Artes, Ciências e Educação
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Artes, Ciências e Educação - Ana Maria Haddad Baptista
Sumário
Capa
Prefácio
Estética de Georg Lukács: Arte e Emancipação Social
Francisca Eleodora Santos Severino
Introdução
A contribuição lukacsiana
As questões liminares do estético em Lukács
O estético como fenômeno histórico social
Considerações Finais
Bibliografia
Arte e Ciência: Diálogo, Criação, Invenção
Márcia Fusaro
Arte e ciência: perspectivas de diálogo
Pintura: espaço-tempo de cores e traços em experimentação
Escultura: espaço-tempo da forma materializada
Arquitetura: espaço-tempo dos ambientes em construção
Música: espaço-tempo poético da matemática sonora
Dança: espaço-tempo do movimento-imagem
Teatro: espaço-tempo de encenação
Literatura: espaço-tempo de leituras e leitores
Cinema: espaço-tempo da imagem-movimento e da imagem-tempo
Videogames: espaço-tempo de ação e interação
Considerações finais
Referências bibliográficas
Referências bibliográficas audiovisuais
Literatura & Ciências
Ana Maria Haddad Baptista
Provocações preliminares
Cientistas, escritores e artistas
Perspectivas da Literatura e das Ciências
Escritores e Cientistas
Deleuze: uma proposta provocadora
Inconclusões
Esse Escrito é Ciência, Arte ou Fuleragem?
Carminda Mendes André
Uma introdução
As ciências na condição pós-moderna
Relacionamentos furtivos entre as artes e as ciências
Um jogo
Relacionamentos duradouros entre as ciências e as artes no ocidente
Os Ordenamentos Educacionais e sua Real Aplicabilidade
Sonia Regina Albano de Lima
Referências
Arte, Ciência e Descolonização
Verônica Fabrini
1. Confusões no desktop e a pergunta das imagens
2. O teatro é um lugar de onde se vê: intermezzo
3. Tentando enquadrar o caos: o pensamento diurno da ciência e o pensamento noturno da arte
4. A ordem mais baixa da humanidade versus Les Demoiselles d’Avignon
5. E o teatro brasileiro?
6. Abaixo e à esquerda, no lugar do coração: escutar o sul
7. Retorno ao caos do desktop
Organizadores:
Ana Maria Haddad Baptista
Francisca Eleodora Severino
Carminda Mendes André
Artes, Ciências e Educação
São Paulo | Brasil | Novembro 2017
1ª Edição
Big Time Editora Ltda.
Rua Planta da Sorte, 68 – Itaquera
São Paulo – SP – CEP 08235-010
Fones: (11) 2286-0088 | (11) 2053-2578 | (11) 97354-5870 (WhatsApp)
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Site: bigtimeeditora.com.br
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Conselho Editorial:
Ana Maria Haddad Baptista
(Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP)
Catarina Justus Fischer
(Doutora em História da Ciência/PUC-SP)
Lucia Santaella
(Doutora em Teoria Literária/PUC-SP)
Marcela Millana
(Doutora em Educação/Universidade de Roma III/Itália)
Márcia Fusaro
(Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP)
Vanessa Beatriz Bortulucce
(Doutora em História Social/UNICAMP)
Ubiratan D’Ambrosio
(Doutor em Matemática/USP)
Ficha Catalográfica
BAPTISTA, Ana Maria Haddad; SEVERINO, Francisca Eleodora; ANDRÉ, Carminda Mendes (organizadores). Artes, Ciências e Educação – São Paulo: BT Acadêmica, 2015. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-9485-045-4
1. Educação. 2. Linguagens. 3. Linguagens e literatura. 4. Arte-educação. I. Título. II. Autores.
Coordenação editorial: BT Acadêmica | Diagramação: Marcello Mendonça Cavalheiro | Arte da capa: Paradigmas Inconclusos, por Rose Marie Silva Haddad | Revisão: Autores
Nota:
Dado o caráter interdisciplinar da coletânea, os textos publicados respeitam as normas e técnicas bibliográficas utilizadas por cada autor.
Os autores são responsáveis integralmente pelos textos apresentados.
Prefácio
Em finais de novembro de 2014, nós, organizadoras, tínhamos finalizado uma banca de defesa de mestrado. Muitas vezes, uma defesa instiga indisposições, veladas ou não, entre os membros da banca. Mas a defesa em questão potencializou uma série de provocações e indagações que nós tínhamos guardado, talvez, cada uma para si mesma.
Não é segredo para ninguém que a falta de tempo, esvazia, de forma implacável, discussões entre os pares. Imediatamente após cumprirmos todas as tarefas formais que exige uma defesa fomos tomar um café. E este agradável café prolongou nossas indagações e por que não? Nossos sonhos! Nossas projetos! Discutimos, em especial, a rigidez incômoda das metodologias. As regras e normas, muitas vezes, desnecessárias, impostas às publicações e trabalhos acadêmicos. E chegamos ao ponto chave desta obra: a questão do isolamento quase total de cada ‘área do conhecimento’. A ausência de um diálogo entre as áreas. Fato que corrói qualquer projeto pretensamente interdisciplinar.
E à medida que fomos discutindo tais questões as fundamentações de nossos textos, aqui publicados, foram aflorando de maneira entusiástica e calorosa. O café, para nossa felicidade, não conseguia chegar ao final. E, imediatamente, vimos a necessidade de levarmos adiante um grande sonho: cada uma de nós deveria fazer um texto de cunho ensaístico priorizando um verdadeiro diálogo entre as artes, as ciências e a educação. E mais: cada uma das organizadoras deveria trazer um convidado ou convidada, que aceitasse o desafio, para integrar esta coletânea.
Os textos contidos nesta obra possuem, essencialmente, ampla liberdade de criação. Entendemos que o excesso de regras e normas metodológicas igualam os textos e, consequentemente, o pensamento. Entendemos que os textos, em especial, os ‘acadêmicos’, deveriam estar mais preocupados em potencializar a imaginação e a inventividade de estudantes, educadores e pesquisadores em vez de inibi-los, afugentá-los e, muitas vezes, humilhá-los. Acreditamos que somente a liberdade de reflexão e expressão, sem desprezar os rigores que devem acompanhar uma pesquisa, possibilitarão mudanças significativas e necessárias nas artes, nas ciências e na educação.
Ana Maria Haddad Baptista
Francisca Eleodora Severino
Carminda Mendes André
As experiências ensinaramnos que as folhas absorvem diferentes tipos de ar, que combinam com umidades contidas em seu interior; não resta igualmente nenhuma dúvida de que elas reenviam estas seivas mais finas para o caule e que proporcionam, por isso, a formação na sua proximidade de olhos adjacentes. Investigaram-se os tipos de ar desenvolvidos nas folhas de várias plantas, inclusive nas cavidades do junco, e, portanto, podemos ter a certeza absoluta disto. Notamos em várias plantas que um nó brota de um outro.
Johann Wolfgang von Goethe
Nietzsche se perguntou se a vida devia predominar sobre a ciência ou a ciência sobre a vida, e diante dessa interrogação característica de seu tempo, afirmou a preeminência da vida. Resposta típica de toda a vasta insurgência que começava. Para ele, como para Kierkegaard ou Dostoievski, a vida do homem não pode ser regida pelas razões abstratas da cabeça, mas pelas raisons du coeur. A vida transborda dos esquemas rígidos, é contraditória e paradoxal, não se rege pelo razoável, mas pelo insensato. E isso não significa proclamar a superioridade da arte sobre a ciência para o conhecimento do homem?
Ernesto Sabato
Estética de Georg Lukács: Arte e Emancipação Social
Francisca Eleodora Santos Severino[1]
A presença da estética durante os 2500 anos em que se desenvolveu o pensamento metafísico é de uma pobreza verdadeiramente desoladora, mesmo nos tempos modernos, quando a arte começa a manifestar maior autonomia e enseja não poucas polêmicas, os grandes filósofos passam descuidados pelos monumentos que poderiam suscitar sua curiosidade intelectual.
(GERD BORNHEIM, 1994, p. 127).
Introdução
Sob a perspectiva do pensamento metafísico, acreditava-se, que só seria possível a apreensão das relações entre arte e conhecimento mediante reflexão que se apoiasse em noções morais, na sensibilidade individual e no conceito de belo como a manifestação da verdade revelada pelo absoluto criador. Entretanto, esse conceito de beleza, que tem suas raízes na filosofia da Platão e de Aristóteles, sofre profunda fratura com o desenvolvimento e superação da ordem feudal. Hoje, o belo reaparece no bojo da crise da mudança social, impregnando de novos sentidos os objetos e as imagens que se colocam no mercado como nexos de um novo enraizamento cultural pela mediação dos produtos informacionais e pela internet.
A utopia artística da modernidade foi incorporada às exigências da produção industrial. Essa integração, consciente ou inconscientemente, foi o objetivo prático das vanguardas artísticas que se apoiaram no esclarecimento da razão iluminista. Tais questões remetem-nos à reflexão passado/presente, agora partindo do desdobramento da crise do capitalismo numa nova dimensão, colocada pela conquista tecnológica e pela revolução midiática em processo, promovida pelo uso dos multimeios da informática, disponíveis para uso e abuso da juventude. Consideramos então necessário resgatar a contribuição de Lukács quando ele chama a atenção para as confusões que têm ocorrido no campo da pesquisa e da reflexão sobre a arte, resultantes em grande parte da insegurança social que nos ronda cotidianamente. Ele esclarece que o método de conhecimento aplicado tanto em arte como em ciência, está decisivamente determinado pela orientação e precisão na missão social, emergindo, assim, tanto na ciência quanto na arte, profundos desentendimentos da concepção de realidade e de verdade.
A proposta desta reflexão situa-se no âmago dessa discussão. Toma por referência as relações entre arte e conhecimento no contexto da obra de Georg Lukács, filósofo húngaro nascido em Budapeste no ano de 1885, onde morreu em 1970. Lukács é considerado o fundador da estética marxista ao escrever em 1920 um dos mais comentados textos da atualidade, A teoria do Romance. No ano de 1910, já havia escrito A alma e suas formas. No contexto da crítica literária escreveu também O Romance histórico (1947), Balzac, Stendhal, Zola, (1949), A destruição da Razão (1954), A especificidade da estética (1965). Aplicando suas teorias sobre os estudos das obras dos clássicos Goethe, Tolstói, Thomas Man, Stendhal, Balzac e Zola, ele foi duramente criticado. No campo das Ciências Sociais, escreveu História e consciência de classe: estudo sobre a dialética marxista, em 1923.
As análises e reflexões aqui desenvolvidas são resultados parciais de pesquisas que venho fazendo na interface da contribuição de autores marxistas clássicos para com autores brasileiros, em particular com aqueles autores que, no Brasil, vêm aprofundando o legado freireano para a educação e que, no meu caso, em experiências individuais e coletivas, refletidas no convívio com alunos de Pós-Graduação e Iniciação Científica, estudantes e pesquisadores no Grupo de Pesquisa, Escola básica, gestão e intervenção, por mim coordenado.
A reflexão deriva do desafio, da inquietação e das acaloradas discussões do Grupo que, num primeiro momento, focou suas pesquisas na inter-relação da contribuição de Gramsci para o pensamento e pedagogia de Paulo Freire. Do mesmo modo, acreditamos ser profícua a contribuição de Lukács para a discussão sobre a interface da produção literária e estética.
A contribuição lukacsiana
Considerando o momento impregnado pela ideologia neoliberal, é de grande importância a retomada de alguns temas marxistas que fundamentaram a reflexão sobre a realidade social e suas contradições. Dentre eles destaco a questão do realismo literário pela reflexão de Georg Lukács. Assim, a explicitação da decadência ideológica da burguesia e as condições do triunfo do realismo constituem-se como objeto de nossa reflexão sobre arte e conhecimento no contexto da cultura literária e da educação. Para tanto, a reflexão destaca a contribuição de Lukács sobre o tema do realismo artístico que desperta seu interesse a partir dos anos 20 e que está na raiz da vocação libertadora da arte, quando esta arte é concebida como mediação para processos da educação dos sentidos com vistas a uma nova leitura de mundo.
As concepções do mundo próprias dos grandes escritores são variadíssimas e ainda mais variados são os modos pelos quais eles se manifestam no plano da composição épica. Na verdade, quanto mais uma concepção do mundo é profunda, diferenciada, alimentada por experiências concretas, tanto mais variada e multifacetada pode se tornar a sua expressão compositiva. (LUKÁCS, apud FREDERICO, 2010, p. 179)
O realismo artístico de Georg Lukács pode ser encontrado em uma seleção de textos estéticos literários escritos durante a década de 1930. O percurso de aquisição da teoria do realismo sinaliza em Lukács sua guinada rumo ao marxismo, marcando também sua opção para a perspectiva artística do realismo. Não nos interessa neste pequeno texto discutir o processo de apropriação da ação como elemento literário central; buscamos sim apreender as relações entre este caminho e o processo de sua aproximação com o marxismo, refletindo sobre as determinações fundantes do ser social desveladas por Marx e que passaram a ser objeto das reflexões de Lukács no contexto das discussões sobre arte e realismo. Adentrando também a questão da objetividade do reflexo artístico; a verdade na teoria do conhecimento, a herança literária da burguesia em ascensão, bem como da explicitação da decadência ideológica da burguesia e consequentemente o triunfo do realismo na perspectiva crítica do materialismo. Para alcançar nossos objetivos, tomamos como referência conceitual o famoso texto de Lukács em que ele discute os problemas do realismo, Arte e verdade objetiva (1996), bem como outros escritos que nos subsidiam, Estética: a peculiaridade do estético (1967) e História e Consciência de Classe: estudos de dialética marxista (1974/2003).
Lukács é considerado o pensador marxista que refletiu e descreveu com maior rigor as questões de estéticas desveladas por Marx. Tratou com profundidade o pensamento estético marxiano que nada tem a ver com as perspectivas da arte de tendência
alheia à concepção estética de Marx e contra a qual Engels se pronunciou com o que ficou vulgarmente conhecido como realismo socialista. Ele estava convencido de que os valores estéticos eram fundamentais para a política e por isso, a partir dos anos 20, submeteu a uma avaliação negativa romances de autores de esquerda ligados ao movimento proletário. No seu entendimento, havia nesses romances uma pobreza formal indicativa das limitações de conteúdo. Em Moscou, sua crítica literária ressaltava que os autores de ficção ligados ao socialismo alemão não eram capazes de conferir qualidade estética ao seu trabalho, haja vista, não se poder reconhecer em toda sua complexidade a realidade social do contexto em que viviam.
O realismo artístico de Lukács refere-se aos conteúdos que compõem a viragem ontológica representada por seu pensamento em relação à filosofia inaugurada por Marx. De fato, a estética de Lukács assume caráter marxiano com a identificação de conteúdos, que delineiam dois conceitos fundantes do pensamento de Marx, quais sejam, a objetividade e a centralidade da objetivação, conceitos que marcaram indelevelmente a transformação radical no pensamento desse autor com relação a toda a filosofia moderna. Estes são conteúdos de sustentação e fundamentação da obra em geral e, em particular, do realismo artístico em Marx. Conteúdos mais complexos e significativos marcando fortemente Lukács que inicia sua produção estética precisamente a partir da identificação desses conteúdos, que o levam para aquilo que ficou conhecido como virada ontológica, anteriormente também praticada por Marx em relação à filosofia hegeliana. Uma guinada rumo a assumir o pensamento de Marx, no dizer de Celso Frederico (1995), uma guinada rumo ao marxismo. É aí que Lukács busca as determinações essenciais para fundamentar a sua obra A ontologia do ser social.
Com a identificação desses dois conceitos, objetividade