Aprendizagem Criativa da Leitura e da Escrita e Desenvolvimento: Princípios e Estratégias do Trabalho Pedagógico
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Sobre este e-book
Pensando nisso, as autoras desta obra apresentam uma nova concepção tanto da aprendizagem da leitura e da escrita quanto do desenvolvimento da criança, possibilitando a compreensão das inter-relações entre um tipo específico da aprendizagem e o desenvolvimento do aprendiz. O leitor encontrará de forma detalhada e atrativa o processo de aprendizagem da leitura e da escrita de Murilo, Adriana e Gabriel, durante seus dois primeiros anos do ensino fundamental, e como esse processo de aprender criativamente possibilitou mudanças significativas nos seus modos de experienciar e agir na vida cotidiana, tanto na escola como fora dela. O livro mostra os desdobramentos que têm essa nova compreensão da aprendizagem e do desenvolvimento para o delineamento e a fundamentação de práticas pedagógicas potencialmente favorecedoras da aprendizagem criativa e do desenvolvimento da subjetividade dos estudantes, revelando um amplo conjunto de estratégias, procedimentos e instrumentos que podem ser utilizados criativamente pelos professores.
Este livro, pelo relevante tema que aborda e pelas novas concepções que apresenta, constitui um convite para a reflexão crítica e criativa, para o diálogo produtivo e especialmente para transformações na prática pedagógica. Ele pode ser de interesse e utilidade para pesquisadores, professores, coordenadores pedagógicos, gestores, pais, estudantes de graduação e pós-graduação, enfim, para todos aqueles que estejam interessados em que a aprendizagem da leitura e da escrita torne-se realmente uma importante base para novas e mais complexas aprendizagens, sendo uma enorme motivação promotora de desenvolvimento.
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Aprendizagem Criativa da Leitura e da Escrita e Desenvolvimento - Luciana Soares Muniz
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
01Ao Prof. Dr. Fernando González Rey, pelo exemplo de ser humano, presente, guerreiro, sábio, forte e amigo (in memoriam). Por nos presentear com uma obra que é um marco para a Educação, Psicologia e áreas afins, para as práticas e para nossa própria constituição e formas de ser e viver. Um legado de uma teoria à qual nos sentimos pertencentes, em profundos diálogos, trocas de ideias, que tornavam a escrita e a leitura verdadeiros processos de imersão, uma experiência subjetiva, de metamorfose do leitor. Gratidão é a palavra que tece o mais singelo gesto de agradecimento, pela oportunidade de viver tão perto e profundamente com um autor que se eterniza em nós.
Sua falta se faz presente em nossas vidas e sua presença se efetiva em nossas ações, em busca de continuarmos a caminhada teórico-prática, com partilhas, reflexões e novas elaborações, que demandam assumirmos a condição de sujeitos da leitura e da escrita. Este livro é um brinde à incansável busca que nosso querido professor Fernando González Rey nos ensinou, para contribuirmos cada vez mais com uma educação mais humana e que de fato tenha impacto no processo de ensino, aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes e com nosso próprio desenvolvimento subjetivo.
Agradecimentos
Aos familiares queridos de Luciana, em especial ao companheiro, Carlos, e filhos, Hiago, Yasmin e Ítalo, pelos diálogos, paciência, ideias e parceria em cada experiência. Eles foram essenciais para a concretização deste livro.
Ao querido Fernando, esposo de Albertina, pelo seu exemplo e estímulo de sempre. Com essa força foi possível edificar esta obra.
À Universidade Federal de Uberlândia, em especial à Escola de Educação Básica (Eseba/UFU), pelo apoio e parceria para a efetivação das pesquisas e práticas pedagógicas consolidadas neste livro.
À Escola Municipal Sebastiana Silveira Pinto, pelo acolhimento para realizarmos uma das investigações presentes nesta obra. Aos participantes da pesquisa, estudantes Murilo, Adriana, Gabriel, familiares e professoras Flávia e Melissa, que foram fundamentais e atuantes no processo de investigação.
À Universidade de Brasília, pelo espaço-tempo promotor de formação, para tornar possível uma das pesquisas aqui destacadas.
Prefácio
Estamos em presença de um livro sui generis, que integra reflexões e resultados de uma pesquisa e resultados do trabalho pedagógico cotidiano realizado em sala de aula pela primeira das autoras, uma jovem e criativa professora de ensino fundamental apaixonada por sua profissão e, especialmente, pela aprendizagem e pelo desenvolvimento de seus estudantes. A imersão da professora Luciana em sala de aula durante todo seu trabalho de doutorado e a continuidade de seu trabalho como professora alfabetizadora ao concluir seu doutoramento permitem que o livro apresente um rico material para estudo, reflexão e produtivo diálogo.
Esta obra é muito interessante por diferentes razões, a principal delas – com implicações teóricas para o desenvolvimento da perspectiva cultural-histórica – é a forma com que as autoras avançam na compreensão das relações entre aprendizagem e desenvolvimento. O reconhecimento do papel da aprendizagem como central para o desenvolvimento psíquico, especialmente dos processos intelectuais, foi um dos principais aportes de Vygotsky no que tenho considerado como o segundo momento de sua obra. No entanto o que este livro nos apresenta é o papel da aprendizagem, não no desenvolvimento psíquico, mas no desenvolvimento da subjetividade, uma novidade na perspectiva cultural histórica.
A subjetividade tem sido conceitualizada por nós como uma forma complexa de constituição dos processos humanos nas condições da cultura, um sistema configurado caracterizado pela unidade do simbólico e do emocional, o que temos denominado como sentidos subjetivos. O conceito de subjetividade representa uma nova definição ontológica que permite superar a compreensão dos processos humanos complexos, sejam sociais ou individuais, como processos psíquicos, e avança na compreensão do funcionamento diferenciado entre o homem e os animais, especificando no caso do homem, processos qualitativamente diferentes dos processos psíquicos. A subjetividade caracteriza-se pelo seu caráter gerador e não reflexo, condição necessária para seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento da cultura.
Retomo aqui a ideia já fundamentada em trabalhos anteriores de que o desenvolvimento subjetivo questiona alguns dos atributos historicamente relacionados com o desenvolvimento psíquico como a existência de estados regulares, a fragmentação da experiência humana e o caráter individual do desenvolvimento. O desenvolvimento da subjetividade não representa um processo regular ascendente. São diversas as experiências vividas pela pessoa, que, pelo seu impacto emocional, unido a seu caráter simbólico, tornam-se a qualquer momento e em qualquer idade, fontes de produção de sentidos subjetivos que na sua convergência articulam-se em configurações subjetivas de desenvolvimento. O desenvolvimento da subjetividade caracteriza-se então pela emergência de novas configurações subjetivas que se expressam em novos recursos subjetivos, permitindo à pessoa mudanças qualitativas em áreas diversas da vida e que geram um envolvimento pessoal cada vez mais profundo na área em que a configuração subjetiva do desenvolvimento se organiza.
Um importante mérito que vejo nesta obra é apresentar condições e processos singulares que, em cada um dos participantes, tornaram-se fontes para a produção de sentidos subjetivos, que se articularam em novas configurações subjetivas. Estas permitiram a geração de novos recursos subjetivos, que pelas suas formas de expressão, ilustram o processo de desenvolvimento subjetivo.
No livro mostra-se o desenvolvimento da subjetividade vinculado ao processo de aprendizagem, especificamente a um tipo de aprendizagem, a aprendizagem criativa. As autoras apresentam como a configuração subjetiva da ação de aprender criativamente torna-se uma configuração subjetiva do desenvolvimento. A partir das construções realizadas no estudo das crianças, exemplificadas com interessantes trechos de informações, as autoras afirmam:
Nos três casos estudados a configuração subjetiva da ação de aprender criativamente se constituiu como uma configuração subjetiva do desenvolvimento. Os sentidos subjetivos produzidos na ação de aprender produziram mudanças na organização subjetiva dos aprendizes, que se expressaram de diferentes formas em campos distintos da aprendizagem e na sua vida cotidiana. Mudanças como a inserção participativa na vida dos familiares, tendo em vista ações como realizar compras para casa, ou mesmo de efetivar pagamentos, novos interesses e busca autônoma por novos saberes, evidenciam o importante papel da criatividade na aprendizagem no desenvolvimento da subjetividade (p. 179).
São apresentados interessantes exemplos de emergência de novas motivações nas crianças a partir da aprendizagem da leitura e da escrita, o que indica nelas novos processos de subjetivação e de desenvolvimento.
O livro realmente constitui uma obra significativa para o campo do desenvolvimento da subjetividade, importante linha de pesquisa, à qual se tem dedicado nos últimos anos a professora Albertina, a segunda das autoras, companheira de vida e de obra. A complexidade do desenvolvimento da subjetividade apresenta interessantes desafios teóricos e metodológicos que estão sendo enfrentados por vários de nossos colaboradores, mas por ser um campo de pesquisa amplo e instigante, precisa de aprofundamento e continuidade. Como o desenvolvimento psíquico, que aparece com anterioridade ao desenvolvimento subjetivo na vida da criança, articula-se com este? Quando e como começa a se constituir a subjetividade na criança? Como as relações emocionalmente diferenciadas que a criança começa desenvolver com os adultos nos primeiros meses devida – inseparáveis de processos simbólicos – integram-se em sentidos subjetivos, aparecendo as primeiras configurações subjetivas no desenvolvimento infantil? Qual o lugar dos estudos longitudinais utilizando a metodologia construtivo interpretativa na compreensão do desenvolvimento da subjetividade? Essas são apenas algumas das interrogações que o campo de desenvolvimento da subjetividade nos coloca, e a partir das quais as professoras Luciana e Albertina já têm começado a realizar uma pesquisa com uma criança desde seu nascimento, pesquisa que pode ser promissora para avançar nesse desafiador campo de estudos.
O fato de que o desenvolvimento subjetivo tenha sido apresentado neste livro na sua relação com um tipo específico de aprendizagem também abre novas interrogantes em relação ao papel da aprendizagem no desenvolvimento da subjetividade. A configuração subjetiva de outros tipos de aprendizagem pode-se tornar também uma configuração subjetivas do desenvolvimento? Tendo em conta – como as autoras apresentam – que a atividade de aprendizagem se produz em contextos sociais com múltiplas redes de relacionamentos e produções subjetivas diversas e simultâneas, e que nenhuma atividade humana, na sua significação para o desenvolvimento pode ser abstraída do sistema de relações em que ela se configura, poderiam ser caraterizadas condições de aprendizagem potencialmente favorecedoras de desenvolvimento subjetivo? Essas e outras questões relacionadas a esse tema merecem ser estudadas aprofundadamente, pelo lugar central que os processos de escolarização ocupam na nossa sociedade.
Além da relação aprendizagem e desenvolvimento da subjetividade, aspecto central da obra, chamaram muito minha atenção outros três aspectos.
O primeiro deles foi como o trabalho realizado, tanto na pesquisa quanto na ação pedagógica em sala de aula, permitiu novas construções sobre a aprendizagem criativa, processo estudado e conceitualizado pela professora Albertina a partir de um trabalho de mais de 30 anos. Ela, por meio das pesquisas realizadas no campo da aprendizagem, tem conceitualizado a aprendizagem criativa – diferencia-a de outros tipos de aprendizagem – a partir da articulação de três elementos: a personalização da informação, a confrontação com o dado e a produção de ideias próprias e novas que transcendem o dado. Porém, além desses aspectos, o livro nos apresenta e fundamenta a relação lúdica como mais uma das características da aprendizagem criativa, ao menos na aprendizagem criativa da leitura e da escrita.
A relação lúdica com a leitura e a escrita é definida na obra como
[...] a relação pessoal, espontânea, gratuita, investigativa e voluntária do sujeito com a aprendizagem. Relação que possibilita a evasão da vida real, pela consciência de um faz de conta, de poder ousar nas produções e exceder as experiências vividas, pela criação de regras próprias e de um cenário imaginário (p. 61).
Aqui o lúdico não aparece como um recurso pedagógico para a aprendizagem, nem como elemento vital para o desenvolvimento infantil, aspectos trabalhados por muitos autores e amplamente reconhecidos no contexto escolar. Diferentemente disso, as autoras evidenciam como o lúdico é parte constitutiva da aprendizagem criativa da leitura e da escrita, sendo um dos elementos que a caracterizam. Estamos perante um bom exemplo de como a teoria não é algo dado que se aplica
na pesquisa ou na prática profissional, nesse caso a prática pedagógica, mas um sistema aberto que se alimenta, cresce e se consolida a partir da produção teórica que se gera nessas ações.
Outro aspecto que me pareceu muito interessante foram as evidências apresentadas pelas autoras de como a ação de um estudante pode promover mudanças na subjetividade social da sala de aula. Um dos temas ainda relativamente pouco pesquisados desde nossa perspectiva teórica de forma específica é o que se refere à subjetividade social, categoria sobre a qual a professora Albertina também tem desenvolvido e orientado trabalhos de pesquisa mais recentemente. No entanto, nas pesquisas realizadas até agora, as ênfases têm sido na constituição da subjetividade social a partir da ação de professores ou gestores, no impacto da subjetividade social, na subjetividade individual e como os indivíduos e os grupos sociais se institucionalizam por elas, e na ação dos sujeitos que abrem caminhos próprios de subjetivação se enfrentado o espaço normativo em que a subjetividade social se expressa. Avançando de forma criativa nesse último foco, mesmo sem ser um objetivo da pesquisa e sem constituir um aspecto central de análise, as autoras evidenciam como a aprendizagem criativa da leitura e da escrita de duas crianças as levam, na condição de sujeitos, a novas ações que produzem mudanças na dinâmica da sala de aula, inclusive no trabalho pedagógico das professoras com implicações para mudanças na subjetividade desse espaço social. Interessante destacar como estudantes dos primeiros anos de ensino fundamental, na condição de sujeitos, podem promover mudanças na subjetividade social da sala de aula, papel que, nesses momentos iniciais da escolarização, tem sido atribuído quase unicamente aos professores ou às dinâmicas relacionais desse espaço social.
Por último, não deixo de mencionar um importante valor da obra, seu valor para os professores que trabalham com dedicação e esforço no processo de ensino da leitura e da escrita. O livro, além de ser um importante espaço para a reflexão sobre formas de aprendizagem da leitura e da escrita, e de seu impacto no desenvolvimento dos aprendizes, apresenta um conjunto de princípios, estratégias e instrumentos que podem ser utilizados criativamente pelos professores para favorecer a aprendizagem real dessa vital ferramenta, favorecendo, consequentemente, o desenvolvimento de seus estudantes. Desde minha perspectiva, a obra evidencia como a Teoria da Subjetividade, base teórica principal do trabalho realizado, fundamenta e possibilita novas ações pedagógicas potencialmente mais efetivas. O livro quebra com a comum divisão entre teoria e prática, muitas vezes expressa no contexto educativo com a frase uma coisa é na teoria, e outra na prática
. A obra toda mostra como a prática desenvolve a teoria e como a teoria torna-se prática.
O livro, como toda obra, não é apenas valoroso pelo que nos apresenta, mas também pelo que deixa em aberto e, muito especialmente, por incitar a análise crítica, a reflexão criativa e a continuidade de um diálogo profícuo sobre um tema de interesse para pesquisadores, gestores e, especialmente, para todos aqueles que, com esforço e implicação, dedicam-se à importantíssima tarefa de ensinar a ler e escrever.
Dr. Fernando González Rey
Professor titular do Centro Universitário de Brasília
Pesquisador colaborador da Universidade de Brasília
Sumário
INTRODUÇÃO
1
A subjetividade e seu desenvolvimento
1.1 Teoria da Subjetividade: conceitos centrais
1.2 Desenvolvimento da subjetividade
2
Aprendizagem, Subjetividade e Criatividade
2.1 Aprendizagem como produção subjetiva
2.2 Aprendizagem criativa: sua expressão e significação no contexto escolar
2.3 Aprendizagem criativa da leitura e da escrita: definição e aproximações teóricas essenciais
3
A pesquisa realizada
3.1 Epistemologia qualitativa e METODOLOGIA construtivo-interpretativA
3.2 O trabalho de campo
Opção metodológica pelo estudo de caso
Processo de escolha dos participantes
Construção do Cenário Social da pesquisa
A entrada na escola: abertura para um processo colaborativo
Contato com os professores: diálogos preliminares
Inserção na rotina dos aprendizes
Contato com as famílias: um processo de parceria
3.3 Produção de informação: itinerário da pesquisa de campo
Observação participante
Momentos informais
Dinâmicas conversacionais
Instrumentos apoiados em registros escritos e não escritos
Diário de ideias
Oficina de leitura e escrita
Montando minha história
Brincando de escolinha
Trilha das frases
Mapa do tesouro
Minhas mudanças
Imersão no campo: um processo dialógico-relacional
4
Três casos interessantes: Murilo, adriana e gabriel
4.1 Murilo
Caracterização de Murilo
Expressão da criatividade na aprendizagem da leitura e da escrita de Murilo
Configuração subjetiva da ação de aprender criativamente a ler e a escrever de Murilo
Mudanças e novas constituições subjetivas vinculadas ao processo de aprendizagem criativa da leitura e da escrita de Murilo
4.2 Adriana
Caracterização de Adriana
Expressão da criatividade na aprendizagem da leitura e da escrita de Adriana
Configuração subjetiva da ação de aprender criativamente a ler e a escrever de Adriana
Mudanças e novas constituições subjetivas vinculadas ao processo de aprendizagem criativa da leitura e da escrita de Adriana
4.3 Gabriel
Caracterização de Gabriel
Expressão da criatividade na aprendizagem da leitura e da escrita de Gabriel
Configuração subjetiva da ação de aprender criativamente a ler e a escrever de Gabriel
Mudanças e novas constituições subjetivas vinculadas ao processo de aprendizagem criativa da leitura e da escrita de Gabriel
4.4 O que nos dizem os três casos apresentados acerca da aprendizagem criativa da leitura e da escrita e o desenvolvimento da subjetividade
5
A escola na constituição e NO desenvolvimento da criatividade na aprendizagem dE leitura e escrita: estratégias e ações possíveis
5.1 O trabalho em sala de aula em prol da emergência da criatividade na aprendizagem da leitura e da escrita
5.2 Princípios, estratégias e instrumentos para o trabalho pedagógico
Convite ao leitor à emergência da criatividade nas suas experiências com a leitura e a escrita
Referências
INTRODUÇÃO
Só pode está errado esse livro. Eu nunca vi lobo bonzinho. Eu vou lê até o final e sabê o que que vai acontecer e vê se o lobo pode mesmo ser diferente.
(Murilo – participante da pesquisa. Instrumento: Oficina de leitura e escrita)
A aprendizagem da leitura e da escrita tem sido um campo desafiador para os profissionais da educação e áreas afins, tendo em vista a singularidade e a diversidade de processos que envolvem esse aprender, emocionais, cognitivos, contextuais, experiências e outros. Ademais, a leitura e a escrita estão presentes na vida cotidiana das pessoas nas mais variadas formas e a partir de distintos suportes. Mediante esse contexto, somos convidados a refletir sobre as nuances que envolvem a aprendizagem da leitura e da escrita e propor ações para o trabalho pedagógico do professor que favoreçam o exercício pleno com esse aprender como processos de expressão autoral e de comunicação com o outro e consigo mesmo.
Em minha trajetória profissional, como alfabetizadora¹, deparei-me com questões instigantes sobre a leitura e a escrita que me mobilizaram a empreender algumas reflexões: como a criança aprende a ler e a escrever? Quais experiências vividas pela criança participam desse aprendizado? Como as ações da escola, da família e de outros espaços sociais que permeiam esse aprender na criança? Quais sistemas de relações são vividos pela criança e que formam parte dessa aprendizagem? Como esse aprendizado se organiza na criança e se presentifica nas suas ações cotidianas? O que esse aprender modifica na criança? Essas foram reflexões iniciais que, ao se vincularem a outras que apresentaremos, foram conformando os trabalhos de duas pesquisas que serviram de base para este livro.
Em meio aos questionamentos que fazemos sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, marcamos nosso encontro com a forma profunda e detalhada com que Paulo Freire (2011a) relata a sua experiência com esse aprender, na qual destaca o envolvimento das relações com a família, os diferentes contextos vividos por ele que participaram das ações por ele empreendidas para aprender. Em sua frase célebre A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele
(FREIRE, 2011a, p. 11), em que a leitura da palavra implica a continuidade da leitura do mundo, compreendemos que o autor vincula as experiências da pessoa com a aprendizagem da leitura e da escrita, em um movimento denominado pelo próprio autor de palavramundo
, na direção de unir esses dois momentos. Assim como destaca que essa aprendizagem precisa garantir o exercício pleno da cidadania.
Corroboramos Freire (2011a) sobre a importância da leitura e da escrita como processos que marcam a vida da pessoa e a inserem na sociedade de maneira única e singular. Compreendemos também que não há uma relação linear entre as experiências da pessoa e a aprendizagem, o que destaca o valor heurístico da Teoria da Subjetividade de González Rey (1997; 2002; 2016; 2017) para a compreensão da forma como a aprendizagem se organiza subjetivamente na pessoa em meio às produções subjetivas que envolvem sua história de vida, os sistemas relacionais dos quais participa a subjetividade social do contexto de aprendizagem, assim como pelas novas produções subjetivas que podem emergir nesse momento de aprender. Referir-nos-emos a essas questões de forma específica no Capítulo 2 da presente obra.
Sendo assim, convalidamos que ao ler uma palavra, ou mesmo escrevê-la, podemos nos remeter a lembranças, mas para além das lembranças, que são conscientes, participam outras produções subjetivas associadas às experiências da pessoa vividas em diferentes contextos de atuação, e que não são totalmente conscientes para a pessoa, porém que participam do momento atual de aprender. Freire (2011a), ao trazer o exemplo da leitura da palavra tijolo
por uma pessoa, destaca que ela pode remeter, para o aprendiz, múltiplas relações com sua própria vida e o próprio contexto da ação. Na ação de aprender a ler e a escrever se inscreve uma pessoa produtora de subjetividade, em uma realidade que também é produzida subjetivamente por ela.
Ademais, diferentes informações, de uso cotidiano de cada um, são veiculadas via escrita e diversificados materiais para leitura estão presentes na vida da criança desde muito cedo, a qual tem experiências singulares que são, inicialmente, significadas no âmbito familiar e, posteriormente, na escola. O que nos indica a relevância de pensarmos a educação na sua relação com a vida da criança, em que a leitura e a escrita se constituam como recursos de autoria e atitude frente ao mundo. Uma vez que ler e escrever, como salienta Freire (2011a, p. 19), "[...] não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da