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Lucro com dignidade
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E-book239 páginas2 horas

Lucro com dignidade

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Sobre este e-book

Como que os empresários brasileiros, presidentes de empresa, lidam com os dilemas enfrentados em suas decisões, que podem gerar efeitos positivos para um grupo envolvido com a empresa e, por outro lado, ferir os interesses e a dignidade de outros? Num mundo de maior demanda por posturas éticas e morais mais conscientes, estamos sempre ávidos por encontrar exemplos positivos e diferenciá-los daqueles que não contribuem para um mundo mais digno. O papel das empresas é muito importante na construção desse mundo digno e, consequentemente, exemplos que inspirem e, mais do que isso, apresentem práticas concretas da viabilidade da postura ética nos negócios são sempre de grande relevância. Essas e outras questões são desenvolvidas por Marco André Ferreira da Silva neste livro.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2015
ISBN9788581927916
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    Lucro com dignidade - Marco André Ferreira da Silva

    2008

    CAPÍTULO 1

    REFERENCIAL TEÓRICO

    Dilemas de dignidade no âmbito das organizações

    No dicionário de filosofia de Abbagnano o termo dilema, do latim dilemma e do grego dilemma (que significa premissa dupla) é empregado por gramáticos e lógicos a partir do séc. II para indicar raciocínio difícil de solucionar¹⁶. No dicionário de Português Michaelis dilema é uma situação embaraçosa entre duas soluções fatais, ambas difíceis ou penosas¹⁷.

    Dificuldades em identificar dilemas podem gerar riscos para gestão, com preços a serem pagos, tendo em vista a segurança e a reputação do negócio¹⁸. Os gestores apresentam falta de repertório das possibilidades e consequências morais de suas decisões e a habilidade de imaginar estas consequências e soluções. Alguns gestores focados em lidar com o seu papel na organização falham em considerar regras morais simples¹⁹.

    O conteúdo situacional onde ocorrem os dilemas pode estar influenciado pelos sistemas de pensamento que geram dilemas gerenciais e que surgem dentro de um sistema com elementos interdependentes, subsistemas e redes de relacionamento e padrões de interação²⁰. Werhane sugere que o executivo deve suspender o julgamento e compreender uma situação, procurando compreender o modelo mental ou o esquema dominante da situação, e visualizar os possíveis conflitos morais ou dilemas que podem aparecer no contexto ou nos resultados do esquema dominante.

    O executivo com capacidade de lidar com paradoxos e dilemas relacionados aos stakeholders da organização tem condições de construir credibilidade e lidar com as questões de integridade, liderança e estratégia corporativa em relação que é fundamental para a gestão de empresas nos dias de hoje²¹.

    O indivíduo entre a subjetivação e objetivação: a origem dos dilemas

    Para buscar o entendimento de dilemas, precisamos compreender a relação deste indivíduo com a sociedade. Para Berger e Luckmann, o conhecimento social é produzido nos cotidianos informais de sociabilidade, que podem ser entendidos como núcleos de informação socialmente construídos²². A maior parte das informações que estão nesses núcleos é do senso comum, do cotidiano, e tem papel fundamental na educação do indivíduo. Este conhecimento do indivíduo é construído considerando tanto aspectos objetivos, como subjetivos na construção social da realidade²³. Nesse sentido, os autores sustentam que as condições materiais e objetivas se entrelaçam com as condições subjetivas. Ou seja, o indivíduo está envolvido num constante processo educacional da moral e das regras de negócio, porém se relaciona e contribui para construção de um conhecimento social que considera suas subjetividades, história, linguagem e relações sociais num verdadeiro entrelaçamento entre aspectos objetivos e subjetivos em seu cotidiano. A realidade se apresenta a nós na vida cotidiana como um mundo intersubjetivo, o indivíduo participa deste mundo junto com outros²⁴.

    Berger e Luckmann posicionam o conhecimento social na experiência cotidiana. A experiência cotidiana do executivo não é diferente daquela apontada por estes autores, pois o executivo, como indivíduo, traz na sua experiência cotidiana, na sua historicidade e educação, conteúdos sociais que não foram construídos dentro da empresa somados, evidentemente, àqueles conhecimentos adquiridos dentro da empresa²⁵.

    Berger e Luckmann se dedicam a discutir os processos de socialização vivenciados pelo indivíduo, distinguindo entre a socialização primária, em que o indivíduo se torna membro de uma sociedade, e o processo de socialização secundária, o qual introduz um indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo. Toda a construção social do conhecimento do empresário na experiência em conviver com seus pais na infância e na adolescência, na relação com o trabalho e com a comunidade, até sua relação com os filhos, interagindo com uma sociedade em rede e ao mesmo tempo se relacionando com a instituição empresa, constitui o repertório para o empresário representar seu papel. Desta forma, podemos considerar que não é possível reduzir o executivo à sua experiência empresarial, mesmo sendo esta a maior parte do seu espaço cotidiano²⁶.

    Esse conhecimento e experiências são baseados na dinâmica da relação do objetivo e do subjetivo na experiência cotidiana, onde, por exemplo, as rupturas das identidades ou o restabelecimento dos ciclos de contato advém, muitas vezes, a partir de situações que criam condições para novas ressocializações com forte carga afetiva²⁷. O empresário se relaciona com sua função como objeto, ao mesmo tempo em que projeta o seu mundo subjetivo e experiências históricas nesse relacionamento.

    Sobre a realidade objetiva, Berger e Luckmann assinalam que as instituições são partilhadas e construídas no curso de uma história²⁸. Nesse sentido, o empresário é o sujeito da construção dessa realidade e não apenas influenciado por ela.

    A cristalização das instituições, segundo Berger e Luckmann, ocorre da seguinte forma: padrões de conduta; apropriação da conduta do outro fazendo dela modelo padrão de condutas reciprocamente tipificadas; situação social duradoura com ações individuais entrelaçadas (reciprocamente tipificadas); e existência de instituições históricas experimentadas como independentes dos indivíduos que corporificam instituições que adquirem realidade própria na condição de fato exterior e coercitivo²⁹. Berger e Luckmann afirmam que […] os significados institucionais devem ser impressos poderosa e inesquecivelmente na consciência do indivíduo por meio de um processo educacional ou por meios coercitivos³⁰.

    Por outro lado, a história do indivíduo e por causa da imperfeição da socialização³¹ existe espaço para subjetivação do indivíduo que pode se deparar com uma percepção divergente da tipificação institucional. Berger e Luckmann apontam que a objetividade do mundo institucional é construída e produzida pelo homem, portanto exposta à subjetividade do indivíduo³². À luz de Berger e Luckmann quanto mais for cristalizada a institucionalização e o propósito das instituições e isto estiver em desacordo com o que o indivíduo pensa, maior será a chance para emergir o dilema.

    Para Berger e Luckmann o indivíduo amplia a sua capacidade de enfrentar a complexidade do mundo à medida que amplia sua capacidade de conviver com o pluralismo cultural, normalmente encontrado em ambiente de rápida mudança social³³. Para estes autores, o pluralismo ajuda a diminuir as resistências do conservadorismo ou definições tradicionais da realidade. Diante do pluralismo, o indivíduo pode se sentir à vontade com a diversidade social, pois tem o seu repertório ampliado para lidar com o mundo social³⁴. Portanto, a meu ver, a convivência como pluralismo cultural e social amplia a capacidade de lidar com os dilemas.

    Outro motivo para o surgimento do dilema na escolha estratégica pelo empresário é a velocidade das transformações sociais que mudam as nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós mesmos como sujeitos integrados. Hall argumenta que as identidades modernas estão sendo descentradas³⁵, fragmentadas pelo processo de globalização. A crise de identidade para o autor faz parte de um processo mais amplo de deslocamento de estruturas e processos das sociedades da era industrial fordista, abalando os quadros referenciais que ofereciam aos indivíduos uma ancoragem no mundo social.

    Portanto, o dilema pode se apresentar na busca de ser um sujeito integrado a partir de um processo de defesa do seu self e autoestima. Por um lado temos as forças de descentramento³⁶ por outro lado, a tensão da busca da integração do self como defesa do ego. Nesses momentos são identificados os dilemas, pois o indivíduo é confrontado com abordagens e direções diferentes a respeito do mesmo evento.

    Se considerarmos as indicações de Hall, o deslocamento de estruturas referenciais do indivíduo baseadas no fordismo, parte da identidade do indivíduo, é uma realidade decorrente da globalização³⁷. O indivíduo, dentro de um processo dinâmico de busca por novas referências e defesa do ego e identidade, irá enfrentar dilemas e terá que lidar com questões do tipo: Qual a melhor escolha para que tanto a organização que ele representa quanto as pessoas e comunidades e pessoas impactadas sejam dignamente consideradas? A direção desta questão está voltada para a organização, as pessoas e as comunidades envolvidas, mas também como defesa do ego do indivíduo enquanto empresário. Por exemplo: se o empresário acredita que deve contribuir para maximizar a riqueza do acionista a qualquer custo e surgirem pressões sociais para que ele considere os impactos sobre os stakeholders em suas escolhas e isso afetar a empresa, ele pode se ver em um

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