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A Saga De Um Peruano
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E-book157 páginas1 hora

A Saga De Um Peruano

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Sobre este e-book

O livro conta a história quase centenária do peruano Manuel Mendoza Malafaya, que aos onze anos, junto com sua mãe e outro irmão menor, emigram de seu povoado, um lugarejo nas entranhas da Amazônia Peruana, e buscam a cidadania no Brasil. O seu périplo é contado com detalhes, mesclando a história do personagem dentro da História do Amazonas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de dez. de 2017
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    A Saga De Um Peruano - Renato Mendonça & Roberto Mendonça

    PRÓLOGO

    O livro tem como proposta o resgate da história de Manuel Mendoza Malafaya, desde os primórdios da sua infância, quando abandonou seu país, aos onze anos, e viajou até Manaus com sua mãe e um irmão mais novo. No início da maratona, usam uma canoa e singram o Rio Marañon em condições adversas. O ano é 1927.

    No novo país enfrentam as dificuldades de adaptação com a cultura, os costumes e o idioma, considerando-se que nesse êxodo o único adulto era a mãe analfabeta. A capital do Amazonas, que recebeu esses três viajantes, vivia o período pós-ciclo da borracha e começava a aparentar um declínio econômico devido ao embargo da exportação do produto. Na fase de adaptação, sujeitam-se a subempregos de uma sociedade cosmopolita e encaram, corajosamente, os desafios para conseguir a sobrevivência.

    Na tenra idade, portanto, esse peruanito loretano — nascido no Distrito de Loreto, Peru — tangido pela miséria e pela falta de perspectivas de sua terra natal, mas com o calor humano da arrojada mãe e um irmão menor, aventuram-se a descer o Rio Marañon até a cidade de Tabatinga, na fronteira do Brasil. Sentiram-se seduzidos pelos últimos lampejos da riqueza produzida pela borracha, o ouro negro que frequentava os sonhos dos habitantes da Amazônia peruana.

    Na narrativa revelam-se, dentre as várias aventuras vividas pelo protagonista, os bastidores de uma vida de seringalista e os entraves para escapar do confinamento.

    Deseja-se capitular a melhor síntese biográfica do protagonista; ambiciona os filhos-cronistas serem hábeis artesões nessa empreitada, de tal modo como aos demais filiais olhares viveu o protagonista dessa odisseia. Além de resgatar alguns pormenores de sua história, queremos lhe comemorar o centenário de nascimento. Manuel Mendoza Malafaya nasceu em 17 de janeiro de 1916 e encerrou sua saga em São Paulo, em 18 de maio de 2014, com o nome de José Manuel Mendoza. O pretexto e as nuances para mudança de nomes encontram-se explicitados nos capítulos do livro.

    Para essa façanha, foram aproveitados todos os fatos contados amiúde durante sua longa vida, provas documentais, testemunhos catalogados durante algum tempo e, também, registros fotográficos; várias pessoas contribuíram com entrevistas a fim de corroborar a narrativa e tracejar os caminhos percorridos pelo protagonista.

    Por isso e muito mais, assegura-se que este documentário foi efetivado por inúmeras mãos e cabeças pensantes; por descendentes que desejaram e puderam contribuir; por leitores precoces e ávidos para penetrar nessa história. Por isso somos profundamente gratos, pois sem esse ajuri, sem esse mutirão certamente a homenagem aos cem anos de Manuel Mendoza Malafaya não poderia ser concretizada.

    PREFÁCIO

    O convite para elaborar o prefácio deste livro me pegou de surpresa, em contrapartida, deixou-me muito honrado; também, acarretou-me alguma preocupação: não sei se os meus comentários farão jus à dimensão do que representou o meu pai a todos os filhos e à sua saga na condução de numerosa família.

    Gostaria de acrescentar mais alguma coisa de aspecto formidável ao que foi narrado nos textos, porém, pude verificar que todos os momentos relevantes de sua vida estão registrados de maneira categórica; só um momento, triste por sinal, ficou de fora, talvez proposital: quando ele estava em coma no hospital Arthur Ribeiro, em São Paulo, minha filha, Yara Mendonça, médica, que viajara ocasionalmente para uma etapa de pós-graduação noutro hospital, o visitou no seu momento derradeiro. Coube-lhe o infortúnio de avalizar a Declaração de Óbito do avô.

    A convivência que tive com nosso pai foi gratificante. As fases de nosso convívio me legaram sempre um ensinamento ou um conselho. Ele exercia sua liderança como um velho sábio, como um predecessor da vida querendo expor os caminhos e os obstáculos que se espalhariam na trajetória dos filhos. E o ensinamento que melhor se consolidou em mim, e me assistiu na minha trajetória, foi: nunca desista dos seus objetivos, apesar dos percalços da vida.

    Portanto, fiquei feliz em conhecer alguns pormenores de sua vida, a despeito de que, embora tenhamos convivido, não possuía o integral conhecimento deles, ou o tempo os estava apagando da minha memória.

    O livro, embora muito se assemelhe a uma biografia, não se presta somente para narrar a trajetória desse pequeno grande homem; não se foca somente no seu percurso entre duas viagens, apresenta, ao mesmo tempo, um encadeamento com uma porção da História do Brasil e, particularmente, do Amazonas.

    A pesquisa para a elaboração do livro, cumpre salientar, foi realizada com dedicação e afinco. Os autores, meus irmãos-cronistas, foram felizes no resgate dos mais respeitáveis momentos da vida de José Manuel Mendoza, ou Manuel Mendoza Malafaya, ou Manuel Mendonça Malafaya, ou simplesmente Manuel. Ainda nos presentearam com o relato fascinante da fuga espetacular de Victoria Malafaya, proeminente ancestral peruana, uma mulher vitoriosa ― sem trocadilho ― e destemida que ensejou essa aventura peruana/brasileira, a nossa inesquecível abuelita.

    O resgate histórico do homem simples, do cidadão Manuel, nesta obra, destina-se a perpetuar-lhe essa homenagem; de não consentir que o tempo possa tragar seu legado; e serve, igualmente, para que a atual e as futuras gerações possam reconhecer os verdadeiros heróis, aqueles que nos antecederam; os pioneiros que sedimentaram o alicerce de um futuro promissor.

    Henrique Mendonça

    CRÔNICA I

    Naquela noite, não tivemos tempo para preparar melhor a viagem nem sabia que era uma lonjura; depois, fiquei sabendo que minha mãe já vinha tramando tudo no seu íntimo. E na bagagem não faltou o nosso livrinho de orações...

    FUGA PARA VICTORIA

    Uma canoa nas caladas das noites desce lentamente o rio, sorrateira, para não chamar atenção; navega há diversos dias a fio. Três pessoas estão no barco, essas mesmas pessoas estão agora no Distrito de Imigração de Benjamim Constant, no Estado do Amazonas e são originárias do Peru, mais precisamente de Caballo Cocha. Desejam conseguir passagens para a sequência da viagem até Manaus, em um dos diversas gaiolas que fazem essa rota.

    Nessa longa peregrinação, desde a cidade de origem até a fronteira com o Brasil, foram quase 50 milhas navegando pelo Rio Marañon ― que é o próprio Rio Amazonas dentro do país andino ―, e haviam contado também com a participação de mais dois adultos, que se engajaram nessa empreitada e dividiram as remadas em um pequeno trecho, e os ajudaram a pegar emprestada a tal canoa, sem a anuência do dono.

    Uma jovem senhora, aos 36 anos, com uma obstinação incomum, considerando-se que era pessoa inculta e oriunda dum lugarejo provinciano da Amazônia peruana, decide se aventurar em fuga pelo rio acompanhada de dois de seus quatro filhos, os mais novos.

    Munida de fotocópias dos Certificados de Nascimento (imagem 01) dos filhos, Victoria Malafaya (imagem 02) sai em busca de um novo eldorado, atraída pela borracha tão abundante no Amazonas, que fazia sonhar os peruanos que viviam próximos das fronteiras do Brasil. Os documentos seriam o salvo-conduto para se resguardarem, se fossem exigidos pelo Serviço de Imigração da Tríplice Fronteira, mesmo sob a tutela da mãe.

    Uma das razões para a fuga era a falta de perspectiva do seu povoado, sem um horizonte promissor para os filhos. Uma decisão sensata para quem não sabia nem escrever o próprio nome, e teve que pedir ajuda a terceiros para conseguir as certidões dos filhos. Outra razão mais plausível foi escapar dos desmandos do atual companheiro, que lhe desejava submissa e escrava. Era o seu derradeiro marido, um dos muitos "caucheiros" que ela conhecera no seu lugarejo de pouco mais de 500 habitantes. Um homem bronco e rude como a maioria dos seringueiros atraídos pelo ouro negro.

    O ano de 1927 ainda vivia as sequelas da luta entre a

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