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História da Literatura de Mato Grosso: Século XX
História da Literatura de Mato Grosso: Século XX
História da Literatura de Mato Grosso: Século XX
E-book566 páginas5 horas

História da Literatura de Mato Grosso: Século XX

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Sobre este e-book

A obra apresenta o panorama da produção literária mato-grossense no Século XX, identificando tendências, autores e obras representativas, essencial para estudiosos do assunto.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de out. de 2017
ISBN9781370150861
História da Literatura de Mato Grosso: Século XX
Autor

Hilda Magalhães

Hilda Magalhães é uma pesquisadora brasileira.Doutora em Teoria da Literatura pela UFRJ, com pós-doutoramento na Université de Paris III e na EHESS(França), é autora de dezenas de obras na área de Literatura.

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    História da Literatura de Mato Grosso - Hilda Magalhães

    I. Existe literatura em Mato Grosso?

    Se avaliarmos a produção literária mato-grossense a partir da quantidade e da qualidade de pesquisas e trabalhos publicados sobre o tema, somos levados a concluir que inexiste literatura em Mato Grosso.

    Em termos de historiografia literária, os dois trabalhos mais significativos que temos são História da literatura mato-grossense(1970), de Rubens de Mendonça, e História da cultura mato-grossense(1982), de Lenine Póvoas. O texto de Rubens de Mendonça é fruto da primeira tentativa de compilação da historiografia literária do Estado, sendo, por esse motivo, referência bibliográfica indispensável para todo estudioso da literatura local, tendo o seu lugar assegurado na historiografia literária mato-grossense. O seu mérito consiste em relacionar, com minuciosidade, um grande número de autores dos séculos XVIII e XIX, de difícil acesso, visto que viveram numa época em que não se publicavam livros na Província, o que torna a obra fonte de consulta obrigatória para os críticos literários posteriores. Entretanto o trabalho peca por não identificar as fontes da maioria das informações. Além disso, o texto demonstra fragilidade na análise das obras, bem como uma flagrante indecisão metodológica, em função da qual o enfoque crítico vacila entre o autor e a obra, privilegiando ora um, ora outro, acarretando prejuízos para a consistência do texto.

    O livro História da cultura mato-grossense, por seu turno, ao assumir compromisso com outras formas de manifestações culturais, reduz bastante o seu alcance enquanto historiografia da literatura de Mato Grosso e pouco acrescenta ao primeiro.

    Há que se destacar ainda, paralelos às obras historiográficas citadas, os livros Poetas bororos-antologia de poetas mato-grossenses (1940) e Poetas mato-grossenses (1958), ambos de Rubens de Mendonça, sem dúvida importantes para conhecermos a literatura mato-grossense, mormente a do início do século. Além desses títulos, temos os textos de Corsíndio Monteiro [1] sobre a obra de Dom Aquino e o livro A mais linda flor (1993), de Yasmim Nadaf, que tematiza a contribuição do Grêmio Júlia Lopes na literatura regional.

    Procurando contribuir para o enriquecimento da bibliografia sobre o assunto, propomo-nos a analisar a natureza e a evolução da literatura mato-grossense no século XX, identificando seus nomes e suas obras mais representativas.

    II- Por uma literatura mato-grossense

    História/historiografia

    Se formos verificar a práxis historiográfica brasileira, vamos observar uma enorme variedade de métodos utilizados pelos nossos historiadores, cada qual servindo obviamente a um objetivo específico e traduzindo uma teoria estética peculiar, que varia conforme as descobertas da Teoria Literária.

    Essa variedade metodológica resulta em procedimentos críticos bastante distintos e variados, condicionando o olhar do historiador ora para os fatores intrínsecos da obra, ora para os extrínsecos, condicionadores do fazer literário (contexto histórico, social, etc), em busca da afirmação e da enfatização dos elementos que o teórico considera importantes na literatura.

    A nós interessa compilar a história da literatura de Mato Grosso buscando enfatizar as características estruturais e conteudísticas que a legitimam enquanto diferença no cenário literário nacional. Para tanto, faz-se necessário delimitarmos o que entendemos por História. O nosso conceito de História vem de Giambattista Vico, pensador italiano que viveu em meados do séc. XVIII. Para o pensador, longe de ser progressista ou retilínea, a História obedece a um processo recorrente, nos termos de uma história ideal cíclica (VICO, 1986, p. 116 e 155). Esse processo histórico circular é medido não pelo tempo, mas pela percepção de mundo de cada época e a relação de cada povo com o Poder.

    De acordo com Vico, esse ciclo histórico apresenta três estágios diferenciados: a 1ª idade, caracterizada por uma visão ingênua e mística do mundo; a 2ª idade, caracterizada por uma percepção menos ingênua e mais contestadora, concretizada na luta pela terra, e a 3ª idade, marcada pelo domínio da razão, traduzida em leis democráticas e num regime político participativo. Após a 3ª fase, não é mais possível haver progressividade e o ciclo se repete qualitativamente, ou seja, de forma diferenciada .

    Como percebemos, a lei da recorrência viqueana trabalha com duas constantes: a multiplicidade e a variedade no tempo/espaço, de modo que tudo existe em todo tempo e lugar, mas de forma diferenciada. E ao adotarmos o conceito de História, de Vico, interessa-nos, mais do que a ideia de recorrência, a concepção de pluralidade das ações humanas no espaço/tempo, no intuito de registrar, nesse compêndio, não apenas as manifestações literárias predominantes em cada época, mas também o que ficou à margem, apreendendo, assim, a multiplicidade da produção literária nesse Estado.

    Isso considerado, ao analisarmos a literatura de Mato Grosso, não estaremos interessados em achar um fio condutor que caracterize a produção literária rumo a uma situação literária ideal, mas sim a sua variedade no tempo e no espaço, enquanto manifestações de formas diferenciadas de percepção do universo, estética e culturalmente.

    Conceito de literatura regional e literatura mato-grossense

    Faz-se necessário, nessa oportunidade, esclarecermos o que entendemos por regional em literatura. Analisando a relação obra literária/regionalismo, José Nogueira de Moraes (1993, p.2) afirma que tempo e espaço são simples elementos históricos para a valorização da arte literária. Assim sendo, as denominações continental, nacional ou regional, embora contribuam no processo de compreensão do texto, não pertencem à substância do artístico (MORAES, 1993, p.2). Diante disso, as classificações regional, urbana, sertanistas ou atlântica são inadequadas e só servem enquanto recurso didático. Por sua natureza transnacional, continua José Nogueira de Moraes, a obra foge às limitações do nativismo-não é de nenhum lugar, por seu valor, por sua beleza, pertence à Humanidade, a todos os tempos e a todos os lugares e será tanto maior quanto mais refletir o universal (MORAES, 1993, p.2) .

    Assim, quando nos referirmos a textos como sendo regionais, não estaremos reduzindo-os à categoria de simples documentos geográfico-culturais. Estaremos tão somente evidenciando um dos aspectos que a obra apresenta.

    Para os fins desse trabalho, entendemos por literatura mato-grossense os textos escritos por autores que nasceram em Mato Grosso ou que nele residem (ou tenham residido), contribuindo para o enriquecimento da cultura do Estado. Por Mato Grosso entendemos o estado indiviso até a década de 70, após o que, levamos em conta apenas a unidade do norte, por entendermos que, embora apresentem, em princípio, aspectos semelhantes, a partir da divisão os dois estados tendem a acentuar suas diferenças culturais, apresentando ritmos e traços diferenciados de desenvolvimento.

    Mapeando a busca

    Em relação à estrutura do livro, atendendo a uma necessidade didática, considerando que esse compêndio se destina ao uso indistintivamente de alunos de 1º, 2º e 3º graus, a exposição ou mapeamento do panorama literário mato-grossense será feito cronologicamente. Essa metodologia nos dará a oportunidade de mapear com maior precisão o contexto histórico-cultural de cada década, possibilitando-nos acompanhar as transformações culturais do Estado e mapear a variedade da produção literária mato-grossense, evidenciando a sua importância, enquanto diferença, no contexto literário nacional.

    No que respeita à análise das obras, esta obedecerá aos princípios da Crítica Estilística, que, entendida pelos seus seguidores como uma ciência-arte, não se contenta, segundo Carmelo Bonet , em sentenciar justificadamente ou limitar o exato valor poético da obra estudada a uma prévia escala de classificação dogmática. Do mesmo modo, a Crítica Estilística não se limita a cumprir essa operação separadamente com alguns elementos estruturais que se repetem como em um padrão: caracteres, diálogo, ação, e assim por diante. Ela se caracteriza basicamente pelo exame do estilo do texto, entendendo por estilo sua maneira, seus tiques, suas singularidades (BONET, 1969, p. 173). Assim estaremos explorando os textos em nível estrutural e temático, buscando destacar as peculiaridades de cada autor e sua importância no panorama literário de Mato Grosso.

    Para tanto, vamos desenvolver o nosso trabalho em 04 capítulos. No primeiro, faremos, a partir dos estudos de Rubens de Mendonça e Lenine Póvoas, uma rápida exposição do panorama da literatura mato-grossense. Mapearemos também o cenário literário do Estado nas duas primeiras décadas do século, com ênfase nos trabalhos de José de Mesquita, Dom Aquino, Indalécio Proença e Arlinda Morbeck, autores representativos de uma literatura que indicia, ainda que bastante influenciada pela estética do século passado, uma identidade própria.

    No segundo capítulo, analisaremos as obras das décadas de 30 e 40, importantizando a entrada do Modernismo no Estado, sobretudo a contribuição de Lobivar de Matos, Manoel de Barros e outros colaboradores da revista Pindorama, bem como a contribuição das revistas Ganga e Sarã na implantação de uma estética experimental na região. Serão estudados nesta oportunidade, além das obras de Lobivar de Matos, Silva Freire, João Antônio Neto e Manoel de Barros, representantes de uma literatura caracterizada pelo diálogo com a estética moderna. Analisaremos também as obras de Rubens de Mendonça, Tertuliano Amarilha, Pe. Raimundo Pombo e Hélio Serejo, representantes do anacronismo que caracterizava a produção literária da época.

    No terceiro capítulo, discorreremos sobre a literatura das décadas de 50 e 60, com ênfase nos textos de Wlademir Dias Pino, criador do Poema Processo, Ricardo Guilherme Dicke, Manoel Cavalcante Proença, representantes de uma literatura altamente comprometida com os problemas sociais brasileiros e com a estética de vanguarda dos anos 50 e 60.

    No último capítulo mapearemos a produção literária dos anos 70 a 90, abordando a literatura produzida após a divisão do Estado, caracterizada pelo compromisso com a questão fundiária, o erotismo, a metalinguagem, o misticismo, o filosófico, o imaginário infanto-juvenil e a revitalização do teatro. Serão analisadas, nesse capítulo, dentre outras, as obras de Marilza Ribeiro, Tereza Albués, Hilda Gomes Dutra Magalhães, Pe. Antônio Pimentel, Dom Pedro Casaldáliga, Flávio Ferreira, Aclyse de Matos e Lucinda Nogueira Persona.

    ESTUDOS PRELIMINARES

    I. A literatura mato-grossense na visão de Rubens de Mendonça e Lenine Póvoas

    Registra Rubens de Mendonça, em seu História da literatura mato-grossense (1970), que o primeiro documento escrito em língua portuguesa, em Cuiabá, foi uma ata, lavrada aos 08/04/17191, e o primeiro livro, Crônicas de Cuiabá , de autoria de Barbosa de Sá, que registra a crônica cuiabana desde a fundação de Cuiabá até a data de 1775 (MENDONÇA, 1970, p. 9). A seguir, temos o trabalho de Joaquim da Costa Siqueira, responsável pela crônica da Província, no período de 1776 a 1877.

    Além desses dois, Rubens de Mendonça cita José Zeferino Monteiro de Mendonça, Felipe José Nogueira Coelho, Pe. João A. Cabral Camelo, Pe. José Manoel de Siqueira e Manoel Cardoso de Abreu (MENDONÇA, 1970, p. 9-15), como representantes do ciclo cronístico mato-grossense no Brasil colônia.

    A partir do final do séc. XVIII e durante todo o séc. XIX, registra-se a presença de expedições científicas em Mato Grosso. Escreve Lenine Póvoas que, após a celebração do tratado de Santo Idelfonso, em 1777, responsável por profundas mudanças nos termos do Tratado de Madrid, os governos português e espanhol formaram expedições compostas de astrônomos e geógrafos para procederem à demarcação das fronteiras (PÓVOAS, 1982, p. 24).

    A comissão designada para demarcar a fronteira Mato Grosso/Bolívia era composta por Ricardo Franco de Almeida Serra, Francisco José de Lacerda e Almeida e Antônio Pires da Silva Pontes. Como resultado de seu trabalho, Ricardo Serra deixou-nos as obras Extrato da descrição da capitania de Mato Grosso, Reflexos sobre a capitania de Mato Grosso, Navegação do Tapajós para o Pará e Diligência no rio Paraguai. Francisco de Lacerda e Almeida escreveu Diário de viagem pelas capitanias do Pará, Rio Negro, Mato Grosso, Cuiabá e São Paulo, nos anos de 1780 a 1790. Antônio Pires da Silva Pontes, deixou-nos, por sua vez, Diário de diligência e reconhecimento das cabeceiras dos rios Sarará, Guaporé, Tapajós e Jauru, Memórias físico - geográfico das lagoas Gaíva, Uberaba e Mandioré, Um diário de viagem no Rio Guaporé e Notícias do lago Xaraés.

    Com a sucessão de Marquês de Pombal, o sucessor Murtinho de Melo e Castro enviou expedições científicas para estudarem as riquezas naturais do País (PÓVOAS, 1982, p. 25). Dentre os componentes dessas expedições, destacou-se Alexandre Rodrigues Ferreira, baiano naturalista, autor de Suplemento à memória dos rios de Mato Grosso, Enfermidades endêmicas da Capitania de Mato Grosso, Memórias sobre as febres da capitania de Mato Grosso e Catálogo da verdadeira posição dos lugares abaixo declarados pertencentes às capitanias do Pará e Mato Grosso. Além de Alexandre Ferreira, Póvoas cita ainda Luiz D'Alincourt, Augusto Leverger, Cônego José da Silva Guimarães, Joaquim Ferreira Moutinho, Bartolomé Bossi, Henrique de Beaurepaire Rohan, João Severino da Fonseca, Herbert H. Smith , Carlos Van Den Steinen, Paulo Ehrenreich, Pedro Vogel e João Barbosa Rodrigues, como principais expoentes desse período.

    A literatura propriamente dita, segundo os apontamentos de Rubens de Mendonça (1958, p. 11), teve início com José Zeferino Monteiro de Mendonça, nascido em Lisboa, em 1740. Havendo escrito várias poesias, não nos deixou, contudo, nenhum livro publicado. A seguir encontramos o nome de Antônio Cláudio Soido, apontado por Rubens de Mendonça (1970, p. 31-32) e Lenine Póvoas como pré-romântico [2]. Antônio Soido (Capixaba, 1822 - 1889) publicou "O corsário" (tradução de Byron), Lembranças de Montevidéu, A menina oriental (poemeto), Para os pobres (tradução de Victor Hugo) e O batel"(poemeto). A Antônio C. Soido segue-se Antônio Augusto Ramiro de Carvalho, o primeiro poeta genuinamente mato-grossense (cuiabano, 1833-1891), definido por Rubens de Mendonça como um poeta humorístico, sem publicação (MENDONÇA, 1970, p. 33).

    Rubens de Mendonça relaciona ainda como românticos Antônio Gonçalves de Carvalho, Amâncio Pulquério de França (pseudônimo Palmiro, bastante influenciado por Casimiro de Abreu), Manoel Ribeiro dos Santos Tocantins, (Cuiabá, 1852-1927, mais conhecido por haver fundado a Typografia Oficial do Estado do que pela sua produção literária) , José Tomás de Almeida Serra (Cuiabá, 1866-1889, considerado por Rubens de Mendonça o verdadeiro corifeu do Romantismo em Mato Grosso (MENDONÇA, 1970, p. 36), influenciado por Alfred Musset e Álvares de Azevedo), José T. A. Serra, Pedro Trouy, (Cáceres, 1872-1926), Frederico Augusto Prado de Oliveira pseudônimo de Zé Capilé (Cuiabá, 1874-1914), Antônio Tolentino de Almeida (Rosário Oeste, 1876-1839, autor de Ilusões doiradas, 1910; A índia Rosa, 1910; Retirada da laguna-poemeto, 1930 e Romeiros do ideal, 1937), Fábio Monteiro de Lima (Cuiabá, 1883-1946), Indalécio Leite Proença (Cuiabá, 1883-1939), Antônio Vieira de Almeida (Cuiabá, 1873-1916, autor do livro inédito Contos de outras eras), Isác Póvoas (Cuiabá, 1886- 1970 ), Amarílio Novais (Cuiabá, 1888-1963), Cesário Corrêa da Silva Prado (Cuiabá, 1891-1969) e Francisco Bianco Filho (Minas, 1901-1947, autor de Mirko, romance de costumes regionais,1920).

    Sob a égide do Parnasianismo e influenciados por Olavo Bilac, Rubens de Mendonça relaciona, dentre outros, os seguintes autores: Otávio Cunha Cavalcanti (Pernambuco, 1884-1958, autor dos inéditos Folhas verdes no outono e Poema), Rosário Congro (São Paulo, 1884 - 1963, autor de Inaiá-poemeto, Sombras do acaso- verso, Colunas partidas, Outras ruínas e Últimos caminhos), Arnaldo Serra (Cuiabá, 1885-1946, autor de Páginas íntimas, contos regionais-1929, Aromitas, versos-1932 e Cenas de minha terra, inédito), Dom Francisco de Aquino Corrêa (Cuiabá, 1885-1956), João Nunes da Cunha (Cuiabá, 1885-1930, autor do livro inédito Selvas), Luiz Terêncio de Figueiredo (Cuiabá, 1889-1947, cujo único livro (versos), registra o historiador ter se extraviado), Ulisses Cuiabano (Cuiabá, 1891-1951, autor do inédito Grupiaras), Soter Caio de Araújo (Corumbá, 1891-1958, humorista, autor do livro Ex-tudo, de versos matemáticos-1916), Carlos de Castro Brasil (Corumbá, 1905-1976), José Barnabé de Mesquita (Cuiabá, 1892-1961, tido por Rubens de Mendonça, como o mais profícuo escritor mato-grossense(MENDONÇA, 1970, p. 151) , com as obras Poesias-1919, Terra do berço- poesias, 1927, A cavalhada-contos-1928, Epopeia mato-grossense- poesias, 1930, Espelho de almas- contos, prêmio ABL-1932, Piedade, romance-1937, Três poemas da saudade, poemas-1943, Escada de Jacó, sonetos-1945, No tempo da cadeirinha, contos regionais-1946; Poemas do Guaporé, poemas-1949 e Imagem de Jaci- inédito), José Antônio da Costa (Paraíba, 1893 - 1962, poeta repentista), Maria de Arruda Müller (Cuiabá, 1898, poetisa fundadora do Grêmio Literário Júlia Lopes), José Raul Vilá, (Ponta-Porã, 1899-1956, autor de Rondônia, poema-1918), Jercy Jacob, pseudônimo João Jacó (mineiro, 1899-1968, autor de Sombras do além- poemeto; Frei André- poemeto; Musa discreta- poesia; 1926; Missal do sonho, poesia-1948; Rimas pagãs, soneto e Sinfonia da alma, -sonetos, 1961).

    No rol dos simbolistas, Rubens de Mendonça cita Pedro Medeiros, (Corumbá, 1891 - 1943, no dizer do historiador, um dos melhores poetas mato-grossenses(MENDONÇA, 1970, p. 163) , autor de 13 de junho- poema e Poesias, crônicas e comentários), Franklin Cassiano da Silva (Corumbá 1891-1969) e Leônidas Antero de Matos (Cuiabá, 1894-1936), todos de pouca produção .

    No que respeita à estética do século XX, o historiador caracteriza como pré-modernos todos os autores surgidos no período de 1900 a 1920 (MENDONÇA, 1970, p. 71), dentre os quais Manoel Cavalcanti Proença, (Cuiabá, 1905- 1966), tido por Rubens de Mendonça como o único escritor mato-grossense que tinha condições para entrar para a Academia Brasileira de Letras(MENDONÇA, 1970, p. 173) e Hélio Serejo (Nioaque, 1912), autor de mais de três dezenas de obras, dentre as quais Zé Fornalha, Carreteiro de minha terra e Mãe preta. Figuram ainda como pré-modernos os autores Clodoaldo D’Alincourt Sabo de Oliveira, Gabriel Vandoni de Barros, Carlos Vandoni de Barros e Jari Gomes.

    No Modernismo, Rubens de Mendonça situa, dentre outros, Lobivar Matos (Corumbá, 1914-1947); João Alípio de Almeida Serra (Cuiabá, 1914 - 1934), Henrique Rodrigues do Vale (Corumbá 1915), Rubens de Castro (Bahia, 1950 ), Rubens de Mendonça (Cuiabá, 1915-1983), Gervásio Leite (Cuiabá, 1916-1990), Manoel de Barros (Corumbá, 1916), Euricles Mota (Ceará, 1917-1968), Corsíndio Monteiro da Silva (Cuiabá, 1918), Renato Baéz (Porto Murtinho, 1920), João Antônio Neto (Couto Magalhães, GO, 1920), Pe. Wanir Delfino Cézar (Cuiabá, 1922-1972), Newtom Alfredo de Aguiar (Cuiabá- 1923), Tertuliano Amarilha (Campanário, 1924), Francisco Leal de Queiroz (Paranaíba, 1927),Wlademir Dias Pino (Cuiabá, 1927),Vera Randazzo (Caxias do Sul, 1927), Adauto de Alencar (Assarê, 1931), Amália Verlangiere (Cuiabá, 1930) e Ronaldo de Arruda Castro (Cuiabá, 1941).

    Na classificação de Lenine Póvoas, são relacionados como românticos os autores: Antônio Cláudio Soido, Antônio Augusto, Ramiro de Carvalho, Antônio Gonçalves de Carvalho, Amâncio Pulchérico de França, José Thomaz de Almeida Serra. Sob o item A poesia satírica, épica, parnasiana e simbolista, L. Póvoas cita os escritores Pedro Trouy, Frederico Augusto Prado de Oliveira, Antônio Tolentino de Almeida, Fábio Monteiro de Lima e Indalécio Leite Proença, dos quais destaca Antônio Tolentino de Almeida, autor de Ilusões doiradas (1910), A índia Rosa (1910), Mil vezes salve (1929), A retirada da laguna (1939), Romeiros do ideal (1937) e Indalécio Leite Proença, que, apesar de contar com farta colaboração nos órgãos da imprensa(PÓVOAS, 1982, p. 85), editou, sob pseudônimo, apenas um livro, Sátiras anônimas, criticando o governo de Dom Aquino. Por sua veia satírica, o historiador o denomina (assim como a Frederico Prado de Oliveira) o Gregório de Matos das terras mato-grossenses "(PÓVOAS, 1982, p. 86).

    Como precursor do Modernismo, Lenine Póvoas aponta o grupo de poetas corumbaense, do qual destaca Carlos Vandoni de Barros,que teria sido, segundo o historiador, o primeiro a escrever versos modernistas no Estado"(PÓVOAS, 1982, p. 99). A seguir, Lenine Póvoas relaciona os autores que contribuíram para a revista Pindorama: Gervásio Leite, Rubens de Mendonça, Euricles Motta, Corsíndio Monteiro, Carmindo de Campos, Agrícola Paes de Barros, João Antônio Neto, Lobivar de Matos, Alceste de Castro e Manoel de Barros.

    Como autores contemporâneos, Lenine Póvoas cita Deocleciano Martins de Oliveira, João Antônio Neto, Agenor Ferreira Leão, Newton Alfredo de Aguiar, Tertuliano Amarilha, Wlademir Dias Pino, Vera Iolanda Randazzo, Adauto de Alencar, Benedito Sant'Ana da Silva Freire, Ronaldo de Arruda Castro, Amália Verlangieri, Guilhermina de Fegueredo, Benilde Borba de Moura, Carlos Gomes de Carvalho e Padre Antônio Rodrigues Pimentel.

    Como se pode constatar, merece destaque, nos dois livros expostos, o trabalho de compilação de nomes levado a termo pelos pesquisadores, considerando que muitos dos escritores arrolados não têm obra publicadas e só nos chegam ao conhecimento graças aos registros de Rubens de Mendonça e Lenine Póvoas. Entretanto a produção literária mato-grossense do período colonial e do início de nosso século não comporta, sem prejuízos para o próprio entendimento da arte literária em Mato Grosso, uma classificação tão estanque quanto a pretendida pelos historiadores citados. A verdade é que conviveram, em nosso século, poetas de várias tendências (muitas anacrônicas, outras modernas), o que acaba colocando em xeque a metodologia utilizada por Rubens de Mendonça e Lenine Póvoas, exigindo uma revisão historiográfica atualizada de toda a produção literária mato-grossense.

    II- O teatro em Mato Grosso-séculos XVIII e XIX

    A história do teatro em Mato Grosso se inicia com a descoberta de ouro na região. Consta nos apontamentos dos cronistas que, em 1718, quando Mato Grosso ainda pertencia à Capitania de São Paulo (somente em 1748 foi criada a Capitania de Mato Grosso), a bandeira do paulista Antônio Pires de Campos subiu o rio a que denominou Cuiabá, à busca da Serra dos Martírios, de inigualável riqueza, que havia visto na infância, em companhia de seu pai, o também bandeirante Manuel de Campos. Todavia, não lhe sendo possível localizar a serra, pôs-se à caça do índio, havendo sido bem sucedido nessa empreita.

    No ano seguinte, chega a Mato Grosso a bandeira de Pascoal Moreira Cabral à busca dos índios coxiponés localizados por Pires de Campos. Entretanto, tendo sido derrotado pelos indígenas e havendo descoberto ouro, põe-se, mesmo sem os instrumentos adequados, a minerar, utilizando para tal as mãos e improvisados instrumentos de madeira (SIQUEIRA et alii, 1990, p. 11).

    No local das descobertas auríferas, funda o bandeirante, no ano de 1919, o arraial de Cuiabá. O que se segue a partir daí é uma epopeia que mistura ambição, ouro e fome. Os bandeirantes, distantes da metrópole (6 a 8 meses de viagem), passam a se descuidar da lavoura, cultivada em quantia insuficiente para atender às necessidades da mineração, advindo daí a escassez de gêneros alimentícios. A carestia se torna tão grande que, conforme registra Luiz Phillipe Pereira Leite no seu livro Vilas e fronteiras,

    o milho, gênero básico daquela época, custava um alqueire, 22 mil réis, ou seja, o equivalente a 222 dias de trabalho de um homem! Vendia-se um dourado por 7 a 8 oitavas de ouro. Uma abóbora chegou a ser vendida por 15 oitavas de ouro. Lavrar a terra nessas alturas era mais lucrativo. Miguel Sutil, paulista vivo, vem e põe-se a montar uma roça. Por ironia do destino descobre a maior mina de ouro de que se tem notícia. Basta dizer que no primeiro mês, sem ferramentas, com as mãos apenas, catou mais de 400 arroubas de ouro! A caminho de Cuiabá, quantas monções pereceram! Quanta gente morreu! Quanta miséria em Cuiabá! Morrer de fome tornou-se coisa banal. Para se ter uma ideia, conta-se que um pai chegou de trocar o filho por um peixe - o pacu (LEITE,s.d, p. 50).

    Além da fome, agravavam a situação de penúria dos pioneiros as precárias condições de habitação e as doenças, mais especialmente a malária. Se não bastasse, ainda enfrentavam as constantes investidas dos paiaguás, que, além de destruir monções, protagonizavam verdadeiras carnificinas nas águas do Rio Paraguai.

    Isto não suficiente, a presença do Governador General de São Paulo Rodrigo César de Menezes no arraial, no período de 1726 a 1728, contribuiu para aumentar os sofrimentos dos mineradores, instituindo uma política fiscal inclemente e insensível às mazelas da população mineradora. Sua política fiscal foi tão severa que precipitou a decadência da mineração em Cuiabá, ocasionando a debandada de muitos dos moradores da vila.

    É nesse cenário que têm lugar as primeiras representações teatrais em Cuiabá, marcando o início de uma prática cultural que se estenderá até os fins do século XIX, tendo sido, nos séculos XVIII e XIX, a grande expressão artística do mato-grossense, presente sobretudo em festividades públicas, exercendo considerável influência no desenvolvimento cultural do Estado naquela época.

    Trazido pelos portugueses que aqui aportaram provenientes, em sua maioria, do Minho e Trás-os-Montes, áreas mais desenvolvidas e de melhor nível cultural do País, o teatro surgiu em Mato Grosso muito antes da fundação da Capitania, vale dizer, em precárias condições e insipientes condições sociais (PÓVOAS, 1982, p. 34). Não obstante, floresceu a tal ponto, que Mato Grosso foi a Capitania que mais se destacou nessa atividade em todo o Brasil colônia. Registra Carlos Moura que

    no período de 1729 até o último ano do século XVIII são documentadas apresentações de pelo menos 80 peças na Capitania. Basta comparar este total de representações registradas por Galante de Souza para todo o século XVIII em todos as restantes Capitanias: menos de cinqüenta. (MOURA, 1976, p. 26).

    Mas por que o teatro teria proliferado tanto em Mato Grosso? Segundo anotações de Carlos Francisco Moura, a colonização de Mato Grosso, sustentada, em princípio, na mineração, deu origem a uma superpopulação urbana (MOURA, 1976, p. 26). Ilustrando esse quadro, relata-nos Aroldo de Azevedo, Cuiabá contava, na segunda metade do século XVIII, mais de 10.000 habitantes,afirmando-se então como a 4ª cidade mais populosa do País, após Salvador, Rio de Janeiro e Vila Rica (MOURA, 1976, p. 26). Essa densidade populacional e as atividades de mineração teriam favorecido o desenvolvimento de uma cultura mais rural do que urbana, num processo inverso ao verificado na maioria das capitanias brasileiras.

    As demais capitanias, registra Francisco Moura, sendo caracterizadas pela austeridade rural, contabilizaram poucas festividades ao longo do ano e essas eram sempre de natureza religiosa. Assim, essas capitanias, especialmente as litorâneas, se mostraram arredias ao teatro novidadeiro da época até mesmo porque esse teatro criticava os costumes rurais do século XVIII. Nesse contexto, temos explicado o motivo pelo qual as demais capitanias brasileiras rejeitavam as peças contemporâneas e privilegiavam as que remontavam de 12 séculos anteriores (MOURA, 1976, p. 31).

    Em Mato Grosso os costumes eram outros: com uma população numerosa e bastante dada a festas, foi fácil para a Capitania a absorção do teatro do século XVIII, altamente crítico dos valores rurais. Por outro lado, o enriquecimento dos mineradores atraía, conforme registra Carlos F. Moura, os artistas da Metrópole, o que fertilizava ainda mais o ambiente já propício ao teatro na região, de modo que, nessa Capitania, mesmo não se constatando a produção de textos, as representações se multiplicaram tanto que leva Carlos F. Moura a afirmar que nenhuma capitania aderiu de forma tão total ao teatro. Em nenhuma ele teve tanta importância social e cultural (MOURA, 1976, p. 33).

    De acordo com Francisco A. Ferreira Mendes (1982, p. 10) , desde 1727, quando o arraial é elevado a Vila Real do Sr. Bom Jesus, o mato-grossense já cultivava o hábito de se deleitar com representações públicas e costumava festejar a chegada de governadores, ouvidores e Juízes de Fora a Cuiabá com manifestações de caráter público. Ainda na década de 20, registra Alcides Moura Lott que, por oportunidade da chegada da imagem do Senhor Bom Jesus a Cuiabá, foram representadas duas comédias (LOTT, 1987, p. 31-2) .

    Em 04/12/1758, quando da chegada de Dr. Diogo de Toledo Ordonhes, Juiz de Fora da Comarca, a Cuiabá, registra a crônica da época que o cuiabano festejou vários dias, com representação, ao ar livre, de dramas e comédias em que atuaram pessoas da alta sociedade da vila (MENDES, 1982, p. 10). Do mesmo modo, em 1763, na época do nascimento do neto do rei D. José, representaram-se duas comédias, numa festividade que incluiu óperas, danças, cavalhadas e fogos de artifícios (PÓVOAS, 1982, p. 34).

    Em 1769, por ocasião da visita do Capitão General Luís Pinto de Sousa Coutinho à Vila da Santíssima Trindade (antiga Cuiabá), foram realizadas várias festividades, incluindo cinco comédias e duas óperas. Terminada a cerimônia religiosa, segundo informações de Joaquim Siqueira, citado por Corrêa Filho (1994, p. 641),

    passaram a fazer-lhe outros muitos festejos, como foram três tardes de cavalhadas em que correram as pessoas da primeira nobreza da terra, cinco comédias e duas óperas, que tudo se representou em tablado na rua, além de outras danças e folguedos, que levavam muitos dia.

    No ano de 1772, quando da chegada do Capitão-General Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres a Cuiabá, este fora

    recebido na entrada da vila pela Câmara, que o esperava em uma casa ricamente ornada que para este fim se armou em paragem e rua chamada 'A Mandioca', e daí conduzido debaixo do pátio ao Te Deum Laudamus, na Matriz"(SIQUEIRA, citado por CORRÊA FILHO, 1994, P. 641).

    Os registros mostram também que

    houve vários festejos de óperas e comédias em tablado público, além de danças, bailes e outros divertimentos que duraram por muitos dias, sendo em todos geral o contentamento. (SIQUEIRA, citado por CORRÊA FILHO, 1994, p. 641).

    Em 1779, oportunidade da inauguração da Matriz da Freguesia de Sant’Ana do Sacramento, houve ruidosos festejos em Cuiabá. As festividades incluíram uma missa, uma procissão conduzindo as imagens de Santo Inácio de Loiola e São Francisco Xavier da palhoça primitiva para a nova Igreja (a 9 léguas de distância), toques de sinos, trompas, clarins, caixas de guerra e outros instrumentos, bem como tiro de roqueiras. Na Chapada, celebrou-se uma missa, encerrando os atos religiosos e, logo após, deu-se início aos festejos profanos, que incluíam uma cavalhada e outros festins da representação (CORRÊA FILHO, 1994, P. 642). As crônicas da época não anotaram, contudo, os nomes das peças levadas à cena naquela data.

    Em 1785, nos relata Freitas Barros, foram representadas em Casalvasco, povoação próxima a Vila Bela, durante os festejos em homenagem a Nossa Senhora da Esperança, duas comédias, bem como a ópera O alecrim e a manjerona, peça do brasileiro Antônio José da Silva, congnominado O Judeue que veio a se tornar a mais importante figura do teatro português no século XVIII (PÓVOAS, 1982, p. 35) .

    Desde a descoberta do ouro de Cuiabá temos notícias de atividades teatrais em Mato Grosso, mas foi no governo de Luís de Albuquerque (1772/1789), áurea época de Vila Bela, que o teatro teve maior força na Capitania, registrando-se representações de peças pelo menos duas vezes por ano (PÓVOAS, 1982, p. 35). E foi tão significativo o cultivo do teatro nesse período que o fato chamou a atenção de Gilberto Freire que, sobre o governo de Luís Albuquerque afirma:

    Outro característico, porém, deu sempre outra espécie de grandeza às

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