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Uma Viagem histórica pelas Estradas da Esperança
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Uma Viagem histórica pelas Estradas da Esperança
E-book149 páginas2 horas

Uma Viagem histórica pelas Estradas da Esperança

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Sobre este e-book

O livro tem o objetivo de analisar o romance As Estradas da Esperança, de Antônio Leal de Santa Inez (1982), como fonte histórica para a interpretação do cotidiano do Recôncavo Sul e Sudoeste da Bahia, focando peculiaridades da região e o processo de desativação da Estrada de Ferro Nazaré (Bahia). Ao criar seus personagens e relatar as viagens do trem, de estação em estação, o romancista reconstrói em moldes ficcionais a história dessa ferrovia. A narrativa constitui uma interpretação das memórias de suas viagens, do desenvolvimento do comércio na região do Recôncavo Sul e do Vale do Jequiriçá na primeira metade do século XX, e da desativação da ferrovia – a morte do trem –, dando visibilidade ao processo de desestruturação de um conjunto de cidades baianas. O trem é retratado como o principal meio de transporte desde o início da construção da ferrovia (1871) até sua desativação (1971). Na obra de Santa Inez, vê-se a representação do período compreendido entre os anos 1960 (início da desativação) e 1971 (liquidação da ferrovia).
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de out. de 2014
ISBN9788583381013
Uma Viagem histórica pelas Estradas da Esperança

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    Pré-visualização do livro

    Uma Viagem histórica pelas Estradas da Esperança - Oscar Santana dos Santos

    Ao meu filho,

    Henrique Barros Santana

    e à minha mãe,

    Carmelita dos Santos

    Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem

    Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho néon

    Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem

    Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem

    Quem vai chorar, quem vai sorrir? Quem vai ficar, quem vai partir?

    Pois o trem está chegando, tá chegando na estação

    É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão

    Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais

    Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar

    Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões

    Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons

    Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral

    Amém.

    Trem das sete, Raul Seixas

    RESUMO

    O objetivo desta dissertação é analisar o romance As Estradas da Esperança, de Antônio Leal de Santa Inez (1982), como fonte histórica para a interpretação do cotidiano do Recôncavo Sul e Sudoeste da Bahia, focando peculiaridades da região e o processo de desativação da Estrada de Ferro Nazaré (Bahia). Ao criar seus personagens e relatar as viagens do trem, de estação em estação, o romancista reconstrói em moldes ficcionais a história dessa ferrovia. A narrativa constitui uma interpretação das memórias de suas viagens, do desenvolvimento do comércio na região do Recôncavo Sul e do Vale do Jequiriçá na primeira metade do século XX, e da desativação da ferrovia – a morte do trem –, dando visibilidade ao processo de desestruturação de um conjunto de cidades baianas. O trem é retratado como o principal meio de transporte da Região do Recôncavo Sul e das cidades do Vale do Jequiriçá desde o início da construção da ferrovia (1871) até sua desativação (1971). Na obra de Santa Inez, vê-se a representação do período compreendido entre os anos 1960 (início da desativação) e 1971 (liquidação da ferrovia). Para viabilizar a proposta aqui apresentada e fundamentar a análise da obra citada, foram realizadas consultas a atas, relatórios, fotografias, jornais, livros de memórias e trabalhos acadêmicos que versam sobre temas correlatos.

    Palavras-chave: Literatura. Representação. História. Cotidiano. Ferrovia.

    ABSTRACT

    The objective of this dissertation is to analyze Antônio Leal de Santa Inez’s novel, As Estradas da Esperança, as a historical source for the interpretation of the everyday life in southeast of Bahia and in an area in the same state called Recôncavo Sul, focusing on peculiarities of the region and the shut down process of Nazaré railroad in Bahia. When the author creates the characters and reports the train journey from station to station, he rebuilds the history of this railroad in a fictional format. The narrative is an interpretation of his travels memories, of the market development in Recôncavo Sul and Vale do Jequiriçá in the early

    20th century, and the shutdown of the railroad – the train’s death –, giving visibility to the process of unsettlement of a group of cities in Bahia. The train is depicted as the most important means of transportation in Recôncavo Sul region and in the cities in Vale do Jequiriçá since the beginning of the railroad construction (1871) until its close-down (1971). In Santa Inez’s work, we observe the representation of the period comprehended between 1960 (beginning of the close-down) and 1971 (shut down of the railroad). To turn the proposal here presented feasible and to settle the analysis of the work studied, it was carried out examinations of minutes, reports, photographs, newspapers, memory books and academic works about correlate themes.

    Key words: Literature. Representation. History. Everyday life. Railroad.

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AEE – As Estradas da Esperança

    CPE – Comissão de Planejamento Econômico

    EFN – Estrada de Ferro Nazaré

    RFFS/A – Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima

    SEPLAN – Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia

    TRN – Tram Road de Nazareth

    VFFLB – Via Férrea Federal Leste Brasileiro

    1 INTRODUÇÃO

    Em As estradas da esperança, obra publicada pela Editora Clube do Livro (SP) em 1982, os editores destacam que Antônio Leal de Santa Inez estava entre os escritores brasileiros que concorreram aos concursos literários para a concessão do Prêmio Nacional Clube do Livro. Informam que ele foi classificado no sexto concurso com a láurea de Menção Honrosa, pela obra A Ilha Esquecida¹. De acordo com essa editora, o autor era nome de boa expressividade no mundo das letras. A riqueza temática e a originalidade no estilo – poético, lírico e fotográfico – lhe davam o merecido destaque na moderna literatura nacional.

    Santa Inez nasceu em Laje, baixo sudoeste da Bahia, em 1927, e recebeu uma educação tradicional. Em Salvador, estudou no Colégio da Bahia, e depois, em Jaguaquara (Bahia), no Colégio Taylor Egídio. Migrou para o Rio de Janeiro em 1952 e formou-se em Direito pela Universidade do Distrito Federal, em 1960. Dedicou-se à publicidade e, em particular, à pesquisa mercadológica. Em 1962 assumiu o cargo de gerente no escritório de Pesquisa Mercadológica, em São Paulo, e em 1972 fundou sua própria empresa, o Instituto Paulista de Pesquisas de Mercado. Tinha cursos de especialização em Estatística e era conferencista nessa área. Publicou os romances Serra do Meio (1980), seu primeiro livro, pela Edições Melhoramentos, e As estradas da esperança (1982). Escreveu também Contos de amor e ternura e A família é um arquipélago ou os Santa Inez da Bahia. Estes, encadernados, datilografados e guardados com muito zelo pela filha Vânia Maria, não foram publicados. Santa Inez morreu em São Paulo, em 1995.²

    O romance As estradas da esperança é o objeto e a principal fonte deste estudo, por representar aspectos históricos e memorialísticos da linha ferroviária que ficou conhecida como Estrada de Ferro de Nazaré (EFN). Chamada inicialmente de Tram Road de Nazareth (TRN), a ferrovia partiu de Nazaré em 1871, chegando a Jequié em 1927. Com extensão de 290 km, fazia o transporte de passageiros e dos principais produtos agrícolas da região, como café, fumo e cacau. Entre os anos de 1871 (início da construção) e 1971 (quando foi desativada), a estrada permitia a integração das microrregiões do Vale do Jequiriçá, Recôncavo Sul, Jequié e Salvador, conectando ferrovia e navegação, contribuindo assim com intercâmbios culturais, sociais e econômicos. Servia também para transportar passageiros e escoar a produção cafeeira do Vale do Jequiriçá, que se integrou aos principais centros regionais da época, como Nazaré, Santo Antônio de Jesus e Amargosa, além dos extrarregionais, como Salvador e Jequié.³

    A fonte literária aqui empregada não permite explorar o período de construção e ampliação da ferrovia (1871 a 1927, quando alcança a cidade de Jequié). A maioria dos diálogos que envolvem os personagens criados por Santa Inez acontecem no interior do trem e se referem, principalmente, aos anos de 1960, quando começa a desativação da ferrovia na região do Vale do Jequiriçá, e 1971, ano da desativação do último trecho, que ligava Santo Antônio de Jesus e Nazaré.

    A obra As estradas da esperança permitiu articular uma discussão envolvendo literatura, história, memória, ferrovia e cotidiano. Neste estudo, a palavra literatura está sendo utilizada para especificar a fonte literária – o romance – como possibilidade de interpretação e compreensão de processos históricos. Já os conceitos de história e memória, apesar das aparentes semelhanças, diferem-se. No entanto, ambos têm o passado como substrato comum.

    No que se refere ao tema da ferrovia, essa relação é esclarecida no decorrer da análise da obra. Antônio Leal de Santa Inez apresenta como cenário um conjunto de cidades do interior da Bahia e as pequenas estações ferroviárias dos povoados rurais, que eram servidas pelo trem de Nazaré. O cotidiano, por sua vez, é representado pelas características dos personagens: suas ações, envolvimentos em brigas e/ou relações amorosas, profissões (marinheiro, carpinteiro, sanfoneiro, fiscal do trem, trabalhador rural) e modos de viver (pedindo esmola, bebendo cachaça, tocando, cantando, cultivando mandioca).

    Em A invenção do cotidiano, Michel de Certeau analisou as práticas cotidianas das pessoas comuns, como fazer compras, caminhar pela vizinhança, arrumar a mobília ou ver televisão. A rua, o bairro, a cidade e a casa, por exemplo, são espaços que ganham sentido pela presença e o fazer do ser humano. Esse autor define o cotidiano como aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente.⁵ O uso frequente do trem para diversão ou trabalho, como meio de deslocamento até uma cidade maior, com a finalidade de estudar num colégio importante ou consultar-se com um médico da capital; o hábito de parar nas estações para fazer um lanche, comprar um cafezinho ou um mingau, almoçar; embarcar ou desembarcar produtos e passageiros; visitar familiares ou encontrar-se com a namorada; vender doces ou frutas no interior desse meio de transporte; conversar com amigos ou desconhecidos; viajar durante a noite ou o dia e irritar-se com o atraso, a poeira ou um acidente na estrada, são atividades perceptíveis na obra As estradas da esperança.

    Nesse sentido, o cotidiano é a percepção do comum, daquilo que se tornou habitual e que muitas vezes não é descrito numa abordagem macro-histórica. No romance As estradas da esperança, vê-se a presença de personagens simples, homens e mulheres que criavam porcos, galinhas, torravam farinha, faziam beiju de forma artesanal e sobreviviam nas proximidades da EFN. Neste estudo é feito um recorte regional que se propõe a uma redução de escala de análise a partir da fonte literária e de um olhar para a vida nas estações, na linha e no interior do trem de Nazaré. As experiências individuais, locais e regionais estão relacionadas a assuntos mais amplos, como a implantação e desativação de linhas férreas no cenário nacional.

    Nota-se na obra uma relação estreita entre os personagens e o narrador, o que leva a concluir que nasceram

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