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Sonho de Uma Noite Estrelada: Nadar com Fantasmas – livro dois
Sonho de Uma Noite Estrelada: Nadar com Fantasmas – livro dois
Sonho de Uma Noite Estrelada: Nadar com Fantasmas – livro dois
E-book313 páginas4 horas

Sonho de Uma Noite Estrelada: Nadar com Fantasmas – livro dois

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Sobre este e-book

Perdido na vida e incapaz de encontrar um amor honesto e duradouro, Harry Fisher conhece uma estranha glamourosa e sedutora em Londres, que o ajuda a navegar pelas águas incertas do desejo e da paixão. Embarcar num caso amoroso com ela leva-o a lugares que ele nunca soube que existiam.

Quando os bombardeamentos arrasam a cidade, Harry sabe que deve lutar pelo que é certo, defendendo o seu país. Indo para Malta, uma ilha perigosa que está a ser  bombardeada e sob cerco, Harry conhece uma enfermeira, Nan, que lhe mostra o que é o verdadeiro amor e devoção. Apaixonar-se demonstra ser mais perigoso do que a guerra que ele está a enfrentar. Quando a tragédia acontece, conseguirá Harry juntar os pedaços da sua vida ou passará o resto da vida a sonhar com um amor perdido?

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento2 de jun. de 2020
ISBN9781071546307
Sonho de Uma Noite Estrelada: Nadar com Fantasmas – livro dois

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    Sonho de Uma Noite Estrelada - laurence fisher

    SONHO DE UMA NOITE ESTRELADA

    Laurence E. Fisher

    Para os meus pais. Nan. Alison.

    Envolva a sua alma em amor.

    T. Yorke

    CAPÍTULO UM

    Ela estava em pé, sozinha, à minha espera. Subi os degraus lentamente, procurando recuperar o fôlego, a observá-la e com receio de pestanejar. O vestido que usava, de um azul pálido de um céu de inverno, estava a ser fustigado firmemente contra o corpo dela, com os cabelos negros a ondular para a frente. Reparei na magreza das suas pernas, no arco gracioso das suas costas. O mar cintilante, que tanto cativava a atenção dela, movia-se e arqueava-se nos meus ouvidos. Tinham decorridos dois dias desde que nos conhecêramos, e eu já sentia imenso a falta dela.

    Nan permanecia com uma perna dobrada atrás da outra, ambos os cotovelos sobre a superfície suave da parede. Estava inclinada para a frente. Dois pombos apareceram de repente vindos do mar abaixo e ela endireitou-se repentinamente, surpreendida, as mãos agora a deslizarem de forma suave e rítmica sobre a pedra quente. À distância, a cúpula de uma catedral emitia intensos raios solares dourados.

    Comecei a atravessar a estrada e parecia que Nan sabia exatamente onde eu estava. Voltou-se rapidamente, abrindo e afastando os braços do corpo, fazendo a sombra de uma cruz. Ela sorriu e foi então que eu tive a certeza. Corri para ela, para os seus braços, e para a nossa nova vida.

    — É tão ver-te, Harry. Pensei que pudesses ter-te perdido. — Ela falou num tom levemente apressado, um pouco nervosa.

    — Não consegui escapar do hospital. — Pressionei o meu rosto contra os cabelos dela, afundando-me neles, aspirando o aroma quente e familiar a almíscar. Os braços dela estreitaram-se contra as minhas costas. — Não esperaste muito, pois não?

    — Despachei-me cedo, por isso pensei em vir de qualquer maneira. O mar é tão maravilhoso, podia ficar a contemplá-lo durante horas. Mas estou feliz que estejas qui agora. — Ela apertou os meus ombros. — Anda, vou levar-te a um sítio diferente hoje.

    As nossas mãos encontraram-se e os dedos entrelaçaram-se como se fizessem isto há anos, enquanto Nan me conduzia ao antigo forte.

    — Então, como foi o teu dia, Harry?

    — O costume, ainda estou a preparar o hospital para a ação. Se nunca mais tiver de olear outra armação de cama, serei um homem feliz. — A gargalhada dela irrompeu como uma explosão de alegria. — Sabes como é. E o odor do ácido carbólico. Ugh! Parece que me está a queimar permanentemente as narinas, não consigo libertar-me dele.

    — Podia ser pior, sabes. Eu estive na sala de operações; duas vesículas biliares, um apêndice. Um dos soldados também era muito jovem e estava apavorado. Senti pena dele.

    — Nem pensar. Ele tem sorte, Nan, por te ter a cuidar dele.

    Ela sorriu, com os olhos brilhantes, e depois inclinou-se para me beijar na face. — Fizeste a barba?

    — Mesmo agora. Eu prometi-te, não foi? Não posso continuar a arranhar-te toda.

    Era uma resposta otimista. Pelo menos, depois de ter conhecido Nan, eu estava a começar a voltar a sentir esperança.

    Kingsway, a rua principal, encontrava-se à nossa direita, mas nós ignorámo-la e continuámos a caminhar, as pedras irregulares do pavimento fazendo com que chocássemos frequentemente um com o outro. Passámos rapidamente pelo antigo forte gigantesco, agora equipado e armado, e seguimos para além dele, para uma grande quantidade de apartamentos e varandas sombreados. O ar empoeirado parecia queimado, excessivamente fermentado. Observei as aves marinhas brancas a efetuarem espirais no céu.

    — Então, para onde me levas, Nan?

    — Para o Grand Harbour. É onde tu deves ter chegado.

    Estremeci involuntariamente com a lembrança dessa viagem. Tinha havido demasiados momentos de perigo, de aventura, como dissera o Capitão, que haviam estado próximos de mais para que nos pudéssemos sentir em segurança. Havia sido o meu primeiro contacto a sério com a guerra, e eu sentia-me feliz por os meus deveres como enfermeiro me terem mantido ocupado. Tinha sido a primeira vez que alguém morrera nos meus braços; jamais poderia esquecê-lo.

    — O que se passa, Harry? — Nan reparou na mudança que se operara na minha expressão.

    — Estava-me a lembrar de quando cheguei aqui. Não foi nada agradável.

    Ela parou-me e nós beijámo-nos, um beijo como deve ser, as minhas mãos soltas sobre as costas dela. Havia uma bondade óbvia em Nan, uma sensibilidade, que se refletia nos seus olhos. — Hoje será melhor, prometo — disse ela. — Agora estás comigo.

    Alguns minutos mais tarde, tínhamos descido os degraus de pedra e estávamos sentados em rochas enormes com vista para o porto.

    — Quem me dera que tivesses visto isto antes, Harry. Era maravilhoso.

    O Grand Harbour continuava a ter um aspeto magnificente. Era enorme, tão impressionante como a cidade que circundava, mas eu agora reparava nos mastros retorcidos dos navios afundados que se projetavam de debaixo da superfície da água verde-garrafa. Não tinha reparado neles com a excitação da chegada. Para onde quer que eu olhasse, só via ruína e destruição. A entrada do porto estava parcialmente bloqueada pelos barcos italianos; do outro lado da água, Vittoriosa e Senglea pareciam ter colapsado. Crateras e prédios caídos rodeavam-nos, juntamente com vigas de madeira quebradas que se projetavam como membros amputados. As poucas estradas que permaneciam transitáveis estavam seriamente danificadas, todas as outras obstruídas por enormes pilhas de entulho.

    — O que aconteceu? — Aquela era a área mais atingida que eu já tinha visto.

    — Muito disto foi feito quando o Illustrious estava aqui, Harry. Foi terrível, e eles ainda não conseguiram afundá-lo. Os ataques pareciam não ter fim. Nós conseguíamos ouvi-los constantemente, no hospital. Não consegui dormir durante dias, andávamos tão atarefados, mas, pelo menos, isso veio unir as pessoas, o que é bom.

    — Deve ter sido incrível. Um verdadeiro inferno. — Eu esperava que o pior dos bombardeamentos tivesse terminado, embora o major tivesse sugerido o contrário.

    — Foi mesmo. Este é o meu país, Harry. Detesto vê-lo assim.

    — Percebo o que queres dizer. Londres também foi arrasada.

    — Claro. — Ela tocou-me no braço. — Nós vimos um filme acerca disso. Vamos falar de outra coisa, está bem?

    As palavras agora caíam dos nossos lábios na sua pressa de escapar, e eu fiquei a saber muito mais sobre Nan. Eu estava com pressa de saber tudo o mais rápido possível.

    O nome de batismo dela era Antoinette, como uma das santas católicas, mas ninguém, à exceção da família mais próxima a tratava assim. E mesmo quando o faziam era apenas quando ela se metia em sarilhos. Ela era nativa da ilha e, como a maioria das pessoas, ferozmente pró-britânica. Eles temiam a forma como os alemães ou os italianos podiam vir a tratá-los.

    A família dela ainda estava em Marsaxlokk, na costa leste, e essa aldeia também estava a ser atacada. O pai dela era pescador, tal como o pai do pai dele. A mãe dela cuidava da casa e de todos os seus habitantes. Nan disse-me que ela era uma cozinheira fantástica. Ela tinha uma irmã, Theresa, que tinha catorze anos e que cantava muito bem. O seu irmão, Noel, era um viciado em livros e tocava trompete. O sonho dele era viajar pelo mundo, explicou ela.

    Durante vários meses, Nan havia trabalhado nas enfermarias cirúrgicas de Valletta. Ela gostava do que fazia, mas não durante o pico dos ataques; os ferimentos sofridos eram terríveis, sem sentido, de partir o coração. Ela sentia a falta de viver com a família, de uma vida pacífica. Nan sorria frequentemente, passando os dedos longos e delicados pelos cabelos na altura dos ombros enquanto o vento os atirava repetidamente sobre o seu rosto. Não usava maquilhagem, ao contrário da maioria das mulheres que eu tinha visto na cidade. Fiquei feliz com isso; não a teria deixado mais bonita.

    Nan explicou que geralmente evitava o Gut, mas fora persuadida a aventurar-se a sair no sábado à noite.

    — Antes da guerra, eu não saía à noite. Não queria. Tinha uma vida tranquila, mas adorava-a. Nada como vocês britânicos, que estão sempre a beber como peixes! — Ela empurrou uma mão contra o meu peito, a rir. — A sério, eu não queria fazer mais nada. Era uma vida boa.

    — Bem, estou feliz por teres saído! E foi apenas a segunda vez que lá fui, sabias, mas Dicky disse-me que eu iria gostar de ti.

    — Ele disse-me o mesmo de ti.

    O vestido de Nan tinha-se levantado para revelar os seus joelhos. Quando poisei a mão na perna dela e ela não se afastou, sabia que faríamos amor naquela noite. Permanecemos ali sentados, bem encostados um ao outro, a observar o brilho e a cintilação das ondas. Passei um braço sobre os seus ombros e beijámo-nos novamente, e depois voltámos a nossa atenção de novo para o mar. Não havia mais ninguém por perto, sendo o único som o da água a embater nas rochas. Eu senti-me muito relaxado. Aqueles momentos de silêncio não eram nada desconfortáveis.

    — Depressa, Harry. — Foi Nan quem deu um pulo, obrigando-me a pôr de pé. — Temos de voltar para a Fountain Street.

    — Porquê? Para quê?

    — O pôr do sol, é claro. Não podes deixar de o ver.

    De mãos dadas, corremos de volta para o local onde nos encontráramos, enquanto a escuridão azul se instalava precocemente. Luzes cor de laranja tremeluzentes começavam a tornar-se visíveis no interior de alguns dos apartamentos de persianas fechadas, estando o sol agora a lançar um brilho de areia quente sobre os edifícios. Chegámos a Fountain Street mesmo a tempo de ver a água do mar a arrebatar toda a luz do dia restante, tornando-se uma opala pálida, antes de ter uma aparência de estar adormecida. O sorriso de Nan cintilava como uma estrela na escuridão e eu tinha medo de falar, relutante em quebrar aquele feitiço.

    — Não queres ir comigo a um sítio, Harry?

    — Onde? — Obviamente, ela esperava uma resposta.

    — Aqui perto? Sábado?

    — Sim! O arco.

    Foi ali que demos o nosso primeiro beijo, dois dias antes. Um beijo que mudou tudo para mim. Começámos a caminhar pela rua St. Sebastian, contornando a beira do mar, em direção ao poste de armas. Um calor confortável permanecia no ar e nós caminhámos devagar, sem pressa, enquanto o dia dava lugar a uma noite repentina.

    — Isto antes também era diferente — explicou Nan, repousando a cabeça no meu ombro. — Havia aqui um farol, era muito melhor. É assim que gosto de pensar nisto.

    Virámos uma esquina, os três arcos quase invisíveis na densa obscuridade. Sob o mais distante, sob o ventre frio de pedra, as nossas línguas encontraram-se timidamente, procurando-se, conhecendo-se. Eu podia sentir a parte de trás dos dentes da frente dela, os sulcos quentes e húmidos do palato. Eu não queria deixá-la ir. Eu não queria sair dali.

    — Tu — sussurrou ela. — De onde é que apareceste?

    Eu não sabia como responder.

    Nan tinha outro plano para a nossa noite, quando mais tarde visitámos um pequeno café que ela havia descoberto na Merchants Street.

    — Eu nunca comi ali, mas parece-me tão bom de cada vez que aqui passo. Nunca tive ninguém para me levar lá — explicou ela.

    O ambiente silencioso e digno dessa rua era uma mudança bem-vinda na multidão sufocante do Strait e do Gut. Não passámos por ninguém; não havia multidões de soldados bêbados, nem grupos de mulheres pintadas, e o interior do café estava vazio.

    — Não tinhas de reservar um restaurante só para nós — disse eu na brincadeira, encantado ao vê-la sorrir. Ela parecia tão pura, tão adorável e boa de mais para um homem como eu. Eu nunca tinha conhecido alguém para comparar com Nan.

    A nossa mesa estava decorada com um único girassol num vaso azul marinho, pinturas brilhantes da ilha adornavam as paredes. Estava impecavelmente limpo, a proprietária era uma mulher coquete e orgulhosa, habilmente ajudada pela sua filha. Havia seis mesas bem juntas, a cozinha escondida na parte de trás. O odor da comida caseira era delicioso.

    Eu pedi o prato do dia, peixe, que revelou ser um generoso pedaço de atum, e Nan comeu ravioli caseiro. Enquanto eu desfrutava de uma garrafa de cerveja, ela escolheu beber limonada. Eu nunca a tinha visto tocar numa gota de álcool, o que era incomum na ilha. Tínhamos sempre tema de conversa, e as nossas mãos encontraram-se sobre a mesa.

    — Estava ótimo Nan, foi a melhor refeição que comi desde há séculos. — Os meus olhos captaram a fina corrente de ouro em volta do pescoço dela, de que eu me recordava tão bem do fim de semana. — O que significa o teu fio?

    Ela soltou uma das minhas mãos, pegando na corrente, e eu vi a marca de nascença no seu peito. O meu coração deu um pulo, provocado por um desejo repentino, enquanto Nan retirava uma cruz de ouro de algum lugar perto dos seus seios.

    — Eu sou católica, Harry. Eu uso-a sempre.

    A noite estava a ser perfeita e foi com alguma relutância que escoltei Nan de regresso ao seu quarto. Tentei andar o mais devagar possível, escolhendo uma rota que eu sabia estar longe de ser direta. Ainda tinha muito para lhe dizer, o tempo passava tão depressa. Quando me inclinei para lhe dar um beijo de boa noite, ela colocou uma mão firmemente no meu peito.

    — Não queres entrar?

    — Tens a certeza? — Desta vez, o meu coração bateu tão veloz quanto os rápidos. Eu só tinha dormido com duas mulheres.

    — Sim. — Ela segurou firmemente a minha mão, abriu a porta e liderou o caminho para o interior. — Eu quero que fiques comigo esta noite, mas espera aqui um momento.

    Fechou a porta suavemente e desapareceu do outro lado, deixando-me sozinho num corredor estreito e anónimo. Foi uma espera desconfortável e ansiosa, receoso que aparecesse alguém. Como é que eu podia justificar a minha presença ali? Não havia nada que o justificasse, eu não conseguia pensar em nenhuma desculpa credível. Só era capaz de pensar nela, em Nan, e caminhei silenciosamente de um lado para o outro até ouvir a sua voz suave.

    — Podes entrar agora.

    Nan já se tinha despido. Eu soube disto porque a primeira coisa que vi ao entrar foi o vestido dela dobrado ordenadamente nas costas de uma cadeira. Por baixo disto, um vislumbre de umas cuecas brancas.

    Ela sentou-se na cama, que, na realidade, era composta por um colchão colocado diretamente no chão. Tinha os braços em volta de ambos os joelhos, com os ombros visíveis sobre um lençol branco. A fina cruz de ouro permanecia em volta do pescoço, desaparecendo lá em baixo sob o lençol. O quarto era pequeno e pouco mobilado, tinha espaço apenas para um pequeno guarda-fatos e gavetas, mas eu não conseguia imaginar nada mais perfeito.

    — Olá, Harry — gostei da maneira como ela disse o meu nome, como se estivesse a partilhar um segredo.

    Nan havia colocado duas pequenas velas no chão ao lado da cama e a pálida luz da lua brilhava debilmente através da janela aberta. O quarto cheirava ao seu perfume. Ela deitou-se e observou-me enquanto eu despia o uniforme cáqui, não me sentindo nem um pouco nervoso, como pensara que iria sentir. Sem hesitar, entrei na cama e nos braços de Nan.

    Estreitei-a nos meus braços, os nossos corpos alongados em contacto total, tentando tocar-se em todos os lugares. O calor dos nossos corpos era abrasador e eu podia senti-la a pressionar-se contra mim, o seu ventre esbelto e tenso. Quando nos beijámos, a língua dela sondou profundamente a minha boca. Determinado a não deixar nenhuma parte de Nan intocada, comecei a explorar o corpo dela com os meus lábios.

    Beijei a suavidade do seu pescoço, a corrente de ouro, tomando o peso da cruz entre os dentes. Passando os dedos sobre a marca de nascença vermelha da cor do sangue, percorri com a minha língua os continentes e oceanos, lambendo as olas costeiras e as montanhas. O seu próprio mapa do mundo. Ela empurrou a cabeça para trás no travesseiro, suspirando, e eu continuei a descer, devagar, ao meu próprio ritmo.

    Voltando ao rosto de Nan e a mais beijos, a minha própria língua agora profunda e frenética, eu estava ciente de um calor escaldante quando finalmente entrei nela. Fizemos amor durante um longo tempo antes de colapsarmos, unidos. Eu não conseguia distinguir onde um corpo terminava e o outro começava, acariciando o que eu acreditava ser a perna de Nan.

    — Harry — sussurrou. — Disseste que eras um cavalheiro. Então, como é que eu estou deitada de costas contigo em cima de mim? — Ela beijou-me nos lábios.

    — Eu realmente não posso explicar isso. Apanhaste-me.

    — Vocês homens, são todos iguais.

    — Não somos, Nan, não somos.

    Quando pensei que ela tinha adormecido, o meu dedo traçou uma palavra indelével nas suas costas. «Amo-te». Ela pressionou-se para trás, contra mim, e eu sabia que, finalmente, estava no lugar do certo. Não havia outro lugar no mundo onde eu quisesse estar e não havia dúvida de que tinha demorado a chegar lá. Envolvi-a com os meus braços, puxando-a para perto de mim, determinado a nunca mais a largar. Fechei os olhos e tentei sonhar com o nosso futuro.

    Quando chegou a hora de partir, inclinei-me para beijar Nan na testa. Não tinha conseguido dormir, mais do que feliz por estar ali deitado na penumbra, a pensar naquela nova sorte.

    — Olá. Nan?

    Ela torceu o corpo, ficando com as duas pernas enroladas no lençol. Tinha os seios a descoberto, húmidos de suor, e eu inclinei-me para os beijar. Só então, ela abriu os olhos.

    — Harry. Adormeci? — Cabelo escuro caiu-lhe sobre o rosto, e entrou-lhe na boca.

    — Sim. Eu não queria acordar-te. Parecias tão descontraída, mas é melhor eu ir agora. É quase manhã.

    Beijei-a mais uma vez e senti a sua mão alcançar a parte de trás da minha cabeça. Ela não me deixou sair tão facilmente.

    — Eu não quero que vás, Harry. Fica.

    — Nem eu, mas tem de ser.

    Ela levantou-se sobre um cotovelo, para olhar para mim de frente.

    — Eu sinto-me bem, graças a ti. Fica mais um pouco.

    — Não posso mesmo, desculpa. E tenho uma coisa para te contar. — Eu estava a adiar esse momento, com medo de comprometer tudo, mas não era possível prolongá-lo por mais tempo. Tinha a garganta tão seca e engoli em seco antes de continuar a falar. — Vou ser transferido hoje, para o hospital em Mtarfa. Eu ter-te-ia dito antes, mas...

    Nan deteve-me, uma mão quente colocada sobre a minha boca.

    — Harry, que ótima notícia. Eu também fui transferida para lá!

    — A sério? Quando? — Senti-me repleto de uma tremenda felicidade e comecei a ver presságios por toda parte. Além do mais, todos eles eram bons. — Isso é maravilhoso.

    — Eles ainda não me disseram, mas vai acontecer. Em breve.

    Ao sair do quarto de Nan, o dia já estava quente. Não havia uma nuvem no céu de um azul profundo. Voltei para Sliema com os passos leves e fáceis de um homem apaixonado.

    CAPÍTULO DOIS

    Aquele era um verão de fogo no céu, de vinho tinto, mas, acima de tudo, de amor. Eu soube desde o início que não era uma aventura passageira, era muito mais do que isso. Eu amava Nan completamente, com todos os tendões, músculos e nervos do meu corpo. Com cada gota do meu sangue. Eu não tinha escolha. Eu amava-a com a segurança absoluta de que o nosso amor nunca podia terminar; não era um relacionamento com os que aconteciam na Straight Street, e eu soube desde o início que o amor não tem de acabar. Nunca.

    Eu estava estacionado na pequena ilha de Malta, nas profundezas do coração do Mediterrâneo. As condições não pareciam muito más no início, pois o racionamento civil ainda não havia sido introduzido. Ainda não havia uma escassez aparente. Ainda era possível comprar comida, álcool e tabaco, na cidade, sendo o vinho tinto local surpreendentemente bom. Eu desenvolvi rapidamente um gosto pela cerveja Blue Label, quanto mais não fosse para evitar o sabor desagradável do nosso abastecimento de água com cloro. Porém, depois de chegar à ilha, o que eu mais gostava era da sua capital, Valletta.

    Pareceu-me imediatamente uma cidade onde iria transpirar muito – quente, poeirenta e, em pouco tempo, fiquei encantado com o país. Tinha sido construído a uma escala impossivelmente grande, a começar pelo porto, que fora a minha primeira visão real a partir do mar. Uma grande carcaça erguia-se a pique do corpo de água, uma massa sólida de pedra cinzenta encimada por pináculos elaborados, postes de armas e cúpulas. Ao longe, uma catedral flamejava um tom dourado sob o sol da tarde. Bandos de pássaros brancos lançavam-se pelo céu limpo, o mar verde já não investia contra nós. Eu nunca tinha visto nada assim, e Valletta causava-me excitação.

    Para lá do porto, rapidamente descobri que a cidade se estendia para os arredores num plano de grelha de ferro de ruas que se entrecruzavam. A artéria principal, Kingsway, corria de um imponente portão num extremo da cidade, abrindo caminho imperioso até ao Forte St. Elmo e até ao mar. Estava ligada a todas as praças principais e edifícios importantes. Kingsway fazia-me sempre lembrar uma centopeia gigante, com estradas a emergir dela como patas.

    Paralelamente e ao lado de Kingsway, corria a Strait, uma rua escura e estreita, inundada de inúmeros bares, clubes e cafés. Nós denominávamo-la como o Gut, e a vida noturna da maioria dos militares concentrava-se ali. Invariavelmente, estava abarrotada de rostos cor de caqui e couro, e havia sempre transporte dali para as casernas e vice-versa.

    Não havia dúvida de que Valletta era maravilhosa, mas a viagem para a ilha tinha sido uma experiência completamente diferente. Depois de o treino estar concluído em Boyce Barracks, em Hampshire, a minha companhia foi transferida para uma base na Escócia. Estávamos estacionados em casernas fabricadas dentro da propriedade do conde de Dalkeith, nos arredores de Edimburgo, a casa principal agora convertida em hospital militar. Os homens estavam empolgados e prontos para a ação, mas ainda não nos tinha sido atribuída nenhuma tarefa. Foi uma espera frustrante, a guerra tentadoramente próxima e, ainda assim, continuava a ser-nos negada.

    As histórias começaram a disseminar-se como uma doença sobre o lugar para onde estávamos a ir. A Europa era a possibilidade número um, e a África vinha em segundo lugar. Rapidamente aprendi que onde quer que um grupo de soldados esteja reunido, há pelo menos o mesmo número de boatos. No terceiro dia, recebemos o kit tropical, pelo menos sabíamos que iríamos para algum lugar quente. Outros nove dias tortuosos deveriam passar desta maneira.

    Finalmente, fomos reunidos na décima segunda noite, introduzidos em camiões para Edimburgo e depois carregados em comboios para Gourock, no Clyde. Nessa confusão de homens, vi-me designado para um navio francês, o Louis Pasteur. Foi um jovem rapaz com o rosto coberto de acne que me mostrou a minha cabina.

    — Este não

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