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Teoria da Complexidade: Contribuições Epistemológicas e Metodológicas para uma Pedagogia Complexa
Teoria da Complexidade: Contribuições Epistemológicas e Metodológicas para uma Pedagogia Complexa
Teoria da Complexidade: Contribuições Epistemológicas e Metodológicas para uma Pedagogia Complexa
E-book356 páginas14 horas

Teoria da Complexidade: Contribuições Epistemológicas e Metodológicas para uma Pedagogia Complexa

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Sobre este e-book

A partir dos pressupostos epistemológico e metodológico do Pensamento Complexo, compreendemos que há implícita uma Pedagogia Complexa que poderá contribuir para os desafios e enfrentamentos da vida, da escola, da formação de professores e pedagogos, da sociedade e da Educação do século XXI; apontará para a religação dos saberes, para a necessidade do diálogo epistêmico entre as áreas do conhecimento superando uma visão reducionista, maniqueísta, diabolizante e excludente que, muitas vezes, observamos existir no campo da educação brasileira; estará fundamentada numa racionalidade aberta, que produz um conhecimento pedagógico aberto, dialógico que cooperará e contribuirá para a formação de intelectuais da educação comprometidos com a reforma do pensamento, e, por extensão, com a reforma da educação; se apropriará do método, da estratégia que situa, que contextualiza e que globaliza as informações, os conhecimentos; elaborará um conhecimento pedagógico pertinente para os processos educativos comprometidos com a reforma do pensamento, com uma educação para a lucidez; ensinar-nos-á a condição humana; ensinar-nos-á a compreensão humana opondo-se veementemente à barbárie de qualquer matiz; constatará e tratará dos processos de conhecer a realidade, a incerteza, o erro e a ilusão como elementos constituintes da dinâmica do conhecimento; resgatará os princípios éticos e estéticos no processo de formação humana. Esta obra reúne ensaios, pesquisas e reflexões teóricas destinada a todos os pedagogos e professores que enfrentam os desafios de compreenderem a complexidade humana e intervirem de forma crítica e compreensiva na complexa e multidimensional realidade educacional com vistas à construção de uma Pedagogia Complexa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de set. de 2021
ISBN9788547335656
Teoria da Complexidade: Contribuições Epistemológicas e Metodológicas para uma Pedagogia Complexa

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    Pré-visualização do livro

    Teoria da Complexidade - Marilda Aparecida Behrens

    INTRODUÇÃO

    Teoria da complexidade: contribuições epistemológicas e metodológicas para uma Pedagogia Complexa

    Esta obra insere-se no âmbito das investigações no campo da Educação que buscam as contribuições teórica, epistemológica, ontológica e metodológica do Pensamento Complexo sistematizado por Edgar Morin para a Educação do século XXI. No primeiro capítulo, o leitor poderá navegar pelas Contribuições teórico metodológicas do pensamento complexo para a construção de uma pedagogia complexa. Neste ensaio teórico-bibliográfico e reflexivo o pesquisador investiga as dimensões ontológicas, axiológicas e epistemológicas do Pensamento Complexo na busca de apontamentos para a construção de uma Pedagogia Complexa. Uma Pedagogia Complexa que pautada nos princípios cognitivos do pensamento complexo pode contribuir com categorias de análise e de intervenção em relação aos desafios e aos enfrentamentos da vida, da sociedade e da Educação contemporânea. Das entranhas da obra moriniana o autor visualiza uma Pedagogia complexa que aponta para a premente religação dos saberes como forma de fomentar o diálogo epistêmico na área da Educação, propondo a superação de uma visão reducionista, maniqueísta, diabolizante e excludente que, muitas vezes, observamos no campo educativo. A Pedagogia Complexa elabora um conhecimento pedagógico pertinente, que ensina a compreensão humana opondo-se à barbárie; investe nos processos do conhecer a realidade humana, social e natural, compreendendo sempre que o conhecimento depara-se com a incerteza, com o erro e com a ilusão. A Pedagogia Complexa parte do ponto de vista epistemológico do pensar bem, investigando a realidade educativa, compreendendo-a sob sua constituição multidimensional e complexa, apostando sempre nos pressupostos éticos e estéticos no/do processo de formação humana, tecendo uma compreensão dialógica sobre o enfrentamento dos desafios da complexidade humana e, por extensão, da complexidade educacional. Constrói um discurso pedagógico que acolhe sempre os aspectos antagônicos e complementares do processo educativo sob um olhar que abraça e interpreta o fenômeno sob as complexas dimensões que o constituem, que se movem, que se engendram num processo de auto-eco-organizador.

    No segundo capítulo, a temática segue o fio condutor da obra tecendo considerações sobre Práticas docente: das teorias críticas à teoria da complexidade. Neste ensaio empírico-reflexivo, as autoras enfatizam que a prática pedagógica necessita enfrentar os desafios da atualidade, romper fronteiras disciplinares, eliminar ideias redutoras e excludentes e buscar articulações entre as disciplinas, acolhendo, assim, pensamentos que possibilitem considerar a diversidade, o confronto, a reconstrução, conhecer o outro nível de realidade do processo do conhecimento a partir de uma racionalidade aberta, dialógica, intuitiva e global. Para as autoras, é preciso dialogar com outras teorias, buscar novos referenciais, adotar outros níveis de percepção, uma vez que os problemas não são apenas locais, mas atingem dimensões polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários.

    "Reflexiones filosóficas em torno al pensamento complejo, le educación y la democracia" é o capítulo terceiro. O autor espanhol enfatiza que a democracia não é possível sem indivíduos complexos, isto é, cidadãos capazes de estabelecerem acordos na diversidade e nas tensões. A democracia demanda sempre a compreensão que fomenta uma educação dialógica, complexa. Uma educação dialógica traduz-se na arte da conversa com o outro e busca construir algo em comum para garantir uma qualidade de vida. Citando um aforismo de Montaigne, o autor diz que: cuando me contradicen, despiertan mi atención, no mi cólera; acércome a aquel que me contradice, que me instruye. La causa de la verdad debería ser la causa común a uno y a otro.

    No quarto capítulo, intitulado "Questões curriculares contemporâneas no âmbito da complexidade e da transdiciplinaridade", a autora, sob um olhar complexo e transdisciplinar, procura analisar e compreender as bases teóricas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) inscritas na educação infantil e no ensino fundamental. A autora faz uma ampla e aprofundada digressão sobre as semelhanças e as diferenças entre os dois níveis de ensino, apresentando/apontando para as incongruências da proposta para o ensino fundamental e para os possíveis avanços inscritos nas proposições (BNCC) para a educação infantil. É uma reflexão densa, analítica, reflexiva e complexa.

    O quinto capítulo traz a temática a respeito da "Educação inclusiva pela perspectiva ecoformadora". Os autores aludem que o processo de inclusão nos processos educativos traduz-se numa longa caminhada construída e constituída a partir da superação de muitas barreiras. Utilizando de uma metáfora, dizem que o processo de inclusão é como subir uma montanha sob uma dura jornada de resiliência e tenacidade. Essa jornada proporciona um olhar com os olhos da alma. A educação tem, acima de tudo, como função, despertar a capacidade criadora do indivíduo e de fomentar uma ética do conviver, estimulando a construção de uma ética para uma cidadania planetária, para o diálogo intercultural, inter-religioso. Argumentam que a diversidade fornece pistas para enfrentar um novo território desconhecido que se faz eminente, devido à ameaça planetária da disjunção e fragmentação. Para os autores, materializar a inclusão, a diversidade, por uma perspectiva ecoformadora – integradora e multidimensional – renova o vigor para seguir a longa caminhada, num grande tear, num grande abraço de muitos braços, laços e enlaces de alma.

    "Morte e a complexidade humana" é o sexto capítulo, que traz questionamento sobre os motivos pelos quais a escola não trata sobre o paradoxo vida-morte. O escrito propõe-nos refletir sobre a morte nas sociedades ocidentais contemporâneas que passa por transformações sócio-políticas e culturais e o comportamento do ser humano diante dela. Refletem os autores que o homem não acredita em sua própria morte, ao mesmo tempo que a inteligência humana não a alcança plenamente. Em seu inconsciente, o homem está persuadido de sua imortalidade, todavia não consegue pesquisar os seus segredos e nem imaginar um fim real para a vida. Para o homem contemporâneo a vida e a morte estão em compartimentos estanques e não se relacionam: a morte está lá enquanto ele está aqui, ocupado em viver. Os autores pontuam que a separação que o homem fez da vida e da morte serve para aumentar o medo e a ansiedade, e assim vão se multiplicando as teorias sobre ela e o morrer.

    O sétimo capítulo aponta-nos para uma reflexão teórico-bibliográfica densa e fundamentada a respeito da Pedagogia e educação escolar sob o olhar da complexidade: desafios e perspectivas para uma pedagogia complexa. O autor tem como propósito explicitar a racionalidade atual da Pedagogia e, sobretudo, apresentar alguns argumentos para a construção de outra racionalidade pedagógica com vistas a uma nova identidade para esse campo, na interface com os pressupostos da teoria da complexidade. Uma nova racionalidade concebida a partir dos operadores cognitivos da complexidade coloca como horizonte algo que poderíamos denominar de Pedagogia Complexa. O ponto de partida e desafio diz respeito a que, tendo em vista a complexidade biofísica e cultural da realidade, faz-se necessário instituir formas epistemometodológicas coerentes de contemplá-la em todos os cenários possíveis. A investigação pauta-se num novo cenário para o campo específico da Pedagogia e, de forma mais ampla, para a educação escolar.

    Educação ambiental e a complexidade: tecendo laços teóricos é o oitavo capítulo. Nele, a pesquisadora enfatiza que o Pensamento Complexo apresenta construtos importantes para a mudança de olhar sobre a Educação Ambiental, pois propicia o questionamento dos princípios que têm subsidiado as práticas de educação ambiental desenvolvidas, bem como, para a formação de um cidadão planetário. A racionalidade sustentada pelo Pensamento Complexo aliado a uma pedagogia voltada para a educação ambiental pode ser capaz de incentivar e sustentar um novo pensar/agir no qual indivíduo, sociedade e ambiente sejam compreendidos e estejam dialogicamente tramados.

    O capítulo nove abordará a temática Pensamento complexo e leitura de um mundo na educação geográfica. Os autores enfatizam que ao tomarmos como base o Pensamento Complexo na Educação Geográfica a formação de sujeitos-educandos, via um pensar referenciado e criterioso da realidade, em contexto participativo, revitaliza os direitos e deveres do cidadão e renova o sentido de se ter uma identidade com o lugar onde se vive. A Educação Geográfica, nessa vertente, pode possibilitar o entendimento de espacialidade geográfica em suas multidimensionalidades, pelos sujeitos-alunos, para que estes possam, por meio desse entendimento, analisar, compreender e explicar as lógicas que organizam a vida em sociedade, bem como, pensar propostas de intervenção no lugar de vida: a sua realidade-mundo. A formação da consciência socioambiental-cidadã, referenciada epistemologicamente, é fundamental para que o educando possa entender as relações ação-efeito frente às problemáticas socioambientais que lhe são apresentadas cotidianamente. O estudo do espaço geográfico, em suas dinâmicas socioculturais, socioeconômicas e ambientais, indica a necessidade de pensarmos a Geografia como uma Ciência multidimensional, como domínio científico culturalmente híbrido na formação dos sujeitos educandos. Por isso, nessa perspectiva, o espaço geográfico, no contexto da Educação Geográfica, passa a ser pensado em suas interconectividades e multirreferencialidades, ou seja, nas escalas sociogeográficas de análise em interrelação.

    O capítulo décimo trata sobre as Contribuições do pensamento complexo para a formação de professores em uma perspectiva transdisciplinar. A autora procura oferecer-nos subsídios para pensarmos a docência em Matemática sob uma perspectiva transdisciplinar. Para a pesquisadora, a criatividade é a tônica para que a prática didática e a aprendizagem dos alunos alcancem uma dimensão transdisciplinar e que oportunize a construção de significados concretos de acordo com a realidade das experiências vividas. É possível afirmar, segundo a pesquisadora, que se a criatividade é constitutiva do fazer docente dos professores, são significativas as chances de os alunos também a desenvolverem. Ao serem criativos, a potencialidade heurística é acentuada na proporção do desenvolvimento do pensamento estratégico.

    CAPÍTULO I

    CONTRIBUIÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DO PENSAMENTO COMPLEXO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA PEDAGOGIA COMPLEXA

    ¹

    Ricardo Antunes de Sá

    […] o pedagogo é antes de mais nada, um prático-teórico da ação educativa. O pedagogo é aquele que busca articular a teoria com a prática, a partir da sua própria ação. É na produção específica da relação teoria-prática em educação que a pedagogia tem sua origem, se cria, se inventa e se renova.

    (HOUSSAYE, 2013, p. 8)

    1. INTRODUÇÃO

    O termo ou a palavra pedagogia² vem o grego antigo paidagogós, em que paidos significa criança e gogía aponta para os termos conduzir, levar e encaminhar. Esse conceito faz referência à situação dos escravos³ que eram os responsáveis por levarem as crianças da elite grega para a escola. Os escravos cuidavam e supervisionavam do aprendizado das crianças.

    A pedagogia é uma ciência em construção que estuda os processos educativos (escolares ou não escolares) que se desenvolvem numa determinada sociedade, a qual é constituída de dimensões múltiplas. Os processos educativos são multidimensionais porque constituídos da dimensão cultural, tecnológica, política, histórica, geográfica, científica etc.

    Pretendemos com este estudo teórico/bibliográfico organizar e sistematizar as dimensões epistemológicas, ontológicas e axiológicas que possam alicerçar a construção de uma Pedagogia Complexa. Essas dimensões são pensadas a partir da epistemologia do Pensamento Complexo, sistematizado por Edgar Morin. Compreendemos que a epistemologia aqui é entendida como uma teoria do conhecimento (científico) que nos referencia neste empreendimento teórico/bibliográfico.

    Entendemos que uma pedagogia se pauta por uma teoria do conhecimento (epistemologia). Como exemplo, podemos constatar que: a Pedagogia Histórico-Crítica (SAVIANI, 2011) é uma teoria que está enraizada na teoria do materialismo histórico e dialético, fundamentalmente. Seguindo o raciocínio lógico-dedutivo: uma Pedagogia Complexa, portanto, estaria enraizada numa teoria do conhecimento, que, nesse caso, seria a epistemologia do Pensamento Complexo, fruto do esforço intelectual de sistematização do Método do pensar complexo de Edgar Morin, o qual se inscreve na Teoria da Complexidade.

    A partir do arcabouço teórico e metodológico do Pensamento Complexo, compreendemos que há implícita uma Pedagogia complexa que:

    Poderá contribuir para os desafios e enfrentamentos da vida, da escola, da formação de professores e pedagogos, da sociedade e da Educação do século XXI;

    Aponte para a religação dos saberes, para a necessidade do diálogo epistêmico entre as áreas do conhecimento superando uma visão reducionista, maniqueísta, diabolizante e excludente que, muitas vezes, observamos existir no campo da educação brasileira;

    Esteja fundamentada numa racionalidade aberta, produza um conhecimento pedagógico aberto, dialógico que coopere e contribua para a formação de intelectuais da educação comprometidos com a educação para a lucidez (MORIN, 2000a);

    Se aproprie do método, da estratégia que situa, contextualiza as informações, os conhecimentos. Como diz Montaigne (1996), mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia (apud MORIN, 2001a, p. 21);

    Elabore um conhecimento pedagógico pertinente;

    Ensine-nos a compreensão humana opondo-se à barbárie;

    Constate e trate dos processos do conhecer a realidade, da incerteza, do erro e da ilusão;

    Resgate os princípios éticos e estéticos no processo de formação humana;

    A partir dos princípios cognitivos do pensar complexo: sistêmico-organizacional; hologramático, recursivo (retroativo) e dialógico possa auxiliar os pedagogos, os professores e as novas gerações no enfrentamento dos desafios da complexidade humana e, por extensão, da complexidade educacional.

    2. EDGAR, O PEREGRINO DA RELIGAÇÃO

    Minha vida intelectual é inseparável de minha vida, como escrevi em La Méthode: Não escrevo de uma torre que me separa da vida, mas de um redemoinho que me joga em minha vida e na vida.

    (MORIN, 2000, p. 9)

    Edgar Morin (1921…) é um peregrino, um aventureiro que elaborou os fundamentos de uma ciência da complexidade que privilegia o diálogo epistêmico. O Pensamento Complexo é fruto de mais de 50 anos de estudos e pesquisas sobre o humano, a natureza e a sociedade e suas inter-retro-relações. Sua busca, seu percurso intelectual, confunde-se com sua vida, com suas reflexões políticas (MORIN, 2011), com sua indignação frente à morte, com sua cidadania francesa (MORIN, 2015) e planetária (MORIN, 2013a). Suas preocupações e suas indagações se pautaram sempre pelas questões local e global, num processo compreensivo de recursividade permanente.

    Uma obra dedicada à busca da religação dos saberes, à permanente busca pela superação de uma visão fragmentada, disjuntiva e separadora do ser humano em relação à natureza e à sociedade. Em toda minha vida jamais pude me resignar ao saber fragmentado, pude isolar um objeto de estudo de seu contexto, de seus antecedentes, de seu devenir (MORIN, 2005a, p. 7). Um intelectual comprometido com a ética da compreensão.

    O Pensamento Complexo pode ser estudado ao longo da vasta obra do autor, sobretudo, nos seis volumes de O Método. Neles é possível observarmos seu caminho, a construção de uma estrada epistemológica, pedagógica, axiológica, política para pensar a complexidade da vida, da sociedade, da natureza e do indivíduo. Sempre compreendidos sistêmica-organizacionalmente. Ao longo dos seis volumes, Morin apresenta sua tese da religação dos saberes por meio da tessitura, da bricolagem entre os mundos: microfísico, físico e o macrocósmico. Desvela a necessidade de compreendermos que a ciência da contemporaneidade necessita para produzir um conhecimento pertinente: separar, analisar e, também, associar, contextualizar e remembrar os conhecimentos. Para Morin (2002, p. 56), é primordial aprender a contextualizar e melhor que isso, a globalizar, isto é, a saber situar um conhecimento num conjunto organizado.

    Sua obra é um testemunho da necessidade de vislumbrarmos e compreendermos a realidade do indivíduo, da sociedade e da natureza como dimensões interligadas e imbricadas à existência do humano na Terra. Propõe-nos ou revela-nos que todo conhecimento humano comporta sempre uma interpretação do real, passível de erros, equívocos e ilusões. Revela-nos o necessário entendimento de que os fenômenos sociais, políticos, culturais, os fatos e os eventos são capturados pelo sujeito cognoscente por meio dos sentidos, pelas teorias elaboradas, pelas tecnologias disponíveis e que produzem um conhecimento interpretativo da realidade. O conhecimento é sempre tradução e reconstrução da realidade (MORIN, 2000d). Diz-nos Morin (1993, p. 84) que as teorias científicas não são reflexos do real, mas projeções do homem sobre o real. O nosso mundo faz parte de nossa visão do mundo, a qual faz parte do nosso mundo. Nunca a teoria ou as teorias detêm a verdade, porque a verdade, diz-nos Morin (2013b) lembrando Adorno, é uma não verdade.

    Morin (2010) é um intelectual que teve sempre a coragem de expor suas ideias, suas reflexões, suas opiniões pautadas na grande preocupação em ter uma postura de solidariedade, de diálogo e de acolhimento. Uma postura dialógica perante às incertezas da realidade, da vida e do conhecimento. Diz-nos ele: penso, logo dialogo. Ensina-nos que é preciso sempre a crítica, mas que o processo de conhecimento necessita da autocrítica para que não se torne um processo de racionalização que levará a uma doutrina, ou seja, a uma racionalidade fechada. Esse processo de crítica e de autocrítica possibilita-nos que venhamos a cometer barbáries.

    O conhecimento pertinente, portanto, o conhecimento produzido pela racionalidade aberta, é aquele que contextualiza, que concebe a multidimensionalidade do homem, da sociedade e da natureza. O conhecimento pertinente é complexo porque abarca, abraça o objeto de estudo, o fato, o fenômeno etc. Não há nada ou coisa ou fato que possa ser compreendido à luz do Pensamento Complexo de forma isolada. Isso porque não há nada isolado no universo.

    A contribuição que o pensar complexo pode dar à educação e à Pedagogia é imensa. Há uma Pedagogia Complexa entranhada na obra de Morin, nos seus esforços empreendidos em O Método. Nossa contribuição aqui é escavar a rocha da complexidade e tentar encontrar os liames, os fios, os nós nessa tapeçaria que nos possibilitem identificar, apontar, elencar as dimensões: epistemológica, ontológica e axiológica que possa sustentar uma Pedagogia Complexa.

    3. EPISTEMOLOGIA DO PENSAMENTO COMPLEXO

    O termo complexo vem do latim (complexus), e significa um conjunto de coisas, fatos, circunstâncias, eventos que apresentam ligação e são interdependentes. São fenômenos partícipes de um mesmo processo e que em movimento, em interação, produzem um todo, uma unidade complexa. Essa unidade é múltipla porque elegida por conta das partes que a compõe, a qual enérgica, mecânica ou informacionalmente retroage sobre as partes que lhe deram origem.

    Blaise Pascal (1623-1662), filósofo e matemático francês que viveu no século XVII na França, é um grande pensador, o mais próximo intelectualmente falando de Edgar (MORIN, 2013). Pascal formulou a respeito de como poderíamos compreender a complexidade. Diz-nos:

    E como todas as coisas são causadoras e causadas, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e todas se matem por um laço natural e insensível que liga as mais afastadas e as mais diferentes, tenho como impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, bem como conhecer o todo se conhecer particularmente as partes. (MORIN, 2010, p. 191).

    Depreendemos aqui que os fenômenos, sejam eles humanos, naturais ou físicos, apresentam sempre relações, interrelações, e destas e por estas há geração de uma causalidade recursiva permanente. Complexidade é a trama dos acontecimentos, das ações, das interações, das retroações, das determinações, dos acasos, que constituem nosso mundo fenomênico (MORIN, 2005). A complexidade não é um conceito teórico, uma elucubração metafísica, mas um fenômeno, um fato, um evento, uma trama. A complexidade é, portanto, um fenômeno que nos é imposto pelo real e que não pode ser rejeitado (MORIN, 1993, p. 87).

    O Pensamento Complexo (MORIN, 2002b; 2005b; 2005c; 2005d; 2005; 2005f) sistematizado por Edgar Morin procura demonstrar a necessidade de se (re)construir um conhecimento que abarque a multidimensionalidade do homem, da espécie e da sociedade. Umas das teses nodais do Pensamento Complexo é a questão da (re)ligação dos saberes, portanto a superação da fragmentação dos conhecimentos sobre o humano, a natureza e a sociedade.

    Produzir um conhecimento interpretativo sobre o ser humano, a sociedade, a política, a cultura, a educação e suas relações entre si e destas com o mundo físico e natural: aqui está o desafio para edificar o método do pensar complexo, conforme alude Morin (2003b, p. 12-13).

    […] método é entendido como uma disciplina do pensamento, algo que deve ajudar a qualquer um a elaborar sua estratégia cognitiva, situando e contextualizando suas informações, conhecimento e decisões, tornando-o apto para enfrentar o desafio onipresente da Complexidade.

    O pensar complexo compreende que as realidades humana, social e natural são interdependentes e interligadas, nas quais as partes se relacionam com o todo e vice-versa; as partes e suas particularidades estabelecem relação com o todo, bem como as partes interagem entre si. Daí decorre, portanto, que o todo não é simplesmente a soma das partes. Mas que o todo é uma emergência, um produto proveniente da interação entre as partes. A qualidade do todo difere das qualidades individuais das partes. O todo é um sistema complexo. Uma unidade complexa. Uma unidade sistêmico-organizacional. A vida humana, natural, social e física é um entrelaçamento de sistemas complexos que se interdependem e interpenetram dialogicamente. Essa compreensão apresenta grandes implicações para a produção do conhecimento (científico) humano. Assim, apoiamo-nos em Mariotti (2000) para dizer que a complexidade não é uma conceituação teórica, mas um fato da própria vida. A complexidade apresenta uma multiplicidade, um entrelaçamento e uma permanente interação da infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural, físico e social.

    O Pensamento Complexo sistematizado por Edgar Morin se fundamenta em pressupostos teóricos e metodológicos que foram sendo construídos a partir dos estudos contemporâneos (século XX), provenientes das ciências como: Biologia, Física, Cibernética, Ecologia, Cosmologia, Geologia, Informação etc. Esse estudo foi desvelando à Morin a necessidade de superarmos a disjunção, a fragmentação, a hiperespecialização que foram desenvolvidas ao longo da Modernidade. A religação tornou-se a tese do Pensamento Complexo porque nenhum fato, fenômeno ou evento está isolado ou pode ser concebido isoladamente. Esses são sempre fruto de processos multicausais, multidimensionais. O que implica ou impõe um olhar, um Método que religue os nós no sentido de produzir um conhecimento pertinente, contextual, complexo. Religar, religar. Tornou-se, não a palavra-chave, mas a ideia-mãe. O conhecimento de religa é o conhecimento complexo (MORIN, 2000b, p. 260).

    Seu estudo aponta a necessidade de estabelecermos pontes entre os conhecimentos (científicos, culturais, políticos, sociais etc.) para que possamos elaborar um entendimento mais fidedigno da complexidade da vida. Um conhecimento multidimensional dos fenômenos. No fim das contas, tudo é solidário. Se você tem o senso da complexidade, você tem o senso da solidariedade. Além disso, você tem o senso do caráter multidimensional de toda a realidade (MORIN, 2005a, p. 68).

    A complexidade compreende a vida, a natureza; a sociedade e suas relações sociais; as interações no mundo quântico e suas influências no mundo físico; o mundo cósmico e sua influência no universo conhecido; os sujeitos e suas relações com a sociedade. São sistemas auto-eco-organizadores que se interdependem, que se interconectam no tempo e no espaço. Conforme Capra (2002, p. 267):

    […] em todos os níveis de vida – desde as redes metabólicas dentro da célula até as teias alimentares dos ecossistemas e as redes de comunicações da sociedade humana –, os componentes dos sistemas vivos se interligam sob a forma de rede.

    Em verdade nada consegue se manter isolado, embora sejam mantidas sempre as identidades e as individualidades de cada organização sistêmica e de suas partes.

    O Pensamento Complexo procura superar uma concepção de ciência disjuntiva, fragmentadora, diferenciadora, redutora do conhecimento, apontando para um processo de construção de um conhecimento multidimensional, dialógico, interligado, interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar, no qual o uno não se dissolve no múltiplo e o múltiplo fará parte do uno (MORIN, 2005a). É importante ressaltarmos que:

    […] o Pensamento Complexo não é reservado a uma casta de filósofos e cientistas. Ele diz respeito a cada pessoa, cada cidadão submetido ao risco do erro e da ilusão, incapaz de religar os conhecimentos separados, impotente diante dos problemas fundamentais e globais. Diz respeito à nossa vida cotidiana e nossas relações com o outro. Cada um de nós traz em si sua própria complexidade, que poderia ser reconhecida, e cada um defronta-se em qualquer momento importante de sua vida com os desafios da complexidade. O Pensamento Complexo pode ajudar cada um de nós a suplantar a barbárie do conhecimento, que não só é ilusão ou erro, mas fragmentação e compartimentalização (MORIN, 2010, p. 246).

    O Pensamento Complexo tenta, efetivamente, perceber o que liga as coisas umas às outras, e não apenas a presença das partes no todo, mas também a presença do todo nas partes. "[…] Religar é,

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