Branquitude na Educação Infantil
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Sobre este e-book
Um dos privilégios da branquitude é a posição de sempre expor (a negros, indígenas, amarelos, ciganos) e não ser exposta. É precisamente aí que reside um dos brilhantes giros que a autora nos apresenta: se estamos em relações raciais, a quem serve o projeto de alocar em pessoas não brancas o "problema" do racismo? Da inadiável necessidade de quebrar privilegiados silêncios e invisibilidades brancas que a pesquisa se enuncia e costura suas tão generosas contribuições.
O abismo que distancia as teorias e leis antirracistas da prática pedagógica é uma realidade que precisa ser percebida não como exceção, mas como parte da própria lógica da manutenção colonial. As poderosas e sensíveis palavras de Cintia descortinam essas racionalidades (que podem ser mais ou menos silenciosas) e que atuam vigorosamente na atualização do racismo.
O trabalho tem a preciosidade de construir sua perspectiva desde o lugar de quem, como ela mesma partilha conosco, já foi criança negra, é mulher negra e também professora, em uma narrativa que lhe é singular, mas ao mesmo tempo traz vozes coletivas e históricas.
Enquanto tivermos uma educação pautada no branco como sinônimo de universal do humano, teremos a perpetuação do racismo e seus efeitos. Efeitos esses que incidem inclusive nas próprias crianças brancas, que, no paradoxo do privilégio estrutural que marca sua racialidade, também têm seu crescimento psicossocial recortado pela colonialidade. A luta antirracista compõe, portanto, um projeto de bem viver coletivo e o engajamento a ela não deve denotar uma especial benevolência ou favor de profissionais da educação brancos e brancas, mas uma ação ética de reparação histórica.
Sobre essas e tantas outras questões que a escrita firme e amorosa de Cintia nos leva em suas tecelânias engajadas e enraizadas nesse território que é nossa casa e nosso lar.
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Branquitude na Educação Infantil - Cintia Cardoso
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS:DIVERSIDADE DE GÊNERO, SEXUAL, ÉTNICO-RACIAL E INCLUSÃO SOCIAL
Dedico este texto a você que o lê e às crianças, sem as quais nada disso teria sido possível.
AGRADECIMENTOS
Gostaria que estas singelas palavras expressassem o quanto sou grata a todas as pessoas que me acompanharam na travessia que resultou nesta obra.
À minha família, meu combustível diário de amor. Ao meu pai, Osvaldir, um griot que sempre ensinou a mim e meus irmãos sobre nossas origens.
À minha mãe, Irene, e à avó Maria (in memoriam), meus exemplos de resistência, força e fé na vida. Continuam intocáveis em meu coração. Em Iorubá Orun-Aiê.
Aos meus irmãos, Rodrigo e Guilherme, por pacientemente me ouvirem.
Às minhas irmãs, Andréia, Paloma, Jéssica e Eduarda, cada uma a seu modo e com suas palavras não me deixavam desanimar, somos os sonhos mais ousados das nossas ancestrais
.
Ao meu companheiro, David, por embarcar nessa viagem, sempre sendo apoio constante nos momentos mais difíceis, pelo cuidado e pela cumplicidade na vida. Agradeço também a Kátia Keith, minhas cunhadas, meus cunhados, sogra, sogro, amigos.
Aos meus sobrinhos, Mayckon, William, Pamela, Priscila e Henrique, por serem a continuidade de meu irmão Alexandre que partiu prematuramente. O amor e as boas lembranças permanecem vivos!
Numa família de oito filhos a lista de afilhada, afilhado, sobrinhos e sobrinhas é longa. Wagner, Lindsey, Mickaelly, Igor, Ian, Isis, Diogo, Alana, Lara, Zahara, Yasmin, Felipe, Nathan, Davi, Isabelly, Emanuelli e Brayan, vocês são farol de luz, força que me motiva a lutar por um mundo melhor. Continuo na luta por vocês!
Agradeço as colegas de trabalho, Rosicleia dos Passos, Luana Florentino, Márcia Mezzomo, Fátima Regina, Adriana Cardoso, Leila Andrade Dias, pessoas que encontramos e passam a fazer parte da trajetória, nos momentos em que precisei sempre estiveram presentes, vibrando com cada conquista.
À Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, por meio da Gerência de Formação Permanente, por autorizar a pesquisa.
Ao Núcleo de Educação Infantil na qual foi realizada a pesquisa, gratidão pela acolhida. Às profissionais da instituição pela partilha tão generosa. Não tenho palavras que expressem esta oportunidade, em que pude refletir e reelaborar minha experiência como professora ao longo do percurso da pesquisa.
Às famílias do Núcleo de educação infantil que autorizaram a participação dos seus filhos e filhas na pesquisa. Eu tenho muito orgulho de ser professora dos filhos da classe trabalhadora, povo lutador que acredita e valoriza a educação pública.
Ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), pelo acolhimento. Fazer parte do núcleo foi imprescindível para a minha constituição como pesquisadora. Também agradeço ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná e à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), na qual sou membra e também passei a coordenar a área Científica Branquitude, juntamente ao Dr. Lourenço Cardoso.
Às professoras de pós-graduação da Linha Diversidade, Diferenças e Desigualdade Social em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que contribuíram para a minha formação, propiciando-me ampliar meus conhecimentos.
Às colegas de curso, pela partilha e pelos profundos debates, em meio a isso, carinhosamente me informavam a previsão do tempo para a fria Curitiba-PR. Em especial, à Márcia Cristina dos Santos, pelas palavras nas horas de angústia e escuta sempre disponível.
À Dr.ª Maria Aparecida Bento, por ter aberto os caminhos teóricos, cientista fundamental em posicionar o branco como tema de pesquisa, por ser referência fundamental em meu aprendizado, minha inspiração e coragem em estudar a temática no campo da infância a partir da leitura de seus textos.
Agradeço ao Prof. Dr. Lourenço Cardoso, referência nos estudos da branquitude, pelas observações, indicação de leituras de grande valia ao longo da pesquisa, sempre auxiliando para melhor compreensão da temática e também por compor a banca.
À Prof.ª Dr.ª Ângela Maria Scalabrin Coutinho, pelos apontamentos e pelas indicações de leituras fundamentais para que me aprofundasse no campo dos estudos da sociologia da infância.
À mestre Geni Daniela Núñez, pesquisadora que me conectei por meio dos seus escritos e que contribuiu para ampliar minhas interpretações sobre os estudos da branquitude.
À orientadora da pesquisa, Prof.ª Dr.ª Lucimar Rosa Dias, pela confiança, pelo acolhimento, pela cumplicidade e pelas provocações constantes que me abriram caminhos teóricos e me impulsionaram para que me tornasse uma melhor e mais qualificada pesquisadora. Meus sinceros agradecimentos!
Ainda, agradeço às pessoas que fui encontrando ao longo do caminhar, cada uma que compartilhou diferentes momentos comigo ao longo dessa trajetória, Giselle Marques, Franciéle Garcês, Vera Marques, Maria Helena Tomaz, Francine Araújo, Carla Cristina Britto, Janine Moraes, Soeli Francisca.
Agradeço as oportunidades de trocas, crescimento nas ocasiões em que apresentei a pesquisa, problematizando acerca da branquitude no espaço da educação, em núcleos de educação infantil, escolas e universidades na região da grande Florianópolis e em outras regiões do Brasil.
Não poderia deixar de mencionar o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (SINTRASEM), incansável na defesa dos interesses da classe trabalhadora.
Agradeço à Editora Appris, pela oportunidade de publicar esta obra.
À sabedoria ancestral, por apontar os direcionamentos nas encruzilhadas da vida.
Enfim, seria exaustivo relacionar todos e todas que de maneira indireta fizeram parte disso. Todo o meu Asè.
Eu não ando só!
Se não é fácil ser descendente de seres humanos escravizados e forçados à condição de objetos utilitários ou a semoventes, também é difícil descobrir-se descendente dos escravizadores, temer, embora veladamente, revanche dos que, por cinco séculos, têm sido desprezados e massacrados.
(BRASIL, 2004, p. 14).
Prefácio
O tema desta publicação – Branquitude na Educação Infantil – reveste-se de grande relevância no sentido de trazer subsídios para a construção da equidade racial na educação básica, tendo como ponto de partida a etapa fundamental que é a educação infantil.
O sistema educacional brasileiro geralmente negligencia o tratamento dessa temática, em particular com crianças pequenas, mas diferentes estudos¹ revelam que, entre 3 e 5 anos, crianças já percebem a diferença racial, interpretam e hierarquizam as pessoas com base nesta percepção.
Dessa forma, entender como se apresentam as relações raciais no ambiente físico, nas relações entre as crianças e com as professoras, nos brinquedos e nas brincadeiras contribui para a formulação de políticas públicas no campo da educação infantil, oportunizando elementos que possam favorecer o desenvolvimento do currículo, a aquisição de materiais e a elaboração de processos de formação de professores e gestores, com vistas à promoção da equidade racial nessa etapa da vida, crucial para o desenvolvimento da identidade da criança.
A identidade é elemento de constituição da criança, imprescindível para o seu desenvolvimento pleno, essencial para assegurar seu bem-estar, sua saúde integral, viabilizando-se na convivência com as pessoas e na relação qualificada com o ambiente onde está inserida.
Utilizando-se de diferentes metodologias, como conversas informais com professoras e crianças ou o registro em áudio e em formato fotográfico, foi possível para a professora Cintia Cardoso levantar elementos que possibilitaram identificar os desafios da equidade no ambiente escolar.
Assim, foi no ambiente físico da escola que se deu a pesquisa: as paredes do corredor, as portas e os banheiros revelaram a supervalorização do branco nas imagens, bem como o não reconhecimento da representatividade de outros grupos étnico-raciais, como negros e indígenas.
Foi possível ainda constatar que a grande maioria das bonecas e dos bonecos disponíveis eram brancos. E o diálogo com as professoras mostrou que o tema das relações raciais carecia de reflexão crítica, estando diluído, esvaziado ou negado.
Esse é um grande desafio, pois no caso de crianças pequenas, a verdade sobre si é expressa por adultos significativos em sua vida. O que elas ouvem sobre pessoas negras e brancas – de familiares, professoras, ou seja, de pessoas com quem convivem e de quem gostam – interfere na formação de seu autoconceito e identidade. Ou seja, a consciência racial da própria professora, bem como seu entendimento sobre a importância da abordagem das relações raciais com as crianças é muito importante.
Num outro sentido, Cintia relata que apreendeu no processo de investigação que crianças pequenas aceitam conversar sobre cor/raça e a identificar-se racialmente, a si mesmas e às outras. Um aspecto importante foi a constatação de que essas crianças têm mais facilidade em nomear pessoas negras, mas tendem a não querer nomear pessoas brancas. Provavelmente porque já aprenderam que os brancos não são habitualmente racializados, pois são considerados a referência
, o universal
.
Por fim, cabe assinalar que é necessário que possamos construir uma pedagogia que reconheça o ambiente escolar como um ambiente que contemple e acolha a todas as crianças, principalmente as pequenas, como define a LDB de 1996, alterada pela Lei Federal n.º ١٠.٦٣٩/٠٣.
Mas, principalmente, necessitamos construir uma educação que ofereça relações amistosas e saudáveis, que favoreçam o desenvolvimento das competências afetivo-emocionais, fundamentais para a aprendizagem e para o desenvolvimento pleno de todas as crianças.
Professora doutora Maria Aparecida da Silva Bento
Cofundadora do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e da Desigualdade (CEERT)
Apresentação
O Livro Branquitude na Educação Infantil, de Cintia Cardoso, que resulta da sua dissertação de mestrado, defendida em 2018 sob minha orientação, marca a produção acadêmica que trata da educação infantil, pois provavelmente é a primeira pesquisa no Brasil que tem como eixo principal investigar como a branquitude se expressa nessa etapa da educação. Cintia é daquelas pesquisadoras que de modo ousado se põe a escrever em primeira pessoa, sem censuras e com desenvoltura narra um campo que conhece bem, pois é professora da educação infantil e ao se propor a apreender a branquitude na infância, faz de um lugar singular: foi uma criança negra –
o lugar da não privilegiada por sua raça/cor. Traz consigo a força da produção acadêmica dos estudos culturais que transformou os ditos objetos de pesquisa em sujeitos, melhor dizendo sujeitas com agência, além carne, osso, com gênero e raça. É desse lugar que ela vai traçando seu caminho como pesquisadora e, nesse sentido, conhecer os percursos metodológicos da pesquisa é um aprazimento que de partida garante o envolvimento do(a) leitor(a) com o texto. Sabemos que o conceito de Branquitude tem sido trabalhado no Brasil desde os anos 80. Mas somente após o impulso dado pelo movimento estadunidense Black Lives Matter, nos anos 2020, o termo ganhou repercussão fora dos muros acadêmicos, despertando o interesse mais amplo, assim deixou de ser prioritário sobretudo para ativistas e pesquisadores(as) negros(as). O livro traz uma contribuição significativa quanto ao uso da terminologia, já que a autora faz um importante levantamento bibliográfico localizando o termo em articulação com a categoria infância. Há interessados(as) em compreender como os privilégios de ser branco se evidenciam na vida cotidiana de todos(as) nós e isso pode ser apreendido na leitura desta imersão ao termo. Após essa introdução, ela apresenta o contexto no qual a pesquisa ocorre, localiza Florianópolis e a instituição e alguns podem pensar, antes de ler o texto, que o resultado então é generalizável. Ledo engano, a cada momento da descrição o(a) leitor(a) vai identificando aspectos que são muito parecidos com outras cidades do Brasil, dado que as narrativas sobre quem somos se assentam em bases muito parecidas, ou seja, estão orientadas pelo racismo estrutural e isso torna todas as cidades muito parecidas nos modos como se organizam em termos identitários. Lógico que há diferenças aqui e acolá e a descrição do locus nos ajuda a pensar o nosso próprio local. Por fim, ela adentra ao microespaço, a instituição. É a parte mais instigante do texto! A pesquisadora vai caminhado pela instituição e nos leva junto a conhecer o lugar. Passamos pelos corredores, observamos as portas e nos encontramos com as crianças! O Nicolau, no barco e a comidinha de mentirinha
nos leva a nossa infância. A Elaine, acariciando o rosto da pesquisadora, nos faz sentir esse um elo (será amarelo?), o segredo partilhado da Teodora e assim há uma sucessão de encontros entre Cintia e as crianças: Emmanuel, Gilberto, Pierry e outras. A pesquisa desvela de modo absolutamente contundente que os privilégios advindos da branquitude são possíveis de serem identificados nas rotinas das instituições de educação infantil e nas atividades mais corriqueiras realizadas com crianças de 4 a 5 anos. Todos os dias, as crianças brancas são expostas a espaços organizados de modo a que se sintam valorizadas, reconhecidas na sua humanidade. Cada lugar, cada cantinho, preparado com carinho por professoras dedicadas, mas não atentas estavam (ou estão) reproduzindo mensagens poderosas para as crianças brancas. As imagens nas paredes, a ida ao banheiro, o bilhete que vai para casa, as músicas, os brinquedos e livros disponíveis carregavam a mais nítida mensagem: crianças brancas, este lugar é de vocês! Esta mensagem explícita nas materialidades que compõe o dia a dia da educação infantil não era assumida pelas professoras que diziam não perceber cor
, mas quando necessário para proteger as crianças brancas, as professoras brancas racializavam as crianças negras, o que Cintia chamou de paridade racial
. São conclusões duras as quais chega a autora, apontando que a branquitude, ou seja, as expressões desse poder que elege a criança branca em detrimento da criança negra foram sistematizadas por ela como: negação de pertencimento racial favorecendo a criança branca, preferência pelas crianças brancas, estereótipos na representação de negros(as), silêncio e representação hegemônica branca. No entanto, Cintia também captura rupturas nesse processo produzidas por professoras negras e por crianças negras e brancas, o que mantém em nós o esperançar freiriano, isto é, esperançar é agir, buscar. Assim, todas as pessoas que querem uma educação para as crianças pequenas, igualitária, devem esperançar. É o que aprendemos ao ler o texto de Cintia, a quem agradeço o privilégio da convivência.
Outono em Curitiba 12-04-2021
Lucimar Rosa Dias
Sumário
INTRODUÇÃO 19
CAPÍTULO 1
BRANQUITUDE, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA – UMA ARTICULAÇÃO POSSÍVEL 29
1.1 A Relevância da Raça para o pensamento social brasileiro 33
1.2 Sociologia da Infância: O entre-lugar da raça 37
1.3 A baliza dos estudos sobre branquitude:
UM BALANÇO INICIAL 41
1.3.1 Delimitando a investigação acadêmica: Branquitude e Educação Infantil 53
1.3.2 Articulando o diálogo 63
CAPÍTULO 2
ZIGUEZAGUEANDO ENTRE a metodologia de pesquisa e a escolha do campo: AS TRAMAS E OS MEIOS 67
2.1 ADENTRANDO A PESQUISA: Aspectos Sociais 70
2.1.1 Uma Súmula de Florianópolis Capital Catarinense 70
2.1.2 A Comunidade Educativa 73
2.1.3 Quanto à estrutura física da instituição 79
2.1.4 Perspectiva da Reeducação das Relações Étnico-Raciais Positivas na Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis 83
CAPÍTULO 3
a Branquitude no âmbito da educação inFantil:
A IMERSÃO NO CAMPO 97
3.1 ABRINDO O DIÁLOGO: assentimento inicial 99
3.1.1 As práticas cotidianas na Instituição 110
3.1.1.1 O grande encontro 111
Capítulo 4
CENAS COTIDIANAS:
ENTREMEIO AO ÂNGULO DA BRANQUITUDE 123
4.1 Os banheiros 129
4.2 O interior das salas 134
4.2.1 O que dizem as professoras 142
4.2.1.1 Não Percebo, Mas Vejo Cor/Raça
144
4.2.2 PARIDADE RACIAL BRANCA E ASSIMETRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 154
CAPÍTULO 5
LAÇOS e entrelaces construídos nas relações entre as crianças: As interações, brinquedos e brincadeiras 169
REFLEXÕES FINAIS 181
POSFÁCIO 187
REFERÊNCIAS 191
INTRODUÇÃO
No século XXI é premente a continuidade dos estudos na área da educação das relações étnico-raciais na infância que aponte para novas discussões e perspectivas.
As pesquisas sobre educação das relações étnico-raciais na infância me permitiram compreender que, ao longo do tempo, o que foi produzido em termos de pesquisas acadêmicas foi primordial para colocar como pauta social o racismo e a discriminação racial no contexto educacional. Sem dúvida, as pesquisas acadêmicas têm evidenciado essa persistente desigualdade racial na educação, o que foi de grande relevância social para contribuir com proposições de políticas públicas para educação, aprimoramento de diretrizes, orientações curriculares, indicadores de qualidade e nortear a formação de professores para o enfrentamento e combate ao racismo, assim como produção e aquisição de material didático voltados à temática.
Essas conclusões ecoam nas constatações de estudiosas das relações étnico-raciais na educação infantil, que, com maior foco voltado para a infância a partir da década de 1990 e posterior, vêm apontando para essas questões, como Cavalleiro², Dias³, Oliveira⁴, Damião⁵, Carvalho⁶, Santiago⁷, entre outras, que já abordavam essas pautas.
Essas pesquisas transitam por diversos campos da educação das relações raciais na educação básica, e as autoras afirmam que, mesmo com investimentos voltados para a promoção da igualdade racial no espaço educativo como aquisição de livros, material didático, formação continuada para as professoras⁸ e aquisição de bonecas(os) de diferentes pertencimentos étnicos, isso não tem sido suficiente para