Um Conto: um mistério envelopado
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Um Conto - Rodrigo T. F. Filártiga
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
UM CONTO
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Agradeço a Deus por esta Graça.
Agradeço à minha esposa, Sabrina, a meus filhos, Giovana e Pedro, bem como aos meus Pais, Miguel e Sonia, pelo apoio recebido nesta nova empreitada, em particular, à Sabrina e a minha mãe, Sonia, por lerem esta obra em primeira mão, opinando a seu respeito e me encorajando.
Torço para que todos que a leiam gostem, pois foi elaborada com muito gosto e prazer, pensando realmente em proporcionar um pouco de alegria e divertimento.
UM CONTO
É setembro de 1865. Faz calor. O dia mal tinha nascido e já mostrava que seria mais um daqueles, onde a única esperança de frescor era a brisa que vinha do mar, cortando a cidade e trazendo alguma esperança para quem quer que a chuva venha, e apascente o mormaço que o sol desta época do ano traz.
A cidade acorda. Próspera, com suas casas em estilo colonial e suas ruas pavimentadas, a Vila da Morraria tem um ar romântico, incrustada entre a serra e o oceano.
No fundo da venda do Senhor Nicolau, Clarisse desperta, incomodada pelo suor que está em volta de seu pescoço e com a camisola que começa a colar em seu corpo. Está abafado. Seria bom se chovesse.
Clarisse é bem branca, como uma porcelana, com olhos e cabelos bem pretos. O corpo é magro, mas com os costumeiros contornos da mulher brasileira, cintura fina e bunda grande. Filha de pai português e mãe cabocla, a beleza nasceu num dia de muita chuva e dera muito trabalho para sair, como dizia sua mãe, Dona Maria. A menina era um doce, no auge dos seus 15 anos, estava entre as mais interessantes criaturas da cidade, atraia olhares dos mais variados. Para alguns o desdém e a inveja, para outros o desejo e o amor, o que incomodava e preocupava o Senhor Nicolau, seu pai.
Nicolau da Silva Pereira, português de Lisboa, dizia que tinha vindo só para espiar e foi ficando.
Ficou um dia, uma semana, um mês, um ano e opa! Conheceu Dona Maria. Maria Deosdete de Souza. A paixão foi rápida, e a vontade de se deitar com aquela mulher, só não foi mais rápida que a pressa do futuro sogro em casá-la. E lá foi ele. Trinta dias após conhecê-la já estava casado. Uma paixão avassaladora como diziam.
Viviam muito bem. Ele abriu um comércio e logo prosperou. Vendia de tudo. Fumo, corda, vela, farinha, açúcar, feijão, cachaça, cachaça, cachaça, enfim, uma venda como qualquer uma daquela época. Certo dia Dona Maria chegou para ele e disse:
- Tô prenha.
O rapaz, na época com 21 anos, deu um pulo da cadeira. Que felicidade!
Então que veio ao mundo a sua florzinha.
Mas pararam por aí. Tiveram apenas Clarisse, pois quando do parto a dificuldade para tirar a pequena foi tamanha, que Dona Maria não quis mais filhos. Para o velho Nicolau estava tudo bem, a menina era a sua paixão, apesar de pensar às vezes em como seria ter um moleque.
Clarisse se levanta e troca em seguida a roupa, já ensopada de suor, que passara a noite.
- Que calor.
Abre a janela.
- Meu Deus!
A brisa percorre seu corpo molhado trazendo frescor.
- Água. Preciso de água.
A menina vai em direção ao banheiro para se lavar, quando na passagem vê sua mãe na cozinha preparando o café.
_ Que cheiro bom!
O aroma do café preenche a casa com seu perfume. Já pensando no café de sua mãe, a menina acelera. Com pressa enche a mão de água e se refresca. Lava-se e volta à cozinha.
- Bom dia!
Beijando o rosto da mãe.
- Bom dia! Dormiu bem? Quer café? Tem pão de milho que seu pai trouxe.
- Dormi, mas acordei com o calor. Tava toda suada. Dormi com a janela fechada porque o maruim estava atacando, mesmo com o mosquiteiro.
- É eu sei. Mas vá comer. Vosmecê precisa se arrumar que vamos receber gente aqui hoje. Para o almoço.
- Quem vem?
- O Coronel Bastião.
- Humm.
- O que foi? Parece que vosmecê não gostou muito?
- Humm.
- Clarisse! Deixa de besteira. Se seu pai sabe desse seu jeito, não vai prestar.
- Eu sei que essa visita é pra falar do casamento. Só que eu não gosto do Gusmão. Nem o conheço direito.
- Mais um motivo pra não ficar de prevenção. Receba o rapaz. Vosmecê precisa pelo menos prosear com ele. Depois decide se gosta ou não, e ai a gente vê com o seu pai. É bom se lembrar que já tem quinze anos e tá na hora de casar. E não tá fácil conseguir um bom partido.
___________________________________________________________
Na Venda, com as portas semi-abertas, o Senhor Nicolau está nervoso. Atrás de seu balcão, faz as contas, já apressado para o almoço.
- Seis, sete, oito, nove. Não está certo.
Recomeça a contar.
- Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove. Está sobrando um, como pode ser. Nheco!
Nheco é seu funcionário, Manoel da Silva. Um negro magro, baixo, já meio careca, muito prestativo, mas com alguns parafusos a menos
, como dizia o Senhor Nicolau. Tinha sido comprado há dez anos quando chegara da África.
- Pronto Sinhô. O que foi?
- Quero qui me explique uma coisa? Como pode ser, termos nove rolos de fumo, se ontem tínhamos apenas oito. Deu cria esse rolo?
- Podi sê, não entendo muito de fumo.
- Não sei purque perco tempo contigo. Fechaste as portas?
- Ainda falta uma, que está encostada.
- Pois tá. Vá fechá-la e volte aqui, que