A assistente do apotecário
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Sobre este e-book
Quando o destino o chama, você pode fugir ou ficar e lutar por aquilo que sempre quis. De qualquer maneira, você não terá escolha se não mudar.
A Sra. Ava Southerly, assistente de um apotecário e viúva, vive com medo. Ela se tornou especialista em se esconder para manter as visões trazidas pelo sexto sentido longe. No ano 1885, seres como bruxas, certamente, não mais existem, independentemente da ancestralidade dela. Se ela não engajar o coração emocionalmente, seus poderes do outro mundo continuarão dormentes, e as pessoas com as quais se importa não serão machucadas, porém ela anseia por um romance e por ser aceita.
Douglas Wallace, um doutor americano e descendente de um caçador de bruxas escocês, está em Londres para uma série de palestras sobre novos avanços e técnicas médicas. Quando tem o vislumbre do olhar de uma linda loura na janela de um restaurante, ele se sente obrigado a segui-la, como se suas vidas estivessem conectadas de uma maneia sobrenatural. Apesar de acreditar na lógica e na evidência registrada pelos próprios olhos, seu tempo na companhia de Ava lhe mostra o quão errado seu pensamento estava.
Quando um espírito maligno de trezentos anos possui Douglas em uma tentativa de matar Ava por seu posto como bruxa, ela e o doutor precisam encontrar uma maneira para impedir a ameaça do além independentemente do risco que podem correr. Enquanto o relacionamento entre eles se transforma em algo mais profundo e duradouro, eles descobrirão quão forte a força do amor pode ser.
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A assistente do apotecário - Sandra Sookoo
Capítulo um
Stratford, Vila West Ham, Inglaterra
Fim da primavera, 1884
––––––––
A Sra. Ava Southerly, nascida Ava Dallas, segurou na beirada da mesa de trabalho. O quarto dos fundos da farmácia girou ao redor dela.
Não, agora não, aqui não.
Mas as premonições nunca ocorriam quando era conveniente, apesar de ela não ter sido incomodada por uma há meses.
Ela cravou as unhas na madeira enquanto a visão ficou embaçada e tremeluzente com um brilho opalescente nas bordas. Forças invisíveis a puxaram, pressionando braços e pernas. Não importou se tentou fechar os olhos e manter a respiração estável, um sentimento de tontura tomou conta dela. Quando abriu as pálpebras, o que antes estava embaçado entrou em foco, mas o brilho perolado ainda enevoava tudo a sua frente.
Um homem se escondia ao longo da Stratford High Street, não muito longe de onde a Farmácia de Curas Brimball ficava. As águas escuras do rio Lea ondulavam e colidiam entre si atrás dele enquanto se mantinha nas sombras. A iluminação dos candeeiros pôs sua silhueta de altura mediana em evidência contra a escuridão da madrugada sem lua, e um sobretudo preto obscureceu a maior parte de sua figura.
O coração de Ava martelou as costelas por trás. Como sempre, ela não tinha como resistir àquela observação.
Um brilho de luz surgiu na lâmina prateada que ele segurava com força na mão direita—uma lâmina molhada com sangue fresco. Ele seguiu em frente com intenção implacável, movendo-se rigidamente com vaciladas estranhas como se não por vontade própria. Logo, ele se aproximou da farmácia. A porta verde do estabelecimento tremeluziu em sua visão.
Ela sacudiu a cabeça, mas não conseguiu se libertar da visão.
Quando ele passou debaixo do candeeiro que queimava bem em frente à loja, o cabelo escuro, partido em um dos lados, mas praticamente encaracolado nas têmporas e no colarinho, brilhou quase azul, como se ele fosse apenas um com a noite. E os olhos... Meu Deus, os olhos verde-esmeralda brilhavam com ódio e, ousaria ela dizer, malícia.
Por quê? E por que ele viria até a farmácia tão tarde da noite? O lugar não estaria aberto.
Então, ele estava na porta, batendo contra ela com um punho cerrado. O som terrível não diminuiu, mas a porta se abriu. Um vislumbre de uma saia safira adentrou sua visão, a bainha coberta com renda cinza em um vestido a rigor que ela havia recentemente encomendado à uma amiga costureira.
Ava deixou de respirar por um momento enquanto a acidez do medo surgia na garganta.
Ele ergueu a lâmina, e assim que o corpo dela preencheu o interior do batente da porta, ele desferiu a faca em um arco...
A visão dela escureceu e embaçou mais uma vez, e com um gritinho suave, ela se libertou da influência da premonição. A força deixou os braços e pernas. Ela tremeu como resposta ao frio enquanto mergulhava impotente ao chão duro, gasto e arranhado de madeira. A leveza da lã na saia envolveu suas pernas. As linhas cinzas e pretas a deixaram tonta, então ela levantou o foco do olhar até a mesa robusta de madeira.
Aquela havia sido a premonição mais intensa até então, e o contexto ainda mais assustador. Por que um homem desconhecido desejaria machucá-la ou, talvez, até mesmo matá-la? Ela não tinha inimigos; ela fazia de tudo para ajudar o próximo. Aquela havia sido uma das razões pela qual aceitara ser assistente do apotecário, uma espécie de aprendiz.
Ainda assim, como uma vida assim terminaria se ela continuasse a ter aquelas visões?
— Sra. Southerly, você está bem? — O tom preocupado na voz do Sr. Brimball enquanto entrava no quarto dos fundos a arrancou de suas reflexões.
Ela levou uma mão que tremia até a cabeça e guardou uma das mechas do cabelo, tão louro que parecia trigo, atrás da orelha.
— Este é um termo relativo, Sr. Brimball. — Ela tentou rir, mas o som saiu forçado com uma pitada de humor histérico.
— Ah, querida. Você teve outra visão, não teve? — O homem, ainda saudável com seus sessenta anos, correu até ela. Ele a ajudou a se levantar e segurou seu braço até ser capaz de ficar em pé sozinha sem cambalear.
— Acredito que sim. — O Sr. Brimball, seu mentor, amigo e chefe, foi a única pessoa no mundo a quem ela havia contado—além da família—sobre a aflição. Nos dias de hoje, não era o tipo de informação que alguém deveria deixar escapar... se desejasse se manter livre de ser internado ou cutucado e espetado como um rato de laboratório. Ela pressionou os dedos gelados contra as bochechas coradas enquanto observava o rosto gentil e cheio de rugas de preocupação dele. — Foi um tanto intensa... — Ela engoliu a própria saliva para ajudar na hidratação da garganta de repente seca. — ...havia um homem.
— Um homem? — Uma das sobrancelhas brancas e plumosas do Sr. Brimball se elevou. — Um encontro romântico?
As bochechas dela queimaram mais ainda.
— Não. — Ava balançou a cabeça. Ele sempre a aborrecia para que sossegasse e começasse uma família, dizendo que uma vida doméstica e calma a ajudaria a manter as visões longe. Se ao menos ele soubesse por que ela não poderia fazer aquilo. — O oposto. — Ela apertou as mãos na frente de si para aquietar a tremedeira. — O homem tinha uma faca, e quando eu abri a porta da farmácia, ele queria me matar ou me ferir. — Um arrepio percorreu a espinha dela, e apesar do calor ambiente do cômodo graças ao fogo na lareira, ela cedeu ao frio.
— Venha, sente-se. Irei fazer uma xícara de chá. — O Sr. Brimball a guiou até uma cadeira de costas retas de madeira perto do fogo e gentilmente a sentou. — Ainda deve ter água na chaleira, então isto aconteceu bem em tempo fortuito.
Ela não o dissuadiu de zanzar pelo quarto com a chaleira de cobre que havia descansado sobre a lareira de pedra, ou de paparicá-la enquanto enchia uma xícara de porcelana branca e azul em uma pequena mesa redonda ali perto com a água fervendo. Ela se concentrou nos movimentos sem pressa e familiares dele que transmitiam calma, e aquilo a ajudou a banir todos os efeitos nocivos da visão.
— Obrigada pelo chá — murmurou Ava enquanto ele a entregava a xícara. O forte e envolvente aroma do Earl Gray que ele havia preparado alcançou as narinas dela, e ela respirou fundo. — Sinto muito por tê-lo afastado de suas responsabilidades. — A farmácia era a paixão dele, e raramente abandonava o salão de entrada.
O homem mais velho riu. Ele tomou um golinho da própria xícara enquanto estava perto do pequeno fogo. Mesmo naquele dia próximo ao fim da primavera, a chuva incoerente ministrava ao ar um frio inflexível. — Não temos nenhum cliente agora. — Quando ele pousou o olhar marrom e desvanecido nela, ela sorriu. — Você é mais importante que eles em qualquer ocasião. — Ele repousou a xícara na mesa. — Você quer conversar sobre o que aconteceu em sua visão?
Ela queria? Com um leve chacoalhar da cabeça, ela disse:
— Não. — Geralmente, ela não conversava com ninguém logo após uma premonição ter ocorrido. Ainda era algo real demais, cru demais... confuso demais. Às vezes, aqueles vislumbres do futuro seriam como a vida se desenrolaria, outras vezes, seriam apenas avisos do que poderia ocorrer. Ela não sabia como diferenciar os dois.
— Justo. — O Sr. Brimball assentiu. — No que você estava pensando antes da visão?
— Na verdade, em nada. — Ela apontou para os frascos em cima da mesa de trabalho e também para as jarras contendo ervas e flores secas. — Eu estava me preparando para misturar extratos, e fazer um pacote de chá para a Sra. Abercrombie quando tudo aconteceu.
— Você não estava sob a influência de nenhuma emoção forte na hora? — Uma curiosidade ligeira foi quem teceu a questão.
— Não que eu saiba. — Ele era o único que sabia que as visões dela, na maioria das vezes, aconteciam quando sua vida pessoal se aventurava no caótico, mas durante o último ano, ela tivera cuidado para não convidar nada nem ninguém para sua vida que pudesse estragar o equilíbrio. — Eu me lembro de me concentrar em compor as misturas.
— Interessante. — Ele cruzou um braço sobre o peito enquanto coçava o queixo com o indicador da mão oposta. — Será possível que essa habilidade seja parte de sua fisiologia, e que essas manifestações se tonarão algo comum em sua realidade?
— Qualquer coisa é sempre possível. — O apotecário era um homem inteligente além de seus conhecimentos sobre cura. Por que ele permanecia naquela profissão deixava Ava confusa, mas ela nunca o questionou, porque ele amava o que fazia. — Mas por que agora?
— Realmente. Por que agora? — Ele continuou a coçar o queixo. Então, com uma expressão de esclarecimento, apontou o indicador para os céus. — Seu aniversário é amanhã.
Ela revirou os olhos.
— O que isso tem a ver com qualquer coisa que está sob o Sol?
— Tudo, minha querida. — Ele afagou a cabeça dela como se ela fosse uma criança de doze anos ao invés de uma mulher crescida prestes a atingir seu trigésimo-quinto aniversário. — O aniversário do dia de nascimento de alguém é poderoso. Há energias concentradas. Especialmente por esse dia também ser quando...
— Meu marido morreu. Sim, é algo difícil de esquecer. — Mas o que ele havia dito fazia sentido. Todas as vezes que as visões surgiam, realmente parecia que ela estava sendo sugada por um vórtice universal.
— Agora que estamos falando sobre isso, talvez o pobre Sr. Southerly tenha sido conduzido ao Além por forças fora de nossa compreensão.
Ela olhou bruscamente para o companheiro.
— Você acha que meu marido morreu por conta de minha história pessoal ou minhas... — Ava abaixou a voz, apesar de não ter ninguém por perto que pudesse escutá-la. — ...minhas habilidades?
Três anos atrás, o homem com quem tinha se casado—e a última vez que havia entregado o coração para qualquer pessoa—pereceu de tuberculose. Eles haviam estado casados por seis meses antes de ela tê-lo perdido, e ela mal tinha se acostumado a ser uma esposa quando não teve outra escolha se não se tornar uma viúva.
Mesmo assim, ela não poderia ignorar o que o Sr. Brimball dissera. A data em que havia se casado, assim como a data em que havia enviuvado tinham grande importância para ela, e, quando ocorreram, fizeram-na sentir emoções profundas.
E trouxeram à tona uma ou outra visão.
— Santo Deus. — Ela levou uma das mãos até a boca, chocada. A culpa de Harold estar morto era minha? Ela nunca quis aquelas habilidades, odiava quando as premonições aconteciam. O que aquilo significava? Isso é o que acontece quando sinto tudo profundamente demais.
O que apenas confirmava o que ela já havia posto em prática: seu coração nunca mais deveria se comprometer com ninguém.
— Talvez você devesse permanecer em casa amanhã. Fique na cama. Descanse. Será mais seguro. — Especulação brilhou no olhar dele. — E talvez seja hora de você lidar com sua descendência bruxa com mais seriedade. Ela parece estar se reafirmando em sua vida por alguma razão. É melhor prestar atenção antes que algo mais ameaçador ocorra a você além das fraquezas causadas pelas visões.
As quais a irritavam, porque ela mantinha um controle rigoroso sobre as emoções para que aquelas habilidades não se manifestassem de tal maneira. Mas elas persistiam em serem um incômodo.
— Ah, Sr. Brimball, por favor. Chega disso. — Ela acomodou a xícara na mesa com um suspiro. Um tremor de mau pressentimento envolvia seu interior a qualquer menção de bruxas. Ela havia firmemente deixado a história de seu passado... no passado, onde deveria permanecer. Quando ele não disse nada e apenas ergueu as sobrancelhas, ela continuou. — Isso foi há quase trezentos anos, e as histórias contadas podem muito bem ter sido inventadas e embelezadas conforme o tempo passava. Nós dois sabemos disso.
— Claro, mas todas as histórias têm um pouco de fato e verdade. Especialmente quando há bruxas ou magia envolvidas. — Ele ficou pensativo mais uma vez. — Não foi você quem me disse em um encontro que seu sobrenome foi trocado quando sua família se mudou para Londres?
— Sim, mas isso foi há gerações. Como isso poderia ser relevante...
— Ele não foi trocado para evitar que sua linhagem fosse detectada por aqueles que lhe desejavam mal?
— Sim, mas isso foi no tempo de meu avô, quando a família finalmente chegou a Londres da Escócia, da Irlanda ou do País de Gales, ou de qualquer raio de lugar onde estivessem morando—Papai nunca foi claro e se recusava a discutir tais coisas. Nada mais nunca foi dito sobre isso. — Especialmente não quando ela havia sido deserdada e jogada para fora da casa da família aos dezessete anos por ainda outro incidente trágico... Ela coçou os olhos e, então, levantou-se. — São apenas histórias, nada mais. Não há mais bruxas nem caçadores de bruxas na sociedade de hoje — disse ela, com a voz mais suave.
— Então você assume isso, mas e a arte que você pratica?
— Não é magia nem se parece com bruxaria. Eu espero. — A alternativa não poderia ser suportada. Um pressentimento surgiu, frio e pegajoso, no estômago. De acordo com as lendas da família, os três bruxos irmãos—um homem e duas mulheres—morreram na Escócia em 1590. Seus descendentes se espalharam, sumindo sob a proteção da escuridão, só para nunca mais serem descobertos. Ainda assim... — Você não acredita nisso, acredita? — Ela havia descendido da linhagem masculina, de Niall Dalais, e em algum momento nas gerações passadas, o sobrenome da família havia mudado para Dallas.
Pela sobrevivência. De onde aquele pensamento tinha vindo?
— Talvez não. Como a maioria das situações, o tempo irá dizer. — Então, ele estremeceu. — Por hora, devemos deixar isso de lado em nossas mentes, até que, então, outro incidente deixe inquestionável a questão de não ignorar suas origens.
Até que, então... Céus misericordiosos. A hora seria realmente agora? Mas para qual propósito?
— Concordo — assentiu Ava. Uma pitada de alívio a percorreu. — Obrigada, Sr. Brimball. Eu agradeço sua preocupação.
Ele deu pequenos tampinhas no ombro dela.
— Você está comigo há seis anos, Ava. Eu a considero como filha. Quero o melhor para você... mesmo se você não quiser parar de ser minha assistente e abrir sua própria farmácia. Você tem as habilidades e o talento necessários.
O calor incendiou as bochechas dela.
— Não há nenhum lugar onde eu prefira estar que aqui. É confortável como um par de botas velhas, e eu não o deixarei. — Eles já haviam tido aquela mesma discussão antes, diversas vezes. Sem dúvida, ele desejava a garantia assim como ela precisava da segurança.
— Muito bem. — O prazer cintilou nos olhos dele. — Acho que essa loja será sua de qualquer maneira, as coisas são como devem ser. — Então, a expressão dele ensombreceu. — Falando sobre seu futuro, não quero que sua vida seja assombrada por um passado sobre o qual você não teve nenhum controle. Contido se o destino a chamar, você não será capaz de ignorar as intimações, como as visões indicam. Eu estarei aqui para ajudá-la com o que quer que esteja à espreita. Se não apenas para sua paz de espírito.
As palavras genuínas, se não assustadoras, trouxeram lágrimas aos olhos dela.
— Obrigada. — Ao longo dos anos, ela aprendera a confiar no homem e vê-lo como um pai substituto que preencheu o vazio onde o próprio pai havia falhado. O que ela teria se tornado se ele não tivesse intervindo e oferecido para treiná-la como uma apotecária, ela não era capaz de imaginar. — Por tudo.
Nos anos