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Ação Popular em Mauá: Resistência e Solidariedade em Tempos de Ditadura
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E-book268 páginas3 horas

Ação Popular em Mauá: Resistência e Solidariedade em Tempos de Ditadura

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Sobre este e-book

A análise das experiências de solidariedade e política tornou-se fio condutor para a compreensão do cotidiano de um período de grande efervescência do ABC Paulista. O nascimento dos bairros, a sobrevivência diária, a resistência contra o autoritarismo, o sonho da revolução comunista. Através das memórias de militantes e simpatizantes, bem como, por meio de uma leitura a contrapelo de documentos produzidos pelos órgãos oficiais, a autora tece a história da Ação Popular (AP), especificamente da Célula Base – 22 sob a liderança Hebert José de Souza.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de nov. de 2017
ISBN9788546210640
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    Ação Popular em Mauá - Sandra Ap. Portuense de Carvalho

    Brasileiros

    Prefácio

    A publicação deste livro, escrito inicialmente para uma dissertação de mestrado do Programa de Estudos Pós-Graduados em História Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que teve como orientadora a Professora Maria do Rosário da Cunha Peixoto, é muito bem-vinda.

    A pesquisadora construiu a temática deste estudo partindo de questões e indagações postas na sua trajetória de vida profissional, de professora atenta e inquieta, que a fazia indagar sobre o silêncio dos livros didáticos, voltados para alunos do Ensino Médio, que tratavam do período da ditadura civil-militar sem, contudo, apresentar os personagens que participaram dessa história na região do ABC Paulista.

    Com base no processo de pesquisa e de problematização das questões enfrentadas, Sandra Aparecida Portuense de Carvalho estabelecera o recorte espaço-temporal que possibilitaria aprofundar os estudos com vistas à compreensão do cotidiano e das experiências vividas por um grupo de moradores do Jardim Zaíra, no município de Mauá, entre os anos de 1958 e 1970 (Trecho da Introdução). Tal delimitação tem a ver com questões relativas à formação do bairro, bem como com situações vividas por seus moradores na busca de superar as carências de infraestrutura e de necessidades de toda a ordem no processo de formação do Jardim Zaíra. Questões essas que viriam a se cruzar com as lutas de resistência desenvolvidas pela Ação Popular no bairro, em função do golpe civil-militar de 1964. Desse modo, a baliza mais recuada no tempo tem como suporte o processo de loteamento e povoamento do bairro Jardim Zaíra, iniciado em 1958; enquanto que o marco temporal mais recente refere-se ao ano em que se deu a prisão e desmantelamento da Célula-Base-22.

    Tendo coletado depoimentos orais de pessoas que viveram aquelas experiências, o estudo traz interessante reflexão acerca das fronteiras existentes entre memória e história, como também sobre as narrativas orais, sua transcrição e análise considerando que o relembrar se dá no presente e comporta a dimensão do vivido e dos sentidos que estão, por isso mesmo, em constante reavaliação em função desse outro tempo de convivência com memórias das experiências passadas.

    Apoiando-se nos estudos de Ecléa Bosi, Maurice Halbwach, Raphael Samuel e Alessandro Portelli, entre outras referências teóricas, os depoimentos orais foram apreendidos como fontes históricas que revelam os mais diversos aspectos do vivido, possibilitando analisar fatores sociais que estiveram presentes, a maneira com que se entrelaçaram à vida cotidiana e o modo como foram relembrados por aquelas pessoas que participaram dos acontecimentos, as quais cederam seus depoimentos orais. Sem resvalar na ingênua visão que busca conhecer a história tal qual ela realmente aconteceu, a pesquisadora afirma que não se trata de recuperar o que foi vivido pelos [seus] entrevistados, sua experiência exata; de outro modo, busca nos relatos dos depoentes suas impressões sobre o modo como cada um viveu, sendo estas influenciadas por sentimentos atuais, pelo meio em que vivem e principalmente pela sociedade (Trechos da Introdução). Desse modo, Sandra Aparecida Portuense de Carvalho faz uma bela reflexão sobre história oral e memória, pensadas de modo articulado, ressaltando os limites das relações que se estabelecem entre as temporalidades da memória e da história, que são próximas e se imiscuem uma na outra, porém deixando claras as suas diferenças e especificidades. Daí a importância que a história oral e a memória adquirem neste estudo, uma vez que ambas são entendidas como uma forma de conhecer o social.

    As entrevistas abarcaram histórias de moradores que atuaram de diferentes formas e militaram no bairro Jardim Zaíra, no Movimento Estudantil, os quais participaram do processo de Integração na Produção ou como representantes da Ação Popular, incluindo uma mãe que apresentava o olhar externo a respeito do movimento e da participação de seus filhos (Trechos da Introdução). Além dos depoimentos criteriosamente selecionados, o conjunto documental que embasou esta pesquisa contou também com outras fontes documentais e iconográficas, com Inquéritos Policiais Militares produzidos por órgãos de repressão e com processos arquivados no Superior Tribunal Militar.

    Os fragmentos de memórias forneceram-lhe informações a partir da perspectiva dos que viveram aquele movimento, suas estratégias de lutas e suas práticas de solidariedade; enquanto que os documentos textuais produzidos por órgãos do regime militar possibilitaram a análise acerca da visão dos órgãos de repressão e de suas práticas de criminalização dos militantes da Ação Popular. Nesse sentido, a historiadora realiza uma análise ao mesmo tempo metódica e criteriosa, revelando grande acuidade e sensibilidade em lidar com materiais variados produzidos por diferentes agentes sociais, que expressam intenções e sentidos diversos, mas também antagônicos, especialmente quando se trata de documentação produzida pela ditadura civil-militar.

    De modo que o título escolhido, Ação Popular em Mauá – Resistência e Solidariedade em Tempos de Ditadura, expressa a importância do estudo que tem entre os seus propósitos o de promover o resgate histórico de ex-presos e perseguidos políticos (Trecho da Introdução) que passaram pela ditadura civil-militar, buscando compreender as experiências dos sujeitos em sua dimensão coletiva.

    Esta publicação é de grande interesse, principalmente por trazer ao domínio público diversos aspectos pertinentes à luta social dos moradores do Jardim Zaíra. Em seu primeiro capítulo, denominado de Experiências de solidariedade, religião e política no Jardim Zaíra entre os anos de 1958 e 1968, Sandra Aparecida Portuense de Carvalho desvenda a trama envolvendo diversos sujeitos sociais com trajetórias distintas, vários movimentos sociais, além da presença das diversas ideologias de esquerda, como as do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Assim, busca apreender o processo de formação política e ideológica, organizado por militantes do PCB, como estratégia de construção de uma consciência de luta de classes que pudesse fazer frente às desigualdades sociais que caracterizavam aquele bairro operário.

    Pela visão de outro olhar, aborda as práticas de solidariedade e ação católica desenvolvidas no Jardim Zaíra, então centralizadas pela Igreja Católica, que contribuiriam de modo significativo para o avanço das lutas por urbanização do bairro operário, já que propiciavam uma maior representatividade junto ao poder público nos momentos de reivindicação por melhores condições de vida e de sobrevivência. Nessa perspectiva, também seria fundada a Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Zaíra, assim, além da realização de reuniões para reivindicar infraestrutura urbana, os moradores também passaram a reivindicar a construção de uma paróquia para o bairro, que viria a ser construída numa ação coletiva que contou com a participação de vários moradores e do próprio padre que trabalhava no Jardim Zaíra.

    A autora tece sua análise seguindo os vários fios das tramas que se entrelaçavam na vida cotidiana dos moradores, revelando como necessidades básicas e reivindicações de infraestrutura se articulavam com as práticas de evangelização católica, num constante processo de politização que se desenrolava no dia a dia do bairro operário.

    Ao aprofundar a análise sobre a Ação Popular – AP, a autora aborda desde a sua fundação (1962), as transformações políticas verificadas em seu processo de desenvolvimento, até sua chegada ao Jardim Zaíra (1968), onde militantes desenvolveram a experiência concreta de se integrarem na produção e no meio social, quando passaram a viver e a conviver com os problemas da população trabalhadora e oprimida para juntos lutarem por mudanças. Nessa trajetória, avalia as formulações e reformulações teóricas que orientavam as ações da AP, suas discussões e tensões internas num constante processo de formulação teórica, que tanto orientava as práticas dos militantes da AP quanto era delas resultante, num processo cada vez maior de aproximação do campo popular, que levaria à prática da Integração na Produção, estratégia revolucionária que implicava viver, trabalhar e comer com o operariado (Trechos do Cap. 2).

    Cabe destacar a preocupação da historiadora em focalizar as lutas e reivindicações dos moradores por melhorias no bairro Jardim Zaíra, por infraestrutura básica, por posto médico, enfim, as lutas travadas no processo de urbanização do bairro, mostrando como essas dimensões do viver cotidiano vão se entrecruzar com as lutas por direitos dos trabalhadores em função da industrialização. Numa leitura atenta da realidade, a autora recupera a influência de diversas forças de esquerda presentes na região, como a do comunismo (PCB) em período anterior à própria Ação Católica (década de 1960), bem como acompanha como as frentes de lutas se ampliariam com a participação de movimentos ligados à Igreja Católica – a JOC, a JUC e a ACO –, muitas das quais viriam a se integrar à Ação Popular – AP. Dessa forma, possibilita-nos perceber as várias dimensões das lutas presentes no cotidiano dos moradores do Jardim Zaíra e que passariam a servir de base e se transformariam na luta de resistência contra a ditadura civil-militar. Ou seja, este estudo nos permite acompanhar a mudança ocorrida na natureza da própria luta: que passa de lutas por reivindicações a direitos básicos para a luta de resistência política à ditadura civil-militar.

    Por fim, Sandra Aparecida Portuense de Carvalho analisa o que essas experiências significaram para seus participantes em termos de viver na clandestinidade, desenvolver estratégias de luta e experimentar situações de extrema solidariedade de classe, realizando conquistas, mas também sendo alcançados pelas forças da repressão que, a partir de 1969, passaram a intensificar a vigilância das polícias civil e militar contra os subversivos e os grupos de esquerda, o que resultaria em prisões e torturas até prenderem os membros da Célula-Base-22.

    Concluindo, cabe assinalar que a leitura deste livro é densa e por vezes tensa, dada, sobretudo, a atualidade das problemáticas nele tratadas, bem como em função da seriedade e sensibilidade com que as problemáticas são abordadas. Mas, à medida que avançamos na leitura e nos familiarizamos com a narrativa história, apercebemo-nos o quanto de empenho de pesquisas e análises foi dispendido no processo de produção desta obra, em termos de cuidados com o explicitar as referências teóricas; no constante diálogo estabelecido com a historiografia pertinente ao tema; na frequente problematização das fontes; e nos cuidados com a narrativa histórica precisa e límpida. Enfim, chega ao grande público o trabalho de uma historiadora que nos brinda com uma publicação que, de um lado, representa importante contribuição no resgate de memórias silenciadas que permanecem clamando por justiça histórica e social; e, de outro lado, encerra com depoimentos de pessoas que viveram essas experiências e continuam a ter esperança de que um dia tudo isso vai se transformar.

    Setembro de 2017.

    Mirna Busse Pereira

    Doutora em História – PUC-SP

    Introdução

    Fruto de minha dissertação de mestrado, esta obra é parte de um caminho no qual muitas pessoas se envolveram, tanto como sujeitos históricos de um passado recente como agentes ativos de um presente em constante transformação. Sua publicação em 2017 ocorre em meio a um momento conturbado da história brasileira, momento este que nos leva a refletir sobre a importância da participação social na constante luta pela democracia.

    Em meio à polarização popular, incentivada através das mídias sociais, disputas ideológicas entre a direita e a esquerda tornam-se cada vez mais acaloradas, de modo que até as mínimas abordagens críticas sobre movimentos sociais são tomadas pelo extremismo direitista como ações subversivas de terrorismo, colocando em risco nossa tão frágil democracia e nos levando a rememorar os horrores do período ditatorial, bem como as estratégias de resistência a este, abordados neste trabalho.

    Diante disso, compreender as memórias de sujeitos históricos, bem como analisar a contrapelo os documentos produzidos pelos órgãos oficiais em uma perspectiva de tempo presente, nos leva à compreensão de nós mesmos enquanto sujeitos políticos, além de elucidar as diversas experiências táticas utilizadas.

    Nessa perspectiva, a ideia original da pesquisa surgiu durante as aulas de História que lecionava na rede estadual e particular de ensino nos municípios de Mauá e Santo André no ano de 2009, pois durante as explanações sobre ditadura militar no Brasil, para os alunos dos 3º anos do Ensino Médio, sentia falta, nos livros didáticos, dos personagens que fizeram parte da História da região do ABC Paulista¹ e tornaram-na tão combativa frente ao militarismo, durante as décadas de 60, 70 e 80.

    Por trabalhar diretamente com muitos filhos de operários, esse período da história, cujos pais e avós me pareciam silenciados, proporcionou-me um crescente incômodo. Onde estavam aqueles personagens? A combatividade da região teria surgido somente ao final dos anos 70? Onde procurar resposta? A quem ouvir? Falariam os silenciados de outrora?

    No ano de 2010, iniciei um trabalho com um grupo de alunos do Colégio Pentágono² sobre movimentos sociais de resistência no ABC durante a ditadura civil-militar do Brasil. Contei com a colaboração da professora de Geografia³ e ela me disse que trabalhava com um senhor que era militante ativo contra a ditadura militar. Tratava-se de Getúlio Miguel de Souza.⁴

    Ela me contou que, entre os anos de 1968 e 1970, o senhor Getúlio fez parte de uma organização de esquerda chamada Ação Popular⁵, da qual participou ativamente em Mauá e no ABC Paulista. Relatou também que, devido ao seu engajamento, havia sido preso e barbaramente torturado.

    Na ocasião, pedi para conhecê-lo, entrevistar e convidar para ministrar uma palestra para meus alunos. Acreditei que, desta forma, ele poderia contar suas memórias sobre sua luta e resistência naquele período.

    No primeiro contato com senhor Getúlio, fui sabatinada.⁶ Ele me fez uma lista de questões para saber das minhas intenções e também sobre o público para quem falaria posteriormente. Demonstrou receio diante de meu convite, contou-me que era uma pessoa de pouco estudo, de palavras simples e que não estava acostumado a falar em público, tampouco ser entrevistado.⁷ Apesar de sua apreensão, não se recusou. Aos poucos foi criando confiança e pude levá-lo para ministrar outras duas palestras.

    Naquele mesmo ano, em maio, fui convidada a participar, na Sociedade Amigos do bairro do jardim Zaíra, de uma homenagem às mães dos militantes, que, como ele, lutaram contra o governo entre os anos de 1964 e 1970. Percebi, então, que se tratava de uma comemoração, organizada pelo Grupo de Memória e Resistência do Povo de Mauá e Região e tinha como um dos objetivos promover o resgate histórico de ex-presos e perseguidos políticos, como eles se intitulam. Essa organização tem por finalidade lutar por seus direitos, promover debates, palestras em escolas e universidades, além do resgate das histórias desses personagens vivos que passaram pela ditadura civil-militar.

    Em 17 de dezembro de 2010, participei de um ato público realizado na Câmara dos Vereadores de Mauá, que homenageou aqueles que haviam sido presos políticos da Região do ABC. Esse ato também foi organizado pelo Grupo de Memória e contou com a participação de representantes de várias entidades de defesa dos direitos humanos, além dos prefeitos de Mauá e Ribeirão Pires.

    Desta forma, a festividade e o ato realizados na Câmara representam um dos meios de rememorar sua história, também demonstrar sua perspectiva no presente e ação política em prol de um futuro mais digno e democrático.

    Após contatos com senhor Getúlio e a observação das ações do Grupo de Memória, tive conhecimento da relação entre os militantes da AP de Mauá e um dos líderes, o sociólogo Hebert José de Souza – Betinho.

    Betinho, como era chamado, morou e liderou a AP durante dois anos naquele município. Em 1971, após a intensificação da repressão por parte do regime militar instaurado no Brasil, exilou-se no Chile, depois Canadá e México, retornando ao país após a Anistia em 1979. Após esse período, tornou-se conhecido nacionalmente por dedicar-se à luta pela reforma agrária e pelo projeto Ação da Cidadania contra Fome, a Miséria e Pela vida⁸, movimento que mobilizou a sociedade brasileira com o intuito de enfrentar a pobreza e as desigualdades sociais.

    A partir da narrativa do senhor Getúlio, podemos ampliar o conhecimento acerca da história de outros sujeitos, militantes da AP de Mauá no período da ditadura civil-militar. Percebi, posteriormente, que os depoimentos desses militantes e suas memórias se intercruzavam com o processo de urbanização do bairro onde moravam, o Jardim Zaíra. Tomei conhecimento, por meio das entrevistas, que alguns padres tiveram papel importante na união daqueles moradores em prol das melhorias do bairro e, posteriormente, na politização dos moradores. Faziam isso por meio de ações de solidariedade, ensinamentos cristãos e orientação política.

    Diante disso, vários questionamentos foram emergindo. O primeiro se relacionava ao fato de tentar compreender a luta daqueles sujeitos em um período anterior à chegada da AP ao Jardim Zaíra, município de Mauá. Como articulavam suas lutas logo que chegaram ao bairro? Qual o papel da Igreja Católica na articulação daquele povo? Houve outras influências ideológicas que contribuíram para a formação daquelas pessoas?

    Num segundo momento, ao aprofundar as pesquisas, tornou-se necessário compreender as razões que trouxeram os membros da AP ao bairro. De onde vieram? Por que vieram? Como atuaram durante o tempo em que estiveram lá? Como suas experiências se entrelaçaram às experiências dos moradores do bairro operário? Quais as memórias que têm daquele período? Tratava-se, então, da necessidade de compreender por meio dos fragmentos orais as ações daquele movimento social no bairro operário.

    Em 2011, ao ingressar no curso de Mestrado, os questionamentos foram lapidados, diante das contribuições das leituras de textos de vários autores que tratam da temática dos movimentos sociais. Esses textos contribuíram na reformulação dos meus fundamentos teóricos. Neste caso, a leitura de autores como Edward P. Thompson⁹ e Raymond Willians¹⁰ possibilitou um olhar sobre os sujeitos envolvidos nesse contexto, do mesmo modo, auxiliou na compreensão das experiências e das relações sociais oriundas desse processo. Diante disso, este estudo não pretende compreender cada sujeito em sua individualidade, mas a partir das experiências vividas coletivamente, seus anseios, suas lutas, suas ações de resistência, seus planos, os significados que dão no tempo presente às lutas travadas no passado, ou seja, sua experiência social.¹¹

    A princípio, percorri sem saber ao certo onde as pesquisas me levariam, deixei que elas falassem e me mostrassem o caminho. Enfrentei várias dificuldades, entre elas, o fato de me tornar pesquisadora e abandonar a suposta neutralidade que eu, enquanto professora, achava que tinha na forma de transmitir os acontecimentos aos alunos. Ao romper paradigmas pessoais, o posicionamento político fez-se necessário tanto na análise das fontes quanto na construção do discurso acadêmico.

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