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Mapas Mentais: Dialogismo e Representações
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Mapas Mentais: Dialogismo e Representações
E-book515 páginas10 horas

Mapas Mentais: Dialogismo e Representações

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Sobre este e-book

O livro Mapas Mentais: Dialogismo e Representações lança um novo olhar sobre os mapas mentais enquanto representação resultante de um processo dialógico entre o "Eu" e o "Outro". Nele, os mapas mentais são apresentados sob diferentes óticas, proporcionando, além de uma reflexão sobre o conceito, a sua aplicação teórica e metodológica. Seja pelo caráter diagnóstico, seja pelo dialógico, sua leitura demonstra o alcance que a aplicação desse dispositivo teórico e prático pode atingir para desvelar as subjetividades construídas pelos sujeitos nas suas relações com o espaço geográfico. A obra ressalta ainda a importância da atribuição de novos significados ao mundo das imagens, mesclando ciência e arte a partir da percepção, cultura e representação do lugar. O livro está estruturado em duas partes. A primeira trata dos fundamentos teórico-metodológicos referentes às representações aqui denominadas mapas mentais. A segunda constitui-se de 20 trabalhos oriundos de pesquisas de mestrado e doutorado desenvolvidas na UFPR, apresentando reflexões e a aplicação empírica dos mapas mentais nas áreas de Representação e Educação Escolar, Educação Indígena e Educação Ambiental; Percepção e Representação da Paisagem e do Lugar; Representação do Turismo e Espacialidades das Festas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de out. de 2019
ISBN9788547315160
Mapas Mentais: Dialogismo e Representações

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    Mapas Mentais - Salete Kozel

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 do autor

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Dedico esta obra que é parte importante de minha vida acadêmica a um ser iluminado que amava a liberdade como os pássaros a vida em plenitude os amigos e a família.

    Saulo Kozel Teixeira

    Carinhosamente, meu irmãozinho Linho, que tive o privilégio de ter em meu grupo familiar.

    O caçulinha da família de Saulo e Ottilia.

    Seu espírito elevado imprimia um caráter conciliador, íntegro e ético,

    temperado com muita alegria e descontração.

    Um artista que imprimia em cada projeto gráfico que desenvolvia um pouco de sua alma, tornando-o uma obra de arte.

    A referência para todos os familiares, reconhecimento dos amigos...

    Saudade e amor eterno.

    APRESENTAÇÃO

    A realidade humana é uma realidade espacial. Sendo assim, o espaço está para além de uma configuração física, como se tão somente fosse uma espécie de sustentáculo da vida e das atividades humanas. Dimensão espacial da sociedade e igualmente dimensão interior do ser humano, o espaço, quando tomado na perspectiva humanista e cultural da geografia, é apreendido pela experiência. Crescemos nos moldes do intelectualismo cartesiano: homem, um ser racional! Sem dúvida, uma herança difícil de ser superada.

    As viragens pelas quais a ciência geográfica foi impactada foram determinantes para a incorporação em suas abordagens de outra concepção de ser humano, a de um ser também emocional. Nossa inserção no mundo se dando pela experiência necessariamente comporta sentimento e pensamento. Nossa tomada de consciência, de uma consciência espacial, demanda uma inteligência corporal-sinestésica, além da visão, do tato, sem excluir o olfato, a audição e o paladar. Em decorrência disso, os odores variados, as sonoridades, as formas e as cores, as sensações táteis repercutem na estruturação do espaço pelo ser humano, esse ser que é, a um só tempo, racional e emocional. A inteligência, consequentemente, também atua na estruturação do espaço, dos mundos do humano. O espaço, assim posto, é pensado, vivido, experienciado, concebido e, por que não, sonhado. A experiência nos constitui e por meio das emoções e do pensamento atribuímos cores aos nossos mundos, dispondo para isso de uma gama de tonalidades.

    Nesse contexto, parcelas determinadas do espaço tornam-se mais e mais familiares, incorporadas que são ao nosso íntimo, tornando-se lugares. A lida com esse categorial do espaço proporciona adentrar as dimensões topofílica e topofóbica do espaço, nas quais os sujeitos exprimem suas emoções e sentimentos sempre que experienciam relações espaciais. Espaço e Representação se imbricam e proporcionam um vasto e rico campo de investigação e pesquisa, particularmente por oferecerem o desafio de se desvelarem as relações espaciais estabelecidas pelos sujeitos a partir da percepção e representação dos lugares vividos e experienciados, concebidos e sonhados.

    As múltiplas formas de representação podem constituir objetos de estudo, contribuindo para a análise, o entendimento e a significação de experiências marcadas culturalmente por símbolos e signos que povoam nosso imaginário. Como adentrar o imaginário dos sujeitos? Como explorar a construção e a função das representações que circulam pelos lugares de vivência desses sujeitos? Como dar voz e ouvir os sujeitos, empoderando-os, mas também tirando lições na interminável luta pela restituição do sentido à vida, do resgate da esperança e da emancipação dos sujeitos? Como fazer emergir das profundezas de suas memórias as relações com o espaço, com os saberes coletivos inconscientes e obscuros que iluminam seu viver cotidiano?

    Concebendo as representações também como significativas leituras espaciais, a utilização dos mapas mentais foi incorporada às investigações, sendo esses mapas tomados como um poderoso dispositivo teórico e prático de pesquisa. Curiosamente, os mapas desenhados desde sempre pelo ser humano são uma expressão do espaço pensado. Diz respeito, portanto, à capacidade de registrar e conceituar relações espaciais. Na mesma direção, os mapas mentais são criações da mente oriundas de muitas vozes que ecoam das relações estabelecidas entre o Eu e o Outro. Tal processo nos remete a Bakhtin e aos princípios da Filosofia da Linguagem, em que os signos resultantes das interlocuções guardam um estreito vínculo com o dialogismo. Isso posto, a interface entre a psicologia cognitiva, a comunicação e a semiótica fundamentou uma abordagem metodológica, consagrada como Metodologia Kozel. Tal abordagem cria a possibilidade de leitura e interpretação dos mapas tais como enunciados que se articulam a um discurso. Os mapas mentais correspondem, portanto, a textos a serem desvelados.

    Diante do exposto, resta-nos destacar que a obra que ora apresentamos espelha nossa busca pelos significados e, sobretudo, pelo reencantamento das relações espaciais. Mais até do que isso, na identificação, no reconhecimento e na assumpção da alma dos lugares, das paisagens. O meio ambiente, a organização social e a cultura encontram-se entrelaçados, agindo na constituição de vínculos territoriais. Nesse agir, o ser humano cria paisagens e territórios emocionais e espirituais, dotados de alma.

    A pesquisa com mapas mentais iniciada em 2001, a partir da construção de minha tese de doutorado, possibilitou percorrer meandros, labirintos, espirais e outros caminhos metafóricos desse apaixonante e envolvente universo da Geografia Cultural. A linha de pesquisa Cultura, Espaço e Representação do PPGG da UFPR foi de fundamental importância para a expansão da aplicação de mapas mentais nas investigações acadêmicas, por meio de inúmeras pesquisas de mestrado e doutorado. Daí que estruturamos a obra em dois eixos. O primeiro, voltado para uma discussão teórica acerca de mapas mentais, com diversas nuances. E o outro, que apresenta a aplicação empírica, síntese de 20 trabalhos, entre teses e dissertações, desenvolvidos por meus orientandos, evidenciando assim o teor e o alcance dos mapas mentais na pesquisa. Além de significarem a aplicação dos princípios teóricos e das abordagens metodológicas discutidos na parte inicial da obra, os artigos buscam explorar e ampliar os estudos das percepções e representações que os sujeitos das pesquisas constroem nas suas relações com os lugares e as paisagens, refletindo um intenso e constante diálogo com suas experiências de vida.

    Por último, a coletânea de artigos reflete a trajetória, a busca e a importância dessa temática, proporcionando variadas possibilidades a partir das representações, especialmente pelo viés dos mapas mentais.

    Curitiba, primavera de 2017.

    Salete Kozel

    PREFÁCIO

    A primeira parte deste prefácio contempla, em um vol d’oiseau, os contextos epistemológicos da história recente da Geografia, que tornaram possível e oportuno o livro ora prefaciado.

    Exatamente 20 anos atrás, John Dickenson, geógrafo de Liverpool, e o autor deste prefácio, faziam graves constatações sobre a Geografia praticada por parte considerável da comunidade internacional dos geógrafos nas décadas anteriores. Entre tais constatações podem ser mencionadas:

    •  Nos últimos anos, um certo número de geógrafos britânicos, americanos e de alguns outros países tem procurado mostrar que, como uma consequência das rápidas e confusas mudanças que vêm ocorrendo na Geografia desde os anos 1950, a disciplina esteja, talvez, perdendo de vista sua preocupação com o mundo real". O que Lawton¹ descreveu como tempestades metodológicas sucessivas, desde a revolução quantitativa dos anos 1960 até a introdução de ideias marxistas, foram orientações que serviram, entre outras coisas, para obscurecer questões antigas e fundamentais na Geografia, como, por exemplo, "onde se localiza? Por que se localiza aí? Quais as consequências de se localizar aí?".²

    •  O interesse pelo lugar é, igualmente, uma preocupação importante do estudo desenvolvido por Lawton. Nós deveríamos, como geógrafos, não saber meramente onde os lugares estão, mas, também, como eles são e como e por que eles se modificam no tempo. Além disso, é importante que sejamos conscientes não somente da individualidade dos lugares, mas, também, do sentido de lugar e da imagem do lugar das pessoas em suas percepções e preferências ambientais. Na busca de modelos gerais, terminamos por encarar o mundo como, na melhor das hipóteses, uma fonte de exemplos e não como um mosaico de lugares diferenciados: perdemos de vista a diversidade e a variabilidade do mundo real.

    •  Pocock³ alega que a busca de uma abordagem mais científica na Geografia conduziu a uma preocupação primária com a coleta e a mensuração de dados, com a finalidade de se obter material para o teste de modelos, e a uma consequente negligência em relação aos lugares reais e concretos dos quais a informação é derivada"⁴.

    Essas considerações críticas estão voltadas para certas tendências dominantes na atividade dos geógrafos nas três décadas (1960, 1970 e 1980) que marcaram a perda de prestígio e as tentativas de substituição da chamada Geografia Clássica, que tinha se constituído a partir das contribuições epistemológicas de grandes geógrafos alemães e franceses do século XIX e da primeira metade do século XX.

    Nos 20 ou 30 anos do pós-Segunda Guerra Mundial, com base numa leitura naive da obra de Thomas Kuhn, um grupo de geógrafos (em sua maioria anglo-saxões e nórdicos) propôs a substituição pura e simples de toda a Geografia Clássica por um novo paradigma: a análise espacial. A alegação principal era a de que os geógrafos clássicos, em especial os da denominada escola vidaliana, pecavam por carências científicas e eram pouco eficientes. O suporte epistemológico para essa Nova Geografia devia ser uma forma modernizada de positivismo acompanhado de uma busca de teorização, tudo isso mediado pelo uso intensivo da quantificação e da informática.

    Com esse novo paradigma, a Geografia teve ganhos inegáveis, principalmente em termos teóricos e técnicos. Além disso, é verdade que a Geografia se tornou mais científica, aproximando-se, consequentemente, das ciências consideradas de ponta. Mas esses atributos novos, conquistados rapidamente, cobraram um preço, e este foi um excesso de abstração e de tecnocracia que, naturalmente, conduziu a perdas consideráveis no que diz respeito à humanização da Geografia e ao contato estreito e direto que os geógrafos clássicos sempre tiveram com a realidade concreta e, inclusive, experiencial dos "mundos vividos".

    A reação mais imediata e contundente a uma postura paradigmática neopositivista e tecnocrática da análise espacial veio de geógrafos convertidos a certas diretrizes conceituais neomarxistas, acopladas ao espaço geográfico por alguns filósofos europeus, entre os quais se destacava, nos anos 1960 e 1970, Henri Lefebvre. Com base em contribuições como essa foi construído, principalmente durante os anos 1970, um novo paradigma na Geografia, cujos defensores alegavam que, mais importante do que coletar dados quantitativos para testar modelos funcionais dos espaços urbanos e econômicos seria desvendar os mecanismos estruturais (nem sempre identificáveis e visíveis facilmente) que produzem e reproduzem os espaços geográficos de acordo com os desígnios do capital e do poder. Para isso, o que é proposto pela metodologia radical, ou crítica, é pesquisar as "formações socioespaciais e as respectivas evoluções temporais por meio das dialéticas socioespaciais".

    Essas perspectivas epistemológicas têm sido reforçadas, sobretudo a partir dos anos 1990, pelas abordagens dos lugares tanto como "fixos (onde os capitais são aplicados ou por onde fluem") quanto como locais de exclusão segundo classe, raça, gênero etc. Também nesse caso não se pode negar que, com os críticos, a Geografia ampliou seus fundamentos epistemológicos e sua temática social. Porém, mesmo colocados em posições teóricas opostas, os dois paradigmas têm algo em comum que pode colocar em risco a própria identidade da Geografia: rompem com tradições da prática geográfica consolidadas secularmente, como os trabalhos de campo, as cartografias e as descrições subjetivas, o uso de certas fontes artísticas, como as literárias, o estudo das paisagens como representações de lugares carregados de vivências e de valores tanto coletivos quanto individuais.

    Assim, uma tendência ou um movimento de geógrafos (com raros ou inexistentes contatos entre si, pelo menos em um primeiro momento, portanto sem a intenção de estabelecer um novo paradigma) foi se fortalecendo, também a partir dos anos 1970, produzindo estudos alternativos que resgatavam as características de uma Geografia menos orientada pelas normas da cientificidade a todo custo, da busca exclusiva da objetividade, ou de uma Geografia que se guia pela pesquisa prioritária das estruturas econômicas e de classes sociais, capazes de produzir e de explicar as feições espaciais nas quais vivem as sociedades.

    Os componentes desse movimento multifacetado de geógrafos insatisfeitos com os paradigmas dominantes foram inicialmente agrupados sob a denominação coletiva de "Geografia Humanística, posteriormente Geografia Humanista". Essas práticas estão contidas numa nova geograficidade, com uma vastíssima temática – correspondente à variedade de seus praticantes –, mas essa temática tem como polos de atração principais as experiências subjetivas dos lugares e paisagens. E essas opções temáticas, que não estão em busca de modelos, teorias ou estruturas, pedem naturalmente diretrizes epistemológicas, com métodos e técnicas compatíveis.

    Do ponto de vista filosófico e metodológico, a Fenomenologia, em suas variações, tem sido capaz de fornecer a maior parte das respostas procuradas pelos geógrafos humanistas. Do ponto de vista das linguagens utilizadas para comunicar – na academia, e, sobretudo, fora dela –, uma ampla busca tem sido feita, inclusive com a adoção de toda uma rica terminologia e a prática de uma cartografia original.

    É nesse vasto contexto que assumem uma dimensão bastante nova formas bem antigas de representações geográficas não científicas, como, por exemplo, os croquis e os mapas mentais. E é nesse domínio que se inserem a autora principal, os demais autores e o livro, objetos deste prefácio.

    A segunda parte deste prefácio está voltada para algumas considerações pessoais sobre Salete Kozel, organizadora e principal autora da presente obra.

    Salete Kozel foi minha aluna em um curso de especialização, na PUC Minas, em Belo Horizonte/MG, em meados dos anos 1970. Desde então, tornamo-nos amigos, participamos de vários eventos e movimentos dos geógrafos, e o mais importante é que nunca deixamos de compartilhar certos princípios e valores epistemológicos fundamentais da Geografia.

    Três qualidades essenciais chamaram minha atenção na jovem Salete Kozel, desde os primeiros contatos, nos já distantes anos 1970: o entusiasmo contagiante, uma incrível capacidade de trabalho e, sobretudo, sensibilidade acima da média para os aspectos mais importantes da prática da Geografia, em especial para aqueles que fazem de alguns geógrafos grandes educadores. Com o suporte dessas qualidades, a professora Salete Kozel construiu uma das mais belas trajetórias profissionais entre as geógrafas brasileiras, com mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo e uma carreira docente, com grande protagonismo, na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, escola de muita tradição e de nomes destacados de nossa Geografia.

    No início do novo século, tive a honra e a alegria de participar, juntamente com Salete Kozel, o estimado amigo Sylvio Fausto Gil e outros colegas, da criação do Núcleo de Estudos em Espaço e Representação (Neer), uma importante rede interuniversitária de pesquisa sobre o tema das percepções e representações das paisagens e lugares. Não é necessário dizer que desde o início Salete Kozel assumiu a liderança do Neer, sendo a principal responsável por sua continuidade no difícil contexto universitário que caracteriza o Brasil da atualidade.

    Não posso deixar de mencionar neste prefácio o grande leque de relações acadêmicas, internacionais e nacionais desenvolvidas por iniciativa de Salete Kozel. No nível internacional, entre outras interações, podem ser citadas, por sua importância, aquelas desenvolvidas com os professores Paul Claval e Francine Barthe-Deloizy (ambos da Universidade de Paris IV, França); com o professor Antoine Bailly (Universidade de Genebra, Suíça); os professores Peris Persi (Universidade de Urbino) e, sobretudo, Giuliana Andreotti (Universidade de Trento), ambos da Itália; o professor Clemente Herrero Fabregat (Universidade Autônoma de Madri, Espanha) e o professor João Sarmento (Universidade do Minho, em Guimarães, Portugal). No Brasil, essas interações têm sido tão numerosas que a simples menção a algumas delas significa um esquecimento injusto das demais. Mas, mesmo correndo esse risco e com base em minhas percepções, limitadas pela distância do afastamento geográfico de Belo Horizonte e Curitiba, gostaria de fazer referência às parcerias de Salete Kozel com: Álvaro Luiz Heidrich (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre); Christian Dennys M. de Oliveira (Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza); Josué da Costa Silva (Universidade Federal de Rondônia, em Porto Velho); Maria Geralda de Almeida (Universidade Federal de Goiás, em Goiânia); Nelson Rego (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre) e Sônia Regina Romancini (Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá).

    Para concluir essas breves considerações pessoais sobre a trajetória da autora deste livro, algo que não pode ser esquecido é que, desde os anos 1970, compartilhamos com fidelidade e continuidade uma discreta francofilia, sobretudo quando se trata de Geografia.

    A terceira e última parte do prefácio busca refletir, principalmente de um ponto de vista epistemológico, sobre o presente livro de Salete Kozel e seus orientandos da Universidade Federal do Paraná.

    A obra se divide formalmente em três seções, que, na verdade, podem ser agrupadas em duas partes, tendo em vista seu conteúdo. A introdução, principalmente com uma visão panorâmica e rápida da trajetória epistemológica da autora, pode ser acoplada à primeira parte, que aprofunda o quadro inicial e que poderia ser chamada de "os fundamentos conceituais e principais valores contidos na obra acadêmica de Salete Kozel". A primeira parte representa, em termos dimensionais, cerca de um terço de todo o livro, mas se constitui na parte que possui mais densidade teórico-metodológica. É nessa parte que se pode perceber, com riqueza de detalhes, quais são as principais fontes do pensamento geográfico atual de Salete Kozel. Aí, com base em uma revisão bibliográfica extensa e plural, são submetidas a uma análise cuidadosa as contribuições de numerosos geógrafos e de outros intelectuais com interesse no espaço geográfico, tanto internacionais quanto brasileiros. Esses pensadores têm algo muito importante em comum: situam-se em posição de crítica e/ou de contradição em relação a certas posturas paradigmáticas de orientação positivista ou, mesmo sem ser positivista, excessivamente cientificista, rígida e totalitária.

    Uma das vias tomadas por Salete Kozel nessa caminhada tem a ver, por exemplo, com a defesa de rotas alternativas e menos ortodoxas em um domínio crucial do fazer geográfico, pois se trata de nossa linguagem mais específica e representativa: a cartografia.

    Não se trata, evidentemente, de negar a importância fundamental da cartografia tradicional, cada vez mais avançada científica e tecnologicamente, inclusive subindo para novos e fascinantes patamares com os SIGs desenvolvidos nas últimas décadas. Na verdade, o que buscam Salete Kozel e tantos outros (entre os quais gostaria de ser incluído) é, talvez, no campo das representações cartográficas, trilhar novos caminhos que possam conduzir a essas infinitas e multifacéticas "terrae incognitae" de nossas mentes e imaginações, apresentadas há muitas décadas por John K. Wrigth em seu icônico artigo de 1947, como certamente a última e mais extraordinária fronteira da Geografia. E a pergunta seminal de todos os geógrafos que estão na busca dessa última fronteira é, então: como explorar e, sobretudo, mapear essas misteriosas terrae incognitae?

    Assim, é para poder trilhar essas sendas desconhecidas que Salete Kozel fala sucessivamente de percepção ambiental, cognição, representação para, enfim, chegar aos Mapas Mentais.

    Para que sejam entendidos todos os contextos que tornaram possível a concretização dessa grande busca, cita, entre outros, no nível internacional: Peter Gould, Rodney White, Roger Downs, David Stea, Kevin Lynch, Antoine Bailly, Edward Relph, David Lowenthal, Yi-Fu Tuan. No nível nacional, entre vários outros, principalmente: Lívia de Oliveira, Lineu Bley, Lucy Marion C. Philadelpho Machado.

    Porém, para quem acompanha a trajetória de Salete Kozel e, sobretudo, o que transparece na segunda parte deste livro, é que sua abordagem dos Mapas Mentais repousa principalmente em três pilares intelectuais, bem diferentes entre si, mas que se completam fortemente: as contribuições do geógrafo/cartógrafo britânico John Brian Harley (1932-1991), que se propõe a "desconstruir os mapas tradicionais; do psicólogo, também britânico, Tony Buzan (1974), que populariza em escala global a construção e a interpretação dos mind maps" e, finalmente e de modo especial, as contribuições do pensador (historiador e filósofo) russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), que se dedicou a uma multidão de questões, entre as quais se destacam a psicologia cognitiva, a comunicação e a semiologia. Essas contribuições de Bakhtin levam aos princípios da filosofia da linguagem, voltados para os sistemas de representação, nos quais os signos, resultantes das interlocuções, assumem papel preponderante, construindo-se, a partir de todo esse conjunto, aquilo que foi denominado Dialogismo.

    Nesse contexto epistemológico é que, pouco a pouco, foi sendo construído o que se convencionou chamar de "Método Kozel", abordagem metodológica que sintetiza, por assim dizer, a experiência de pesquisa de Salete Kozel. Uma proporção considerável dessa experiência se projeta nas dissertações e teses orientadas por Salete Kozel e que formam a parte mais extensa deste livro, dissertações e teses que foram resumidas sob a forma de pequenos artigos ou capítulos pelos respectivos autores.

    A parte final do livro está, então, integralmente focada nas teses e dissertações (duas dezenas) orientadas por Salete Kozel na Universidade Federal do Paraná, desde o início do século XXI. Portanto trata-se da parte relacionada com a aplicação dos princípios teóricos e das abordagens metodológicas discutidos nas partes iniciais do livro. Essas teses e dissertações, como já foi mencionado, foram a referência para os textos que aparecem neste livro, elaborados por seus autores sob a forma de capítulos (artigos) de dimensões pequenas e semelhantes em termos de número de páginas.

    Há, naturalmente, uma grande coerência e uma grande unidade temática entre os artigos: todos buscam explorar e ampliar os estudos das percepções e representações que os sujeitos pesquisados constroem dos lugares e paisagens de suas experiências de vida, a partir de suas representações, em especial dos Mapas Mentais. Fica fácil detectar, nessa temática, sem que sejam inibidas a criatividade e a individualidade de cada autor, a forte presença intelectual da pesquisadora-orientadora.

    Porém, com o olhar fixo nos objetivos temáticos comuns, os pesquisadores orientados por Salete Kozel trabalharam uma pluralidade de temas que podem ser sintetizados nas percepções e representações de:

    •  Educação geográfica ou ambiental;

    •  Lugares e paisagens no turismo;

    •  Estudantes e crianças;

    •  Festas folclóricas;

    •  Águas e rios amazônicos;

    •  Áreas de preservação ambiental;

    •  Povos indígenas da Amazônia etc.

    Essas pesquisas se realizaram inicialmente em Curitiba e em outros lugares do Paraná, mas sobretudo a partir do final da última década, mestrandos e doutorandos ampliaram consideravelmente a localização dos trabalhos orientados por Salete Kozel. A ampliação se deu principalmente na direção da Amazônia (em especial, Rondônia) e imediações (Mato Grosso, de um lado, e Maranhão, de outro).

    Quanto à formação profissional dos pesquisadores orientados, destacam-se naturalmente os professores de Geografia e os geógrafos. Porém, vários outros profissionais também produziram teses e dissertações no âmbito da Geografia Humanista ensinada por Salete Kozel, particularmente aqueles egressos da Arquitetura, do Turismo, das Letras e das Geotecnologias.

    Por tudo que acabamos de relatar neste prefácio (que já está ficando longo...), o livro de Salete Kozel inscreve definitivamente sua autora e a Universidade Federal do Paraná nas explorações mais recentes e bem-sucedidas das últimas fronteiras epistemológicas da Geografia brasileira. Porém, mesmo com esse importante caminho aberto por Kozel e associados, não podemos nunca esquecer que a exploração dessas "terrae incognitae" das imaginações geográficas das mentes e corações dos seres humanos está apenas em seus limiares.

    Belo Horizonte (PUC-Minas), Outubro/2016

    Oswaldo Bueno Amorim Filho

    REFERÊNCIAS

    DICKENSON; J. P; AMORIM FILHO, O. B. Geografia Experiencial - uma perspectiva binacional. Caderno de Geografia, Belo Horizonte, v. 6, n. 7, p. 23-32, jul. 1996.

    LAWTON, R. Space, place and time. Geography, v. 68, n. 1, p. 193-207,1993.

    POCOCK, S. Clinical Trials: a Practical Approach. New Jersey: Wiley-Blackwell, 1983.

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO

    PRIMEIRA PARTE

    UM PANORAMA SOBRE OS MAPAS MENTAIS

    KOZEL, Salete

    1 - REPRESENTAÇÃO E MAPAS MENTAIS:

    ENTRE O VISÍVEL E O SENSÍVEL, MEMÓRIAS EXISTENCIAIS

    2 - MAPAS MENTAIS COMO INSTRUMENTO PARA A GESTÃO DA INFORMAÇÃO,

    MEMORIZAÇÃO E PLANEJAMENTO

    ³ - MAPAS MENTAIS COMO APORTE GEOGRÁFICO

    ⁴ - MAPAS MENTAIS SOB A PERSPECTIVA SIMBÓLICA:

    DESVENDANDO O LUGAR E SEUS SIGNIFICADOS

    ⁵ - ESPAÇO E REPRESENTAÇÃO SOB O OLHAR SOCIOCULTURAL

    6 - DESVELANDO MAPAS MENTAIS NA PERSPECTIVA DIALÓGICA:

    METODOLOGIA KOZEL, UMA POSSIBILIDADE

    REFERÊNCIAS 64

    SEGUNDA PARTE

    DANDO VOZ AOS PROTAGONISTAS DA PESQUISA

    REPRESENTAÇÃO E ENSINO

    A - EDUCAÇÃO ESCOLAR

    ¹ - REPRESENTAÇÃO ESPACIAL TOPOFÍLICA:

    Música e Mapas Mentais no Ensino de Geografia

    CORREIA, Marcos Antonio

    ² - O CONCEITO DE FRONTEIRA PELO OLHAR DE ALUNOS

    DO ENSINO MÉDIO EM GUAJARÁ-MIRIM

    FILIZOLA, Roberto

    ³ - OS MAPAS MENTAIS NA INTERFACE ENTRE A GEOGRAFIA E A EDUCAÇÃO

    GALVÃO, Wilson

    ⁴ - REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR POR MEIO DO MAPEAMENTO MENTAL COLETIVO

    MALANSKI, Lawrence Mayer

    ⁵ - MAPA MENTAL DIGITAL:

    DO PICTÓRICO AO CLÁSSICO PROPOSTAS EM REPRESENTAÇÃO E ENSINO DE GEOGRAFIA

    MATOZO, Marcus Antonio

    ⁶ - DO ESPAÇO AO LUGAR – REFLEXOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NAS SÉRIES INICIAIS

    PEREIRA, Michele Batista

    B - EDUCAÇÃO INDÍGENA

    ⁷ - MAPAS MENTAIS E AS REPRESENTAÇÕES GEOGRÁFICAS

    NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA DO POVO ORO WARI (RO)

    AMARAL, Gustavo Gurgel do

    ⁸ - O OLHAR DE PROFESSORES INDÍGENAS DE RONDÔNIA SOBRE O LUGAR

    SANTOS, Alex Mota dos

    C - EDUCAÇÃO AMBIENTAL

    ⁹ - A PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ (CEP),

    CURITIBA/PR: EM BUSCA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

    LOPES, Laura Patrícia

    ¹⁰ - OLHARES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR ALUNOS

    DE ESCOLA PÚBLICA DO ENSINO FUNDAMENTAL

    OLIVEIRA, Nilza

    PERCEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA PAISAGEM E DO LUGAR

    ¹¹ - A ÁGUA EM COMUNIDADES AMAZÔNICAS: SENTIDOS E PERCEPÇÕES

    AGRA, Klondy Lúcia de Oliveira

    ¹² - A CONSTRUÇÃO DA TERRITORIALIDADE CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

    KASHIWAGI, Helena Midori

    ¹³ - MAPAS MENTAIS EM PESQUISA GEOGRÁFICA: EM BUSCA DA SANTA FELICIDADE

    LIMA, Angélica Macedo Lozano

    ¹⁴ - Mapas Mentais e A INTERFACE DIALÓGICA DOS Barqueiros e ribeirinhos

    DO RIO MADEIRA

    SOUSA, Lucileyde Feitosa

    ¹⁵ - OS MAPAS MENTAIS NA COMPREENSÃO DOS LUGARES (E) DA VIDA

    TORRES, Marcos Alberto

    REPRESENTAÇÃO DO TURISMO

    ¹⁶ - O MAPA MENTAL COMO POSSIBILIDADE DE REFLEXÃO

    DAS REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA

    BERTIN, Marta

    ¹⁷ - CENTRO HISTÓRICO DE CURITIBA: MÚLTIPLAS PERCEPÇÕES

    MÄNNICH, Carla

    ¹⁸ - REVELANDO O TURISMO RURAL: OS CAMINHOS DE GUAJUVIRA, EM ARAUCÁRIA/PR

    NITSCHE, Leticia Bartoszeck

    ESPACIALIDADES DAS FESTAS

    ¹⁹ - A EXPRESSÃO DO LUGAR NO BUMBA MEU BOI DO MARANHÃO

    GONÇALVES, Luciléa Ferreira Lopes

    ²⁰ - REPRESENTAÇÕES FESTIVAS: O BOI-À-SERRA EM SANTO ANTÔNIO DE LERVERGER/MT

    TEIXEIRA, Maisa França

    SOBRE OS AUTORES

    INTRODUÇÃO

    Vivemos no mundo das imagens, e, como integrantes desse contexto, inquietações nos movem na busca da compreensão dessa fascinante aventura que nos proporciona o desvendar das imagens ou representações, o que é referendado por Rubem Alves⁵, quando diz: Amo as imagens, mas elas me amedrontam. Imagens são entidades incontroláveis que frequentemente produzem associações que o autor não autorizou. Os conceitos, ao contrário, são bem comportados, pássaros engaiolados. As imagens são pássaros em voo... Daí seu fascínio e perigo. Decodificar uma imagem é fascinante; ao desvendar os signos passamos a estabelecer um interessante diálogo livre e sem amarras.

    Com a expansão dos meios de comunicação, as diferentes mídias promoveram o fortalecimento de uma cultura visual, redimensionando as bases do conhecimento humano. Desde a mais tenra idade, o ser humano passa a interagir com um universo de imagens, seja por meio dos videogames e computadores, seja pela televisão e pelos aplicativos disponibilizados em tablets e smartphones. O poder das imagens é evidente, sobretudo na publicidade, em que vultosos investimentos manipulam desejos, valores e comportamentos. A comunicação já não depende da linguagem escrita ou falada, visto intensificarem-se o mundo das imagens, da realidade virtual, das representações norteadas pela tecnociência e seus reflexos... o ser humano torna-se apenas um ponto nodal da rede de informações⁶.

    Sendo assim, um desafio torna-se imperioso: refletirmos sobre os procedimentos de decodificação e produção de imagens, de modo tal a adentrarmos esse mundo fascinante, mas que reclama por um espírito crítico e ético. Esse compromisso adquire uma dimensão ainda maior sempre que nos posicionamos como educadores. Nesse aspecto, propiciar a compreensão das imagens enquanto linguagem a ser decodificada é instrumentalizar os sujeitos para a apropriação de novas formas para entender o mundo.

    O fascínio pelas imagens me foi despertado na infância, com o interesse pela arte e pelas manifestações artísticas. E, como geógrafa, o olhar estético foi construído a partir do inusitado: a arte de representar o espaço proposta pela ciência cartográfica. Como imaginar que a elaboração de mapeamentos seria capaz de transportar-me para outras dimensões, encaminhar-me, mesmo que virtualmente, pelo mundo das representações?

    Paradoxalmente, porém, a acurácia cartográfica gerava um incômodo, um desconforto exatamente devido às barreiras impostas por um cartesiano modo de representar que me dificultava abrir os canais que dariam vazão à imaginação e à poética estimuladas pela imagem. No afã de propiciar a construção do conhecimento reflexivo, crítico e criativo como docente no curso de Geografia, as representações referendadas nos mapas e o trabalho com os atlas sempre se fizeram presentes. Os mapeamentos cartográficos convencionais aos poucos abriram fronteiras para representações livres advindas da percepção do espaço, apreendidas pelos discentes do curso de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A disciplina de Estudos de Percepção em Geografia, ministrada na UFPR ao longo de 15 anos, e outras inúmeras oportunidades proporcionaram o desenvolvimento de uma gama de trabalhos associando percepção e representação, referendados pelas bases teóricas e empíricas advindas dos Mapas Mentais. Em larga medida, essas experiências encontram-se registradas no artigo "Representação

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