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Narrador e Leitor Machadianos: Figurações em Memórias Póstumas de Brás Cubas
Narrador e Leitor Machadianos: Figurações em Memórias Póstumas de Brás Cubas
Narrador e Leitor Machadianos: Figurações em Memórias Póstumas de Brás Cubas
E-book188 páginas4 horas

Narrador e Leitor Machadianos: Figurações em Memórias Póstumas de Brás Cubas

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Sobre este e-book

No presente livro, o leitor tem acesso a uma pesquisa sobre as figurações de narrador e de leitor na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, a partir de aspectos históricos e sociológicos e levando em consideração o sistema literário do Oitocentos, que estava em formação no Brasil. Destaca-se na construção das memórias póstumas a maneira como o narrador justifica e desenvolve suas narrativas, sempre tomando um hipotético leitor como interlocutor ou receptor imediato das suas peripécias retóricas, leitor esse sempre estigmatizado, desafiado, provocado em suas condições de leitura, seus horizontes de expectativas, suas reações e seus limites. Discutem-se, nesse contexto, as possíveis relações entre as figurações do leitor ficcional projetado no romance de Machado de Assis e o público leitor do século XIX, salientando-se, ainda, as estratégias do narrador e sua forma de apropriação do leitor no jogo ficcional para a construção do sentido da obra.

Os leitores de Memórias Póstumas têm que se manter sempre atentos para acompanhar o movimento de produção de sentido desse texto, marcado por ironias e deslocamentos de padrões culturais e sociais do Oitocentos brasileiro.

Como suporte teórico, a autora vale-se de teorias que abordam a recepção do texto literário e o leitor, como as de Robert Jauss, Wolfgang Iser, Wayne Booth, Roland Barthes e Luiz Costa

Lima, dentre outros autores.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de jul. de 2019
ISBN9788547315429
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    Narrador e Leitor Machadianos - Josuelene da Silva Souza

    leitores.

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1

    A PRÁTICA SOCIAL DA LEITURA E A OBRA LITERÁRIA 

    1.1 O perfil de leitor na sociedade burguesa: leituras religiosas e leituras folhetinescas 

    1.2 A formação do leitor no Brasil: leituras e proibições 

    1.3 O leitor e a formação do sistema literário no Brasil 

    1.4 A recepção crítica de Memórias Póstumas de Brás Cubas

    CAPÍTULO 2

    NARRADOR E LEITOR DE MEMÓRIAS PÓSTUMAS

    2.1 Brás Cubas, narrador e leitor das memórias 

    2.2 Brás Cubas e seus leitores/interlocutores: perspectivas teóricas 

    2.3 Fulgurações de leitor 

    CAPÍTULO 3

    ESTRATÉGIAS NARRATIVAS NAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS

    3.1 Narrativa estrambótica: fora da vida, fora da ordem 

    3.2 Autor-narrador-protagonista: lógicas do discurso 

    3.3 Narrador pouco confiável 

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 1

    A PRÁTICA SOCIAL DA LEITURA E A OBRA LITERÁRIA

    1.1 O perfil de leitor na sociedade burguesa: leituras religiosas e leituras folhetinescas

    Neste tópico, irei discutir a expansão do público leitor, que, em um plano sócio histórico, situa-se por volta do século XVIII e início do século XIX, na Europa, com a criação e o aperfeiçoamento da imprensa escrita, a qual possibilitou o crescimento do mercado do livro. Marisa Lajolo e Regina Zilberman, no livro A formação da leitura no Brasil (1996), observam que a expansão do público leitor no continente europeu, no século XVIII, estava associada à alfabetização em massa das populações urbanas, à valorização da família e da privacidade doméstica e à emergência da ideia de lazer (LAJOLO; ZILBERMAN, 1996, p. 14). As autoras expõem, ainda, outros fatores que contribuíram para o crescimento da leitura e, consequentemente, do público leitor. Entre esses fatores, a Revolução Francesa (1789) e o Iluminismo (1790), que promoveram importantes mudanças sociais, políticas e culturais.

    As revoluções europeias contribuíram para o fortalecimento da leitura com a difusão dos ideais revolucionários, impressos em formas diversas, como livros, panfletos e libelos que agrediam e acusavam a aristocracia, a corte e todo o conjunto absolutista. Com o advento do Iluminismo e a mudança do absolutismo para o liberalismo, os leitores conseguiram ter uma visão mais crítica dos acontecimentos. Roger Chartier, em seu livro Origens culturais da Revolução Francesa, argumenta que teria ocorrido uma disseminação de ideias oriundas das classes refinadas para o povo e também no sentido geográfico, de Paris para as demais cidades (CHARTIER, 2009, p. 26). Segundo o historiador francês, a disseminação dos ideais revolucionários ocorreu em grande proporção na França, na qual a burguesia letrada se reunia com a classe baixa para fazer a leitura em voz alta dos textos filosóficos. Assim, o povo ficava informado dos ideais revolucionários.

    Em Cultura escrita, literatura e história, o mesmo historiador considera que, na época do Iluminismo e da Revolução Francesa, as ideias filosóficas foram transformadas em textos, e os textos transformados em livros, impondo seus conteúdos críticos aos sistemas de representações de leitores (CHARTIER, 2001, p. 107). Os livros filosóficos eram lidos em voz alta nos salões e cafés, permitindo as discussões e reflexões contra o regime absolutista, sem o controle governamental francês. A censura reinol estava preocupada com as ideias revolucionárias impressas, vistas como perigosas. A leitura em voz alta desses livros foi uma grande contribuidora para a expansão dos ideais das revoluções. Os textos em formato de livro levaram aos vários leitores da época, esclarecidos ou não. Segundo Chartier:

    As idéias revolucionárias, a uma ruptura decisiva com o Antigo Regime. O corpus de ideias filosóficas expressadas por meio das obras dos filósofos do XVIII conquistou progressiva e paulatinamente os diversos meios sociais, as províncias de Paris, e impôs uma transformação importante ou radical na maneira de ver a autoridade, o poder e o rei. O que se traduz na ruptura revolucionária (CHARTIER, 2001, p. 107).

    Ao discutir Iluminismo e Revolução, Revolução e Iluminismo, Roger Chartier nos explica que as ideias filosóficas foram substituídas por livros filosóficos. Essa substituição foi deslocada pelo historiador norte-americano Robert Darnton ao pesquisar o crescimento da leitura na França. Conforme Chartier (2001), Darnton notou que os livros filosóficos eram compostos de um corpus diferente das ideias filosóficas. A expressão livros filosóficos na biblioteca do século XVIII equivalia a um corpus heterogêneo que não consistia somente nas obras de Montesquieu, Rousseau, Voltaire, Diderot, La Fontaine. Incluía também as obras pornográficas, antigas ou novas, e toda a produção de libelos, panfletos e crônicas escandalosas que agrediam e delatavam a aristocracia, a corte, a rainha e o

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