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Mulheres Negras na Educação Brasileira
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E-book258 páginas4 horas

Mulheres Negras na Educação Brasileira

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Sobre este e-book

Mulheres negras na educação brasileira é um livro estruturado para mostrar como as controvérsias contemporâneas de raça têm frequentemente raízes históricas, culturais, políticas, filosóficas e econômicas.

A relevância do assunto, a pertinência das observações da autora e a linguagem absorvente com que ela as formula reavivam a força da reflexão e do diálogo para compreender a realidade.

Na primeira parte retrata-se um percurso histórico-social sobre as amas e as educadoras negras, com a audácia da esperança, aquilo que deve ser feito hoje e amanhã. Não como um manual ou protocolo que reflita princípios gerais e atemporais, mas, acima de tudo, como um estudo dirigido à práxis ética.

A segunda parte é o coração da obra. Reúne, com clareza e vigores científico e estilístico, o conceito de emancipação enquanto horizonte ético da educação para a construção da igualdade racial, oferecendo uma sólida evidência de como esses conceitos aproximam-se das difíceis e contraditórias questões sociais, como: igualdade e discriminação.

Endereçado não apenas ao estudante, mas também ao estagiário e ao assistente social militante, o livro pretende ser objeto de leitura de pedagogos, sociólogos, antropólogos, educadores e, acima de tudo, leitores atentos às inevitáveis dúvidas que perpassam a vida no tempo presente.

Esta obra exprime uma inquietude da autora que é fundamental a todo e qualquer ser humano, que se concretiza numa necessidade de pensar sobre as relações com os outros e consigo mesmo. Assim, Mulheres negras na educação brasileira é um convite para investigar o mundo, agir na sociedade e participar da construção de um amanhã melhor. Boa leitura!



Profª Drª Helen Barboza Raiz Engler
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de fev. de 2018
ISBN9788547305543
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    Pré-visualização do livro

    Mulheres Negras na Educação Brasileira - Tais Pereira de Freitas

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS:DIVERSIDADE DE GÊNERO, SEXUAL, ÉTNICO-RACIAL E INCLUSÃO SOCIAL

    Para todas as mulheres negras com as quais e pelas

    quais me encontrei nessa trajetória.

    Fátima, Maria Simplicia, Zela, Nega, Gilda,

    Imaculada, Nadir, Val, Salete, Mariléa,

    Edite, Marieta, Lurdes, Mariana, Rosemeire,

    Lúcia, Elvânia, Renata, Roseli, Magali, Dona Maria do Assentamento,

    Maria Cristina, Gabriele, Mércia, Daniela...

    AGRADECIMENTOS

    Bendize, ó minha alma, ao meu Deus e tudo o que

    há em mim, bendiga o seu santo nome.

    Bendize, ó minha alma, ao meu Deus e não te esqueças

    de nenhum de seus benefícios (Salmos 103, 1 e 2)

    Agradeço a toda minha família, minha grande e extensa família, que engloba pais, irmãos, cunhadas, sobrinhos, sogros, cunhados, tias, primos e primas. Todos vocês são parte desta construção.

    Agradeço aos professores do curso de graduação em Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Unesp-Franca, que são os referenciais do meu trabalho como assistente social e como docente do ensino superior.

    Agradeço especialmente à minha orientadora no Doutorado, professora Doutora Helen Barbosa Raiz Engler, que com genialidade soube me acolher ao mesmo tempo em que instigava o meu voo.

    Agradeço aos alunos que sempre me incentivam a buscar mais, para compartilhar e, assim, continuar aprendendo, nesse ciclo maravilhoso que é o processo educacional.

    Agradeço aos amigos que sempre me acompanham e incentivam a minha caminhada e, ainda, a todos que contribuíram no processo de publicação deste livro, especialmente à equipe da Appris Editora.

    Agradeço à minha filha, minha vida, a doce e linda Nice de Fátima, que ainda sem palavras me ensina todos os dias, instiga-me a querer ser melhor... por ela e para ela.

    E agradeço especialmente ao meu companheiro, Arlei Rosa dos Santos, cuja práxis, dialeticamente, dá vida à minha palavra. Arlei está no título, na foto, na capa e em cada página deste livro. Participou de todas as fases desta obra, desde quando era apenas um projeto de pesquisa. Ouviu e debateu com a criticidade que lhe é própria, cada uma das ideias que aqui apresento. Gratidão, meu amor.

    APRESENTAÇÃO

    Mulheres negras na educação brasileira é um livro que busca sistematizar debates acerca do protagonismo das mulheres negras no processo educacional no Brasil, apresentando aspectos históricos e contemporâneos para entender tal protagonismo no âmbito das questões relacionadas à igualdade racial.

    A proposta que apresento é basicamente a de entender que no contexto histórico da educação no Brasil, especialmente aquela denominada de educação não formal, as mulheres negras sempre estiveram presentes. Contudo, na contemporaneidade, não apenas esse protagonismo não é reconhecido, como essas mulheres precisam constantemente desafiar os limites que lhe são colocados pelo racismo institucionalizado no Brasil. Assim, no livro trago construções que auxiliam no entendimento histórico da presença da mulher negra na educação não formal no Brasil, e ainda apresento reflexões pertinentes à realidade contemporânea da inserção da mulher negra nos espaços formais de educação infantil, dado o potencial desse lócus para a construção da igualdade racial no País.

    O livro origina-se na minha preocupação em pensar a questão da mulher negra no Brasil para além da constatação do racismo, da desigualdade, dos processos reais de exclusão dessa mulher do mercado de trabalho, do preconceito, da discriminação e de tantos outros elementos que sempre se destacam quando se realizam análises sobre as questões de gênero e raça no Brasil. Tais questões são fundamentais e extremamente necessárias para entender o panorama em que está inserida a questão da mulher negra na realidade brasileira.

    Sempre fui instigada a pensar a resistência, a luta, o protagonismo negro e, então, pensando o trabalho de educadoras em creches, começou a inquietar-me a ideia de que o trabalho que essas educadoras realizam, ligado aos processos de socialização primária das crianças, guarda proximidades com o trabalho que era desenvolvido pelas amas no Brasil escravocrata.

    Mas essas proximidades raras vezes foram observadas. O trabalho desenvolvido pelas amas negras ficou no ideário brasileiro restrito, na maioria das vezes, à questão da alimentação das crianças brancas. Mas existiram diversos outros elementos e, entre eles, o componente educativo deste livro.

    E a partir dessa inquietação inicial comecei a estudar a questão e fui encontrando elementos que ajudaram a preencher esse desenho. Busquei em textos acadêmicos e literários os aspectos que caracterizaram esse componente educativo na função desenvolvida pelas amas, sendo assim construída a reflexão que apresento com destaque na primeira parte do livro.

    Partindo desse desenho histórico, mas atenta ao tempo presente e tendo em vista a preocupação relacionada à igualdade racial, busquei entender os desafios que são colocados para as educadoras negras que estão inseridas na educação infantil na contemporaneidade e, para tanto, fui ouvi-las. A partir de uma pesquisa com entrevistas foi possível conhecer melhor o cotidiano do trabalho dessas mulheres, suas histórias e anseios. Por isso, a segunda parte do livro traz de forma destacada as falas dessas educadoras.

    Considerando a releitura histórica e as falas de mulheres negras na contemporaneidade, construí a reflexão voltada para o entendimento da igualdade racial, compreendendo a amplitude de significados acerca desse conceito, mas destacando que ele precisa estar diretamente vinculado à ideia de emancipação humana, conforme a tradição crítica marxista.

    Nessa leitura, o horizonte ético da busca pela igualdade racial deve ser necessariamente a emancipação humana e optei por pensar esses aspectos a partir da questão de gênero, raça e educação.

    A autora

    PREFÁCIO

    Mulheres negras na educação brasileira, de autoria de Tais Pereira de Freitas, traz para todo leitor uma abordagem pioneira sobre o lugar e o papel de protagonistas de diversas mulheres negras escravizadas, que durante o período colonial português e no Império Brasileiro iniciaram o processo de educação não formal para crianças negras e brancas, nas áreas rurais e urbanas do País. Eram as mulheres negras que tinham os primeiros cuidados formativos e assistência educativa não formal às crianças nas casas-grandes ou nos sobrados, como também sinalizaram em suas obras autores reconhecidos, como Manoel Querino e Gilberto Freyre, a partir das brincadeiras, dos jogos, dos contos, do dormir e do comer, do banhar-se e do limpar-se. Foram elas que iniciaram e deram os fundamentos para as crianças que estavam na primeira infância caminharem pela vida, fosse qual fosse.

    Com esta obra, a autora não deixa nenhuma margem de dúvida de que as mulheres negras, nas ações de cuidar e assistir, foram também aquelas que moldaram ao longo do tempo os passos dados pela educação infantil em nosso país, sem que houvesse uma teoria, uma metodologia assentada por intelectuais, estudiosos e docentes com variados títulos acadêmicos. Com este livro, ela nos mostra de maneira efetiva e nítida que as primeiras educadoras infantis no Brasil foram as mulheres negras, que não educaram somente as suas crias, mas também crianças de outros grupos étnico-raciais, de renda e de status quo. Portanto atenderam às crianças em suas diversidades culturais, de gênero, raça, classe e religião.

    Desse modo, a autora não fica presa aos grandes e importantes debates acerca da desigualdade sócio-étnico-racial, nem tão pouco ao racismo institucional presente em nossas instituições de ensino, ao abordar a educação e a sociedade brasileira de ontem e de hoje, para justamente dar um passo adiante e trabalhar para a necessidade mais do que de conhecimento público do protagonismo e pioneirismo dessas mulheres negras escravizadas, para lançar-se no necessário e legítimo campo do reconhecimento social de que a educação infantil precisa passar para identificar, nessas mulheres negras, aquelas que foram autenticamente as primeiras professoras da educação infantil no Brasil em seu caráter não formal e que com o seu trabalho contribuíram enormemente para a edificação da educação infantil em seu sentido formal, enquanto modalidade da educação atestada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996.

    No entanto, a autora deste livro não traz para nós somente uma revisão da história do Brasil, mas impõe a necessária e urgente reescrita da história da educação, em especial da educação infantil no nosso país, ao demonstrar o papel educativo e formativo elaborado por ela em diversos lares brasileiros e mesmo nas senzalas, desde o período escravista brasileiro.

    Ainda, faz um conjunto de entrevistas instigantes com professoras negras (pretas e pardas) sobre o que é ser, como estar e como atuar na educação infantil em uma cidade do interior paulista, sobretudo em um ambiente completamente adverso àquele que as ex-escravizadas encontraram, pois lá nos séculos XVI ao XIX, elas eram as únicas e, portanto a maioria daquelas que faziam o trabalho educativo/formativo para as crianças negras e brancas do País. Hoje, no entanto, no atual contexto republicano, elas são minorias quantitativas nas escolas de educação infantil do País. Portanto, fazem uma educação que inventaram e estruturaram ao longo da história do País, mas que hoje são invisibilizadas por serem em número menor e por não terem as ferramentas metodológicas e nem protagonizarem as brincadeiras, os contos, os jogos etc., a partir do seu acervo cultural, social e mítico de matriz africana e/ou afro-brasileira.

    Tais Pereira de Freitas avança ao problematizar um conjunto de questões atinentes à história da educação infantil no Brasil, e dialoga com tenacidade teórica e eficiência metodológica com diversas áreas das Ciências Sociais, entre as quais a Antropologia, a Ciência Política e a Sociologia, além do Direito, quando demonstra de maneira subrreptícia as necessidades dos negros e das negras em particular, de terem o direito à história e à memória do Brasil de modo a se tornarem sujeitos da história oficial do Estado Nacional, bem como aborda de maneira ímpar a necessária emancipação e autonomia das professoras negras e das demais docentes na produção do conhecimento, que realizam cotidianamente nas casas, nas creches e nas escolas de educação infantil do país, tendo como foco o Serviço Social e seu compromisso ético, político, étnico, geracional e de gênero com essa modalidade da educação eminentemente feminino.

    Prof. Dr. Dagoberto José Fonseca

    Livre docente da Faculdade de Ciências e Letras – Campus

    de Araraquara – da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    PARTE 1

    AMAS E PROFESSORAS NEGRAS

    1.1 As amas: bem mais que afeto e resignação

    1.2 As mulheres negras na educação pós-abolição: da escola normal para os doutorados

    1.3 Educação infantil e educadoras negras: debates contemporâneos

    PARTE 2

    A EMANCIPAÇÃO ENQUANTO HORIZONTE ÉTICO DA EDUCAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

    2.1 A emancipação: conceitos e entendimentos

    2.2 Experiências de trabalho e formação educacional: possibilidades de construção de autonomia?

    2.3 O trabalho como educadora na contemporaneidade: desafios e possibilidades

    2.3.1 A educação infantil e o desenvolvimento integral das crianças

    2.3.2 Educação infantil e questão racial

    CONCLUSÕES

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    Sankofa. Essa expressão, um conjunto de ideogramas da escrita dos povos akan, da África Ocidental, pode ser entendido a partir da ideia de que nunca é tarde para voltar e recolher/retomar o que ficou para trás, ou que [...] não é tabu voltar atrás e buscar o que esqueceu. Essa filosofia implica no entendimento de que para o desenvolvimento futuro, o passado (e tudo que as vivências possibilitaram) é essencial. A ideia de sankofa é usualmente representada por um pássaro que voa para frente, tendo a cabeça voltada para trás, sendo que no bico carrega um ovo, o futuro. Sankofa, portanto, possibilita o entendimento de que a volta ao passado permite ressignificar o presente ou, ainda, ensinar-nos-ia a voltar às nossas raízes (passado) para realizar o nosso potencial e avançar.¹

    Essa é a ideia que me orientou na elaboração deste livro. Sankofa auxilia na discussão sobre como as trajetórias das mulheres negras africanas e brasileiras escravizadas construíram a resistência e foram fundamentais no processo educativo que se desenvolve no Brasil.

    Mas, conforme a alegoria de sankofa, mesmo olhando para trás com o ovo no bico, o pássaro voa para frente, destacando-se assim a experiência pedagógica das mulheres negras, educadoras na educação infantil na contemporaneidade, busquei construir a reflexão acerca da emancipação, o futuro sonhado e construído com a argamassa do presente.

    E comecei a entender que não se tratava de mais uma vez estudar sobre os fundamentos da desigualdade racial no Brasil, como ela se manifesta, assim como também não era inventar uma forma de enfrentamento, buscar um projeto ou alternativas que busquem promover a igualdade. Isso já existe. De forma incipiente, é bem verdade, mas existe. Estão aí as ações afirmativas, valorativas e repressivas, que buscam enfrentar a desigualdade racial existente no Brasil e se constituem foco de análise de diversos estudiosos, além de serem constantemente debatidas nos planos políticos para o Brasil.

    Mas o que existe para além? Como homens e mulheres negros constroem a resistência no Brasil em relação à desigualdade racial? Mais do que isso, historicamente eles não se constituem protagonistas em alguma dimensão?

    Dessa forma, o foco da lente para análise foi se ajustando. Mulheres negras estão presentes no histórico de formação e desenvolvimento do Brasil. Mulheres negras estão cotidianamente resistindo. Mulheres negras são protagonistas. Sujeitas de sua própria história.

    Mas essas afirmativas não são respostas prontas. Para essas análises faz-se necessário uma construção cotidiana, articulada entre ciência (no sentido estrito da palavra), arte, cultura, história. E nesse sentido, não é apenas racionalidade, na compreensão estrita do termo. O humano constrói-se ser social, biopsíquico, cultural, o que contempla multidimensionalidades como cultura, religião e linguagem. E é a partir dessas multidimensões que é possível pensar o humano na perspectiva da construção do conhecimento, do qual o científico é apenas mais uma dimensão.

    De forma geral, o conhecimento científico, em sua forma chamada clássica, pensa o ser humano apenas na perspectiva da racionalidade, Homo sapiens², em oposição ao que é imaginação, fantasia, construções do espírito. Ou seja, sapiens é o racional e tudo o que não está inserido nesse entendimento estrito de racional, é por consequência, irracional. Mas essa racionalidade é por demais estreita, reduzida, limitadora. A construção da ciência não pode prescindir do imaginativo. O ser humano não pode se limitar ao que é considerado racional, ao que se pode quantificar, observar, racionalizar; é preciso mais, é preciso encontrar aquele que sonha, que imagina. Reencontrar o Homo demens, o que tem a capacidade de imaginar, de criar, de ir além do que está posto. É o conceito de demens que comporta as possibilidades de superação da realidade. Por isso é necessário pensar os conceitos sapiens-demens não em oposição ou contradição, mas como complementares³.

    Pensando a complementaridade dos conceitos de sapiens e demens, imaginar é tão necessário à condição humana quanto o raciocinar. Imaginar oferece tantas possibilidades quanto

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