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A verdade vos libertará
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E-book329 páginas4 horas

A verdade vos libertará

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Sobre este e-book

O misterioso assassinato do pai de Carolina fará com que ela, junto ao inspetor de polícia Nicolás Valdés, busque uma perigosa verdade que estava sendo escondida por muitos anos. Uma missão que os colocará, através de uma série de enigmas, no meio de uma luta invisível de quase mil anos entre a ordem do templo e a igreja de Roma. Uma verdade que poderia tornar muitas pessoas livres...

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento12 de jan. de 2020
ISBN9781071525586
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    Pré-visualização do livro

    A verdade vos libertará - Blas Ruiz Grau

    À minha mulher Mari, por estar sempre aqui. Te amo.

    Agradecimentos:

    Agradeço de todo meu coração às minhas duas fontes de inspiração, minha esposa, Mari Lorenzo Roch, por ter me inspirado no desenvolvimento e personalidade dos personagens, bem como pelas conversas comigo, que eu traduzi, palavra por palavra, na boca de vários personagens deste livro e minha mãe, Rosario Grau Juan, porque inconscientemente ela me ajudou muito para que este livro fosse escrito.

    À minha editora Carmen Grau Juan que me deu grandes conselhos e à toda minha família, tanto a natural como a política (você também Natalia), que eu sei que vão me ler e me apoiar nisto e muito mais.

    Ao Gabriel Martínez, sem seu conselho e sabedoria na hora de escrever e publicar, este livro não estaria nas mãos de ninguém, além de suas maravilhosas fotografias da igreja de Santa Maria de Eunate que me ajudaram a desenhar uma capa a meu gosto.

    A todos aqueles que me leram e opinaram sobre meu livro desinteressadamente para melhorar certos aspectos que precisavam de um retoque.

    E, finalmente, a você, querido leitor, que decidiu investir seu valioso tempo em alguém que colocou muita ilusão e dedicação no que agora você tem em suas mãos.

    Obrigado.

    1

    Carolina Blanco acabava de chegar, pontual como sempre, ao café Colón, mesmo sabendo que não era o dia habitual em que costumavam ficar conversando calmamente e assim contarem as novidades que aconteceram durante a semana. O dia em que costumavam ir regularmente era toda quinta-feira às 16h, mas seu pai insistiu, de um jeito que não dava para negar, que se vissem naquela terça-feira, 17 de agosto. O café Colón estava localizado na praça madrilena de mesmo nome, um pouco escondida para o gosto de Carolina, mas seu pai dizia que em nenhum lugar da capital poderiam desfrutar de um café tão aromático e com tanto sabor como o servido no Café Colón, além de tanta tranquilidade para saboreá-lo enquanto mantinham uma conversa.

    Entrou e olhou brevemente o Café, calmo como de costume, apenas três mesas haviam sido ocupadas, nas quais conversas animadas eram mantidas em um tom bastante baixo, as pessoas estavam conscientes de que aquele lugar era um recanto de paz. O lugar era bastante pequeno, mas grande o suficiente para acolher um concerto acústico de um grupo bastante famoso, do qual Carolina não lembra o nome, mas sim do que sentiu enquanto disfrutava de sua música e saboreava um cappuccino com calda de chocolate sentada com seu pai. As paredes estavam cheias de fotos típicas que costumavam ser vistas em muitos lugares, nas quais o proprietário do negócio aparece com pessoas famosas que haviam provado as especialidades da casa.

    Ela olhou para a esquina em que seu pai e ela costumavam sentar cada vez que estavam lá e sorriu ao ver que, como sempre, estava desocupado, era como se as pessoas soubessem antecipadamente que esse era o pequeno mundo no qual seu pai e ela ficavam imersos e isso devia ser respeitado.

    O dia era inusitadamente quente, mesmo para o mês de agosto, os termômetros marcavam quase 45º no centro da capital e as pessoas que caminhavam pela rua tinham até mesmo dificuldade em respirar, a sensação de sufocamento era quase total, aquilo parecia mais o inferno.

    Carolina sentou-se pensando que o dia não poderia ter começado melhor, tinha sido despertada às 10h da manhã com uma ligação que ela estava esperando há muito tempo: o grande historiador Ignacio Fonseca, amigo íntimo de seu pai, decidiu, finalmente, que era o momento certo e a queria em sua equipe de trabalho, composta por arqueólogos especialistas e historiadores, para ir a umas escavações que estavam sendo feitas no sul de Israel, sem dúvida, era a oportunidade de sua vida e não queria perder.

    Ela passou os últimos cinco anos estudando sem muito descanso, sabia claramente o que queria e quando queria e pensou que, com seus 27 anos, ela poderia ter o mundo inteiro e, se havia quase desistido de sua juventude e mal tinha vida social, foi para oportunidades como esta.

    Também era verdade que preferiria trabalhar lado a lado com seu pai, mas ele já tinha deixado há anos o trabalho de campo para se dedicar completamente à direção do Museu Arqueológico Nacional. Seu pai, Dom Salvador Blanco, finalmente conseguiu o que estava procurando por toda a vida, ser diretor de um dos museus mais importantes de todo o país e dedicava todos os seus esforços para conseguir para si mesmo peças extraordinárias de valor incalculável, que como ele, com sabedoria, dizia uma vez ou outra, tinham que estar neste museu, este é o lugar delas.

    Ela não tinha namorado, embora não lhe faltassem pretendentes, herdou a beleza e o corpo de sua mãe, isso a agradava, pois sua mãe na juventude era uma deusa entre os homens, agora ela também disfrutava desse privilégio e gostava de se arrumar para tirar mais proveito de sua beleza. Seus cabelos longos e escuros contrastavam claramente com seus profundos olhos verdes, o que a fazia ter um olhar penetrante e, com seu rosto com características pouco marcadas, mas muito atraente para os olhos. Ela gostava de se vestir com jeans justo e tops apertados que não surtiam outro efeito, que fazer com que todos os homens que passassem ao seu lado na rua a olhassem, embora ela deixasse bem claro, pode olhar, mas não tocar.

    — Outro atraso para adicionar na lista de Dom Salvador Blanco — disse para si mesma em voz baixa, enquanto olhava para o relógio.

    Eram 16h17.

    Enquanto o tempo passava, notou que sua garganta estava seca e, como pretendia esperar por seu pai para pedir seu cappuccino habitual, decidiu pedir uma pequena garrafa de água.

    — Luis — disse dirigindo-se ao garçom que estava passando. — Você poderia me trazer uma pequena garrafa de água gelada, por favor?

    — Claro, senhorita Blanco, você quer algo mais?

    — Sim, por favor, você sabe se meu pai ligou dizendo que iria se atrasar?

    — Até onde eu sei, ele não ligou, mas vou perguntar ao Ramón, que está no bar, se ele recebeu alguma chamada de seu pai, eu volto logo com a água e uma resposta.

    Carolina concordou e esperou que o garçom chegasse com a água, juntamente com a notícia da típica chamada de seu pai desculpando-se porque chegaria tarde e pedindo que por favor o esperasse. Passados apenas dois minutos, o garçom voltou.

    — Aqui está a água, senhorita Blanco, Ramón me informou que desta vez seu pai não ligou para nos dizer que iria se atrasar, você quer alguma outra coisa?

    — Não, obrigada, agora não. Esperarei meu pai chegar e pediremos juntos.

    — Tudo bem, quando você quiser, é só me chamar — disse despedindo-se.

    Enquanto tomava o primeiro gole, achou incomum seu pai não ligar para justificar seus já conhecidos atrasos, mas certamente tinha ficado preso com algum negócio do museu, como de costume. Ela ainda estava absorvida em seus pensamentos sobre o atraso de seu pai, quando olhou para a porta e viu um homem extremamente bonito entrar, ele olhou todo o local e depois foi até a bancada onde Ramón estava arrumando umas xícaras grandes de café. Carolina viu quando o estranho pareceu perguntar algo e o garçom fixou seu olhar na mesa de Carolina, não pôde deixar de pensar que sua sorte ainda estava em risco quando o viu se aproximar, com um passo firme e decidido, de onde ela estava sentada.

    Devia ser um dos assistentes de seu pai que veio no papel de mensageiro.

    Ele era certamente um homem alto e, embora usasse uma camisa de mangas compridas em meados de agosto, percebia-se claramente que gostava de malhar na academia e tinha uma aparência semimusculosa, seu cabelo preto como carvão, combinava perfeitamente com os olhos azuis e, apesar de ter uma barba de três ou quatro dias, era evidente que não era por descuido ou negligência, era para dar ao rosto um aspecto muito mais interessante.

    — Você é a senhorita Carolina Blanco? — disse o desconhecido.

    — Sim, sou eu — disse com uma voz bastante cordial. — O que você quer?

    — Eu sou o inspetor-chefe Nicolás Valdés, da Polícia Nacional — disse estendendo a mão para cumprimentá-la. — Não acho que este seja um bom lugar para conversarmos. — Ele olhou em volta. — Você faria a gentileza de me acompanhar até outro local?

    O rosto de Carolina mudou completamente.

    — Acompanhá-lo? Para onde? — perguntou bastante surpresa. — Não pretendo levantar de onde estou sentada.

    — Senhorita, volto a repetir, não é um bom lugar para conversarmos, por favor, acompanhe-me até lá fora, preciso falar com você sobre algo importante.

    — Mas... eu não estou entendendo, tenho vindo aqui com meu pai, estou esperando ele para nosso café habitual.

    O inspetor respirou fundo e momentaneamente fechou os olhos, como se tivesse dificuldade em pronunciar as palavras que estavam prestes a sair da sua boca.

    — É exatamente isso, senhorita, é sobre seu pai.

    2

    Assim que os dois deixaram o café, Carolina viu um Peugeot 407, cinza, impecável, estacionado na porta com as luzes de emergência ligadas, Carolina imaginou que fosse do inspetor e ele a encorajou a entrar no carro.

    — Aonde você quer me levar? — perguntou, sua voz quase chegando à histeria.

    — Por favor, entre. Eu explico tudo dentro do carro — disse o inspetor sem pestanejar.

    Carolina pensou por quase meio minuto se entrava no carro do inspetor ou não, mas, no final, ela concordou e entrou hesitante, no carro.

    Ainda não tinha entendido o porquê de estar sentada naquele Peugeot, pois desde que o inspetor falou que o que tinha para lhe dizer estava relacionado ao seu pai, sua mente não parou de pensar e, especialmente, sentir um verdadeiro pânico pelo que aquele homem poderia contar.

    Já sentada no carro e olhando para a frente, percebeu que um medo tomou conta dela, que as palavras quase não saíam de sua boca.

    — O que... o que... o que aconteceu com meu pai? Ela finalmente conseguiu falar.

    Nicolás a olhou seriamente. Esse gesto não fez mais que aumentar o medo de Carolina.

    — Senhorita Blanco, acredite quando digo que sinto muito por ter que lhe dar essa notícia revoltante e horrível — ele parou por um momento para buscar as palavras e continuou —, mas algo terrível aconteceu, encontraram o corpo de seu pai dentro do apartamento dele no Paseo de La Castellana.

    Não sabendo muito bem como reagir, Carolina olhou para a frente tentando digerir as palavras do inspetor, esse homem devia estar louco.

    — Mas... como encontraram meu pai morto? Não pode ser, eu falei com ele ao meio-dia, o que aconteceu com ele? Quem o encontrou morto?

    — Uns agentes que trabalham na minha delegacia o encontraram, cerca de uma hora atrás.

    — A polícia o encontrou? O que a polícia estava fazendo na casa do meu pai?

    — Senhorita, preste muita atenção no que eu vou lhe dizer, sei que é muito difícil de ouvir, mas é importante que você não fique nervosa... seu pai foi assassinado.

    De repente, todo o mundo que Carolina havia conhecido desapareceu dentro do Peugeot, não podia acreditar nas palavras que acabavam de sair da boca do inspetor. Não, tinha que ser um pesadelo horrível; não, não estava no carro com um completo estranho que dizia ser o inspetor-chefe da polícia; não, não estava a caminho do apartamento do pai no Paseo de la Castellana; não, seu pai não estava morto; não, ele não tinha sido assassinado, tudo devia ser um sonho horrível, o pior sonho de toda a sua vida. Quanto mais ela tentava convencer-se de que isso não tinha acontecido, mais percebia que não era um pesadelo, infelizmente era a dura realidade, e sim, ela estava a caminho de ver seu pai morto.

    A viagem até o apartamento de seu pai durou apenas um instante, mas para ela parecia uma eternidade, em apenas cinco minutos de trajeto lhe vieram inúmeras memórias, 27 anos nos quais ela sempre teve o apoio incondicional de seu pai para tudo, mesmo quando tiveram que superar a morte de sua mãe e irmã mais velha em um trágico acidente de carro há cinco anos. Ela e seu pai o superaram juntos, com todo o amor que tinham um pelo outro, um amor que essa perda só fez aumentar ainda mais.

    Ela amava muito seu pai, mais do que qualquer coisa no mundo inteiro, além de sentir um grande respeito por ele, bem como muitas pessoas neste país e uma grande parte do exterior, e agora nada disso importava mais, alguém sem coração lhe havia tirado a pessoa que mais amava e podia querer em sua vida.

    Mais uma vez, tentou acordar do sonho terrível, mas quando apenas assimilava que já estavam perto da casa de seu pai, ela já estava, de fato, na porta do prédio.

    Seu pai, devido ao alto cargo que ocupava, possuía um luxuoso apartamento de proporções dantescas em uma das áreas mais famosas de Madri, o Paseo de la Castellana. Seu interior, de 300 m², era um tributo ao bom gosto, com móveis de design antigo perfeitamente combinados com os mais modernos, dando-lhe uma aparência mais requintada de acordo com o cômodo em que estivesse no momento. Centenas de livros enchiam suas gigantescas estantes, livros de todos os tipos e rigorosamente catalogados por um banco de dados que seu pai tinha no computador e que foi projetado por um técnico em informática do museu. Havia livros de história, arte, arqueologia, romances, biografias... até mesmo livros antigos que estavam cheios de poeira, mas que seu pai não queria que limpasse, pois dizia que perdiam sua essência.

    Seu pai era apaixonado pela leitura e a contagiou desde que era muito jovem.

    "— Carolina, você tem que ler muito mais — seu pai lhe dizia enquanto ela brincava com suas bonecas.

    — Puxa, papai, ler é chato, eu gosto de brincar com minhas bonecas imaginando que sou sua mãe e cuidando delas — ela respondeu com um rosto angelical.

    — Mas minha menina, ler é como um jogo, como eu digo, só que muito melhor, pois você pode ler livros em que de repente é uma princesa que mora em um castelo distante e um príncipe vem resgatá-la, ou se preferir, pode ser uma menina detetive que resolve casos muito importantes com a ajuda de um cão policial.

    — É realmente como um jogo? — ela perguntou não muito convencida e levantando uma sobrancelha. — Você jura?

    — Eu juro a você, minha garota, logo descobrirá que em cada livro há uma nova aventura e, se quiser, pode viver em seu quarto somente usando sua imaginação."

    A partir desse momento, começou seu hobby no qual não conseguia dormir uma única noite sem ler e em que um livro poderia durar dois ou três dias no máximo.

    Antes de entrar no prédio, Carolina lembrou o número de vezes que ela passou por aquele portal nos últimos cinco anos, talvez ela tenha entrado mais naquele prédio do que em sua própria casa durante esse período, mas não permitiu que seu pai se sentisse sozinho de forma alguma. A morte de sua mãe o afetou muito e, embora não reconhecesse, Carolina sabia que lá no fundo, seu pai chorava essa perda todos os dias.

    Talvez todos esses pensamentos não importassem mais, mas eles a aproximavam de seu pai, embora a realidade lhe dissesse que ele estava muito perto dela, tão perto que se encontrava dois andares acima.

    3

    Carolina subiu as escadas tão rapidamente quanto a agitação que ainda estava sentindo e, especialmente, as pernas lhe permitiam, pois notou que o elevador tinha um aviso de danificado. Bem típico, pensou. Ela notou que os dois andares que a separavam de seu pai tinham mais degraus do que lembrava, talvez nunca tivesse parado para pensar nisso, mas nunca teve tanta pressa em chegar aos aposentos de seu pai. Quando chegou ao corredor que distribuía os apartamentos entre as quais o pai morava, sentiu um arrepio que percorreu todo o seu corpo, não sabia se estava realmente preparada para enfrentar a situação, mas o que ficou claro era que uma força estranha a empurrava para que não parasse nesses momentos.

    Seu pai morava com outras três famílias bastante agradáveis ​​e silenciosas, todos, em geral, se davam bem naquela comunidade e, salvo raras exceções, a tranquilidade era o tom dominante no edifício.

    Até agora.

    Ela podia ver toda a agitação que se formou em torno da porta do apartamento, policiais que impediam a passagem negavam a entrada da única família que não tinha saído de férias, os Gonzalez, e da imprensa que, claro, já havia chegado ao lugar do infortúnio e entrado no prédio. Malditos tubarões, estão sempre com o ouvido esperando para se alimentarem das desgraças de outras pessoas e tornarem-se líderes de audiência, pensou com desgosto.

    Assim que a viram, correram atrás dela para que desse suas primeiras impressões sobre o que aconteceu naquela tarde.  Ao ver isso, Nicolás, como se fosse o guarda-costas da menina, interpôs-se entre eles e Carolina, impedindo-os de falar com ela.

    — Senhorita Blanco, estamos ao vivo, responda por favor, é verdade que a polícia encontrou seu pai assassinado dentro de seu apartamento? — perguntou uma mulher muito branca e baixa com um microfone na mão.

    — Senhorita Blanco, sabe se seu pai tinha algum inimigo ou alguém que quisesse feri-lo? — perguntou um jovem muito alto de óculos e penteado dos anos setenta.

    — Senhorita Blanco...

    — Chega! — intercedeu o inspetor. — A Srta. Blanco não fará nenhuma declaração por enquanto, façam o favor de pelo menos uma vez em suas tristes vidas respeitarem a privacidade e a dor de uma jovem que acabou de perder seu pai. E agora, saiam do nosso caminho e nos deixem passar.

    Carolina, com o olhar, agradeceu a Nicolás por tê-la defendido, embora estivesse claro que este era seu trabalho.

    Na porta, pôde ver melhor que havia dois policiais bem grandes e alguns amigos impedindo que os curiosos vissem o interior do apartamento. Todas as mortes eram importantes, mas esta, certamente, não era qualquer morte.

    — Senhorita Blanco, antes de passar, me sinto obrigado a fazer uma pergunta bastante difícil, mas necessária. — Nicolás, de um jeito sério, a parou. — Você tem certeza que quer entrar e ver o corpo de seu pai nas circunstâncias em que se encontra? O juiz ainda não nos ordenou mexer no cadáver e a imagem pode marcá-la para toda a vida.

    Ela, agora, não podia sentir mais pânico pelo que poderia encontrar lá dentro.

    — Sim... tenho certeza. — Hesitou. — Ou não... bem... eu realmente não sei se tenho... mas acho que nunca poderia me perdoar se não visse o que fizeram com meu pai.

    — Muito bem, se assim deseja, me siga, você ainda pode sair no momento que quiser, por favor, se você se sentir mal, não pense duas vezes antes de me falar. Gostaria também de lhe pedir para não tocar em nada, porque estamos à procura de provas que possam incriminar alguém neste crime.

    Carolina concordou, sem deixar de olhar o que conseguia ver por trás dos dois guardas gigantescos.

    Com apenas um olhar do inspetor, os dois policiais saíram, deixando o caminho livre para entrarem no apartamento, ou melhor, na cena do crime.

    Nada mais a impedindo de entrar, Carolina começou a observar de cima a baixo cada canto de cada metro quadrado. Em cada passo que dava, dentro da casa, sabia sem que ninguém lhe dissesse, uma vez que não era muito difícil de intuir, que uma das razões pelas quais estava lá era para constatar se tudo estava no seu lugar original; por isso, buscando um pouco também de distração para se preparar para o que tinha que ver, já estava verificando o local.

    No momento, tudo estava perfeitamente em seu lugar habitual.

    Atravessaram o longo corredor que distribuía os quartos, alguns quartos que ela mesma decorou para seu pai, quando vinha aqui, o pobre homem não tinha tempo para nada, pensou ela. Olhou para os quadros que estavam pendurados nas paredes, lembrando a viagem que eles fizeram a Paris, especificamente para comprá-los. Carolina os tinha visto em um catálogo e sabia desde o primeiro momento que eles tinham que estar na casa de seu pai.

    A distância que tinha percorrido tantas vezes, desta vez parecia eterna, milhares de pensamentos passaram por sua cabeça, a grande maioria não fazia nenhum sentido. Ela podia ver pessoas com coletes onde se lia ‘Perícia’, colocarem pó com um pincel redondo e pequeno em todos e cada um dos portais das portas em busca de possíveis digitais, além de olharem com luzes ultravioleta procurando, provavelmente, restos de sangue ou algo parecido. Por sua vez, outras pessoas estavam vagando de um lugar para outro, falando alto com seus celulares caríssimos de última geração. Também podia ver alguns policiais uniformizados apenas observando se tudo estava correndo bem e não havia nenhum problema.

    Nicolás explicou que o crime tinha ocorrido na sala e, quando eles estavam chegando, Carolina começou a notar que seu coração estava batendo cada vez mais forte, parecia que de um momento para o outro, ele escaparia pela sua boca.

    Um suor desconfortável escorreu por seu pescoço e costas. Você precisa ser forte, ela disse a si mesma em pensamentos, embora soubesse que suas emoções estariam longe do que sua cabeça queria que ela fizesse.

    Uma vez na entrada da sala, observada por um policial gigante, Nicolás olhou para Carolina para ver a expressão em seu rosto, notou seu nervosismo e esperou com os olhos pela aprovação para entrar na cena do crime. Ele notou um certo desconforto ao imaginar a reação de Carolina vendo seu pai assassinado e, especialmente, nas circunstâncias em que ia contar. Trabalhou por muitos anos na unidade de homicídios da Polícia Nacional, e por sua inteligência, perspicácia, intuição e capacidade de resolver casos, foi promovido a inspetor-chefe há apenas um ano. Já tinha visto, infelizmente, centenas de mortos em todas as circunstâncias possíveis: prostitutas despejadas em valas por cafetões que as consideravam desnecessárias, viciados mortos por overdoses ou por disputas com outros viciados por sua dose diária de drogas, ajustes de contas, jovens menores de idade assassinados em lutas entre gangues rivais... algumas dessas mortes eram realmente assustadoras, como poderia ser esse caso, mas o que nunca poderia se acostumar era com a reação dos parentes quando ficavam sabendo do que tinha acontecido.

    Carolina olhou para Nicolás e concordou com a cabeça, sabia que não estava pronta e talvez nunca estivesse para o

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