Talhos & retalhos
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Talhos & retalhos - Tarciso Filgueiras
PREÂMBULO
Ai de minha poesia se não fosse eu!
Provavelmente morreria à míngua
Combalida, desmilinguida.
Coitada se dela não cuidasse o degas,
Pessoalmente.
Mas, pai zeloso,
Afago-a, terno,
E a curo,
Mertiolate e tudo,
Nunca descuro.
Se dela falam mal,
Desconjuro!
MARMORANDO
Adivinhar formas
Silhuetas deformadas
Edículas envelhecidas
Imagens destroçadas
Mastigar vinho novo
Caminhando para trás
Entre nuvens de Anopheles
Geneticamente modificados
Morir, si pura e bella!
Morir per me, d’amore...
Vapor de boca em manhã saturada
Estupor no gestual
No vestuário
Vestiário
Mortuário
Centenário
Perfeito xadrez tricótomo
Enlameado de luz
Transfixado em armações gigantescas
Ecoando, sem cessar,
Cristais
Cristais
Cristais...
PERAMBULANDO
Ruas repletas
Completas
Depletas
Gente como grãos de farinha
(de mandioca indígena,
europeia não)
Vai e vem
Movimento browniano
Acasos no ocaso
Manhã, tarde, noite
Pernoitando na dúvida
Enredado na dívida
Eterna gratidão
Grátis
Reduzida a nós (nodus)
A bugalhos envelhecidos