nem se interessaram em me criar como uma jovem casadoira. Não se deram ao trabalho em enfaixar meus pés para que no futuro, fossem admirados por um homem. Com a sorte que ganhei de minha família, era impossível que eu pudesse desejar algo melhor de o que já tinha na minha vida. Havia nascido para morrer sem deixar saudades, para crescer sem ser levada em conta.

    O mundo para mim era uma bola de escuro amorfa, saturada em minha própria mente. Sentia-me como uma mosca enjaulada em um frasco de vidro, a que incomodam tonteando e asfixiando, sem dar permissão de escapar.

    Conhecia meus pais pelo que ouvia meus irmãos e pais falarem pelas minhas costas. Custava-me visualizar como faziam, porque em minha mente despertavam sons e texturas muito similares as que me rodeavam na cozinha. Imaginava que um barco de bambu, poderia ser como a tigela onde comia o arroz. Que os jardins seriam como a alfafa e os brócolis da janta. Seriam as nuvens do céu, como pequeninas bolinhas de arroz doce, soltas de forma desordenada? 

    Pouco a pouco a visão e construção do mundo externo, o fazia a partir de escassos estímulos que me rodeavam. Conhecia o rosto das pessoas desde o meu, só meu corpo podia tocá-lo. Meus pais e irmãos não me deixavam conhecer sua pele e feições com meus dedos, por medo de se contaminarem da minha maldição de não ver. Quanto mais tempo passava fechada em casa, maior era meu desejo por conhecer o mundo exterior; por tocar, escutar e saborear outros mundos distintos ao imortal, que me haviam criado como uma imago no vazio de minha mente.

    Assim que tive altura suficiente para alcançar a pia da cozinha, minha mãe me deixou começar a lavar os pratos sujos, numa tentativa porque minha desgraça oferecia função nenhuma e não fosse só um enfeite inativo no canto de sempre. Enquanto lavava os pratos, brincava com as tigelas como se fossem pequenos barcos de pescador, naquilo que meus irmãos chamavam oceano. Seria o oceano uma grande piscina como as que minhas mãos submergiam? Quando minha mãe viu que podia lavar os pratos sem fazer bagunça, me alcançou uma vassoura e me pediu para varrer todo o chão de paralelepípedos, sem derrubar nenhum objeto e muito menos, sem bater na estatua de Buda que nos cuidava na porta de entrada. Aquilo foi um desafio difícil, porque era muito pouco o que havia percorrido de nossa cabana em quase nove anos. Agarrei-me ao cabo de madeira, como se fosse meu salvador e comecei a me mover com pouca liberdade. As costas rígidas e os pés arrastando-se descalços sobre aquela superfície dura. Quando terminei, voltei ao meu lugar de costume e com a cabeça inclinada sobre meu ombro; na posição de um cisne negro, camuflado pelas sombras. Outras vezes era como uma boneca de corda, que funcionava só quando me pediam que me mexesse, e quando a corda acabava, ficava de novo na mesma posição de costume.

    Após meu pai chegar, Lin o recebia como se fosse mais um filho, e lhe cuidava sem cortesia. Suas conversas não eram afáveis muito menos abundantes, só se resumiam a murmúrios.

    Nossa cabana quase sempre estava em silêncio, ainda mais quando as queixas ou reclamações de meu pai já não tinham espaço. Então os sons que mais embargava meus ouvidos, era a batida incessante dos utensílios de cozinha, as lenhas queimando no fogo, e os pés descalços de minha família, arrastando sobre a pedra arcaica do chão. O golpe do machado na tábua de madeira, quando minha mãe preparava os vegetais à vapor ou os mariscos era uma tortura que relacionava com os açoites que recebia nas minhas costas sem razão alguma. Em seguida, vinham às recriminações de minha mãe, por eu não estar no meu lugar e em vez disso, rondando-a, enquanto fazia as tarefas domesticas.

    – Ainda me pergunto por que dei a luz a uma filha mergulhada na escuridão. Por acaso não foram suficientes às oferendas aos nossos antepassados?

    Censurava Lin. Não conhecia seu rosto, mas podia imaginá-lo como uma massa amorfa, como a pasta que amassava minha mãe para fazer o pão. E pelo tom baixo e chateado de sua voz, percebia que em seu coração sentia o mesmo pesar que eu carregava por dentro. Inclusive um pouco de culpa por trazer-me ao mundo, sendo mulher e não outro homem. 

    No campo, os filhos significavam riqueza e mais possibilidade de trabalhar na terra ou cuidar do gado. No caso dos meus irmãos, todos trabalhavam em diversos ofícios e ajudavam em casa. Enquanto eu era um enfeite que comia, sujava e não fazia nada produtivo. Até que com esforço, pude ajudar minha mãe com a limpeza domestica, então deixei de sobrecarregar tanto.

    –Oxalá fosse uma filha de mãe diferente, se pudesse voltar a nascer. 

    O orgulho de qualquer camponês, enquanto eu era sua maior vergonha. Para uma família Oriental, uma filha não era boa fortuna e pior ainda se tivesse nascido em um dia 4 (número relacionado com a morte) e, além do mais, vinha com defeito.

    – Quieta Ishi! Se isso acontecesse, simplesmente não existiria- respondeu rispidamente, cravando em um golpe contra a tabua de madeira – O melhor seria que não fosse concebida. Assim, não teríamos que te ver como um vegetal miserável, num canto que ninguém limpa.

    Suas palavras cheias de reconhecimento para mim e para vida me machucavam. Sabia que eu antes de ser um orgulho para meus pais, era uma vergonha; pior ainda, era um insuportável estorvo. Suas poucas palavras me feriram, mas também me animavam para soltar de suas saias o quanto antes e deixá-los em paz. Sabia que o dia em fugisse longe de casa, poderia sofrer algum acidente ou provocá-lo a alguma pessoa, mas era um risco necessário. Não podia entender o mundo pelos meus olhos, porque estavam vendados desde que nasci, mas sim podia tocar, escutar e sentir a energia que envolviam cada ser humano e cada espaço. Nem era capaz de compreender por que motivo havia nascido cega, por que vivia reclusa em uma cabana com pais feridos na alma e com ego ofendido, quem se irritavam comigo sem razão aparente. Algo tinha que me dizer, nossos ancestrais ou alguma oferenda maior devia dar a Buda, para saldar essa terrível conta. Esperei seu sinal e nunca chegou, até que com o tempo fui aceitando.

    O mundo externo estava cada vez maior, enquanto eu me encolhia mais e mais para dentro. A asa que não tinha nos pés, tinha na alma, mas inclusive elas já tinham começado amortecer levemente.

    Havia memorizado

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