Uns homens: Contos com seres masculinos
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Uns homens - Marson Guedes
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UNS HOMENS
Copyright © 2017, Marson Guedes
Todos os direitos reservados
Categoria: contos
Edição: Marson Guedes
Capa: Paulo Ribeiro
Editora: Signum
ISBN: 978-85-919579-6-5
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ANTES DO PREFÁCIO
O instinto de qualquer escritor é o de convidar alguém de prestígio para escrever o prefácio.
Isso normalmente significa um respeito com o prefaciador. Normalmente também significa a muito desejada autenticação externa de uma obra.
Eu quis fazer diferente desta vez. Convidei para este prefácio um rapaz bem mais novo do que eu, mas no qual reconheço enorme talento. E o talento pediu algo diferente. Em vez de fazer um resumo dos contos, ou de tentar colocá-los numa categoria, ele preferiu escrever sobre o impacto que o texto exerceu nele. O que é criativo e corajoso ao mesmo tempo.
Porque eu reverencio o talento e a ousadia, não me importando de qual geração ele brote.
É o prestígio de gente assim que me interessa.
Com vocês, senhoras e senhores, João Raul.
PREFÁCIO
Admiro aqueles que têm a habilidade de bater de frente com a mão no peito, mas o silêncio é para poucos. Ficar calado costumava ser um sinônimo de obediência, porém eu mudei isso dentro de mim. Uma das maiores descobertas que já pude fazer nessa vida foi que todo mundo tem medo de ficar sozinho, e foi aí que o silêncio se mostrou ser minha maior arma, pois deixa um vazio que é preenchido por verdades indesejadas. É o medo de descobrir quem você realmente é.
Numa discussão, não importa o quão forte é o seu argumento se não houver alguém fraco o suficiente para uma comparação razoável. Foi nesse momento em que comecei a ficar mais quieto, e enquanto meus oponentes falavam sozinhos, deixando que seus próprios erros os derrubassem, eu me libertava de pequenos fardos chatos.
Uma das maiores fraquezas do homem é não ter outra ingenuidade além da sua para enaltecê-lo.
João Raul
talento da geração mais nova
O homem cuja avó se casou com oitenta e tralalá
E não é que ela ia casar? Oitenta e tralalá, já tinha acumulado muitas lutas inglórias nessa vida. A avó nem tchum, apostou as fichas no seu José, cara de bom moço. Mais ele não saberia dizer. Afinal, o ônus e o bônus de juntar as escovas de dente eles dividiriam entre si. Nada em que se deva meter a colher.
Lembrou dela quando morou lá. A avó crente vivia orando por causa disso e daquilo. Oração, que era sagrada, sempre antes das refeições. Até aí sem grandes dificuldades. Comida é uma coisa tão importante que a gente precisa mesmo desse senso de gratidão. Só que ela encompridava a oração assim.
— Senhor, endireita as veredas desse menino.
Que mania! Endireitar o quê? Parecia até que ele era bandido. Mas era bom moço. Não se metia em brigas, não queria nada com a marvada pinga. Drogas? Não queria pó nem rapé, ele se ligava mesmo em guaraná e chocolate. Que ideia...
Levava a faculdade como levava. Ia na igreja, que era devoto também. Endireitar o quê? Seu gosto pela noite e chegar de madrugada em casa depois da balada estilo matinê era desculpável. Boliche, lanchonete, nada além da conta. Por isso se irritava com a avó devota que encompridava a oração das refeições.
— Senhor, endireita as veredas