Meu carro sumiu!
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Sobre este e-book
Com um estilo às vezes cômico e irreverente, nesta série de crônicas de vida, carreira e negócios Mario Persona leva você a uma viagem inesquecível por um mundo real que beira o imaginário. Como todo bom contador de histórias, o autor consegue transformar o banal em algo especial, o corriqueiro em lição de vida e o arroz-com-feijão em fino manjar, cativando o leitor e deixando sempre um gostinho de "quero mais". E no final você ainda irá descobrir o que aconteceu com o carro que sumiu.
MARIO PERSONA
Mario Persona é palestrante, professor e consultor de estratégias de comunicação e marketing e autor dos livros “Laura Loft - Diário de uma Recepcionista”, “Meu carro sumiu!”, “Eu quero um refil!”, “Crônicas para ler depois do fim do mundo”, “Dia de Mudança” (também em inglês: “Moving ON”), “Marketing de Gente”, “Marketing Tutti-Frutti”, “Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades”, “Receitas de Grandes Negócios”, “Crônicas de uma Internet de verão”, Coleção “O Evangelho em 3 Minutos” (4 volumes) e Coleção “O que respondi...”. Mario Persona participou também como autor convidado das coletâneas “Os 30+ em Atendimento e Vendas no Brasil”, “Gigantes do Marketing”, “Gigantes das Vendas”, “Educação 2007”, “Professor S.A.” e “Coleção Aprendiz Legal”, além de ter sido citado como “Case Mario Persona” no livro “Os 8 Pês do Marketing Digital”. Traduziu obras como “Marketing Internacional”, de Cateora e Graham, “Administração”, de Schermerhorn, “Liberte a Intuição”, de Roy Williams, além de diversos livros de comentários sobre a Bíblia. O autor é convidado com frequência para palestras, workshops e treinamentos de temas ligados a negócios, marketing, comunicação, vendas e desenvolvimento pessoal e profissional. Alguns temas são: Gestão de Mudanças, Criatividade e Inovação, Clima Organizacional, Gestão do Conhecimento, Comunicação, Marketing e Vendas, Satisfação do Cliente, Oratória, Marketing Pessoal, Qualidade Vida-Trabalho, Administração do Tempo, Segurança no Trabalho, Controle do Stress e Meio-Ambiente
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Meu carro sumiu! - MARIO PERSONA
Meu carro sumiu!
...e outras crônicas de vida, carreira e negócios.
Mario Persona
* * * * *
Copyright © 2013 by Mario Persona
www.mariopersona.com.br
contato@mariopersona.com.br
Apreciamos seu apoio e respeito a esta propriedade intelectual.
* * * * *
Capa: Valentina Pinova - fiverr.com/vikiana
Foto: Milca - rgbstock.com/user/milca
Livros do autor:
Laura Loft - Diário de uma Recepcionista
, Meu carro sumiu!
, Eu quero um refil!
, Crônicas para ler depois do fim do mundo
, Dia de Mudança
(também em inglês: Moving ON
), Marketing de Gente
, Marketing Tutti-Frutti
, Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades
, Receitas de Grandes Negócios
, Crônicas de uma Internet de verão
, Coleção O Evangelho em 3 Minutos
(4 volumes) e Coleção O que respondi...
* * * * *
Índice
Meu carro sumiu!
Desaquecimento global
iPod compulsório
Passei de fase
Ingratidão
Operação Persona
Se todo mundo pensa assim... tô fora!
As últimas e pequenas coisas
Três reais
Incontestável contexto
Rabo de tatu
Aerosafari
O saco grande
O bêbado e a equilibrista
Segunda mãe
Shakespeare apaixonado
Ho! Ho! Ho!
O coelho
Ele é o cara!
Guerra de canudos
Encontro inesquecível
Criatividade genérica
Prêmio e castigo
Homem do Ano: Eu?!
Já ouviu falar em Empatia?
Oh, não! Outra vez?
Pirâmide à Cambalhota
Sou apolítico
Lama
Afinal, quem é Persona, eu ou você?
A última palavra em segurança
Plano B
Medicina mutante
Quer fazer um MCA?
O problema é seu
Saudade do Jeca
Dia Internacional da Menina e do Machão
O case do blog corporativo
Sem legenda
Filhos nacionais
Conversa ao telefone
O livro que meu aluno escreveu
Meu carro surgiu!
* * * * *
Meu carro sumiu!
Não ligo para carro, não leio revista especializada e não sou apaixonado pelo meu. É claro que ele facilita minha vida e passo horas sentado ali, mas seria isso motivo para paixão? Meu vaso sanitário também facilita minha vida, passo horas sentado ali, e até gosto de ler quando estou nele. Mas nunca tive qualquer vontade de ler revistas sobre privadas.
Eu achava que esse desinteresse por carros fosse coisa só minha, mas tem mais gente assim. Há alguns meses, na busca por um carro novo, o vendedor de uma concessionária ficou surpreso quando não me interessei em fazer um test-drive. Tinha rodas, portanto devia andar. Direção, assentos, portas, vidros... estava tudo lá. Dispensei até a abertura do capô. Eu tinha certeza que o motor estaria ali e não queria fazer aquela cara que todo mundo faz de que está examinando um motor sem nem imaginar como funciona. Tem gente que pede para abrir, mas se colocarem ali um aspirador de pó não vai notar a diferença.
O vendedor contou que profissionais de criação, publicitários e artistas são assim, costumam não ligar para motor, câmbio, transmissão... Concentram-se no projeto, na funcionalidade e no conjunto estético da obra. Bem, o vendedor não falou bonito assim, eu inventei. Mas foi o que ele quis dizer.
Fazia sentido, pois saí dali sem comprar aquele modelo por falha no projeto. Os retrovisores externos eram grandes e fixos. Não escamoteavam, só quebravam, e no planeta onde habito há uma espécie chamada motoboy-sapiens.
Apesar de não ligar para carro, meu coração disparou quando o manobrista do hotel onde fiquei anunciou com cara de espanto na hora do check-out:
— Senhor, seu carro sumiu!
Escutar isso a 300 quilômetros de casa não é o que um cliente espera. No meu caso, nem tanto pelo carro, mas pelo tempo que iria perder com polícia, seguradora e acidez estomacal. As recepcionistas me encaravam petrificadas. Pareciam esperar pela minha explosão, como é normal acontecer com qualquer cliente normal quando o hotel deixa roubarem seu carro. Mas eu não sou normal.
Sou do tipo que acredita que tudo tem uma razão de ser. Estaria eu sendo poupado de algum acidente? Seria aquilo para eu aprender a ser paciente? Ou só para ter assunto para esta crônica? Talvez...
Também resisti à tentação de comentar o problema com as pessoas ao redor, como muitos adoram fazer. Já passou por isso? O cara se vira para você na fila e repete tudo o que você ouviu ele dizer para a recepcionista. Isso é comum em aeroportos. Ele espera que você faça cara de simpatizante, como se isso fosse resolver alguma coisa.
Algo assim sempre acontece no intervalo, quando a balconista desaparece dizendo que vai chamar a pessoa responsável. Pura técnica para esvaziar fígados. O cara vai contar a mesma história duzentas vezes, e cada balconista vai chamar outra até ele ficar afônico e acabar desistindo.
Por isso aguardei em silêncio. Teria o meu carro sido roubado em frente ao hotel na noite anterior? Era possível. Cheguei tarde e entreguei a chave no balcão. Ou teria sido surrupiado da garagem? Era o que tentavam descobrir, mas erraram ao me envolver na busca.
O cliente não precisa saber o que acontece nos bastidores. Já pensou um restaurante com transmissão direta da cozinha? Senhora, neste momento estamos lavando a alface de sua salada. Já providenciamos a remoção das lesmas e lagartas. A salada aguarda apenas o Zezinho voltar do banheiro para ser montada...
.
Em minhas palestras, me tranquiliza saber que o público não conhece os detalhes de minha apresentação. Portanto ninguém jamais irá saber que me esqueci de dizer algo que era importantíssimo, que o tempo não deu para falar tudo e passar os 348 slides que ainda faltavam, ou que vesti a cueca no avesso e uma meia de cada cor. Eles não sabem, eu não digo.
Bastidores são lugares reservados para os problemas. O cliente jamais deve ser levado ali. O que importa é o que acontece no palco. E no palco eu era interrogado mais uma vez:
— Marca do carro?
— Peugeot.
— Cor?
— Prata
— Placa?
— Cinza com letras pretas.
Achando que aquilo seria a solução para o problema, o manobrista levou-me até a garagem para que eu não visse o carro com meus próprios olhos. Realmente não estava lá, mas não precisava ter me levado. Como também não precisava dizer que meu carro tinha sumido. O atendimento devia guardar silêncio sobre o problema até serem esgotadas todas as possibilidades de solução.
Mais tarde, enquanto dirigia meu carro de volta para casa, fiquei ponderando sobre o assunto. O silêncio é uma ferramenta poderosa. No atendimento pode evitar entornar o caldo que ainda não está no ponto. Na oratória ele é usado na forma de pausas para realçar o que está sendo dito. Numa crônica como esta, cria um suspense e deixa o leitor morrendo de vontade de saber onde estava meu carro.
* * * * *
Desaquecimento global
Veja você, o vilão do aquecimento global climático que nos assombrava no início do século 21 agora é companheiro do desaquecimento global econômico que veio para ficar. Uma hora reclamam porque o globo aquece, outra hora porque desaquece. Vai entender... Mesmo assim vou dar uma de bidu e tecer aqui umas previsões para o futuro. Como minhas previsões vão de hoje a 2100 ninguém vai poder me cobrar dizendo que errei e eu não vou estar aqui para me explicar.
Quando eu era criança minha mãe usava bolsa de água quente em mim. Agora a bolsa volta e meia dá uma gelada na economia global e até que ajuda a combater o aquecimento global do clima deixando o mundo menos poluído. Menos produção, menos transporte, menos petróleo queimado, menos fumaça produzida, mais gente light andando a pé ou se espremendo em vagões. Esse sobe e desce da economia parece novela da Escrava Isaura. Toda hora reprisa.
A única coisa que pode reverter o desaquecimento é o descolamento do mercado global dos EUA. Mas não é fácil cortar o cordão umbilical da Mãe-América que compra de todos e paga com verdinhas.
Para quem nasceu no pós-guerra, cresceu na Guerra Fria, viu o muro cair e a Europa se unir, tudo é possível. Na Guerra Fria as crianças norte-americanas aprendiam a se proteger de um ataque nuclear se escondendo sob a carteira. Até hoje procuro uma dessas carteiras que protegem você de uma bomba atômica. Nem no eBay encontrei.
Dá para acreditar como o mundo mudou? Hoje moro no país que é o segundo maior fabricante de armas leves do Ocidente. Não, não moro nos EUA, nosso maior cliente. O segundo maior cliente deve ser a República dos Morros do Rio. Pois é, eu também já vivi na época em que o Rio era chamado de Cidade Maravilhosa.
Mas o mundo gira, a Lusitana roda, e as coisas mudam. A economia da China deve ultrapassar a dos EUA, com a Índia no calcanhar do seu riquixá. A Índia é séria candidata a ser a maior população do planeta porque lá, ao contrário da China, não é proibido nascer. Na Índia a novela predileta é O direito de nascer
e lá ter filhos dá status. Aqui dá bolsa família.
Aqui deve nascer menos criança porque vamos dormir mais por tomarmos menos café. É porque se a coisa continuar como está o Vietnã vai beber o nosso lugar na produção mundial. Os vietnamitas aproveitaram os buracos das bombas para plantar pés de café, e como caiu muita bomba por lá o país já é o segundo maior produtor depois do Brasil. Daqui a pouco até meu blog Mario Persona CAFE
vai ser Made in Vietnan
.
Veja que louco o mundo ficou. Não faz muito tempo vender grife de luxo era mais fácil. Tudo bem que uma echarpe de seda italiana Ferragamo, Gucci ou Versace continua custando 200 dólares nos EUA, mas agora a lei exige etiqueta com a origem do produto, que é Made in China
, mas não do design Made in Italy
.
Querida, você tem co-ra-gem de usar uma echarpe made in China?!!! E daí que é de grife? Deve ser pirata!
Mais uma de minhas previsões previsíveis: o dólar vai deixar de ser a moedona do mundo, mas não sei se vai acreditar em mim porque na hora em que ler isto ela pode tanto estar no fundo do poço como na estratosfera. Quando o bicho pegou no Tio Sam vimos um plano Marshall às avessas: a Europa socorrendo os EUA. Se vai voltar a acontecer? Pode confiar no que digo.
Mas eu aposto como o "American Way of Life" vai ser substituído pelo "European Way of Life", porque lá o pessoal vive bem só com o necessário, não tem vergonha de ir trabalhar de bicicleta e só toma banho de vez em quando — mais de quando do que de vez —, o que é uma tremenda economia de água e energia.
A China? Bem, se não implodir, promete.