O Prémio Nobel
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Sobre este e-book
“Como em muitos destes encontros não me chegava a convencer de que eram reais, não tinha a certeza se os havia imaginado, ou antes escrito, pelo menos na minha mente, ou se tinham acontecido de verdade. Sentia-me esquizofrénico e como num desses filmes em que de repente o personagem principal se encontra numa instituição de saúde mental onde lhe explicam pouco a pouco que tudo o que viveu durante os últimos anos, ou em toda a sua vida, não foi mais que fruto da sua mente. Mas então não estarão todos os escritos loucos? Não inventam por acaso a cada dia as suas próprias vidas? Não as estão imaginando a cada minuto?”
Neste romance curto acompanhamos o vaguear de um escritor que, entre as ruas da cidade de Irxal, os cafés de sempre, a casa da família de sempre e o hospital psiquiátrico onde está internado um escritor amigo, se deixa perder no limbo instável entre o real e da ficção. No todo “de sempre”, a cada esquina uma surpresa. A literatura e a realidade fundem-se, personagens ganham corpo e escritores perdem-se na dúvida da sua própria existência.
E nós, leitores, podemos estar seguros do limite entre o real e a ficção? Ou vivemos todos num limbo delicado, também nós com um pé entre o real e o imaginado?
Mois Benarroch
"MOIS BENARROCH es el mejor escritor sefardí mediterráneo de Israel." Haaretz, Prof. Habiba Pdaya.
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O Prémio Nobel - Mois Benarroch
O PRÉMIO NOBEL
Ou
Todo um personagem
––––––––
Mois Benarroch
Published by Mois Benarroch
© 2012, Mois Benarroch
Cubierta: Alan Green
Narrar, assim dizia o meu pai, é como jogar póquer - o segredo está em parecer mentir quando se diz a verdade.
Ricardo Piglia
Nessa altura não sei se era escritor, ou se era algo que não se podia definir. Por um lado já não podia deixar de ser escritor, depois de ter publicado vinte livros controversos. Penso que as pessoas se recordavam melhor do que as havia perturbado do que do que eu tinha realmente escrito. Era mais controverso que lido. Nunca esperei que esse fosse o meu destino literário, e aos cinquenta já não podia ou não sabia ou não conseguia fazer outra coisa. Ganhava muito pouco dinheiro e escrevia por pura inércia, um livro atrás do outro, como uma máquina. Livros que não se publicavam, ou que, pior, se publicavam por editoras pequenas em tiragens mínimas que não se vendiam. Era como uma máquina de escrever, uma máquina que não era consciente do que fazia. Não sabia onde ia nem o que me conduzia a esse sítio, essa meta. Como em toda minha vida, continuei à espera de algo. Algo que até hoje não chegou.
Via muito pouca gente, tinha pouco sobre o que falar com o mundo, só me restavam as páginas com quem conversar. Anos antes havia sido muito social, mas nesses dias de Inverno já não me apetecia falar com ninguém.
Mal dava um passeio diário ao posto dos correios para ver se chegava um contrato de edição ou um livro de algum amigo quando me encontrei com um desses escritores que uma pessoa conhece aos vintes anos nalgum grupo e de quem nunca mais ouve falar nada. Cumprimentámo-nos, disse-me que seguia as minhas publicações e que leu dois livros meus de que não gostou muito, que tinha a certeza que eu estava forrado de guita, com tudo o que publicava e todos os meus livros que se traduziam.
- Sim, isso queria eu. Não ganho nem para o pão. Até me custa dinheiro, convidam-me para ir a capital tal apresentar o livro tal, e no final acabo por gastar uma fortuna que os direitos de autor mal pagam.
Riu-se às gargalhadas como se fosse uma piada do melhor comediante de Nova Iorque, e eu não percebi porquê. Era algo que acontecia cada vez mais frequentemente e de noite isso fazia-me chorar.
Fez-me imediatamente uma pergunta inesperada, e quis saber se me lembrava do Jorge, esse escritor mais velho que nós que também fazia parte do grupo. Ao início não estava a ver. Jorge?
- O que era careca, bom agora já o somos todos, mas o primeiro que ficou careca, e ríamo-nos da sua calvície. E ele dizia-nos, é só uma questão de tempo...
- Não estou a ver.
- Esse, o que caiu de uma varanda numa dessas festas na rua Pinto.
E então vi-o.
- Sim, claro, como não me ia lembrar? Mas tens a certeza que se chamava Jorge? Não era Pablo. Ou Raúl.
- Foi o primeiro de nós a publicar um romance.
- Sim, esse.
- E era médico ou algo assim.
- Talvez, acho que curandeiro, de medicinas naturais. Pois olha, acontece que o tipo está num hospital psiquiátrico, louco para começar, mas louco a sério, ainda que digam que é interessante, que cada dia é uma pessoa diferente. Ninguém sabe o que tem.
- Chama-se Demência.
- Sim, está bem. Mas no outro dia disse-me um crítico literário que o tem seguido desde há alguns anos que ele enlouqueceu mais ou menos como o Tarzan, Johny Weismuller, que durante os seus últimos dias acreditava que era de fato o Tarzan e passava os dias a chamar pela Jane e a fazer o seu famoso grito. Pois acontece que o Jorge é cada dia um personagem dos seus livros. Isso foi o que disse o crítico. E que os psiquiatras nem se apercebem. Bom, é um rumor.
- E eu aqui a viver à custa da minha mulher.
- O quê?
A verdade é que não faço ideia porque é que lancei ou me saiu de repente essa resposta. Sentir-me-ia culpado por viver à custa de outros? Ou talvez porque já tinha pensado várias vezes que a meta de um escritor é transformar-se em personagem e viver em livros. Sonhava em ser um personagem e não ter dívidas nem hipotecas. A vida de um personagem parecia-me mais simples do que a de um escritor. Talvez por isso mesmo a gente prefira submeter-se a outros.
- Tenho-te visto em muitas antologias ultimamente, estás a tornar-te num clássico.
Interrompeu os meus pensamentos.
- Sim, ainda que já não as siga, nem tenha tempo nem paciência.
- Devem pagar-te bem