Terapia Peripatética de Grupo: Considerações
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Sobre este e-book
A perspectiva teórica do autor utiliza a psicopatologia fenômeno-estrutural de Eugène Minkowski, para interpretar e descrever os conteúdos obtidos por intermédio de relações individuais, e, quanto ao grupo, faz uso dos conceitos de gênese e dinâmica de grupo de Kurt Lewin a partir da experiência de pesquisa-ação.
Enquanto a psicopatologia convencional propõe a mera descrição dos sintomas, Minkowski propõe uma "psicopatologia viva para pessoas vivas", acreditando que a busca pela compreensão da experiência vivida de uma pessoa seja a melhor forma de buscar estabelecer a transferência clínica no contexto da saúde mental com pacientes crônicos e/ou em crise.
Para uma intervenção clínica em grupo fora de um setting clínico terapêutico convencional, a pesquisa-ação de Lewin foi adotada pela flexibilidade inerente ao método, que reconhece a complexidade das relações sociais e os diferentes sistemas familiares, profissionais, institucionais e comunitários que compõem e interferem com as atividades clínicas em grupo executadas na rua.
Este texto é um convite ao diálogo com o leitor sobre uma clínica de grupo ainda desconhecida para muitos profissionais da saúde mental.
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Avaliações de Terapia Peripatética de Grupo
2 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Esse livro conta as experiências do autor com a terapia fora do consultório. Leitura interessante para profissionais da área de proctologia e também para quem tem curiosidade sobre o tema.
Pré-visualização do livro
Terapia Peripatética de Grupo - Demétrius França
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
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Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES
Para as duas Marias, Ilda e Socorro.
Ao professor Norberto.
Agradecimentos
Às pessoas com quem trabalho.
Ao professor José Olinda.
Aos amigos.
It would be desirable to look upon first editions of books as crude essays whose authors propose to men of letters in order to learn their feelings. Later, after they have received diverse reactions, they will rework their books in the light of these different views in order to bring them to the utmost perfection¹.
(Logique de Port-Royal, Lived Time, 1970)
APRESENTAÇÃO
A Terapia Peripatética surgiu durante a Reforma Psiquiátrica. Inicialmente essa prática clínica ambulante exercida majoritariamente por estudantes e profissionais de Psicologia amadureceu e, adotada também por enfermeiros e outros profissionais de saúde, transformou-se adotando diferentes nomeações que refletiram suas diferentes fases com diferentes alcances como: Auxiliar Psiquiátrico, Amigo Qualificado e Acompanhante Terapêutico. Sendo a última nomenclatura pela qual é majoritariamente conhecido no Brasil e Argentina, mas que também é sujeita a críticas.
Para aqueles que desconhecem o Acompanhamento Terapêutico, o termo em si não é autoexplicativo e permite ambiguidades sobre a função dessa atividade que se agravam diante da exigência acadêmica de tradução para línguas distintas do português e espanhol. Em resposta a essa insuficiência do termo Acompanhamento Terapêutico, o autor explica sua proposta pela adoção de Terapia Peripatética (esta última, palavra de origem grega que significa dado a andar, especialmente enquanto ensina ou discute
). Além de o nome fincar os pés no território das práticas terapêuticas, expõe a natureza ambulante que a diferencia das outras.
Este livro oferece um estudo de caso desenvolvido em atividade terapêutica oferecida regularmente por instituição de saúde mental, tornando a experiência de pesquisa mais espontânea e valiosa. Para contemplar este contexto específico, o autor utiliza a pesquisa-ação para registrar o impacto de sua presença, do seu esforço de compreensão do outro e demais intervenções com intenção terapêutica no contexto de gênese e dinâmica de grupo. Enquanto prática clínica majoritariamente dedicada a pacientes crônicos, as publicações sobre terapia peripatética envolvem quase que exclusivamente experiências de atendimento individual.
Na dimensão individual, o autor lança mão da psicopatologia fenômeno-estrutural de Eugène Minkowski, psiquiatra e fenomenólogo ainda pouco conhecido no Brasil, para explicar a experiência vivida do tempo e do espaço por parte das pessoas descritas nos estudos de caso. Enquanto a psiquiatria convencional limita-se a enumerar sintomas para elaborar diagnósticos, a psicopatologia fenômeno-estrutural busca a compreensão da experiência de vida das pessoas como estratégia para estabelecer a relação transferencial e estimular a ocorrência do evento terapêutico. Apresentando-se como ferramenta interessante para o trabalho clínico dos profissionais de saúde de forma geral.
Dessa forma, além de permitir uma introdução à obra de Minkowski, este é o primeiro livro que aborda a Terapia Peripatética de Grupo em língua portuguesa, constituindo em si mesmo um importante passo para a construção de um debate maior e mais amplo sobre o assunto.
Nota do autor
Este livro é uma adaptação da dissertação de mestrado Passeio da tarde: um estudo sobre o setting clínico ambulante
do acompanhamento terapêutico de grupo, defendida em março de 2009 na Universidade de Brasília – UnB, pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura. Encorajado pelo Prof. Dr. Norberto Abreu (in memoriam), esta publicação foi idealizada desde 2009.
A demora decorreu por diferentes motivos, pessoais e profissionais, que necessitariam de outro livro para explicá-los. Entretanto, após a conclusão do doutorado "A psicopatologia fenômeno-estrutural na clínica do acompanhamento terapêutico em grupo", defendida em junho de 2016 pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela USP, que representa a continuação desta pesquisa, não sobraram desculpas novas ou velhas que me impedissem de dar um formato final a este trabalho.
Ao longo dos nove anos de intervalo entre 2009 e 2018, desenvolvi diferentes planos para esta publicação, mas optei pela efetiva atualização da obra do ponto de vista teórico enquanto busquei manter a narrativa de um jovem profissional. A Terapia Peripatética de Grupo permanece fora da academia, pelo menos no Brasil. Dessa forma, acredito que a publicação deste livro pode exercer uma função informativa importante sobre o assunto tanto para curiosos e estudantes dos cursos de saúde, quanto para praticantes experientes da Terapia Peripatética.
PREFÁCIO
Os rios amazônicos espraiam-se pelo Norte do País em todas as direções, seguindo declínios, precipícios, fendas e veredas que se lhes aparecem à frente, resistindo a paus e pedras, montes, igarapés, povoações humanas de todas as gentes, intempéries e bons tempos, até que mergulhem nas águas profundas e salgadas dos mares atlânticos. Do nascedouro ao desaguamento, ainda que margeando seus leitos, transbordam, surpreendem, multiplicam-se em tantos braços quanto convenham às enxurradas d’água. Dançam seus rituais de expansão e retraimento como expressão mesma de sua dimensão existenciária, ao sabor dos movimentos livres de seus líquidos e peixes, ora cumprindo a sina do que lhes é esperado, ora transgredindo a qualquer script elaborado pelos mais rigorosos manuais científicos. Surpreendem, instigam, inquietam, nutrem e fecundam o chão por onde passam. Os rios de nado, navegação, pescaria, são os mesmos rios de enchentes, invasões, afogamentos. Em seus movimentos infindos, serpenteiam as dores e delícias de serem o que são, malgrado toda tentativa humana frustre de normatizá-los segundo preceitos rigorosos, previsíveis e adequados aos ditames das regras mercadológicas, ou às medianas dos comportamentos não malogrados
.
Em sua pesquisa sobre usuários das políticas públicas de atenção à saúde mental implantadas no Brasil após a reforma psiquiátrica, assistidos pela condução de grupos psicoterápicos peripatéticos, o psicólogo Demétrius França teve a poética intuição de nomear seus parceiros de caminhadas, pela alcunha de rios amazônicos: Taruacá, Jutaí, Içá, Maicuru, Nauta, Coari, Italva, Curuá, Caeté. Nenhuma metáfora poderia ser mais apropriada para simbolizar aquela gente com quem aprendeu, e a quem acompanhou em suas buscas de identidade e resgate de dignidade, entrelaçada ao mundo, com outros. Como rios amazônicos, segundo os modos de ser desses entes simplesmente dados, saíam em caravanas pelas ruas de Brasília, inundando exposições, alagando shopping centers, inquietando os transeuntes por entre as construções de cimento armado, ocupando as vias por onde circulam a gente elegante e sincera
da capital nacional, em completa interação com os dispositivos sociais humanos da contemporaneidade.
Seguindo a intuição metafórica do