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Shoefiti Arte urbana ou algo mais?
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E-book185 páginas2 horas

Shoefiti Arte urbana ou algo mais?

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Sobre este e-book

Diana, uma jovem que tinha tudo na vida, acorda aturdida em uma clínica de saúde mental e não demora a lembrar-se do motivo de sua internação. Lembra-se ainda de suas amigas e de sua família, pensa em Samuel e em como sua vida mudou em apenas um mês. O psiquiatra, que cuidava de seu caso até o momento, encontrou um trabalho melhor e o novo psiquiatra, pelo que diziam, tinha mais humanidade que o antecessor. Ela ainda não o conhecia, mas havia depositado toda a sua esperança em convencê-lo. Precisava sair dali e tinha que ser antes da próxima lua cheia.

IdiomaPortuguês
EditoraTania
Data de lançamento19 de dez. de 2020
ISBN9781547527182
Shoefiti Arte urbana ou algo mais?
Autor

Tania M. Crespo

(Madrid, 1982) Madrileña de nacimiento y breana de corazón. Estudiante de Grado de Lengua y Literatura españolas, escritora en prácticas y lectora compulsiva. Inconformista y reivindicadora nata. Cocinillas y madridista confesa.

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    Shoefiti Arte urbana ou algo mais? - Tania M. Crespo

    Para Sérgio, que chegou na minha vida  para torná-la mais fácil.

    I. REALIDADE OU FICÇÃO

    Acordou aturdida. Ao abrir os olhos, demorou para lembrar onde estava. Observou como o teto alto se erguia, parecendo que ia alcançar o céu. Uma estrutura de tubulação e dutos de ar condicionado substituíam as estrelas. As paredes sólidas que constituíam a fachada do prédio tinham mais de quatro metros de altura, abrigando na parte superior grandes janelas, logo antes do telhado. Mesmo sendo inalcançáveis e, por isso mesmo, motivo de obsessão de vários internos, deixavam o lugar menos lúgubre. Além disso, era o único contato que havia com a luz solar.

    Uma grande porta metálica separava aquele cubículo do corredor central. A porta tinha um olho mágico, por onde só se podia ver o cinza intenso e onipresente da parede. A construção foi projetada para evitar qualquer contato, inclusive o visual, entre os internos. Se bem que, na situação em que se encontrava, não podia  nem tentar isso.

    No meio do quarto, como se observasse do alto, pela tubulação, pôde se ver amarrada na cama. Apenas mais três itens compunham a decoração da cela: uma pia pequena e um vaso sanitário metálicos, além de um calço de poliuretano pendurado atrás da porta.

    Cada parte do seu corpo doía. As tiras de coro rígido que envolviam seus membros superiores e inferiores também cobriam as muitas feridas e arranhões que tinha feito ao tentar se libertar. A dor que sentia era física, porém mais doloroso era passar as horas sentindo o desespero crescer. Nesse instante, lembrou-se por que estava ali, sem recordar quantas luas haviam passado.

    Como em todas as manhãs, duas enfermeiras eram escoltadas por um guarda até a porta do seu quarto, onde ele permanecia vigilante enquanto as moças lhe davam banho. Afrouxavam as tiras para curar as feridas. Pareciam robôs, nunca falavam nem olhavam em seus olhos.

    Podia perceber que estava no pavilhão de segurança máxima e compreendia o protocolo que a equipe deveria obedecer com as internas, mas não deixava de se surpreender com o fato de nenhum trabalhador daquele lugar permitir uma aproximação. Nunca hesitavam ou demonstravam um traço de humanidade sequer, nem mesmo curiosidade.

    Depois de alguns minutos, outra enfermeira, também escoltada pelo segurança, trouxe-lhe o café da manhã e afrouxou de novo as correias. Bolachas, um copo de leite e um copinho plástico com seu remédio, sempre a mesma coisa.

    Apesar do frio trato, há três dias já vinha se sentindo melhor. Os mesmo três dias desde que o psiquiatra  que assumiu seu caso havia deixado o Centro, aceitando uma oferta irrecusável da clínica mais prestigiada de tratamento mental da capital. Por isso, haviam designado seu caso a outro médico. Sentia-se melhor porque a primeira coisa que o novo psiquiatra fez foi baixar a dose dos sedativos. Havia rumores – se é que se podia chamar assim ao que escutava no pátio daquele lugar – que o médico novo gostava de conversar com seus pacientes, apesar de que, com ela, ainda não havia falado. Ouviu que ele era um jovem recém-formado e imaginou o caso clássico do médico no primeiro ano de residência que ainda não tinha perdido a empatia. Esperava que esse jovem profissional fosse a chave para sair dali. Era o que mais desejava.

    Após vestir-se com o uniforme dos internos da instituição, um conjunto de moletom cinza, o eterno vigia da sua cela fez um gesto indicando que era hora do passeio matutino. Foi de costas até a porta para que ele lhe colocasse a algema nos pulsos e tornozelos. Podia até parecer humilhante, mas pelo menos não era uma camisa de força. As algemas eram como aquelas mostradas nos filmes. Uma corrente fina unia os tornozelos, pulsos e dava a volta na sua cintura, sendo puxada pelo vigia. Era hora de levar o cachorrinho para passear!, pensou.

    Mas nessa manhã, paradoxalmente, ao sair do prédio de segurança máxima onde ficavam as celas, não se dirigiram à academia do prédio ao lado que, para ela, havia sido o pátio até agora. Os dois edifícios eram unidos por um corredor de vidro no primeiro andar. O guarda, para sua surpresa, caminhou até o pátio verdadeiro localizado ao ar livre. Era uma área aberta não muito extensa, com grama, cercada por grandes valas no chão e arames farpados na parte superior. Provavelmente não era o lugar mais acolhedor do mundo, mas Diana achou maravilhoso, já que desde sua chegada ao Centro, não tinha visto o mundo exterior.

    Demorou vários segundos até que se acostumasse à luz do sol, era difícil abrir os olhos, quando conseguiu, pôde distinguir uns vultos sem forma. Piscou repetidas vezes. No outro extremo da área avistou o que parecia ser duas cadeiras de madeira e, conforme ia se aproximando mais, percebeu que em uma delas havia uma jovem sentada. Ao chegar perto das cadeiras, sua visão estava recuperada. Olhou a jovem de rosto acolhedor, segurando uma pasta e uma caneta. Um pouco estabanada, provavelmente por causa do nervosismo, sentou-se na cadeira.

    — Eu me chamo Paula — apresentou-se, sorridente. — Sente-se,  por favor!

    — Diana, muito prazer — respondeu a interna se sentando.

    — Está tudo bem, pode tirar as algemas — indicou ao guarda que, sem dizer uma palavra, começou a libertá-la de sua dor.

    A jovem médica observava a interna de forma exaustiva, mas prudente, e seu rosto denotava o quanto estava impressionada. Atrás do desfavorável moletom cinza, podia notar que Diana tinha seios fartos e firmes, a cintura fina e os quadris largos e redondos. Não tinha estatura elevada, mas parecia exuberante, apesar da intensa magreza. Seu cabelo era longo e castanho e, mesmo preso em um rabo de cavalo, suas pontas acariciavam metade das costas. Sua pele era morena e aveludada, tinha um nariz arrebitado pequeno, lábios carnudos e bem definidos. Mas tinha um detalhe na sua anatomia que parecia realmente perturbador: o olhar. Seus olhos eram espetaculares, nem tanto pelo tamanho ou pelo formato arabesco, mas pela cor de mel, que destacava as pupilas da íris como se fossem dois medalhões de ouro brilhante com safiras negras incrustradas no centro.

    — Pode nos deixar a sós! — ordenou novamente a passiva médica. O guarda se distanciou o máximo permitido, uns dez metros, enquanto Diana acariciava seus pulsos doloridos.

    — Estão doloridos? — perguntou a médica.

    — Bastante — respondeu timidamente.

    — Posso? — perguntou aproximando-se dos curativos. Diana respondeu com um gesto de aprovação.

    A médica retirou os curativos com uma delicadeza impressionante e, mesmo que tentasse, não conseguiu esconder sua expressão de horror ao ver as feridas.

    — Preciso que uma enfermeira traga uma maleta de curativos! — Pediu com voz exigente ao guarda, enquanto se recompunha.

    Diana observou-a andando em círculos, ansiosa, olhando na direção da porta. Não parecia assustada pela ausência momentânea do guarda, mas preocupada pelas suas feridas. O vigia voltou com uma enfermeira e uma maleta de primeiros socorros grande e cor de laranja. Paula aproximou-se da porta, pegou a maleta, sorriu para a enfermeira e voltou sozinha até Diana.

    — Tenho que documentar suas feridas, assim será mais fácil conseguir que as amarras que a provocaram sejam retiradas — explicou, serena.

    — Está bem — respondeu Diana. A médica pegou seu celular e fotografou os ferimentos e, em seguida, começou a fazer um curativo nada semelhante ao que realizavam as enfermeiras diariamente. Aplicou com suavidade uma pomada antibiótica.

    — Isso ajudará a cicatrizar e evitará infecção — explicou. Os ferimentos de seus pulsos e tornozelos eram bem profundos. A médica finalizou enfaixando-os. Diana estava impressionada, sua pequena estada naquele lugar tinha feito com que esquecesse a gentileza das pessoas.

    — Como é que pode? — Perguntou-se em voz alta e tom irritado. Diana lhe respondeu só com um olhar. O fato de suas feridas não melhorarem não tinha nada a ver com os curativos, pois cicatrizavam muito bem, devia-se sim ao seu ato de, em cada segundo que ficava sozinha na cela, tentar se soltar das amarras.

    Não podia deixar de observar aquela mulher que transmitia cordialidade. Paula era pequena, magra, ruiva e com olhos castanhos. Sua pele era tão branca quanto seu sorriso, mas o que mais  impressionava era seu cheiro de mel. Ela era doce até em seu odor.

    — A quanto tempo está com essas feridas? — Perguntou, analisando bem.

    — Não tenho certeza, praticamente desde o dia seguinte ao que cheguei — respondeu habilmente.

    — Vinte e um dias! Não acredito! — Disse a médica, sussurrando baixinho, quase imperceptivelmente. No rosto de Diana, desenhou-se uma careta de angústia, porque isso significava que só tinha mais cinco dias para escapar, contando com hoje.

    — Você está bem? — Quis saber a amável doutora..

    —Estou, obrigada.

    —Bom, tenho que fazer algumas perguntas. Li seu prontuário, mas está cheio de contradições — argumentou. — Você sabe seu nome e sobrenome?

    — Diana Herrero Castro.

    — Qual sua data de nascimento?

    — 28 de julho de 1987.

    — Tem consciência do... motivo... pelo qual está aqui?

    — Sim! — Disse em  voz alta.

    — Fale um pouco sobre isso, por favor.

    — O que quer que eu fale? A verdade ou o que a senhora gostaria de ouvir? — Perguntou, sarcástica.

    — As duas coisas.

    — O que todos querem que eu diga é que estou louca, que sofro de transtornos de personalidade e que sou uma psicopata perigosa, uma assassina!

    — E a verdade?

    — A senhora disse que leu meu prontuário.

    — Sim — confirmou a médica.

    — Então, já conhece a minha verdade — disse Diana firmemente.

    — Sua verdade? — Perguntou-lhe com o olhar iluminado, como se descobrisse o xis da questão. Diana sorriu, mas não respondeu. — Vamos, eu te fiz uma pergunta! — Insistiu a médica.

    — Decidi não responder, não quero que a minha resposta me faça ficar vários dias no quarto sem sair — disse com sinceridade.

    — Por que acha que, dependendo da sua resposta, vou te trancar na cela?

    — Porque é o que ele fazia.

    — Quem? — Perguntou, incrédula.

    — O outro médico.

    — Está bem! — Disse, meneando a cabeça em desaprovação à forma de agir de seu antecessor. — Não te farei perguntas que possam te colocar em apuros. É verdade que li o prontuário, mas gostaria de conhecer a história por você.

    Diana respirou profundamente, já tinha contado isso antes e ninguém acreditou, mas algo lhe dizia que esta pequena mulher poderia mudar as coisas, talvez lhe contasse  tudo tal qual aconteceu.

    ––––––––

    — Tudo começou no meu aniversário, no sábado, dia 28 de julho — principiou a falar. — O sol brilhava com tanta força, que chegava a ofuscar e, de acordo com a meteorologia, a temperatura chegaria a marcas históricas. O país inteiro estava entre o alerta vermelho e o laranja na escala de risco. Durante o verão inteiro fomos superando as temperaturas de anos anteriores. Madri estava um forno e, como deve saber, nós madrilenos fugimos da cidade grande nos dias assim, como se o asfalto fosse se transformar em lava e destruir tudo no caminho. E às vezes parece que vai mesmo! Todo madrileno já saiu à rua calçando chinelo e,  depois de passear pela cidade, notou como as solas grudavam na calçada, dando a sensação de que iam se fundindo com ela conforme andava. Por isso, tanto faz que o destino seja a praia, a serra ou o interior. Não importa se vamos ficar em hotéis, pousadas, acampamentos, casas alugadas ou de parentes e amigos que um dia decidiram que a cidade grande não era mais para eles.

    Paula deu um leve sorriso, incentivando-a a continuar.

    — Meus pais foram bem cedo visitar um casal amigo deles que havia deixado Madri há uns cinco anos. Agora estavam morando em Cartaya, na província de Huelva. Demorou para conseguir convencer minha mãe de que a data não importava e que não tinha problema se não almoçássemos juntos os três dessa vez, ainda que essa fosse a tradição durante vinte e dois anos. Consegui quando falei que meu aniversário número vinte e três seria somente mais um ano e que teríamos o resto da vida para continuar a tradição. No entanto, eles, ao contrário, não teriam outros quinze dias no verão em que estariam os quatro juntos e sem filhos, para relaxar e se divertir sendo eles mesmos.  Agora me arrependo da minha decisão, mas ninguém podia saber que minha vida ia acabar em poucos dias, pelo menos do modo como eu a conhecia.

    Paula dirigiu-lhe um olhar intrigado.

    — Eu era igual a você — prosseguiu —, um ser humano incrédulo que andava pelo mundo alheia a tudo, ainda mais tendo nascido em um país pequeno, como a Espanha. O cinema fez a gente acreditar que tudo só acontece e deve acontecer nas grandes potências mundiais, sendo o

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