Ara: Discussões Filosóficas no Sertão
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Sobre este e-book
— A felicidade que se conquista coletivamente
vale em dobro individualmente.
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Ara - Joelma Marques de Carvalho
autora
Sumário
CAPÍTULO 1
ENCONTRO COM ARA
CAPÍTULO 2
O SEGREDO DE ARA
CAPÍTULO 3
MARICOTA
CAPÍTULO 4
O NINHO DE AVIÃO
CAPÍTULO 5
TERTÚLIA
CAPÍTULO 6
BOLINHAS DE SABÃO
CAPÍTULO 7
O PRIMEIRO BEIJO
CAPÍTULO 8
ENCONTRO NA ESCOLA
CAPÍTULO 9
COMÍCIO
CAPÍTULO 10
ELEIÇÃO DO DR. MARCOS
CAPÍTULO 11
JERICOACOARA
CAPÍTULO 12
PRIMEIRO MANDATO DO DR. MARCOS
CAPÍTULO 13
SIMPATIA DE SÃO JOÃO
CAPÍTULO 14
NOIVADO
CAPÍTULO 15
CASAMENTO
CAPÍTULO 16
NASCIMENTO
CAPÍTULO 17
SECA NO SERTÃO
CAPÍTULO 18
VÍCIO
CAPÍTULO 19
O TRATAMENTO
CAPÍTULO 20
ELEIÇÃO
CAPÍTULO 21
URBANIZAÇÃO DO CATOLÉ
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
BIBLIOGRAFIA
CAPÍTULO 1
ENCONTRO COM ARA
Em um pequeno distrito chamado Catolé, a jovem Maria andava pelas matas quando encontrou uma pequena arara caída no chão. O pássaro era nobre por natureza, as plumas de seu corpo eram verdes, a cara era branca e parte de suas asas, vermelha; mas naquele momento seus olhinhos castanhos estavam tristes, pois tinha uma asa machucada. Maria levou o pássaro a casa para que seus pais cuidassem dele, e em pouco tempo ele já cantava, curado. Maria batizou-a de Ara
, e estava alegre ao vê-la tão bem.
Essa alegria, no entanto, pareceu ameaçada quando o pai lhe disse que deveria libertar Ara, já que os pássaros não nasceram para ficar presos em uma gaiola ou acorrentados em casa, mas para ser livres e voar. Ao ouvir essas palavras, o coração de Maria ficou apertado, por isso tentou mudar a opinião do pai:
– Pai, o que é ser livre
?
– Bem, eu não tenho uma definição exata, mas acho é poder fazer escolhas e ter a intenção de fazer uma ação.
Maria retrucou:
– Então Ara não pode ser livre, pois para escolher ela precisa pensar sobre as escolhas, ter um critério, não é isso?
Nonato admirou-se com a esperteza da filha:
– Pode ser. Mas será que esse pássaro deve ficar preso porque achamos que ele não é capaz de pensar? Será que ele não tem sentimentos? Em seu lugar, eu o soltaria.
Os olhos de Maria encheram de lágrimas:
– Eu entendo. Se Ara for embora ela pode voar para onde quiser. Só que vai ter que lutar sozinha para sobreviver nas matas. Aqui ela vai ter comida, vai estar segura.
– É verdade, mas nesse caso a sua liberdade seria o preço da sua segurança. Se eu seguisse esse raciocínio eu não criaria você para o mundo, a prenderia sempre dentro de casa, pois aqui você estaria mais segura.
A jovem imediatamente protestou:
– Não, mas isso é outro caso. Minha ideia só vale para os pássaros. Veja: se eu a soltar, ela vai voar porque seguirá seu instinto, e não por fazer uma escolha. Os pássaros não podem pensar, papai, por isso também não podem fazer escolhas e não podem ser livres.
– Eu não sei se é bem assim, Maria, depende do que se entende por pensamento
e liberdade
. Às vezes, eu também me pergunto se nós, seres humanos, somos realmente livres. De qualquer modo, acredito que os pássaros têm sentimentos e são seres que merecem ser tratados com respeito. Se você deixar Ara presa, verá que o canto dela não será mais o mesmo. O canto será triste, e você será a responsável por essa tristeza. Mesmo assim, eu não vou obrigar você a soltá-la, deixarei você decidir. Só peço que pense um pouco mais para saber se você está seguindo sentimentos egoístas ou se está sendo racional. Eu acredito que nossas escolhas devem ser guiadas pela razão, pois é assim que a nossa razão se realiza. Lembre: quando temos liberdade, também temos responsabilidade.
Naquele momento, a jovem Maria refletiu calada e não insistiu na argumentação, pois percebeu que deixou seus sentimentos falarem mais alto que a razão. Ela simplesmente contemplou os olhos de Ara, acariciou-lhe a cabeça e a soltou. Seu pai ficou orgulhoso, porque sabia que sua filha não só era inteligente como tinha um bom coração.
Maria despediu-se tristemente de Ara, mas naquele instante, em vez de perder a pequena arara, ganhou uma amiga para o resto da vida.
CAPÍTULO 2
O SEGREDO DE ARA
No fim da tarde, Maria foi passear pelas matas até chegar à ribeira do açude velho. De repente, ela ouviu um lindo canto vindo do alto, de cima do coqueiro mais próximo da ribeira. Era o canto de Ara. Ao ver a pequena arara, os olhos de Maria transbordaram alegria. Aproximou-se devagar para não espantar o pássaro. Em seguida, o canto, que até então não passava de melodia, começou a adquirir nova forma e a fazer sentido. Quão grande então foi a surpresa de Maria ao ouvir estas palavras:
– Maria, você fez uma ação muito nobre me libertando, e por isso eu gostaria de ser sua amiga.
Maria assustou-se. É verdade que na região costumavam chamar a arara de louro
ou papagaio-de-cara branca
, porque, assim como esses pássaros, era inteligente e podia imitar a voz humana. Mas parecia-lhe surreal que Ara pudesse falar tão bem. Mesmo surpreendida, empolgou-se em responder:
– Claro! Seria um grande prazer. Eu admiro muito os pássaros, pois vocês voam e cantam tão bem. Infelizmente eu não posso voar, mas adoro cantar.
Naquele instante, Ara pousou sobre a mão de Maria e disse:
– Que bom! Há pensadores, como o filósofo Platão, que acreditam que a música tem o poder de influenciar o caráter das pessoas, conduzindo-as para o bem ou para o mal. Em minha opinião, a música é um modo muito especial de se expressar. Ela pode ser o lamento, o protesto, a fuga da realidade, a alienação, a declaração de amor, a expressão dos sentimentos, mas também dos preconceitos, a tentativa de ser feliz e até mesmo de ser realmente livre. Sua verdadeira função depende tanto do compositor quanto do apreciador. Por esse motivo, a música é uma das formas fundamentais de um povo expressar a própria cultura, assim como acolher a cultura do outro. Mas o que você gosta de cantar?
– Ah, muitas coisas. Às vezes, eu canto os sentimentos sobre os quais eu tenho vergonha de falar. Às vezes, eu canto apenas para me divertir e fazer os meus amigos sorrirem.
– Pois, de agora em diante, peço que você cante para mim.
– Tá certo, mas meu canto não soa tão bem quanto o seu. Maria assentiu, ainda tímida, mas a verdade é que não conseguia segurar a curiosidade:
– Eu realmente não entendo como você pode falar a minha língua tão bem e me entender.
– Eu consigo falar e compreender você porque já compartilhei da sua forma de vida. Para ser sincera, nem mesmo eu sei como isso aconteceu. Eu não tenho muitas lembranças da minha vida anterior. Às vezes, sinto como se esta fosse a minha única vida, mas também me lembro de coisas que já vivi e do que aprendi. Mas ainda é cedo para eu revelar esses segredos.
– Nossa! Então isso existe mesmo! Ah, eu também quero ser um pássaro na minha próxima vida. Antes de a soltar, eu insisti que você não podia pensar e não poderia ser livre. Mas você agora eu sei que você é livre, né?
– Em certo sentido, sim. Eu não diria que sou sempre livre, mas que às vezes eu faço uma ação livremente. Por exemplo, quando eu falei com você, eu agi livremente, pois fui capaz de realizar essa ação. Eu estava consciente e tive a intenção de fazê-la. Além disso, havia a possibilidade de não realizá-la, pois eu poderia simplesmente permanecer calada.
– Entendo, e estou muito feliz por você querer ser minha amiga. Mas agora eu devo ir, senão meus pais vão ficar preocupados comigo.
– Faz bem, mas antes, por favor, prometa-me que não vai contar a ninguém que eu posso falar a sua língua. O meu canto só pode ser entendido por aqueles que não só compartilham a sua bondade, mas também a sua capacidade de aceitar um modo diferente de pensar.
Maria sorriu.
– Não se preocupe! Até porque, se eu falasse, ninguém acreditaria em mim. Seria mais fácil pensarem que sou doida.
Ambas sorriram pensando na cena.
Ao voltar para casa, Maria estava muito alegre por ter falado com Ara e ansiosa para lhe mostrar todas as canções que fazia. Em seu quarto, abraçou a Maricota, a boneca de pano que guardava desde pequena, e prometeu apresentá-la a sua nova amiga, Ara.
CAPÍTULO 3
MARICOTA
Quase todas as manhãs, Maria ia à escola com Luiza, sua melhor amiga e vizinha, filha da viúva Doralice. Durante o intervalo, Maria percebeu que Ara estava lhe observando da árvore e sentiu vontade de contar o segredo de Ara para Luiza, mas cumpriu sua promessa e se manteve calada. Naquele dia, a aula terminou mais cedo, por isso depois da aula elas foram para a casa de Seu Sebastião, assistir ao Sítio do Picapau Amarelo
com Juliana. Naquele pequeno distrito, só dois moradores tinham televisão: o compadre Chico e o fazendeiro mais rico da região, o Sebastião, mais conhecido como Tião. Ao sair de lá, Maria foi correndo para a ribeira procurar Ara. Nesse dia, especialmente, ela levava consigo a Maricota.
– Ara! Eu quero lhe apresentar a Maricota, a minha boneca de pano.
Ara aproximou-se:
– Nossa, ela é linda! Quem foi que lhe deu?
– Eu ganhei de minha avó no meu aniversário de sete anos. Ela é feita de restos de tecido das roupas que são feitas aqui, e foi a vovó mesma quem fez. Para Maricota, eu fiz a minha primeira canção.
Ara ficou encantada com a simplicidade de Maria e lhe pediu:
– Então cante essa canção para mim!
Maria fixou o olhar em Maricota e começou a cantar:²
Eu sei que ela foi feita com carinho, tão