Arte, Imaginação e Crianças
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Arte, Imaginação e Crianças - Daniela da Rosa Linck Diefenthäler
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 do autor
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Às crianças, que têm a liberdade de inventar e experimentar muitas possibilidades expressivas e, em especial, às minhas crianças,Isabela e Heitor, que, junto ao Douglas, dão cor à minha vida.
APRESENTAÇÃO
Uma das memórias de infância que tenho foi influenciada por eu ter crescido em meio a uma família com muitos professores; nesse caso, ser professora era algo que fazia parte dos meus dias quando criança. Outra memória que me vem à mente deve-se ao fato de morar em várias casas diferentes em muitas cidades. A referência da casa, no meu imaginário, também vem lá da infância. Recordo de ficar imaginando sempre como seria a próxima casa em que moraria, qual tamanho teria, materiais, estrutura. Passados os anos, já como professora de Arte, sempre questionei muito como essa linguagem era abordada/apresentada/inserida no cotidiano escolar, mais especificamente com as crianças. E, dentre muitas coisas que me intrigavam e angustiavam, nesse processo expressivo na escola, era o fato de a maioria das crianças representar suas casas, ou mesmo uma casa qualquer, sempre da mesma forma; principalmente na linguagem gráfica, desenhando a imagem da casa: base quadrada, telhado triangular, com uma porta e duas janelas. Algumas variações existiam, a lateral da casa representada com formas retangulares e algumas janelas também nessa parte. Nesse contexto, desenvolvi uma investigação que buscava investigar e refletir sobre o que faz as crianças pararem de imaginar? De criar? Qual o motivo de representar o lugar em que vivem da mesma forma que tantas outras crianças? O que nós como professores podemos fazer/propor para desafiar as crianças a produzir suas próprias imagens, que mostrem as suas marcas? Suas lembranças? Suas memórias ou ainda suas invenções?
Este livro busca refletir sobre essa investigação, sobre as ações propositoras que foram pensadas e desenvolvidas com as crianças para dar conta dessas inquietações. Esta obra apresenta essas propostas expressivas não como receitas ou como método, mas como inspirações para que o leitor também possa inventar, criar e ampliar as possibilidades do repertório visual expressivo infantil.
Que esta leitura possa contribuir com as práticas pedagógicas de quem está com as crianças, seja na escola, seja fora dela. Que possa ampliar as nossas reflexões, e que possamos, também nós como professores, deixar nossas marcas com práticas expressivas em arte que permitam ir além dos estereótipos.
Daniela Linck Diefenthäler
A autora
PREFÁCIO
Conheci a Dani, a autora Daniela da Rosa Linck Diefenthäler, em 2007, na seleção do Mestrado em Educação da UFRGS. Desde o primeiro contato, fiquei impressionada com a qualidade e a apresentação inusitada do memorial e currículo, povoada de texto e imagens, cuidadosamente elaborados de forma muito criativa.
Em nosso convívio, durante a elaboração da dissertação A gente pode fazer casa do jeito que a gente quiser? Ações Propositoras e Materiais Provocadores ampliando o imaginário infantil
, as marcas
mais evidentes nas produções da Dani foram: o cuidado estético na elaboração de seus trabalhos, a presença dos processos de criação e a inteligência sensível e poética guiando suas ações. Tais atributos faziam e fazem parte de todos os trabalhos de Dani como professora, pesquisadora, dona da escola de arte Mirabolando e agora como autora deste livro, que será de grande valia para professoras que trabalham com crianças, porque traz, por meio de uma linguagem objetiva e de fácil entendimento, questões fundamentais e importantes sobre Arte, infância, propostas pedagógicas, materiais expressivos, ampliação de repertórios, entre outras temáticas.
Arte, imaginário e crianças, seu mais recente trabalho na escrita, mantém suas marcas
: a preocupação estética, a criatividade e a sensibilidade. E nos convida a pensar sobre como as crianças pequenas vão absorvendo as configurações visuais da cultura para a infância e porque elas ficam repetindo-as infinitamente, como se não fosse possível quebrar esse ciclo. Para além da discussão principal sobre a construção dos estereótipos da casa, Dani vai narrando, didaticamente, como foi possível quebrar e transformar as estruturas formais fixas e padronizadas das crianças em produções singulares e originais.
Com suas proposições criativas, ela mostra que as crianças produzem cultura, seus modos próprios de ver, imaginar e registar o mundo quando as instigamos a romperem com as formas instituídas culturalmente. Ao longo do livro, prova
que é possível, por meio de Ações Propositoras e Materiais Provocadores (termos criados por Dani), ir na contramão das pedagogias visuais.
Desde o início da obra, a autora compartilha seus percursos de vida, de professora e pesquisadora e traz, para o debate, as reverberações da Cultura Visual para as infâncias, salientando o quanto as milhares de imagens às quais as crianças têm acesso modelam seus imaginários. As preocupações de Dani sobre as estereotipias das crianças partiram de seu olhar atento sobre os desenhos das crianças quando foi docente em escolas infantis de Portão-RS. Suas inquietações levaram-na à pesquisa com crianças e aos estudos aprofundados no campo dos Estudos da Cultura Visual, Imaginário, Ensino de Arte e Infâncias. Com grande maestria, ela estabelece diálogos acessíveis e bem construídos entre teoria e prática. Pode-se dizer que a obra é inovadora tanto por sua temática quanto pelo entrelaçamento teórico criado por ela.
As discussões e reflexões aqui presentes são fundamentais nos contextos escolares tendo em vista que, muitas vezes, nós, adultos, ficamos satisfeitos quando as crianças desenham, pintam, modelam, constroem formas reconhecíveis como a nuvem azul, a árvore com tronco marrom e copa verde, a linha de base na qual se assentam flores e a casinha composta por um quadrado e um triângulo, entre outras formas. Nosso encantamento com o reconhecimento dessas formas não permite que se entenda que tais formas, organização espacial, cores são carimbos repetidos e não expressões individuais das crianças. Assim, além de um alerta, esta obra aponta caminhos metodológicos para que as professoras repensem suas ações no campo das artes.
Outro aspecto importante abordado no livro é em relação à pesquisa com crianças, um campo em construção no meio acadêmico. Esta obra, sobre vários aspectos, DEVE ser lida, estudada em reuniões pedagógicas, referenciada em estudos que envolvam ensino de Arte, infâncias, pedagogias culturais/visuais, pesquisa com crianças, dispositivos pedagógicos das imagens, temáticas ainda pouco discutidas nos contextos escolares, por isso IMPORTANTES para avanços na educação das crianças pequenas.
É um prazer, repleto de aprendizagens, ter convivido com a Dani nessa última década e orientado sua dissertação que deu origem a esta obra, uma profissional inquieta, propositiva, criativa, sensível que nos mobiliza a pensar sobre arte e crianças.
Parabéns Dani, e que este livro relevante espalhe-se pelo mundo, gerando outras formas de pensar a Arte COM a infância.
Em algum lugar do Brasil, inverno de 2017.
Dra. Susana Rangel Vieira da Cunha
Professora aposentada da Faculdade de Educação/UFRGS
Sumário
1
MEMÓRIAS DE INFÂNCIA
1.1 As imagens compondo narrativas
2
TRAJETÓRIAS
2.1 Vestígios de uma formação em Arte
2.2 Para pensar as propostas expressivas em arte com as infâncias contemporâneas
2.3 Propostas expressivas em arte editadas
2.4 Livros didáticos com propostas em arte no cenário escolar
3
A CULTURA VISUAL COMO FORMA DE AMPLIAR REPERTÓRIOS
3.1 Ampliando o imaginário infantil, produzindo outras imagens
3.2 Experimentando a criação de imagens
4
DESENHANDO AS AÇÕES PROPOSITORAS
4.1 O cenário
4.2 Observações do cotidiano das crianças na escola
4.3 Processos investigativos
5
Mediando olhares: provocando o imaginário infantil a partir das Ações Propositoras
5.1 Cenas de momentos expressivos com as crianças
5.2 Eixo 1: Essa casa tem uma árvore dentro e por isso não pode ter telhado
Outras possibilidades de representações de casas
5.3 Eixo 2: A gente pode fazer casa do jeito que a gente quiser
Produção de imagens a partir de momentos expressivos
5.4 Eixo 3: Minha casa tem um anjo e chuva colorida que cai do céu
Produzindo casas tridimensionais
5.5 Eixo 4: Queria morar no mundo da chuva colorida
Desenhos a partir do conceito casa
5.6 A imaginação continua reverberando...
6
Casas que não param de se transformar... E as mudanças não param, porém não mudo mais de uma casa para outra, são meus pensamentos que não querem mais ficar no mesmo lugar...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Obras bibliográficas consultadas
1
MEMÓRIAS DE INFÂNCIA
Quando penso em minha infância, a imagem que mais tenho presente na memória é a das casas em que morei ao longo desse período. Por motivos profissionais de meu pai, minha família precisou, muitas vezes morar, em lugares e cidades diferentes. Portanto ficava imaginando como seria nossa próxima casa. No momento em que essas casas passavam a ser vividas, começavam a fazer parte de minhas memórias.
A autora Marilena Chauí destaca que:
a memória não é um simples lembrar ou recordar, mas revela uma das formas fundamentais de nossa existência, que é a relação com o tempo, e, no tempo, com aquilo que está invisível, ausente e distante, isto é, o passado (2003, p. 128).
Minha forte relação com as casas de infância e recordações do passado inquietaram-me, diversas vezes, movendo-me a buscar compreender como as crianças representam a imagem das casas onde moram. Como essas imagens de casa tomam forma gráfica no universo infantil? Como as crianças representam essa imagem, suas memórias relacionadas às casas onde moram?
O artista gaúcho Iberê Camargo salienta que a memória é a gaveta dos guardados
(1998, p. 31), complementaria que, para mim, enquanto criança, além da memória, a mala também era minha gaveta dos guardados
. Só poderia levar de uma casa para outra o que coubesse em uma mala.
A também artista gaúcha Rochele Costi fala sobre lembranças de infância em uma reportagem, na qual relata seu trabalho plástico:
A coleção também vem lá da infância. Eu tinha uma frasqueira de criança, listrada, forrada de tecido, cheia de objetos pequenos que eu carregava todos os dias para a escola. Mas era só para mim, pois não lembro de ficar mostrando às outras pessoas ou compartilhando com outras crianças. Ia acrescentando coisas que eram importantes àquela coleção, e ela tornou-se uma referência primordial para mim quando minha família e eu nos mudamos de Caxias do Sul para Porto Alegre. Ela foi uma espécie de apoio nessa minha passagem do mundo rural para o urbano, de uma paisagem idílica para algo mais duro,